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Red Pass

Rumo ao 38

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RB Leipzig 2 - 2 Benfica: Descompensação Final

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Hoje pedia-se ao Benfica que fizesse tudo o que não tem feito na Champions League. Tudo o que não tem feito não só nesta época mas também nas últimas duas. Pedia-se que o Benfica evitasse a terceira eliminação seguida na fase de grupos da prova. 

Para isso muito mudou na abordagem ao jogo e até na atitude da equipa. Deu para sentir desde o pontapé de saída, onde o Benfica construiu logo um ataque para remate de Cervi, que a vontade era mudar o estado actual do Benfica europeu. 

Bruno Lage apostou num 11 mais maduro e aproximou-se daquilo que adeptos e imprensa consideram ser o mais lógico em termos de melhores unidades. Logo aqui tínhamos um facto novo, o RB Leipzig apresentava uma equipa com uma média de idades inferior à do Benfica! Os alemães tinham uma média de 24,1 anos e o Benfica tinha uma média de 26 anos. Curioso. 

Na falta de Rafa e Seferovic, a aposta foi para Cervi no lado esquerdo e Vinicius na frente. Ambas justificadas e ganhas. O argentino fez um bom jogo e o brasileiro voltou a marcar pelo terceiro jogo seguido. Foi o golo 9 na época e em três competições diferentes. Carlos Vinicius apresenta a mesma frieza na hora de finalizar seja em Vizela na Taça de Portugal ou em Leipzig em plena Champions. Isto é a melhor qualidade do avançado do Benfica.

O Benfica começou muito bem o jogo na Alemanha. Com personalidade, autoritário e decidido em fazer algo diferente do que tem sido o padrão Champions. Equipa bem posicionada, segura mesma sem bola, certa nas marcações e com a lição bem estudada quanto ao futebol de Nagelsmann. A primeira parte foi perfeita com o golo de Pizzi e podia ter ficado melhor se o "21" tivesse feito o 0-2 num remate desviado para a barra e que não deu canto. 

Começar a 2ª parte a vencer e a mostrar capacidade de sofrimento, foi assim que o Benfica abordou a 2ª parte. Beneficiou de um ritmo mais lento por paragens no jogo, nomeadamente a assistência a Odysseas. Sempre com o jogo controlado, embora também tenha contado com uma noite de desacerto dos jogadores mais perigosos do Leipzig, o Benfica conseguiu o mais complicado que era aumentar a vantagem. O tal golo de Vinicius que ainda resultou na saída do guardião Gulacsi por lesão. Tudo parecia indicar que, finalmente, o Benfica ia ter uma noite à medida da sua história. 

Mas aquela paragem no começo da 2ª parte para assistência a Odysseas ia ter custos pelo desgaste físico. O Benfica chega ao minuto 90 a ganhar 0-2 mas na verdade ainda faltavam mais 10 minutos de jogo. 

Nagelsmann já tinha feito tudo para mudar o jogo, arriscou, mudou o figurino da equipa e foi premiado na recta final. Ruben Dias fez um penalti Schick e pela confiança com que o sueco Forsberg fez o 1-2 percebeu-se que não ia ser fácil aguentar a vantagem.

Antes de tudo isto, entrou Raul de Tomas para o lugar de Vinicius e ia fazendo o golo da jornada com um chapéu do meio campo que obrigou o suplente Mvogo a defesa apertada. O espanhol entrou aos 82' e depois esperou-se pelo 1-2 e o minuto 93 para voltar a mexer. Saiu o desgastado Pizzi e entrou Caio. A última troca já foi depois do bis de Forsberg. Já o mal estava feito, Timo Werner foi à esquerda, arrastou com ele Ruben e centrou para o meio da área onde apareceu o sueco de cabeça a garantir o apuramento dos alemães e o adeus do Benfica à Champions League.

Foi inglório e custa perder a vantagem assim. Mas não foi nesta noite que o Benfica falhou o objectivo de seguir em frente, aliás, este foi o melhor jogo da equipa na prova. Quando o Benfica acertou no tom da Champions não foi feliz no minuto 98. 

Resta abordar o jogo com o Zenit da Luz como uma 2ª mão de uma eliminatória imaginária em que o Benfica está a perder por 3-1 e quer aproveitar o golo fora. Para isso terá que ganhar por 2-0 ou outro triunfo por três golos de diferença para poder continuar a jogar na Europa em 2020. De preferência com a mesma abordagem desta noite. 

Benfica 1 - 2 RB Leipzig: Eurocépticos

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O grande dilema é o seguinte: o discurso de retoma europeia não bate certo com os zero pontos no final do dia depois da estreia europeia. 

O Benfica começou a disputar a fase de grupos da Champions League pelo 10º ano seguido e não há maneira de sentirmos que a equipa dá o necessário salto qualitativo para bater certo com a promessa de pensar em grande na Europa. 

As campanhas todas acumuladas adensam mais o sabor amargo de uma derrota caseira no arranque de mais uma campanha na Liga dos Campeões. 

Nas últimas décadas o Benfica chegou aos 1/4 de final com o Bayern e com o Chelsea. Depois é preciso recuar a Koeman e lembrar o Liverpool. Foram as excepções que nos fizeram sonhar e que nos mostraram que podia acontecer um Benfica mais ambicioso na Liga dos Campeões. Mas por diferentes razões, o sonho de chegar mais alto vem sendo sempre adiado. Verdade que as duas caminhas até às finais da Liga Europa atenuaram bastante a frustração europeia mas não serviram de alavanca para mais e melhor. 

Parece que há um medo cénico do Benfica em tentar regressar ao mais alto patamar europeu. Os adeptos não levam a sério as noites europeias na Luz que apresenta sempre uma triste moldura humana entre os 16 estádios que desfilam nos resumos no final da noite, e, há que dizê-lo, depois outros compensam com prestações vocais memoráveis longe de Portugal agarrando a ideia que há que ter euro ambição. Os vários treinadores do Benfica vacilam entre usar o 11 mais forte e consolidado e tentar lançar novas caras para não comprometer os pontos na liga portuguesa. Liga essa que é outro problema para o Benfica. O nível é tão mais baixo do que qualquer campeonato do top 5 europeu que os treinadores ficam sempre tentados a mudar algo táctico, individual ou colectivo para improvisar e surpreender o adversário. Isto porque fica demasiado fácil para qualquer clube que tenha de defrontar o Benfica vir observar a prestação interna da equipa e perceber como se joga. São cerca de 30 jogos internos que o Benfica tem para contornar adversários a jogar quase sempre da mesma maneira. 

É isto em traços gerais. 

Vamos ao desafio de hoje. Bruno Lage mexeu na equipa e no plano de jogo. Parece-me óbvio que o faça. Seguir para este jogo com o habitual 4-4-2 seria tornar tudo ainda mais previsível para o adversário. Já com o Frankfurt se percebeu que houve uma preocupação de montar um ataque diferente sem dar nenhum jogador à marcação da linha defensiva. 

Hoje, Lage apostou em RDT mais à frente e Jota atrás, Cervi, uma surpresa mas que já tinha jogado no tal jogo com o Eintracht e Pizzi nas alas. Entregou o meio a Fejsa e Taarabt, dando continuidade a aposta do último jogo. Atrás também uma novidade, Tomás Tavares. André Almeida não estará ainda capaz de jogar dois jogos com um tempo de recuperação tão curto. Aqui parece mais uma necessidade do que um risco, mesmo porque Tomás Tavares fez uma exibição muito prometedora. 

Portanto, a novidade era Jota a atacar as entrelinhas e Cervi mais fresco, primeiro jogo da época, para atacar e defender com a mesma velocidade e intensidade. 

Curiosamente, de todas estas apostas a maior desilusão foi Pizzi. Mais uma vez em contexto europeu Pizzi parece eclipsar-se e até hesitar na hora do remate. É estranho o rendimento de um dos melhores jogadores do campeonato variar tanto em noites europeias. O valor de Pizzi quase que o obriga a estar no banco mas depois do jogo acho que até o próprio concordaria que teria sido melhor ter ido a jogo Rafa de inicio. São daquelas conclusões fáceis de tirar depois do jogo, antes é mais complicado. 

Com tudo isto, o Benfica conseguiu dividir o jogo. Conseguiu mostrar momentos de bom futebol, especialmente guiados por Adel Taarabt e com combinações de primeiro toque que chegaram a empolgar a Luz. 

A verdade é que o Benfica construiu oportunidades suficientes para marcar e isso é um bom indicador. O mais dramático é que continua a ser mortal a este nível não se concretizar as boas oportunidades. Grimaldo de livre viu Gulacsi a negar o golo, RDT arrancou grande remate mas voltou a sair ao lado, Pizzi foi irreconhecível na finalização e Cervi ainda devia estar a pedir desculpa pela envergonhada maneira como não marcou golo depois de um passe magistral de Taarabt.

Acrescenta-se a esta falta de qualidade na hora de fazer golo dois argumentos pesados. O primeiro é a diferença na hora de decisão de Timo Werner para a realidade que conhecemos. O alemão em oportunidade e meia faz dois golos. É duro mas é mesmo assim.

O segundo argumento é que há uns meses atrás quando batemos o Eintracht na Luz quem fez de avançado foi João Félix. Podem gostar muito ou pouco mas o rapaz é um craque e fez 3 golos resolvendo uma questão que hoje nem RDT, nem Jota conseguiram. E não conseguiram porque João Félix só há um de tempos a tempos e por isso é que saiu pelo valor que se sabe.

Então porque é que não se foi buscar um jogador assim? Bom, por mim trazia-se o Timo Werner, por exemplo. O problema é que só o dinheiro não chega para ter um jogador daqueles no nosso quadro competitivo e foi isso que Bruno Lage explicou na conferencia de imprensa antes do jogo com o Gil Vicente. 

É neste drama que vivemos. 

Houve coisas boas mas no fim da noite lá está o último lugar do grupo à nossa espera. 

Há jogadores importantes de fora por lesão e há uma pressão extra pela nuvem negra que tem pairado sobre as prestações do clube na prova. Só um bom resultado na Rússia e um positivo confronto duplo e directo com o Lyon pode devolver a esperança europeia aos adeptos. Há condições para isso desde que a objectividade na hora de concretizar suba aos níveis desejados. 

Hoje foi uma decepção.