Não é todos os dias que se acorda para ir ver o Benfica num estádio em que nunca se esteve. Desta vez, consegui mesmo ir a Tondela e conhecer o João Cardoso.
Quando se diz algo como vou tirar o dia para ver o Benfica pode ser uma afirmação bem literal. Foi o que aconteceu este domingo. Com um jogo anormalmente marcado para as 15h, as combinações tiveram que corresponder a madrugar e a ter em atenção a mudança da hora.
Deixar Lisboa entre as 8h e as 9h da manhã para uma viagem de quase 300 km até perto de Viseu com o objectivo de chegar pelo meio dia, bem a tempo de provar a gastronomia local.
O destino escolhido (e bem aconselhado) foi o Petz Bar em Cabanas de Viriato. Gente simpática e pronta a satisfazer o apetite de malta que come bem.
Tudo o que foi para a mesa está documentado nas imagens abaixo. O lugar de honra vai para os ossos que traziam uma carne agarrada impossível de descrever. Já valia a viagem.
Com a componente gastronómica bem resolvida, faltava o mais importante. Levar 3 pontos para Lisboa.
O Estádio João Cardoso fica bem localizado perto de uma área residencial. Reconheci a rua da bancada central que me ficou na memória naquela triste noite dos incêndios em Tondela onde as chamas chegaram ao Estádio.
Tudo simples mas funcional. Nota negativa para a enorme demora na revista aos adeptos do Benfica que fez com que muitos deles perdessem os primeiros minutos de jogo em longas filas de acesso à bancada.
O apoio do costume atrás da baliza. Ao contrário do que se previa, e ainda bem, nada de chuva nem de tempo frio. Tarde de temperatura amena. Casa cheia, muitos adeptos do Benfica nas centrais e uma sensação de estar quase dentro da grande área defendida por Odysseas na primeira parte tal é a proximidade das bancadas ao relvado.
André Almeida voltou à direita da defesa, Cervi continuou na esquerda do ataque e Taarabt foi a aposta para jogar mais perto de Seferovic.
Apesar de alguns sustos, o Benfica fez o mais importante. Marcar o 0-1 aproveitando uma bola parada com Ferro a ser decisivo.
Depois, esperava-se mais Benfica a procurar mais golos e tranquilidade no resultado mas nunca chegou a acontecer. O jogo ficou sempre equilibrado e a equipa do Benfica começou a perceber que não ia dar para muito mais. A segunda parte passou-se sem que a bola chegasse à área onde estavam os adeptos do Benfica e a preocupação maior era não perder a vantagem mínima mas valiosa.
O mais importante foi garantido, um triunfo, três pontos e subir na classificação para o topo.
Não foi uma exibição entusiasmante mas prolongou-se a incrível série de vitórias seguidas para a Liga NOS fora da Luz com Bruno Lage no comando!
Estreia muito positiva em Tondela. E ainda se aproveitou a viagem de regresso pela IC2 para ir matar saudades do arroz de tomate e dos pasteis de bacalhau do Manjar do Marquês.
Domingo em cheio. Tirar o dia para ir ver o Benfica são episódios épicos de grandes histórias que se acumulam em capítulos de uma série interminável que é querer sempre estar onde está a equipa do Glorioso. Que continuemos todos cá por muito tempo para viver dias assim.
Muito obrigado, Seferovic pelo fim de noite feliz e aliviado. Foi o único momento que salvou este sábado.
Desculpem o tom negativo, eu tenho sempre trazer aqui alguma emoção, muita subjectividade. Até podia dizer que uma vitória arrancada assim na recta final é mais emocionante e contraste com aquela monotonia que eu defendo para todos os jogos o do Benfica. Mas nem me apetece ir por aí.
Passadas umas horas após o final do jogo não me passa um estranho desconforto que continuo a sentir. É horrível esta sensação que isto não depende só do trabalho da nossa equipa. E hoje vou mesmo desabafar.
Eu sei que foi má ideia, mas, talvez, pela hora do jogo eu estive a ver o Braga - Porto com atenção. E o que levo dali é facilidade e as certezas com que se marcam penaltis para o Porto e no lance que daria penalti para o Braga nada acontece.
Este desconforto é transportado para a Luz. Quando vejo o João Pedro a fazer um penalti do tamanho do estádio sobre Samaris e acontece o mesmo que aconteceu ao Braga, isto é, rigorosamente nada, a racionalidade deixa de funcionar. É demais.
Porque raio é que eu pago o meu lugar cativo no estádio e tenho de levar com Xistras?! Um árbitro que a última vez que tinha aparecido foi naquela famigerada final 4 da Taça da Liga, também conhecida como uma das maiores vergonhas do ano.
O Pepa e o Tondela não têm nada com isto, jogaram bem e fizeram o seu trabalho. O Benfica esteve longe de fazer um grande jogo e Taarabt foi a grande surpresa da noite. Mas lidar com gente como este Xistra e a sua equipa mais o VAR é desesperante.
Desculpem, mas hoje não senti nenhum prazer em adorar este jogo. Hoje senti que é muito fácil desrespeitar o Benfica.
Só me apetece agradecer ao Seferovic, o golo e a vitória. Não há mais nada de bom a tirar deste dia. Nem o ambiente no estádio. Se queremos ser campeões também temos de fazer a nossa parte de fora. O Benfica é muito melhor apoiado fora da Luz do quem em casa, onde o ambiente tenso passa para dentro de campo uma ansiedade prejudicial.
Enfim, foi só mais um dia no futebol português. Acabou bem para o Benfica mas isto é tudo deplorável.
Neste fim de semana percebi que há algo de muito errado entre a minha vida e os jogos do Benfica em Tondela. Desde que a equipa de Tondela subiu à primeira divisão nunca consegui ir ao Estádio João Cardoso. No primeiro ano porque resolveram jogar em Aveiro, no segundo porque tinha acabado de ser operado a uma clavícula partida, no ano passado e este ano houve conflitos de agenda profissional. Sendo assim, Tondela é dos poucos estádios da primeira divisão que não visitei. Juntamente com o do Santa Clara, nos Açores. E já coloco aqui o bizarro recinto da SAD belenense como visitado.
Não poder ir em viagem tira grande interesse à crónica do jogo, assim não há sugestões gastronómicas nem relatos de frio e chuva. No entanto, ficar em casa a sofrer ao longe não me poupa a receber uma overdose de imagens gastronómicas de fazer inveja. Reti um local que parece merecer visita, Três Pipos. É explorar. A malta que divulgou é de confiança.
Aproveito para começar por aqui, a presença de adeptos naquela bancada atrás da baliza, descoberta, ao frio e à chuva com um apoio insaciável do primeiro ao último minuto é a representação irracional do que é ser Benfica. No fundo, é colocar em prática aquela teoria do vê o que podes fazer pelo Benfica em do que o Benfica pode fazer por ti. Assim, se enche uma bancada com uma força vocal incrível mesmo que a equipa não ganhe um jogo há um mês e venha de uma anormal ciclo de derrotas na Liga portuguesa.
Aliás, o Benfica chega a Tondela de moral em baixo. A exibição com o Ajax não foi grande coisa e o lance final em que Gabriel podia ter dado 3 pontos europeus ao Benfica acabou por agudizar ainda mais a frustração. Como se não chegasse, ainda não tinha passado um minuto de jogo e já o Tondela estava a ganhar. Pelo lado de Grimaldo há um cruzamento que Conti reage mal e acaba por fazer auto golo. Pior arranque era impossível.
E o que se ouviu na transmissão televisiva? Um apoio ainda maior dos adeptos do Benfica.
Vou despachar a questão do Conti. Espero vê-lo jogar com mais regularidade, se é verdade que não foi feliz nos golos do Tondela e Ajax, há que dizer que nos mesmos jogos fez dois cortes em cima da linha de golo verdadeiramente impressionantes.
Tudo o que se pode dizer a partir daqui é que a equipa soube estar ao nível do apoio dos seus seguidores. Jonas voltou a ser essencial na equipa, Rafa deu o mote pelo lado direito e não foi feliz na primeira parte na hora de finalizar, depois compensou com o 1-3, Pizzi e Gabriel assumiram as despesas de construção. A exibição não foi deslumbrante mas o objectivo foi cumprido. Reviravolta liderada por Jonas, no primeiro remate à baliza do Tondela. Na segunda parte, já com o Tondela com menos um jogador, a entrada de Seferovic para o lado de Jonas revelou-se determinante para os três pontos. Fica até no ar a dúvida se não vale a pena ponderar este regresso a um sistema de dois jogadores mais avançados que, como sabemos, com Jonas já deu tão bons resultados.
Ver o jogo na televisão é uma tortura. A realização é horrível, fiquei a perceber que as repetições não assim tão importantes para a emissão em directo. Se ficarem dúvidas, a Sport Tv remete para um programa chamado Juízo Final ou algo assim parecido. Ou seja, as imagens ficam congeladas para mais tarde alimentarem mais polémica. Acho bem, há pouca no futebol português. O melhor exemplo disto é a repetição do lance da primeira expulsão. Quando, finalmente, o realizador vai buscar o plano em que se vê melhor a chegado do jogador do Tondela a Cervi o plano muda e o narrador empurra para o tal programa. Até Vítor Paneira fica a falar sozinho. Enfim, é tão melhor ir ver os jogos aos estádios.
Tudo se torna mais penoso quando é um domingo gordo com uma maratona impressionante de jogos de todo o mundo. Liverpool, Chelsea, Manchester, Frankfurt, Roma, Milão, Boca e River, enfim, dezenas de jogos à volta da transmissão de Tondela e ficamos com a ideia que o jogo nacional é o que é pior tratado televisivamente. Felizmente, são muitas mais as vezes que vejo ao vivo do que assim.
O Benfica encerra este ciclo horrível com uma vitória em Tondela. Curiosamente, nunca lá fui e só temos vitórias. Para a próxima não sei se é melhor resistir ao Três Pipos.
Desafio número um: não perder a objectividade. Isto é, a crónica é sempre sobre o último jogo, a tentação é partir para balanços globais. Mantendo a objectividade vamos falar sobre este jogo.
Perder jogos com rivais directos não é agradável mas acaba sempre por acontecer com maior ou menor regularidade. Perder jogos em casa com equipas abaixo dos rivais directos é algo a que, felizmente, já me desabituei há vários anos. Há, quase, oito anos aconteceu a última surpresa inesperada na Luz. Uma derrota com Académica. Desde 2010 até 2018, o Benfica acabou, e bem, com derrotas caseiras com equipas de dimensão inferior. É o tipo de coisas a que me habituo bem e depressa.
Portanto, perder hoje com o Tondela é voltar atrás quase uma década. Ser derrotado no penúltimo jogo da temporada em casa quando se estava a dois pontos do líder é inacreditável.
Olhando friamente para o jogo, aceita-se o triunfo do Tondela. Por isso, parabéns ao Pepa pelo excelente trabalho que tem feito no clube.
Olhando para o Benfica é muito complicado perceber e reagir ao que aconteceu nesta partida. Há aqui factos que não ligam com o passado recente. Quando nos lembramos da época passada em que Pizzi ia sempre a jogo mesmo estando "tapado" com cartões amarelos durante muito tempo, fica difícil entender as ausências de dois titulares num jogo antes do derby. A mentalidade nunca tem sido esta. Só se os ausentes estavam sem condições físicas de ir a jogo e isso não sei. Nem interessa muito insistir nisso porque o jogo foi com o Tondela e qualquer jogador do plantel que seja chamado tem obrigação de ganhar a partida.
Começar a ganhar por 1-0 e consentir uma reviravolta até 1-3 é inaceitável. Alguma coisa não está bem. E nem foi a primeira vez esta temporada que a equipa consegue a vantagem para depois a desperdiçar de forma misteriosa.
Reduzir tudo à ausência de Jonas é redutor e pode ser assustador.
Explicar tudo com más decisões nas substituições também é ridículo porque o Benfica teve muito tempo para reagir e não conseguiu.
Partir daqui para avaliações globais é perigoso e tentador. Mas como há mais dois jogos para disputar e um lugar na tabela classificativa por esclarecer é melhor focarmo-nos no que é preciso fazer para vencer o derby que é o próximo jogo.
Para já e como ponto de partida temos uma ideia base fácil, é fazer tudo ao contrário do que se fez neste jogo.
Hoje veio tudo à cabeça, o final de época em 2013, os tempos em que perdíamos com as "académicas" da vida com alguma facilidade, os anos a seco, tudo o que de mau, infelizmente, muitos de nós vivemos durante vários anos. Demasiados anos. Já nem me lembrava como é tão mau esta sensação de luto, de vazio, de frustração.
Depois de tantas vitórias conquistadas com garra e superação nos últimos instantes como é que pode acontecer uma derrota destas? Impensável.
Mesmo sem luz no fundo do túnel é preciso manter o foco, há dois jogos para ganhar. Não é uma fuga para a frente, é a realidade. Esta pode ser mais uma noite em claro a juntar a tantas outras no meu historial benfiquista. Mas tem que ser uma noite de reflexão e não de auto mutilação clubística.
Começo por desejar que esta 2ª feira de manhã a cidade de Tondela amanheça com toda uma nova mentalidade. Espero que tenha tido efeitos práticos mais uma proibição de entrada de adereços benfiquistas numa das bancadas de um pequeno estádio que esgota para ver o Benfica. Ao fim de dois anos e meio na 1ª divisão, ao quinto encontro com o Benfica, o segundo em casa própria, o Tondela resolveu seguir os passos da pequenez e contrariar a liberdade de expressão que o país conquistou em 1974. É pena porque o clube é treinado por Pepa que tem contribuído muito para melhorar o ambiente e as mentalidades de quem vive do futebol. Já alinhou em fazer uma conferencia de imprensa em conjunto com o treinador do Rio Ave, tem um discurso interessante, não hesitou em boicotar a conferência de imprensa antes deste jogo, em protesto por terem a mesma sala vazia antes de jogarem contra outras equipas.
Assim, Tondela a partir de agora terá uma nova mentalidade que permite ao clube encher o estádio só com adeptos da casa.
Segundo tema vai, mais uma vez, para o contexto da transmissão do jogo pela Sport TV. Primeiro, um elogio aos comentários de Vítor Paneira, tão bem que parece fácil. Segundo, um agradecimento ao reportes Carlos Matos Rodrigues por nos ir informando sobre o desenvolvimento do jogo quando o canal entra em louco loop de repetições. Por exemplo, ficámos a saber que um dos lançamentos laterais foi parar às mãos dos jogadores do Tondela porque o árbitro considerou mal efectuado primeiro por um jogador do Benfica. Não vimos mas ouvimos.
Portanto, já deu para perceber que não houve roteiro gastronómico. Por razões profissionais fiquei em Lisboa e por isso acompanhei pelo canal do costume.
Quanto ao jogo, estou satisfeito com o que vi porque veio dar razão ao pensamento com que fiquei depois de Vila do Conde. Aquela primeira parte na Taça merecia outra sorte.
Hoje o Benfica voltou a repetir a boa exibição na primeira parte, chegou cedo ao golo mas, desta vez, conseguiu ampliar até 0-3 antes do intervalo. Faz toda a diferença, a lei da eficácia.
O Tondela abordou o jogo com uma expectativa errada, Pepa calculou que a equipa do Benfica ia estar arrasada física e moralmente. Reforçou o meio campo, pressionou alto, impôs ritmo muito forte e conseguiu dividir o jogo nos primeiros minutos. Mas assim que Pizzi e Krovinovic conseguiram agarrar no jogo e envolver Salvio e Cervi na partida, a equipa de Rui Vitória foi avassaladora. Ao contrário de jogos anteriores, esta noite tudo saiu bem. Até Pizzi voltou às grandes exibições! Salvio, que a meio da semana foi infeliz na finalização, hoje fez um golo de cabeça.
É certo que este Tondela não tem a qualidade do Rio Ave mas a ideia que fica é que quando não se falham golos cantados a equipa parte para exibições seguras e com momentos de jogo muito agradáveis. O onze está escolhido, o 4-3-3 veio para ficar e em jogos como este faz todo o sentido.
Jonas voltou a marcar, bisou, Krovinovic assume-se como mais valia, e Grimaldo surpreendeu ao interpretar um raro lance de bola parada, um canto, neste caso, que Jonas concretizou em golo. Tudo a correr bem. Até o golo do Tondela é desculpado no meio disto tudo.
Um desfecho natural com a qualidade do Benfica a vir à tona. Se o futebol fosse justo teria dividido melhor os sete golos dos últimos dois jogos. Mas não é e o difícil é fazer com que sejamos nós a controlar esse equilíbrio.
Foi o último jogo de campeonato para o Benfica em 2017. Fechou o ano civil com uma bela exibição, o ano em que se festejou o inédito Tetra. Que o próximo seja assim tão bom.
Um golo. A nossa vida pode estar suspensa uma hora à espera de um golo. Entre as 16h de domingo e as 17h e pouco a vida fica em suspenso, os olhos só querem seguir a trajectória de uma bola para lá da linha de golo na baliza do Tondela. E, no entanto, passam quase 60 minutos em que estamos só a olhar para um jogo que parece ter sido inventado para nos enervar. É a equipa adversária que acerta nas marcações, é a facilidade com que os jogadores oponentes ficam deitados no relvado gastando um tempo precioso, perante nós, os adeptos totalmente impotentes. É o guarda redes adversário que começa a parecer intransponível. Tudo nos parece irritante num domingo à tarde mas há quem diga que não passa de um jogo de futebol. Ainda por cima contra o Tondela, o último da tabela classificativa.
A ideia de começar o jogo com Zivkovic e Cervi nas alas parece boa mas antes do final da primeira parte já damos por nós a pensar se não é melhor chamar o Salvio ou o Rafa. É assim a coerência de um adepto de futebol que sofre com o seu clube.
De repente, tudo muda. Pizzi, sempre ele, remata para o golo que faz explodir a Luz de alegria. Na verdade, é mais uma explosão de alivio. A alegria veio no 2-0, quando, finalmente, sentimos alguma tranquilidade e os nervos a desaparecerem.
(Fotogaleria de João Trindade)
Precisamos de passar dezenas de minutos a sofrer para viver momentos de normalidade, aqui a normalidade é a alegria de ver o Benfica ganhar ao Tondela. Voltar a fazer contas de cabeça, repomos a diferença para o 2º classificado e já vemos os 3ºs, 4ºs e 5º, todos juntos lá mais para trás. Começamos também a pensar que é melhor começar a rodar a equipa porque a seguir partimos para outra aventura.
É tudo muito rápido a partir do momento em que o problema parece resolvido. O que custa mesmo é chegar ao desejado golo. Depois até dá para nos espantarmos e festejarmos o primeiro golo do Rafa, e que golão! Que seja o primeiro de muitos.
Mas toda aquela sensação de tranquilidade pelo dever cumprido passa depressa quando pensamos que este foi só o primeiro jogo da 2ª volta. Que ainda vamos ter muitos jogos para sofrer até chegar o golo inaugural. Ainda falta tanto para as alegrias supremas que até nos rimos depois de terminado este jogo das figuras que fizemos enquanto o resultado esteve em 0-0.
É assim a nossa vida. E o Benfica é grande parte da nossa vida. Compreenda-se ou não.
Deixem-me começar por contornar o assunto principal da crónica, o jogo. O primeiro jogo do campeonato nunca é um jogo normal, é a partida mais esperada de cada verão e sempre por motivos diferentes mas com a esperança igual, a de começar a ganhar.
Eu ando há doze anos à espera de ver o Benfica vencer o seu jogo inaugural na Liga fora da Luz e nunca tem acontecido. Há mais de uma década que sempre que o primeiro jogo calha fora passo o verão a ler notícias sobre o nosso adversário, a ponderar se interrompo as férias para ir ver a equipa seja onde for e dou comigo a pensar que desta vez não pode correr mal. Nós, adeptos, sabemos que entrar a ganhar é meio caminho andado para afastar aquela tensão de pré época. Nós, benfiquistas, nas últimas, vá lá, duas décadas conhecemos muito bem a ansiedade de uma longa espera por aqueles 90' que inauguram a maratona mais desejada e que, não raras vezes, rapidamente se transformam em amargo sabor de um pesadelo que achamos sempre não merecer viver. Arranques em falso fora de casa nos últimos doze anos aconteceram sempre! Se alargarmos o espaço de tempo, recordamos jogos que nos queremos esquecer para sempre. Treinadores despedidos ao fim de umas poucas centenas de minutos de campeonato jogado ou mesmo ao fim do primeiro jogo, compras e vendas assustadoras, começos em sobressalto que muitas vezes anunciavam um fim de época triste. Vezes de mais. O Benfica falhou arranques várias vezes a mais. Mesmo em anos mais recentes em que nos sentimos mesmo candidatos a ganhar tudo, acabámos o primeiro jogo com a moral de rastos. E, atenção, não aconteceu só em jogos fora. Várias vezes sentimos isto na nossa Catedral. Sair da Luz com o peso de uma falsa partida, aconteceu também vezes a mais.
Por tudo isto, eu dou mesmo muito valor a uma vitória no jogo inaugural da Liga. Fico verdadeiramente aliviado e moralizado. Não peço uma exibição convincente, não peço uma goleada, não peço um show de bola, só desejo uma vitória, três pontinhos. Porque sei que ninguém está no auge da forma e com os mecanismos colectivos afinados a meio de Agosto. Aliás, se estiverem é mau sinal. Porque sei que isto começa de baixo para cima. Porque tenho a certeza que são estes jogos com os "tondelas" que fazem a diferença, não garantem títulos mas podem comprometê-los.
Sem exageros e sem dramas, sejamos claros: jogar no campo do Tondela não é tarefa fácil. O relvado é mau, as dimensões são curtas, a equipa da casa é aguerrida e lutadora à imagem do seu treinador. Era esta a nossa realidade para o arranque, um típico jogo de campeonato português com o apoio de sempre de bravos benfiquistas que investiram uma pequena e vergonhosa fortuna para garantirem a sua presença ao lado da sua equipa. Eu até cheguei a ponderar ir conhecer Tondela, depois de ver os preços recusei porque acho que tem de haver mínimos olímpicos de decência nestes constantes "roubos". Obrigado aos que foram e que nos fizeram sentir em casa. Como sempre.
Vamos ao jogo.
O facto de termos feito uns minutos muito bons na Supertaça não nos dava grande conforto porque o adversário era completamente diferente e o cenário era outro para muito pior. Não tinha esperança de grandes números artisticos, queria só uma atitude combativa e lutadora. Acho que tivemos a atitude certa de entrada.
Tal como esperado, a primeira meia hora foi muito dura. A ausência de Jonas sentia-se cada vez mais à medida que o tempo passava sem chegarmos à baliza adversária, Gonçalo Guedes não conseguia impôr a sua qualidade no apoio a Mitroglou e o Benfica mostrava dificuldades em gerir o desenho de 4-2-3-1.
Pior, a equipa não conseguia estabilizar o jogo e permitiu que o ritmo fosse algo descontrolado com o Tondela a sair várias vezes com perigo para o ataque. Aí estranhou-se o desacerto inicial de Lindelof. Com a saída forçada de Luisão e a entrada de Lisandro tudo estabilizou lá atrás e percebeu-se que o sueco estava a ser vítima da ineficácia do capitão debilitado. Nas alas, Nelson e Grimaldo continuavam fortes no ataque mas permissivos e surpreendidos, mais o jovem português do que o espanhol, na defesa. Aliás, Grimaldo foi importantíssimo em recuperações defensivas, numa delas tira um golo que parecia certo com um desarme superior.
Fejsa foi a mais valia do costume mas mais parecia um bombeiro a apagar vários fogos ficando sem espaço para ajudar Horta a construir o que levou a equipa a demorar muito tempo a estabilizar o jogo. André foi importante nos lançamentos longos, onde é exímio executante, enquanto Cervi e Pizzi tentavam tudo para fazer a diferença em termos individuais.
Acabou por ser Pizzi a bater bem um livre para a área do Tondela onde apareceu Lisandro a aproveitar uma marcação desastrosa da equipa de Petit. Era uma oportunidade que tinha de ser aproveitada e abriu caminho para uma vitória.
Pedia-se uma segunda parte mais controlada e em busca da tranquilidade mas não aconteceu porque o Tondela soube sempre estar por dentro do jogo. Até que Rui Vitória lançou Samaris para acabar com aquela vertigem de bola cá, bola lá. Também já tinha metido Pizzi no meio com Gonçalo na ala e tudo mudou para melhor. O triunfo estava longe de estar garantido mas passou a ficar bem mais próximo. Depois com a entrada de Salvio, André Horta teve liberdade para avançar mais no terreno e aproveitou a oportunidade para marcar a diferença.
Portanto, o jogo terminou da seguinte forma épica: eu, João Gonçalves, recuperei uma bola a meio campo já em tempo de desconto. Como estava com o manto sagrado vestido vivendo um dos meus sonhos, não senti nenhum cansaço. Pelo contrário, senti que tinha espaço para ser o super herói que sempre procurei ser nos jogos de rua nos arredores do Califa. Embalei com a redondinha, fui direito a um, dois, três adversários sempre a driblar, sempre a mudar de direcção, sempre com técnica superior que até baralhei o companheiro Mitroglou. Já tinha na minha cabeça o final daquela jogada. Já tinha o final desenhado desde a minha infância, por isso foi com naturalidade que fintei os adversários para o meio da área, puxei o pé atrás e rematei triunfante para o melhor golo da minha vida. Não parei de correr, senti a felicidade suprema que só em sonhos tinha imaginado, tirei a camisola para perceberem que eu estava ali em carne e osso e não fruto da imaginação de ninguém, gritei, cerrei punhos e só parei extasiado a olhar para bancada onde os meus companheiros vibravam quase tanto como eu. Depois caí em mim e lembrei-me que afinal, desta vez, eu sou um dos onze heróis que me habituei a apoiar. Abracei-os e o sonho tornava-se realidade.
Bem, não fui eu mesmo porque neste momento eu estou ao nível do Jonas, ou seja, tive o azar de cair estupidamente de uma rede de descanso para um duro chão e fiz uma luxação e fracturei uma clavícula no ombro direito e, por isso, estou em vias de ser operado. Desejava ter tido esta lesão de manto sagrado vestido depois de ter feito o golo que relatei. Não fiz o golo mas o André fez por mim e , acreditem, é quase a mesma a coisa. Foi o mais perto que estive de marcar um golo pelo Sport Lisboa e Benfica.