Twente: o relatório , por Rui Malheiro
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Campeão holandês, pela primeira vez na sua história, em 2009/10, sob o comando técnico do inglês Steve McClaren, o Twente, com o belga Michel Preud'homme como treinador, esteve muito perto de repetir o êxito no último exercício, mas uma derrota na deslocação ao terreno do Ajax (1-3) aniquilou, na derradeira jornada da competição, o sonho do bicampeonato. Um desfecho doloroso para uma época marcada pelas conquistas da Taça e da Supertaça holandesa, como também pela chegada aos quartos-de-final da Liga Europa, na sequência de um 3º lugar na fase de grupos da Liga dos Campeões, onde se cruzaram com Tottenham, Inter Milão e Werder Bremen.
As saídas do técnico Michel Preud'homme, seduzido por uma proposta avultada do Al-Shabab Riyadh, e do médio Theo Janssen, «bad-boy» transformado pelo antigo guardião do Benfica em unidade nuclear dos «Tuckers» e numa das maiores figuras da Eredivisie 2010/11, não diminuíram a ambição do Twente na abordagem à nova época, onde se assume, mais uma vez, como candidato ao título. O irascível Co Adriaanse, campeão português e austríaco, foi a escolha para assumir a sucessão de Preud'homme e regressa, seis anos depois, ao seu País com o objectivo de conquistar o campeonato que lhe escapou ao serviço de Willem II, Ajax e AZ Alkmaar. Garantida a manutenção da estrutura base da temporada anterior, Adriaanse libertou alguns dos excedentários do plantel e apenas efectuou duas aquisições cirúrgicas a «custo-zero»: Willem Janssen, unidade nuclear do meio-campo do Roda, assume a complicadíssima sucessão de Theo Janssen; o veterano Tim Cornelisse, ex-Vitesse, reforça o lado direito do sector defensivo.
O início de temporada tem correspondido às elevadas expectativas em redor da equipa: 5 jogos oficiais, 4 vitórias e 1 empate, apenas 1 golo sofrido, apuramento para a eliminatória de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões e um título conquistado – a Supertaça, diante do Ajax, em plena Amsterdam Arena, o mesmo local onde os «Tuckers» perderam, há três meses, o histórico bicampeonato. Em termos tácticos, Adriaanse tem mantido o 4x3x3 dinâmico utilizado por Preud'homme, muitas vezes desdobrável em 4x2x3x1, mas não se coibiu de elevar fasquias – para além das vitórias, disse que quer o Twente a jogar à Barcelona – e de, como é seu timbre, afastar do «onze» alguns titulares com Preud'homme – Rosales, Buysse ou Landzaat – e de promover à titularidade escolhas menos óbvias como os laterais Cornelisse e Tiendalli ou os jovens promissores Berghuis, Ola John e Leugers.
- Nikolay Mihailov, internacional búlgaro, é o titular indiscutível na baliza e atravessa um excelente momento de forma. O veteraníssimo Sander Boschker, 40 anos, grande referência do clube, é o seu suplente, enquanto que o jovem Nick Marsman é o terceiro guardião do plantel.
- Na defesa, Co Adriaanse definiu rapidamente um quarteto e não deverá promover qualquer alteração. Peter Wisgerhof, capitão de equipa, e o brasileiro Douglas formam a habitual dupla de centrais, cabendo ao sueco Rasmus Bengtsson o papel de principal alternativa. Na lateral direita, o veterano Tim Cornelisse, ex-Vitesse, conquistou o lugar a Roberto Rosales, internacional venezuelano e titular indiscutível com Preud'homme. A forte vocação ofensiva de Rosales fez com que só tenha sido utilizado por Adriaanse a médio ala direito. À esquerda, Dwight Tiendalli, um lateral direito de origem, conquistou, com alguma surpresa, a titularidade, até por se tratar de um jogador de características marcadamente defensivas e que dá muito pouca profundidade do ponto de vista ofensivo. Com isso, o belga Bart Buysse, aposta de Preud'homme na segunda metade da época passada, perdeu espaço, tratando-se, à semelhança de Rosales, de um jogador mais vocacionado para atacar do que para defender. Nicky Kuiper, internacional sub-21 holandês, parece ser, de momento, apenas a terceira opção para a posição.
- No meio-campo também não existem dúvidas: Wout Brama e Willem Janssen formam a dupla de médios centro, tratando-se, no entanto, de jogadores «box to box» e que integram frequentemente acções ofensivas, penetrando, com e sem bola, na 3ª e até na 4ª fase de construção de jogo. Por norma, Brama está obrigado a maiores labores defensivos e Janssen tem maior liberdade para atacar, mas é normal permutarem os papéis. Já Luuk de Jong, um avançado centro de origem, desempenha funções de médio mais ofensivo, usufruindo de liberdade para jogar a toda a largura do campo: não raras vezes, em momento ofensivo, aparece sobre as alas ou, dentro da área, como segundo avançado, como também, em momento defensivo, baixa para zonas próximas às de Brama e Janssen. O jovem alemão Thilo Leugers, também capaz de actuar como lateral ou ala esquerdo, surgiu, nos primeiros jogos da temporada, como principal alternativa para a zona central do terreno, mas uma lesão, que poderá ser impeditiva da sua utilização no jogo da 1ªmão, permitiu ao veterano Denny Landzaat, titular com Preud'homme e antiga unidade nuclear do AZ Alkmaar de Adriaanse, reconquistar espaço. Na defesa de um resultado, sobretudo nos últimos 20-25 minutos, o técnico do Twente tem abdicado de Janko e reforçado o sector intermediário com mais uma unidade, aproximando-se de um 4x3x3 mais clássico, fruto do avanço Luuk de Jong para o papel de referência ofensiva da equipa.
- Nas alas, a titularidade de Bryan Ruiz é uma certeza, devendo actuar a partir do flanco direito, ainda que a troca de posição entre os extremos seja frequente. Restam muitas dúvidas sobre quem será o outro extremo. O internacional belga Nacer Chadli, também capaz de actuar como médio ofensivo, seria a opção mais natural, mas lesionou-se na pré-temporada e deve falhar o duplo confronto com o Benfica. O seu substituto natural seria o internacional sueco Emir Bajrami, só que, à semelhança de Chadli, tem convivido com inúmeros problemas físicos durante esta fase inicial de época e, apesar de ter sido dado como apto, a sua utilização está em dúvida. Por isso, o canhoto Steven Berghuis, o mais utilizado até ao momento, e o destro Ola John, dois jovens de 19 anos, surgem como as principais opções para o lugar em aberto. Na frente do ataque, o internacional austríaco Marc Janko, autor de 5 golos nos 5 primeiros jogos da temporada, será o titular. Reencontra-se com Adriaanse, técnico que já o orientara no Red Bull Salzburgo, na melhor temporada da sua carreira: 39 golos em 34 jogos na Bundesliga austríaca. Luuk de Jong é a principal alternativa para a sua posição, a que se junta ainda o jovem eslovaco Andrej Rendla, utilizado durante alguns minutos na pré-eliminatória diante do Vaslui.