Quando em Maio fechei a temporada com uma crónica de campeão, depois de uma goleada por 4-,1 nem sabia com quem íamos abrir a época 2019/20. Tão pouco, esperava regressar à escrita para voltar a falar de uma goleada. Mas a verdade é que o mundo avançou após a conquista do quinto título em seis épocas, entrou o verão e o Benfica já começou a dar trabalho a quem organiza o espaço do Museu Cosme Damião. Entrou a Taça Hospital da Luz ganha em Coimbra e vai caminho o troféu do prestigiado torneio International Champions Cup , assim como a oitava Supertaça da história do clube.
Toda esta dinâmica contrasta com o barulho e o ruído que os tolinhos, que são pagos para agitar o defeso nos meios de comunicação deste país, fazem de forma absurda diariamente sem pausas e que agitam os (ainda mais) tolinhos que alimentam o circo vendo, ouvindo, discutindo e repetindo argumentos de uma realidade paralela.
No fim do dia temos o Benfica a abrir a nova época de taça na mão com uma exibição categórica, com um resultado de mão cheia (literalmente) e a festejar em harmonia com aqueles que realmente se dão ao trabalho de os acompanhar de Agosto a Maio, de sul a norte.
Tudo isto seria já suficiente para se perceber que o Benfica continua insaciável na hora de somar troféus mas tudo se torna mais especial se pensarmos que o adversário escolhido. numa cimeira maior de anti benfiquismo, para vir dificultar e mostrar ao mundo que todas as debilidades apontadas ao Campeão Nacional, pelos tais tolinhos, são verdadeiras, foi o rival da cidade de Lisboa. Pois, o Sporting chegou ao Algarve como sempre chega a todos os derbys, de peito feito e favorito nas suas convicções.
Esta é a grande diferença ente Benfica e Sporting actualmente. Não, nem me refiro aos 5-0. Refiro-me à preparação na pré época até aqui.
O Benfica tratou de planear um regresso ao trabalho pensando em todos os pormenores. A inevitável saída de João Félix e a chegada de Raul de Tomas, o adeus emocionante e emocionado a Jonas com um jogo na Luz que serviu de pretexto para os adeptos dizerem adeus ao lendário brasileiro, mais do que ver algum progresso na equipa que tinha acabado de voltar ao trabalho, o adeus repentino a Salvio, que já marca feliz no grande Boca Juniors, e um rápido partir para a nova realidade com novos objectivos. Uma digressão aos Estados Unidos da América que foi exemplar em termos sociais, hierárquicos e, acima de tudo, desportivos, que acabou com a espectacular conquista do torneio mais mediático de verão no mundo do futebol. Um regresso pensado ao pormenor para que as rotinas voltassem com normalidade e a preocupação de tudo estar bem para o primeiro jogo oficial da época.
Do outro lado, o Sporting limitou-se a passar a pré época a pensar no jogo da Supertaça. Um derby com o Benfica é caso de vida ou morte para aqueles lados. A obsessão de vencer o Benfica é mais forte do que pensar num futuro a médio prazo. Preparar a equipa para as quatro ou cinco dezenas de jogos que vão ter até Maio foi secundário. O que interessava era manter Bruno Fernandes até ao jogo do Algarve e vencer.
São duas maneiras diferentes de estar e de pensar. A diferença é gigante.
Em Portugal, actualmente, temos duas forças vaidosas a tomar conta do futebol. A Liga Portugal e a Federação Portuguesa de Futebol.
Quando se joga a Final Four da Taça da Liga, em Braga, entramos numa dimensão diferente da nossa realidade. Tudo é tão lindo, tanto fair play, tanta exposição mediática, tão bonito que é o futebol, os pormenores e detalhes à volta de cada um dos três jogos que definem um (absurdo) título de campeão de inverno. São uns dias de auto promoção da Liga de Pedro Proença que tenta fazer esquecer as condições miseráveis com que os adeptos do futebol que andam atrás dos seus clubes precisam de lidar durante toda época.
A FPF não quer ficar atrás e monta o seu show à volta da final da Taça de Portugal e na Supertaça. A ideia é exactamente a mesma da Liga Portugal, auto promoção, sinais exteriores de riqueza, agora reforçados com a entrada do Canal 11, e a montagem de uma feira à volta de um simples jogo que ultrapassa os limites do compreensível.
Falemos de termos práticos, daquilo que nem a Liga, nem a FPF, estão muitos interessadas em discutir. Falemos então dos adeptos que se dão ao trabalho de ir até ao Estádio do Algarve ver o jogo. Adeptos, esse conceito tão vago e que tantas chatices dão com as suas criticas e opiniões.
O jogo estava marcado para as 20h45. A essa hora o que víamos nós, chatos adeptos, dos nossos lugares no estádio? Víamos uma espécie de concerto num pequeno palco junto da bancada central com os Expensive Soul a cantarem, deduzo eu porque não consegui ouvir nada, um grupo de pessoas demasiado excitadas em frente ao palco e um relvado invadido por um coro Gospel, uma banda filarmónica (?) e os dois emblemas expostos no relvado. Os minutos passavam, olhávamos para os ecrans e lá víamos os protagonistas do jogo em enorme compasso de espera enquanto nos perguntávamos na bancada o que se estava ali a passar?
Jogo atrasado por um espectáculo sem sentido, sem contexto e que, talvez, tenha resultado em termos de televisão. No estádio foi um estorvo.
E o que é que revolta nisto tudo? Eu nada tenho contra espectáculos de bandas portuguesas ao vivo, antes pelo contrário, a minha vida profissional vive muito disso, como bem sabem aqueles que melhor me conhecem. Mas numa altura em que estamos no auge dos Festivais de verão, em que semanalmente tenho que estar presente em diversos concertos, nunca vi nenhum show atrasar para ver futebol antes. Ou seja, cada coisa no seu lugar. Sendo que isto não é o mais importante, é só uma nota de rodapé e subjectiva.
A minha grande questão para a Federação Portuguesa de Futebol é a seguinte: como é que explicam aos adeptos, os tais chatos do costume, que haja tanta verba disponível para se montar fans zones, palcos musicais, coreografias vistosas e por aí fora, e não haja um orçamento para limparem as cadeiras do Estádio antes do jogo!
Perguntem aos adeptos, os que pagaram para ali estar, em que estado ficaram as roupas usadas nesta bela noite de verão no Algarve. Calças e calções que passaram de ganga azul para branca com a brutalidade de sujidade com que estavam as cadeiras. Vergonhoso! E os bares do estádio? E aqueles topos eternamente provisórios que fazem com que uma carteira ou telemóvel caído acidentalmente das calças sujas vá parar ao abismo negro que é o labirinto de andaimes que suporta a bancada? E aqueles acessos de trânsito? Sem opções de transportes para o estádio, o que podemos dizer do caos que é tentar sair dos parques do estádio com esperas de duas horas após um jogo que devia começar às 20h45 mas que, como já vimos, começou e acabou bem depois da hora prevista. E sem prolongamento nem penaltis.
Desculpem lá o desabafo mas é que ainda há adeptos que se sacrificam pelos seus clubes mesmo sabendo que são o menos importante dentro desta feira de vaidades em que se transformou o futebol português. O que interessa é que chegámos todos com saúde a casa, uns de madrugada outros já com o dia a nascer.
Quanto ao jogo, só posso falar de uma vitória normal do Benfica. Pode soar a presunção mas é a verdade. Desde que Bruno Lage tomou conta da equipa, os derbys têm sido entretidos.
Em Alvalade para o campeonato o Benfica venceu por 2-4. Teve golos anulados, falhou outros tantos e, mesmo assim, no dia seguinte houve quem dissesse que não foi goleada nenhuma e que não houve uma superioridade assim tão grande. Depois, na Luz para a Taça de Portugal, o Benfica chegou ao 2-0 e quando se esperava o 3-0, o Sporting teve uma oportunidade e fez o 2-1. Passámos de mais um passeio num derby para um resultado perigoso que depois se transformou numa inesperada derrota que nos afastou do Jamor. Mas, na verdade, nos três derbys jogados, o Benfica andou sempre muito mais perto de golear do que acabar a perder.
Agora, na Supertaça voltou a ser evidente a superioridade do Benfica. Antes do jogo, Bruno Lage disse como ia jogar o Sporting. Acertou e por isso já estava um passo à frente em relação ao rival. Preparou a equipa, mesmo improvisando Nuno Tavares na direita, que foi bem testado e rodado ali na pré época, e lançou RDT como novidade no onze. Alta pressão, fecho do corredor central obrigando o Sporting a jogar por fora, Rafa e Pizzi a fecharem, Florentino a cobrir as subidas por fora a partir do corredor central, Gabriel a recuperar bolas e Raul de Tomas a recuar e a ser decisivo no equilíbrio defensivo.
Foram estas as chaves decisivas para uma noite tranquila do Benfica. A associação entre Pizzi e Rafa é letal e quando uma equipa é preparada no seu todo, colectivamente, com plano de jogo flexível e ainda com recurso a um banco de nível elevado, o resultado acaba por aparecer. Estar agarrado a um só jogador e preparar uma Supertaça como se o mundo acabasse a seguir não podia ter um bom fim.
A goleada por 5-0 é histórica mas é mais saborosa por ter acontecido de uma maneira tão natural como aconteceu aquele 2-4 em Alvalade. Ou aquele 2-0 na Taça que esteve quase, quase a ser alargado e acabou por ficar 2-1 porque o futebol também é aquilo.
A trabalhar como se trabalha no Benfica, o normal é termos mais noites destas do que o contrário. Reparem que, praticamente, metade dos jogos oficiais que Bruno Lage leva à frente do Benfica acabaram com goleadas. Não deve ser por acaso...
De tudo isto resulta uma imensa e enorme vontade de começarmos o campeonato. Que esta ambição nunca acabe. Ao Benfica o que é do Benfica.
Até meio dos anos 90, um ritual familiar levou-me a passar grande parte do mês de Agosto no Pinheiro da Bemposta. Para quem não sabe, e devem ser quase todos os que estão a ler esta prosa que inaugura a nova temporada, o Pinheiro da Bemposta é uma freguesia que fica perto de Oliveira de Azeméis. Fica antes da cidade quando se viaja desde o sul pela antiga estrada nacional Nº1.
Nesses tempos a Supertaça não era o troféu que abria a temporada com todo este mediatismo. Era uma prova que se jogava a duas mãos, na maior parte das vezes, e que passava até um pouco despercebida no calendário, chegando mesmo a atrapalhar a organização do mesmo. Nem me lembro de ter grande problemas nesses verões para ver o Benfica a disputar a Supertaça, porque raramente acontecia.
Como era um retiro de familiares mais velhos que foram, naturalmente, falecendo, os verões na Bemposta, mais precisamente em Palmaz, acabaram. Nunca mais houve férias na aldeia. Os anos foram passando e, como em tudo na vida, um dia deu-me a saudade e a curiosidade de saber como estava aquela freguesia ali bem escondida no distrito de Aveiro. Numa das minhas viagens pelo no começo deste século passei por lá e até consegui voltar a comer uns bons rojões num restaurante perto da Nº1.
Como o futebol tem o condão de nos fazer viver e aumentar as nossas amizades de norte a sul, um dia descobri que um ilustre benfiquista residente em Vila da Feira frequenta a freguesia do Pinheiro da Bemposta por razões de gastronomia. Daí a combinarmos um repasto lá com outros companheiros destas viagens foi só uma questão de tempo.
E é assim que chegamos ao almoço de ontem que nos lançou para a Supertaça. Pessoalmente, é uma emoção voltar a conviver naquele ambiente de aldeia e desfrutar daquela gastronomia. É uma viagem à juventude mas contextualizada com amigos das mais diferentes origens. É o Benfica a unir e a dar-nos vida à vida.
O repasto e o convivo já tinha sido óptimo os imprevistos seguintes só serviram para elevar este dia à galeria de viagens inesquecíveis. Vamos chamar uma espécie de adaptação à população local. Integração num desfile de bombos da festa da aldeia, beber umas cervejas em casas escondidas e acabar na "mansão" do Sr. Fernando, um filho da terra, emigrante, que em dia de aniversário recebeu esta turma com champanhe, salgados e presunto, oferecendo a sua piscina para uns mergulhos que muitos não recusaram. A família do Sr. Fernando e a família benfiquista, tudo em harmonia numa casa "perdida" em Alviães, mesmo ao lado do restaurante Azevedo, onde come à grande por cerca de 10€.
E estava feito o aquecimento. Viagem até ao Pinheiro da Bemposta, almoço, convivio e tudo pronto para o que interessa.
Nos últimos anos só me lembro de ver o Benfica ao vivo na Supertaça no Algarve. E uma vez em Coimbra, há mais tempo. Já nem me recordava da vergonha que são os acessos ao Estádio de Aveiro. Ou então, vou sempre na esperança que tenha havido um milagre e tudo tenha melhorado. Não melhorou. Este estádio não tem condições, ao nível do trânsito, para receber competições destas. E como ninguém consegue ir para ali a pé ou de transportes, o caso já devia estar resolvido há muito tempo.
Entrar no estádio e ver a equipa do Benfica a aquecer. Sentar, respirar fundo e procurar na memória qual tinha sido o último contacto visual com a nossa equipa ao vivo. Foi debaixo de um temporal no Jamor. Parece que foi no outro dia mas, ao mesmo tempo, também se sente que foi há muito tempo. A vida volta a fazer sentido. Nós e o Benfica, prontos para mais um jogo, para mais uma época, para mais uma luta por um troféu.
Então vamos lá a ver que equipa vai o Benfica apresentar no meio da crise e do caos que a imprensa anuncia todos os dias de pré época. Defesa com Almeida, Jardel, Luisão e Grimaldo. Ok, quantas vezes já vi este quarteto a jogar como titular da equipa? Muitas. Novidades aqui, zero.
Dali para a frente, Fejsa, Pizzi, Cervi, Salvio, Jonas e Seferovic.
Ah, temos um reforço! Seferovic é a grande novidade da nova época. Bruno Varela na equipa é um regresso a casa mas também uma novidade numa equipa principal do Benfica. Vem dentro da lógica de apostas do clube. Pareceu-me que era um onze muito aceitável para começar a competir.
Obviamente, voltou a acontecer a mesma sensação da Supertaça do ano passado. Em pouco mais de 10 minutos a equipa tetra campeã dizimou todas as teorias que a davam como acaba e, até, morta. Futebol de alta rotação, individualidades de nível superior, entendimentos que já se trazem de temporadas passadas e futebol muito atractivo que resultou em dois golos, um de Jonas, outro de Seferovic. Olha, o Seferovic a estrear-se e a marcar. Não está mal.
Depois, as bancadas empolgaram-se, os benfiquistas voltar aos níveis de confiança normais dos últimos quatro anos, a equipa motivou-se e aconteceu show de bola. O que é que não correu bem? A finalização. Neste particular, o argentino Salvio ficou a dever a si próprio 3 golos que tinham colocado facilmente o jogo num 5-0.
Não se marcou, não se matou o jogo e, tal como no Jamor, o Vitória, que nunca desiste, acaba por reduzir para 2-1 relançando o jogo antes do intervalo. Apatia no golo do Vitória, uma bola ganha na linha final que devia ter tido oposição, Varela surpreendido que não conseguiu melhor do que desviar a bola para a entrada confiante de Raphinha que cabeceou sem oposição dos centrais.
Portanto, de uma possível goleada passou-se para um jogo em aberto. O Vitória embalado por uma massa associativa impressionante, incansável e apaixonada, fez tudo para empatar o jogo mas acabou por devolver a amabilidade da falta de qualidade na finalização que o Benfica tinha mostrado na 1ª parte e acabou por adiar um golo que nunca apareceu.
Rui Vitória sentiu o perigo, desviou Pizzi para o lugar do Salvio, que até devia ter acontecido mais cedo, lançou Felipe Augusto para a luta do meio campo e ainda chamou Raul Jimenez que, como é costume, mostrou logo ao que veio para esta época. Uma oportunidade um golo, problema fechado, troféu conquistado.
Grimaldo saiu lesionado e Eliseu estreou-se na temporada com para alegria das bancadas que agora o estimam, mais do que nunca.
Curiosamente, o Benfica sofreu mais nesta Supertaça do que na final da Taça de Portugal, mas agora venceu por uma margem mais folgada.
O que não muda é a fome de conquistas, depois de conquistado o Tetra, o Benfica já meteu no Museu Cosme Damião uma Taça de Portugal e mais uma Supertaça. Para começar a época não está mal.
Está tudo bem no futebol encarnado? Não, não. Ninguém disse isso. O mercado só fecha no final do mês, temos que estar preparados e atentos para saídas e entradas.
Está tudo mal no futebol encarnado? Não me parece. Já se devia ter percebido que é preciso respeitar jogadores como Jardel ou André Almeida que levam muitos anos de Benfica juntos e não são atletas com poucos títulos.
O importante é estarmos focados e juntos numa luta só nossa, o que os outros espumam é um problema deles. O Benfica continua a ganhar e isso ninguém pode contrariar, por muito que lhes custe e que lhes doa.
Para primeira viagem da temporada, diria que foi à campeão.
É assustador o tempo que falta para a bola voltar a rolar. Para os jogos de pré época falta menos de um mês, para as partidas a sério... só dia 5 de Agosto. Marquem na vossa agenda:
Pré-temporada do Benfica 2017/18:
13 de julho - Uhren Cup, na Suíça - Jogo com o Neuchatel Xamax 15 de julho - Uhren Cup, na Suíça - Jogo com o Young Boys 19 de julho - Partida para o Algarve 20 de julho - Algarve Cup - Jogo com o Bétis 22 de julho - Hull City, Estádio Algarve (Portugal) 23 de julho - Partida para Birmingham (Inglaterra) 24 a 28 de julho - Estágio no St. George"s Park 29 de julho - Emirates Cup - Jogo com o Arsenal (16h20) 30 de julho - Emirates Cup - Jogo com o Leipzig (14h00)
O encontro da Supertaça Cândido de Oliveira, entre Benfica e o Vitória SC, vai ser disputado no Estádio Municipal de Aveiro, a 5 de agosto (20h45), e será transmitido em directo na RTP1.
A edição 2017/18 do campeonato português arranca a 9 de agosto, quatro dias depois da Supertaça, e terminará a 13 de maio. O calendário mais apertado, devido ao Mundial 2018, vai ficar definido no sorteio marcado para dia 7 de julho, em Matosinhos.
Em Maio festejámos 35º título em casa numa festa que se espalhou pelo país. Continuámos em festa até Coimbra onde fechámos a época com uma goleada que garantiu a conquista da Taça da Liga. Saíram Gaitán e Renato. Veio o Europeu de França e, apesar da teimosia inicial, o seleccionador rendeu-se a Renato Sanches e o caminho ficou aberto para uma conquista inesquecível. Mais festa.
Depois entrou o verão e começou a tentativa de nos explicarem que devíamos entrar em depressão. Porque o rival do norte tinha acertado, finalmente no seu treinador e agora é que é a sério e, sobretudo, porque o rival do Campo Grande é o maior favorito a ganhar tudo porque mantém tudo igual. Como sempre, nós é que tínhamos que ficar apreensivos a cada jogo da pré época que corria menos bem, a cada notícia de saídas do plantel. O costume.
Como sabem, por aqui assim que termina a temporada afasto-me de dar opiniões e fazer previsões. Aproveito o intervalo entre temporadas para manter a minha sanidade mental, acompanho com interesse relativo o que se vai passando mas à distância. Guardo-me para o primeiro jogo a sério da temporada. Felizmente, connosco tem sido quase sempre primeiro que os outros. Ainda andam os grandes favoritos a tentar definir os plantéis já andamos nós a festejar novas conquistas.
E vamos lá ao que interessa. O Benfica começa 2016/17 como acabou a última, a ganhar.
Primeira nota impressionante deste Benfica, o banco de suplentes. Além de Paulo Lopes, Lisandro, Samaris, Salvio, Guedes, Jimenez e Carrillo! Quanto a opções, a qualidade destes nomes fala por si.
Então e o onze? Como ia Rui Vitória lidar com as ausências de Ederson, André Almeida, Eliseu ou as partidas de Gaitán e Renato? Fácil. Com a qualidade do plantel.
Júlio César na baliza continua a ser uma garantia de qualidade.
Grimaldo da esquerda continua a crescer de maneira espectacular, Luisão mesmo longe do seu melhor é uma autoridade, Lindelof mesmo atrasado na condição física é um esteio, Nelson Semedo na direita vive a sua segunda vida e corre para atingir o bom nível que o levaram à Selecção há um ano.
Fejsa no meio é... Fejsa. Pizzi na direita vem em crescendo e acabou o jogo de forma épica, Jonas e Mitroglou na frente são a dupla que se sabe, o brasileiro já abriu o livro e inaugurou a sua conta pessoal de golos.
Até aqui nada de novidades.
As boas novas estão nos lugares que mais preocupavam. Na esquerda, Cervi em poucos minutos mostrou ao que vem. Rapidez, improviso, velocidade, técnica e um golo assombroso a abrir a época. Foi Cervi que mostrou o caminho para a primeira conquista da época. Não consigo imaginar melhor forma de suceder a Nico Gaitán que estará orgulhoso da exibição do pequeno Franco Cervi. Tem tudo para fazer história no Benfica. A sua estreia foi um abuso.
Finalmente, falemos de André Horta, o número 8. Um puto que conheci por força do nosso benfiquismo, uma amizade que nasceu como tantas outras na minha vida, por causa do Benfica, pelo Benfica e a ir ver o Benfica. Neste caso fomos no mesmo carro a Oliveira de Azeméis ver um jogo de hóquei. Parece mentira que aquelas conversas de imaginar o puto a sair do Vitória de Setúbal para titular do Benfica se tenham tornado realidade. A verdade é que está mesmo a acontecer. O André foi à luta, conquistou o seu espaço e na estreia oficial pelo Benfica foi um dos melhores jogadores em campo. É uma sensação incrível ver um dos nossos a jogar e a festejar daquela maneira.
Eu não quero amigos, companheiros ou conhecidos na equipa do Benfica, eu quero é que os melhores jogadores estejam do nosso lado e se forem benfiquistas, então melhor! O André Horta é isto tudo e entusiasma a bancada.
Não consigo imaginar melhor arranque de época. Foi perfeito? Não. Há muito para trabalhar. Depois da obra prima de Cervi o Braga reagiu e mostrou bons argumentos que Rafa desperdiçou na melhor oportunidade que tiveram numa bola lançada pelo guarda redes. Um lance que não deve acontecer na nossa defesa. Devíamos ter resolvido o jogo nos primeiros 20 minutos onde a equipa jogou um futebol incrivelmente sedutor. Não conseguimos e tivemos que sofrer.
O Braga não conseguiu aproveitar os desacertos naturais desta altura da época e isso fez toda a diferença porque além de Rafa não ter sido decisivo, Boly também não conseguiu evitar com os seus companheiros o aparecimento da inspiração de Pizzi e Jonas que resolveram o jogo de maneira poética. O português com um chapéu superior e uma assistência maravilhosa que Jonas agradeceu fazendo golo.
Depois havia aquele pormenor do banco do Benfica estar recheado de opções de um nível insultuoso para Peseiro. O técnico do Braga acabou a época a perder a Taça e começa esta a perder a Supertaça. Só lamento que não tenha lançado o Ricardo Horta que ia proporcionar um encontro de irmãos dentro do jogo. Não quis, perdeu e lamentou-se como é seu hábito.
Está aberta a temporada, o Benfica continua forte como nos tem habituado esta década onde não conseguimos parar de ganhar troféus.
Assim foi a estreia do novo Benfica de Rui Vitória, uma mão cheia de nada. E outra cheia de coisa nenhuma.
O pior nem foi o resultado, por muito que nos custe, muito menos a maneira como ele é conseguido, com tabelas de sorte. O pior foi chegarmos ao fim do primeiro jogo oficial e ficar sem perceber o que é o tal novo Benfica.
Andamos há várias semanas a tentar esquecer o nome de Jorge Jesus mas como o primeiro embate da época era precisamente contra ele tornou-se impossível ignorar o choque. Há que dizer que o ex treinador do Benfica ganhou em toda a linha este combate ficando, para já, como o grande vencedor nas arriscadas opções que tomou nos últimos tempos. Desde logo lançou este jogo como quis, da maneira que mais gosta, chegando a ficar na incrível posição de sair sempre ganhador desta Supertaça. Se o Benfica ganhasse era com as ideias dele, se o Sporting ganhasse era porque já mudou tudo no seu novo clube. E contra isto não vi ninguém a conseguir dar a volta.
Dos jogos da pré época raramente comento e não é agora que vou fazê-lo mas ontem tornou-se evidente que aquele desnorte que se viu no futebol do Benfica numa digressão que não deixa saudades, não foi coisa do acaso.
A maior derrota desta Supertaça foi deixar evidente que não há uma ideia de jogo, um sistema principal que possamos trabalhar. Obviamente, também não há plano b. Rui Vitória hesitou e entrou num labirinto que não se está a ver muito bem como há de sair. Aproveitar o que estava bem feito é sempre sinal de inteligência, não perceber onde acaba esse aproveitamento para sintonizar com ideias próprias é preocupante.
Estamos a poucos dias do começo do campeonato e ninguém sabe se este Benfica quer jogar pelas alas, com dois avançados ou só com um, se dá prioridade a bolas longas ou tenta ir mais pelo meio. Não se sabe porque é impossível, para já, vislumbrar uma ideia de jogo, um sistema para ser trabalhado, mais do que uma visão táctica.
O discurso recai em mais reforços mas temos quase como certeza a saída do melhor jogador da equipa, Nico Gaitán. Seria uma surpresa o argentino ficar mais uma época. Assim como é de esperar a venda de mais um jogador útil de plantel, André Almeida tem mercado como é sabido.
Mesmo assim estes ficaram até ontem e já tinha chegado um nome sonante. Portanto, Rui Vitória nem se pode queixar de falta de argumentos. Aliás, olhando para o onze só uma posição merece análise, a de defesa direito onde a partida de Maxi deixou caminho aberto para o miúdo Nelson Semedo. A tal aposta na formação vai ter ali a sua bandeira em campo. Provavelmente, a única em termos de titulares.
A outra ausência foi Lima mas para o seu lugar jogou quem já cá estava no plantel. De resto, só temos a lamentar a lesão de Luisão. A equipa foi praticamente a mesma que nos habituámos a ver ganhar. O facto de perdermos com estes jogadores, Gaitán incluído, da maneira como perdemos é alarmante.
Outro sinal inquietante foi ver o desespero de lançar um jogador acabado de chegar a Lisboa para tentar chegar ao empate. Depois de semanas de trabalho o melhor que temos para mudar o rumo é tentar o número do milagre?
Eu não duvido que Rui Vitória tenha ideias fortes próprias. Eu compreendo que o desafio de pegar num Benfica que ganhou praticamente tudo nos últimos dois anos não seja tarefa fácil. Não se pede que o novo treinador chegue e mude tudo, mesmo porque não faz sentido mudar o que está bem. Mas esperava ver nesta altura a equipa já com um principio de ideias de jogo próprias da nova equipa técnica. O que vi foi um amontoado de equívocos dentro de campo. Está visto que o Ola John não dá mais do que isto, nem com novo treinador, já se percebeu que Talisca é uma herança envenenada que condiciona o desenvolvimento táctico. O que ainda não se viu, e isso pode ser positivo para Rui Vitória, é o que este treinador quer fazer com os jogadores que tem à disposição.
Falar de reforços, para já, não resolve absolutamente nada. A menos que esteja em cima da mesa a chega de Messi ou Cristiano Ronaldo, homens que merecem um desenho táctico em função daquilo que jogam. Como não é isso que está em causa, não serão os reforços, sejam eles quais forem, a endireitarem uma equipa que, neste momento, está longe de ser algo estável e compreensível de analisar.
Com os jogadores que lá estão já devíamos estar numa nova era e não estamos. Isso é o pior.
Quer dizer, na verdade o pior é sempre perder contra o Sporting. Nos últimos 16 derbys perdemos duas vezes e eu não quero abdicar desta estatística assim tão depressa.
Doeu perder para o rivais, doeu estar no Estádio do Algarve e ver a invencibilidade do Benfica neste local ir ao ar com um pontapé de sorte, doeu não ter sentido uma única vez durante 90 minutos que seria possível ver o normal acontecer, isto é, ganhar uma competição.
Uma palavra para a FPF que tornou a Supertaça numa competição muito digna com um excelente trabalho organizativo e de divulgação exemplar. Óptimo sinal.
Outra palavra para os benfiquistas que tenho conhecido pelo Algarve. Este jogo veio mesmo a calhar porque apanha-me numa estadia usual no sul. Desta vez não tive de fazer o vai-vem com os companheiros do costume, já cá estava e aceitei o convite de gente que aqui mora e que me conhece de um encontro na Luz. O suficiente para proporcionar uma tarde incrível de comida e bebida num invejável jardim onde só se falou de Benfica. Laços que são criados constantemente tendo como dominador comum sempre o Sport Lisboa e Benfica. São horas que valem tanto como golos e taças, são prazeres que nenhuma táctica nem nenhuma mudança vai poder acabar, porque à volta do Benfica há sempre muito Benfica que se multiplica de maneira incontrolável. Essa será sempre a nossa maior consolação.
No domingo lá estaremos para os primeiros três da época, está na altura do novo treinador mostrar o que quer e ao que vem, na certeza que a paciência do Terceiro Anel costuma ser curta e com a necessidade de perceber que a exigência no Estádio da Luz está altíssima.
Agora sem Jesus no horizonte, trabalhe-se bem a estreia na Liga.
O Conselho de Arbitragem da FPF nomeou o árbitro internacional Jorge Sousa para apitar a Supertaça Cândido de Oliveira a disputar entre SL Benfica e Sporting CP no próximo domingo, às 20h45, no Estádio do Algarve.
O juiz portuense de 39 anos estreou-se na primeira categoria em 2003 e é internacional desde 2006. Jorge Sousa, que será coadjuvado pelos árbitros assistentes Bertino Miranda e Nuno Manso e pelo quarto árbitro Fábio Veríssimo, foi considerado o melhor árbitro da temporada 2014/2015 pelo CA da FPF.