Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Red Pass

Rumo ao 38

Red Pass

Rumo ao 38

Benfica 3 - 3 Shakhtar: Frustrante

ER0agKyVUAAkW0X.jpg

Os anos passam e esta sensação de frustração europeia é sempre igual. 

Eu sou de 1973, aos 10 anos, em 1983, vivi logo uma fabulosa experiência europeia que foi ver todos os jogos do Benfica na Luz até aquela final com o Anderlecht. Em dez anos aprendi a gostar do Benfica, descobri o chamamento do Estádio da Luz, a sedução do vermelho das camisolas, o ritual da multidão a dirigir-se da Estrada de Benfica para o Estádio e as bancadas de cimento. Mas o momento que marcou esta ligação ao clube aconteceu na primeira vez  que me levaram a um jogo das competições europeias à noite. Já tinha vibrado com imagens de um jogo com o Torpedo de Moscovo mas conhecer as famosas noites europeias da Luz foi o clique que faltava para transformar uma simpatia em paixão. A força brutal daquelas torres de iluminação, a atracção pelo desconhecido à volta dos nossos adversários, o peso da responsabilidade de representar o nosso país num compromisso europeu e, o mais forte, o desafio do Benfica tentar recuperar o brilhantismo que popularizou o clube nos anos 60. As primeiras experiências na Luz em noites europeias foram fascinantes por tudo o que rodeava o jogo. Só tive a real consciência do peso futebolístico destas noites em 1981. Já tinha visto alguns jogos mas foi nessa eliminatória com o Fortuna Dusseldorf que me apercebi de toda a responsabilidade que envolve estas noites. O jogo esteve 0-0 até perto do fim e toda a gente à minha volta estava contente. Eu não estava a perceber porque é que um empate animava aquela plateia sempre tão resmungona e exigente. Com calma lá me explicaram que na Alemanha o jogo ficou 2-2 e que existia a regra do golo fora de casa. Mesmo perto do fim, Chalana faz o 1-0 e resolve definitivamente a questão. Fiquei fascinado com aquelas contas e regras. Tenho a certeza que foi naquele momento que a minha devoção pelo futebol subiu de nível. 

Nesta altura já tinha muitos jogos vistos para as provas internas, muitas tardes na Luz e até alguns jogos da Selecção, o golo do Jordão à URSS incluído. Faço este enquadramento para sublinhar que os momentos mais altos enquanto adepto que estava a descobrir o futebol ao vivo eram mesmo as noites europeias.

Seguindo este raciocínio, destaco ainda a meia final de 1981, a seguir ao Dusseldorf. A vitória mais amarga daquela altura, o 1-0 ao Carl Zeiss Jena. Fiquei admirado com a ovação com que a Luz se despediu da equipa reconhecendo o esforço. É que isto não era coisa pouca, estamos a falar de uma plateia que na sua maioria viveu as noites mágicas dos anos 60. 

Isto faz toda a diferença. Reparem que durante a épica caminhada da final da Taça UEFA de 1983 tirei um mestrado naquelas bancadas. Enquanto eu vibrava com a vitória contra o Betis, os mais velhos explicavam que aquele golo da equipa de Sevilha nos tinha matado. Ganhámos lá 1-2. Ao Lokeren ganhámos 2-0, não sofremos golos portanto tinha sido bom. Nada disso, a saída do estádio foi penosa com a multidão a reclamar de um resultado curto contra uma equipa que nem nome tinha para andar ali. Vencemos na Bélgica.

O Benfica - Zurique jogou-se à tarde. Chateou-me aquilo de parecer um jogo banal de campeonato. Demos 4-0 depois de trazer um empate 1-1 da Suíça. Mas sem holofotes ligados não foi a mesma coisa. Seguiu-se a Roma. Uma vitória épica em Itália deixou a Luz em euforia na 2ª mão. O Benfica esteve sempre a ganhar mas Falcão empatou na parte final. Passou o Benfica e o Estádio da Luz aprovou. Finalmente, senti a plateia da Luz convencida. Meias finais com a Universidade Craiova. Noite de nervos e 0-0 no final. Fiquei triste com o nulo mas a voz da experiência dos mais velhos lembrou-me que não era mau de todo, tínhamos de marcar na Roménia para ir à final. Marcámos mesmo. Filipovic empatou aos 53' e a tal regra do golo fora funcionou. 

Final a duas mãos. Não tenho memória do jogo da primeira mão porque não foi transmitido! No resumo fiquei chocado com o falhanço do Diamantino e a expulsão do Zé Luís. Não dramatizei. 

Aquilo que vivi no dia 18 de Maio de 1983 marcou o meu benfiquismo para sempre. Fui para a escola primária com uma bandeira enrolada e um recado da minha mãe a autorizar a minha ida para a Luz a meio da tarde. Fui com o pai dela. O último jogo do meu avô no Estádio. Foi como um passar de testemunho. A desilusão do meu avô no final mostrava que a herança ia ser pesada. 

Cresci a ouvir os feitos do Benfica dos anos 60, das noites inesquecíveis na Luz, das finais da Taça dos Campeões e, acima de tudo, das duas conquistadas. Quanto mais via jogos europeus do Benfica, mais tinha a sensação que não ia ter o privilégio de ver o Benfica europeu à altura do... Benfica. 

Podem acreditar que todos os anos sempre que o Benfica termina a sua prestação europeia eu não me esqueço desse dia. O Liverpool em dois anos seguidos, o Dukla, o Bordéus e por aí fora. São sempre noites amargas. Sempre me fez impressão o pessoal que reagia com naturalidade às eliminações. 

De repente, em 1988 tudo volta a fazer sentido. Nova caminhada épica até uma final europeia. Cinco anos depois da Taça UEFA lá estávamos nós numa final. Desilusão. Começar tudo de novo para cair aos pé do... Liége. Do Liége! 

No ano a seguir lá estávamos nós no auge da montanha russa uefeira. Derrota em Viena. Recomeçar tudo de novo. Apanhar a Roma na ronda 1 da Taça UEFA. Eliminados! Acho que nunca tinha vivido um afastamento europeu logo na primeira noite na Luz. Encarei aquilo como uma anormalidade. Talvez o momento mais baixo. Eu estava habituado a apontar para as finais, não para sair em Outubro. Tão ingénuo. Mal sabia eu que ainda ia ver o Bastia, por exemplo. Ou horrores como o Celta. Ou, pior ainda, estar dois anos sem Europa na Luz. Aconteceu. Doeu. Sem a magia das noites europeias não fazia sentido o futebol do Benfica. 

Felizmente, voltámos à ribalta. Com noites memoráveis como Liverpool ou Manchester United pelo meio. Voltámos a duas finais europeias. Na hora da desilusão a perspectiva já era outra. Trinta anos depois do Anderlecht na Luz, vivi as derrotas com outra experiência. Lembrei-me dos anos que ficámos de fora. O jogo com o Sevilha acaba e o que me passa pela cabeça? Que mais valia ter caído cedo e não tinha de sentir aquela dor. Um ano antes ainda tinha doído mais. Mas depois nas viagens de volta lá me lembrava das noites mal dormidas a seguir ao Carl Zeiss, Dukla, Liége ou Bastia. É claro que se for para cair que seja na final. A nossa vida precisa de vitórias europeias. É a nossa herança. Quem não entender a necessidade do Benfica evoluir na Europa não entende o que é o Benfica. 

Serve tudo isto para dizer que hoje é mais uma daquelas noites. São quase 40 anos a conviver com esta ilusão europeia herdada no final dos anos 70 e alimentada por já ter estado tão perto de concretizar o sonho por cinco vezes. Arredondando, já são cerca de 40 noites de frustração. Quase 40 clubes, são menos porque alguns já repetiram a traição, que nos interromperam a viagem. É muita noite de desilusão. Mais vale sair à primeira? Nem pensar. Mais vale nem lá ir? Já aconteceu e não pode voltar a acontecer. 

É para ir sempre o mais longe possível. 

Nesta eliminatória, o Benfica esteve em vantagem várias vezes. Na Ucrânia quando fez o 1-1 já estava na frente. Sofreu golo logo a seguir. Na Luz houve cheiro a noite europeia a sério. Boa entrada na partida e 1-0 que deixava o Benfica em zona de apuramento. Ataque do Shakhtar e golo. Reage o Benfica, depois do belo golo de Pizzi, um pontapé de canto e grande cabeçada de Rúben Dias. Tudo igualado. Na 2ª parte, boa atitude do Benfica. Pressão alta, roubo de bola na área adversária, passe para trás e grande golo de Rafa. 3-1, resultado certo para avançar na Liga Europa. Mas, mais uma vez, o Shakhtar vai atrás do apuramento e reduziu. Com 3-2, o Benfica ficava a um golo da passagem. A Luz acreditou, a equipa queria mas quando o clube da Ucrânia faz o 3-3 acabou-se a ilusão. Mais uma vez. 

A lição que trago daquela noite de 1981 com o Carl Zeiss mantém-se até hoje, quando sinto que a equipa deu tudo e nos fez acreditar no passo seguinte, aplaudo. A sensação de frustração está lá, como sempre, mas tem de haver reconhecimento. O Benfica fez três bonitos golos, quis seguir em frente. O Shakhtar mostrou argumentos fortes na resposta. Mereceu o apuramento. 

Pensei que isto era simples de perceber. 

Só que quando soou o apito final olhei para as bancadas centrais da Luz, já meio despidas, e fiquei incrédulo com uns quantos adeptos a acenarem com lenços(?) brancos! A equipa a despedir-se das noites europeias agradecendo a presença e apoio do público e metade a assobiar e a outra a aplaudir. A equipa divide-se e metade vai ao Topo Sul aplaudir, enquanto ouve um motivador "Nós Só Queremos o Benfica Campeão", ao som de "Yellow Submarine", e a outra metade já ia no túnel. 

Que final de noite foi este? 

O pessoal dos assobios e dos lenços brancos quer o quê? Despedir Bruno Lage em Fevereiro, é isso? E sugerem que treinador para o jogo com o Moreirense? O Renato Paiva? Para daqui a um ano exibirem outra vez os lenços? Ou estão a pensar no Jorge Jesus que em 2013 insultavam aos 90 minutos do jogo com o Gil Vicente? 

Que é isto?

Que mal fez hoje o Lage? Manteve a defesa. Na ausência de Samaris chamou Weigl e Adel, deu os corredores laterais a Rafa e Pizzi, escolheu Chiquinho para estar mais perto do estreante Dyego Sousa. É um onze assim tão polémico e sem nexo?! 
Ter a eliminatória na mão com 3-1 e sofrer dois golos é frustrante e, até revoltante. Sem dúvida. Mas é motivo para uma assobiadela ou para lenços brancos? Eu acho que não. Acho que é tão parvo como dizer que o Benfica não deve dar importância às competições europeias. 

Não há ninguém que possa dizer que sente mais estas noites europeias. Mas transformar isso em exigência de despedimento do treinador não me parece lógico. 

Segunda feira há um jogo com o Moreirense para ganhar e defender o primeiro lugar no campeonato. Perturba-me pensar que há consócios que a esta hora além da falta de sono por mais um sonho interrompido achem que esta frustração se resolve com o despedimento de Lage. É assustador. 

O Benfica esteve interessado em Bruno Guimarães. O brasileiro seguiu para o Lyon. Esta semana foi o melhor em campo contra a Juventus. Acho que é mais por aqui que devemos reflectir do que sugerir a saída do treinador. 

Penso que não é preciso andar há 40 anos a ser eliminado anualmente, com dois anos de ausência, para saber reconhecer quando a equipa faz tudo para seguir em frente mas mesmo assim é derrotada por um adversário que foi melhor. 

Se a velha guarda que viveu os gloriosos anos 60 soube perceber isso em 1981 naquela meia final da saudosa Taça das Taças, este pessoal que foi hoje à Luz também devia conseguir. 

Shakhtar 2 - 1 Benfica: Para Resolver na Luz

ERPorHcXUAIZpXg.jpg

Que fase má do Benfica! A terceira derrota em quatro jogos sem ganhar é um ciclo horrível mas é preciso detalhar este resultado que pode não ser assim tão mau como a derrota anuncia. 

Tal como em Famalicão o empate foi muito melhor que a exibição e cumpriu um dos objectivos da época, voltar ao Jamor, hoje o Benfica deixou em aberto a resolução da eliminatória europeia para daqui a uma semana na partida da Luz.

Mas o momento não é bom. A equipa só reage a espaços e mete-se a jeito de ficar em desvantagem com facilidade. Um dos grandes mistérios do Benfica actual é a posição do Seferovic. É sempre a primeira escolha a ir a jogo e hoje foi a preferência para o ataque do Benfica. Em troca dá uma mão cheia de nada. Perto dele esteve Pizzi, ficando no lado direito Chiquinho e na esquerda Cervi. No meio Taarabt e Florentino que andaram numa montanha russa na primeira parte a acudir no espaço entrelinhas que o Shakhtar conseguia explorar com facilidade. 

O Benfica não conseguiu impor o seu jogo e acabou por ter que andar atrás do futebol da equipa de Luís Castro. 

O nulo ao intervalo era a notícia menos má. O 0-0 e a exibição de Odysseas que continua a ser determinante para agarrar a equipa em alturas em que parece tudo perdido. 

Na 2ª parte esperava-se uma atitude diferente do Benfica mas acabou por ser mais do mesmo. Os ucranianos ameaçaram, na 1ª parte até marcaram um golo anulado rapidamente pelo VAR, e aos 56' marcaram mesmo. Um passe para a baliza de Alan Patrick assistido por Marlos depois de uma jogada fácil do ataque do Shakhtar. 

Estranhamente, o golo fez bem ao Benfica e a equipa, finalmente, tentou jogar o seu jogo. E 10' depois chega ao golo numa jogada de insistência de Tomás Tavares e Cervi. Golo anulado e penalti visto pelo VAR e confirmado pelo árbitro por falta sobre Cervi. Pizzi aproveitou e empatou o jogo. De repente, o Benfica ficava por cima da eliminatória com a vantagem do golo fora. Era uma boa altura para tomar conta do jogo e tirar proveito da falta de ritmo competitivo do adversário. Mas não. 

Rúben Dias facilita incrivelmente na linha de fundo e Junior Moraes aproveita para dar o golo ao Kovalenko que fez o 2-1. Precisamente na altura em que Vinicius foi chamado e antes de Rafa ir a jogo. 

Curiosamente, o Benfica acaba por cima, a fazer pressão, a trocar a bola e a procurar atacar, o que levanta a questão sobre a atitude da primeira parte. Pareceu ser uma equipa demasiado passiva e na expectativa. 

Da Ucrânia o que de bom se traz é o golo de Pizzi, 1-0 na Luz basta para seguir em frente, mas o Shakhtar tem qualidade mais do que suficiente para marcar também em Lisboa.

Cabe à equipa mostrar em casa o que quer da Europa em 2020. Hoje viu-se muita hesitação nessa vontade. 

Benfica 0 - 1 Braga: Sim, Estamos com Problemas!

braga.jpg

Faço questão de começar por elogiar o Braga e dar os parabéns pela vitória na Luz. Excelente trabalho de Rúben Amorim que veio à Luz fiel à sua ideia de jogo mesmo arriscando lançar um defesa central sem experiência na linha de três. Não me custa nada reconhecer o bom trabalho de um adversário do Benfica e escrever que fizeram por ganhar na Luz. Uma palavra também para os Hortas que por terem feito a sua formação do Benfica são sempre injustamente visados antes e depois destes reencontros com o Benfica. Hoje ganharam e estão de parabéns. 
Mas este exercício ficaria melhor a quem tem responsabilidades no futebol e na imprensa, dirigentes, comentadores e jornalistas, que colocaram em causa a seriedade dos profissionais do Braga, destes e de outros que já saíram, sempre que falam ou escrevem sobre este clássico do futebol português. Não é bonito gritar para os profissionais bracarenses que contra o Benfica não se empenham tanto ou passar a mensagem para a opinião pública que o Braga oferece os 3 pontos ao Benfica. Agora, estão todos satisfeitos, entretidos a fazer piadas e eufóricos com a ideia de aproximação e não conseguem ter cinco minutos para pedir desculpas publicamente e assumirem que foram umas bestas sempre eu colocaram em causa a seriedade do adversário do Benfica. Possivelmente, até estão a divulgar que foi graças a essas miseráveis declarações que o Braga hoje venceu. Não foi. Nem é preciso andar muito para trás no tempo para lembrar que este clube já eliminou o Benfica na Luz para a Taça de Portugal, tirou uma final da Taça da Liga e, pior, afastou o Benfica numa meia final europeia a contar para a Liga Europa. 

 

Hoje o Benfica sabia que tinha uma tarefa difícil num contexto emocional exigente. A derrota no Dragão fez mossa mas resultou de um clássico demasiado polémico dentro e fora de campo. O jogo seguinte em Famalicão teve desfecho positivo porque significou o apuramento para o Jamor mas com um empate 1-1 que não entusiasmou ninguém. Este era o jogo certo para a equipa dar sinais de vitalidade. 

De fora veio a melhor das respostas, a Luz recebeu cerca de 60 mil adeptos em ambiente de jogo grande, com coreografia e tudo, e com envolvência de partida importante. 

O Braga rapidamente mostrou que vinha para jogar com a qualidade que o levou a bater Porto e Sporting por duas vezes no espaço de poucas semanas e que já rendeu um troféu a Rúben Amorim. Bom para o futebol. Jogo aberto, dividido, com os melhores a terem que assumir as suas responsabilidades. Da parte do Benfica com Taarabt à cabeça sempre à procura de inventar soluções que deixassem Rafa ou Vinicius e em boas situações de finalização, assim como Cervi e Pizzi a fazerem chegar a bola à área com cruzamentos através das alas. E aqui começam os problemas do Benfica. Assim que se percebe que a finalização não está afinada, um certo nervosismo apodera-se da equipa na altura de posse de bola. Aquele circular paciente de bola, aquela calma que se estendia até aparecer um golo, mesmo que tardio, tem dado lugar a uma ansiedade que faz com que as oportunidades para o Benfica apareçam mais por erros forçados do que por organização ofensiva. Desta vez, esse nervosismo não passou para a bancada, houve sempre apoio na Luz a tentar dar a tranquilidade necessária à equipa. 

A verdade, é que nenhuma das ocasiões de golo foram aproveitadas e o Braga consegue fazer um golpe duro antes do intervalo. Numa falta inexistente de Rúben Dias, nasce um livre que leva perigo à baliza do Benfica. Odysseas defende superiormente mas no canto Palhinha fez mesmo o 0-1.

Aqui duas notas. As arbitragens dos jogos do Benfica têm dado pano para mangas. Hugo Miguel deu mais uma demonstração da falta de qualidade da classe. Momentos exemplares na primeira parte, uma falta sobre Rafa aos 21´para vermelho e um lance em que Taarabt atinge um adversário que devia ter sido falta e cartão amarelo para o marroquino. Mais a falta inexistente do Rúben que acaba por estar na origem do golo, temos aqui exemplos da incompetência com que temos sido brindados nesta Liga. E até estou a dar exemplos para os dois lados para não pensarem que acho que este mau momento é desculpável. Não é. Mas existe. 

A segunda nota vai para o momento de Odysseas, guarda redes de nível superior. Gigante. A melhor notícia desta fase.

 

Na 2ª parte pedia-se mais oportunidades de golo, mais velocidade, mais posse bola, mais dinâmica entre Tomás e Pizzi, Grimaldo e Cervi, Rafa mais solto e Vinicius mais incisivo. Só houve mais Taarabt. O Braga ao não abdicar de continuar a fazer o seu jogo tirou espaço e bola às ideias do Benfica. Esse sinal ficou bem claro quando Ruben Amorim tirou Galeno e lançou Trincão.

A resposta de Lage veio aos 62' e pareceu mais do mesmo em relação a semelhantes cenários recentes. Sai Cervi entra Seferovic. A Luz não gostou e fez-se ouvir com assobios. Mais tarde entrou Chiquinho por Weigl e aos 86' Dyego Sousa por Tomás Tavares. Eu diria que nada de bom veio daqui. Vou repetir o que escrevi aqui sobre o jogo no Dragão, os adeptos do Benfica já não estavam habituados a este nível de improviso, já estavam confortáveis com a insistência na ideia até ao fim com alguns ajustes. Mas acabar o jogo com Vinicius, Dyego e Seferovic é atípico. E ter o suíço como primeira opção quando nas últimas 16 chamadas só marcou num jogo é estranho. Não está em causa o valor do melhor marcador do último campeonato, está em análise o rendimento actual neste quadro competitivo. 

Sim, temos problemas. Quanto mais depressa os identificarmos e assumirmos mais rápido podemos corrigir e mudar. Os últimos dois jogos para o campeonato representam seis pontos perdidos, portanto é evidente que há soluções por encontrar. 

 

Última nota para Raul Silva, o central do Braga não merece a fase que o clube que representa atravessa. Para não ir mais longe.

Segue-se o regresso à Liga Europa. Novamente, é muito importante diferenciar o contexto competitivo tal como aconteceu na Taça de Portugal. Foco e inteligência na Ucrânia, o destino Europeu não se decide numa só noite. É preciso saber construir um cenário que proporcione um final feliz depois na Luz. Determinante mesmo é a deslocação a Barcelos de 2ª feira a oito dias, aí é que não há margem de erro. 

No fim do dia a menos má das notícias é o facto do Benfica partir para a próxima jornada como líder. Com maior ou menor vantagem, no fundo, tem sido esta a vida do Benfica nos últimos seis anos, sem margens de erro nem confortáveis vantagens. Quando as temos parecer que fazemos questão de as desperdiçar... Tem sido assim. Haja a garra, o foco, a concentração e determinação que houve em cinco desses últimos seis anos. tem a palavra a equipa. Com o apoio não se preocupem, em Barcelos lá estaremos todos juntos a puxar para o mesmo lado. 

Porto 3 - 2 Benfica: Impotência Frustrante

drag.jpg

Já nem me lembrava o que era fazer a A1 em esforço para Lisboa. Estivemos num ciclo incrível em que estas viagens até pareciam mais curtas, na última noite voltei a sentir o peso da distância, também porque vim a conduzir, depois de uma derrota. Já não me lembrava, quero esquecer rapidamente e desejo que não volte a sentir tão cedo. 

Aproveitando o facto de ter vivido o clássico por dentro começo por partilhar algumas notas à volta da organização do jogo que acho úteis para quem não está tão por dentro destas logísticas. Em 2020 está muito acessível e confortável ir até ao Dragão ver o Benfica. Fui na década de 90 às Antas e já fui ao novo recinto de comboio, de carro sem escolta e ontem em carro próprio seguindo a sugestão da policia. A maioria dos adeptos benfiquistas de Lisboa optaram por ir de autocarro e saímos todos juntos a pé para o estádio. Sem qualquer dificuldade e com a moral em alta. Seria impensável ir com esta facilidade toda a um clássico no Porto até há pouco tempo. Portanto, só posso deixar elogios ao Benfica e à PSP por toda a operação. Isto é de valor, tem de ser sublinhado porque quando corre mal todos criticamos. 

 

Sigo por uns recados para as entidades que mais se põem em bicos dos pés durante a temporada futebolística. Começo pela tarja de boas vindas aos adeptos do Benfica fixada num viaduto do Porto.

fdp.jpg

enf.jpg

A juntar às boas vindas ainda tivemos direito a bonecos enforcados, um com equipamento do Benfica e outro, suponho, deve ser o árbitro. Quando estamos a atravessar tempos tão sensíveis socialmente e que tantas vezes vemos imediatas reacções de João Paulo Rebelo, o zeloso Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, e de Pedro Proença, Presidente da Liga Portugal, por exemplo, é estranho que até agora ninguém tenha mostrado indignação.

 

Por falar em Liga Portugal, eu enquanto adepto que pago caro o meu bilhete para ver um jogo, este custou 31€, que pago a deslocação e passo o dia dedicado ao espectáculo que a organização deve defender, gostava muito de perceber porque é que no Dragão o número oficial de espectadores termina sempre com o número da camisola do jogador que faz o primeiro golo do Porto. Também gostava de saber porque é que o Porto atrasa as suas entradas em campo para que os jogos comecem invariavelmente mais tarde. É que as partidas já são marcadas para um horário tardio, não é preciso atrasar mais o seu começo. E ainda, gostava de entender porque é que o guarda redes do Benfica, com pressa, vai buscar uma bola para recomeçar o jogo e acaba a levar cartão amarelo, a perder tempo e continua sem bola depois disso tudo. Sendo que para seguir o jogo aparecem depois duas bolas em campo.

Este episódio leva-me a questionar agora a coerência do Sérgio Conceição. Há pouco tempo queixou-se, mais do que uma vez, do anti jogo e tempo útil de jogo. E bem. Podemos falar disto neste clássico ou é só quando o Sérgio está apertado. Sérgio, o teu Porto da segunda parte deste jogo foi igual ao teu Vitória de Guimarães na Luz há uns anos. Coerência é isto. 

 

Agora o jogo.

O Benfica tinha uma oportunidade óptima de fazer história no Dragão ou, pelo menos, de fazer mossa no rival. Vários cenários eram apetecíveis para o líder que nunca tinha estado nesta posição confortável nas visitas ao Porto. Por incrível que pareça, este conforto faz mal ao Benfica. Parece que tudo funciona melhor quando a pressão está no limite como na época passada. 

Pedia-se ao Benfica que entrasse autoritário, com posse de bola, impusesse o seu estilo e o seu jogo, que dominasse o jogo de forma natural. Tinha tudo a seu favor, inclusive a previsibilidade do seu adversário. 

Sem margem para erro, Sérgio Conceição foi pela única via possível, um 4-4-2 com Soares e Marega na frente, no meio campo Uribe, Diaz, Sérgio Oliveira e Otávio e na defesa uma chamada de Pepe ao lado de Marcano com Alex Telles e Corona nos corredores a darem muita projecção atacante. Tudo isto assente numa pressão intensa e uma reacção à perda de bola agressiva. Ou seja, o Porto na sua zona de conforto, na sua atitude preferida em postura de tudo ou nada e com conhecimento das limitações defensivas do Benfica que, aliás, já tinha explorado com sucesso na Luz. Veja-se o golo que Marega inventou. 

Nos tempos de Giovanni Trapattoni eu sei bem como é que este jogo era encarado. Mas os tempos são outros e a exigência está no auge, felizmente. Ninguém ia perdoar a Bruno Lage um plano de jogo para não perder. Quando tudo parecia claro para encarar o clássico surge a baixa de Gabriel e várias opções se levantaram. A equipa técnica do Benfica optou por lançar Weigl e Taarabt que se juntava a Chiquinho atrás de Vinicius. Destes três, dois são claramente ofensivos e com necessidade de ter bola, depois Rafa a ameaçar na esquerda e Pizzi na direita. Na defesa nada de novo. Na teoria, era uma equipa com vontade de ter bola e ofensiva. Houve sinal ambicioso na entrada em campo. 

O Benfica não entra mal nos primeiros minutos mas aos 4 minutos Marega deixa Taarabt K.O. no relvado e deu o mote para o jogo do Porto. O facto deste lance não ter merecido qualquer reparo de Soares Dias nem de Tiago Martins também deixou claro ao que íamos. Estes são dois nomes apontados para o sucesso de Portugal no futebol internacional a nível de arbitragem. Por isto é que não temos nenhum nome de arbitragem em fases finais de Mundiais, Europeus ou Champions League. São ridículos na sua altivez e abjectos na sua vaidade. Lamento.

Aos 10', Otávio centra e Sérgio Oliveira faz o 1-0 e foi a primeira vez que o Dragão reencontrou a sua identidade. Até aí todos pareciam muito receosos, equipa e adeptos. 

Tal como na época passada, o Benfica reagiu e 8' depois Carlos Vinícius marca na mesma baliza onde João Félix tinha feito a festa há um ano. O sector visitante ficou ainda mais motivado e nada apontava para o que veio a seguir. Cartão amarelo para Taarabt, cartão amarelo para Weigl, em três minutos os homens do meio ficaram condicionados e 6' depois Tiago Martins vê um penalti de Ferro. Soares Dias, que nada assinalou em cima do lance, foi ao VAR e abriu caminho para o 2-1 que Alex Telles agradeceu. Se é verdade que há mão do Ferro, também é evidente que Soares empurra o central do Benfica. A questão é, que imagens é que Artur Soares Dias viu para ignorar assim a falta do avançado portista?!

E assim se esfumou a reacção do Benfica. Pior que isto, a equipa acusou os três amarelos seguidos, o penalti, e o facto do Porto continuar a atacar pelo lado esquerdo da defesa do Benfica, entre Grimaldo e Ferro, acabando por chegar ao 3-1 antes do intervalo com Rúben Dias e Odysseas a não conseguirem reparar a mossa de Marega. 

Desilusão total ao intervalo. Pedia-se uma nova abordagem na 2ª parte. E o Benfica acreditou que era possível ir atrás de um bom resultado, Rafa assistiu Vinicius que aos 5' reduzia para 3-2. Ficava toda uma 2ª parte para brilhar. Uma palavra de conforto para o avançado brasileiro que bisou no Dragão, não foi por ele que as coisas correram mal. 

A partir daqui o Benfica fez o que sabe melhor fazer, ter bola, circular, procurar soluções e tentar chegar ao empate. O problema é que foi durante um período muito curto porque rapidamente a equipa de Sérgio Conceição levou o jogo para a perda de tempo. O episódio que já referi do Odysseas aconteceu aos 64'.

A partir dos 66', o Benfica perdeu as suas raízes de jogo. Bruno Lage com meia equipa "amarelada" optou por partir o jogo e levar tudo para o campo do improviso. Tirou Adel, que estava na primeira linha para ser expulso, lançou Seferovic. Nada de bom saiu daqui. Dez minutos depois trocou Weigl por Samaris. Mais dez minutos e saiu André Almeida que deu lugar ao estreante Dyego Sousa. Rafa passou para defesa direito e o futebol do Benfica já era só desespero à procura de um milagre final. O Porto sempre confortável com esta anarquia e todo este improviso. Tudo saiu mal ao Benfica. Perdeu-se o controlo do jogo e caiu-se na tentação de um futebol que não sabemos jogar, abdicando de tudo aquilo que a equipa costuma fazer até ao fim. 

Foi mau. Ficou aquela sensação do costume, sempre que podemos fazer estragos profundos naquele recinto acabamos por lhes dar vida. Tem sido isto a minha vida toda. Em 2010 podíamos e devíamos ter sido campeões ali. Não fomos e foi o que se sabe nos anos seguintes. Desta vez podíamos ter aumentado para 10 pontos a vantagem, saímos com 4. É frustrante. Entre estes dois jogos tivemos momentos muito bons no Dragão mas nenhum tão saboroso como um título ou uma vantagem histórica. O mais próximo que se conseguiu foi na época passada. Em máxima pressão, lá está.

A ironia disto tudo, é que há um ano saímos do Porto com uma vantagem de 2 pontos na liderança. O regresso para Lisboa foi em total euforia. Com 2 pontos de avanço e um calendário delicado pela frente. Desta vez, regressamos com 4 pontos de vantagem e uma calendário menos agressivo mas a decepção e frustração é gigante. Porque já não somos o Benfica de Trapattoni, não equacionamos empates e quando a derrota chega é como uma abalo sísmico de alta intensidade em todo o universo benfiquista. Ficamos a mastigar todo o jogo em loop e a pensar que devia ter sido tudo diferente. Tudo, não. Os golos do Vinicius mantinham-se. 

Resta-nos fazer um rápido luto e ganhar força para ir a Famalicão garantir um dos objectivos essenciais da temporada que é regressar ao Jamor. Ir com ganas de voltar a encarar a A1 para Lisboa com felicidade. 

Só depois é que podemos pensar na continuação da Liga NOS. Que esta impotência dos clássicos seja a excepção numa prova imaculada até ao fim, como foi a primeira volta. 

Quem passou o sábado dedicado a esta operação que foi estar no Dragão tem uma pequena mas valiosa compensação em relação ao resto do universo benfiquista, passar um dia em família unida no espaço do maior inimigo do nosso clube dá-nos sempre um conforto na alma e uma mais valia nas nossas vidas dedicadas ao Benfica que nenhuma derrota nos vai tirar porque este sentimento é o coração que faz bater a grandiosidade do Sport Lisboa e Benfica. Foi assim nos anos 90 e continua a ser assim hoje. 

 

A Minha Despedida de Eusébio

Nasci em Abril de 1973 em Moçambique. Vim logo para Lisboa e os meus pais foram viver para a rua em frente ao Califa onde havia uma paragem de eléctricos e autocarros. A paragem em que o povo saía e rumava a pé para a Luz subindo a rua onde eu ia viver mais de três décadas da minha vida.

 

Tinha eu dois meses e meio de vida e o Benfica ganhava 6-0 ao Montijo e sagrava-se campeão nacional. Marcaram Toni e Jordão, pelos humanos. Eusébio fez quatro golinhos.

Esta introdução serve para explicar que não faço a menor ideia qual foi o momento em que deixei o Benfica entrar na minha vida, eu é que entrei na vida do Benfica sem ter consciência disso. Já fazia parte do universo encarnado por defeito. O Estádio ao lado de casa, o povo benfiquista a passar à minha porta aos domingos e quartas à noite, estava tudo feito mas faltava o empurrão. 

O pai da minha mãe, o avô Alberto, fez o resto ao passar-me aquele benfiquismo lindo cada vez que ia lá a casa ver a bola, como se dizia. O padrinho da minha irmã, o tio Victor, criou definitivamente o monstro (eu) ao levar-me para o Estádio quando a família achou que eu já tinha idade para isso.

Até ao dia que entrei na Luz para ver um jogo a sério ficou muito tempo para trás de sonhos a ouvir relatos e, raramente, a ver na televisão com um curioso ritual. Se era jogo europeu, quarta feira à noite, ficava na varanda virada para a rua do califa a olhar fixamente para o impressionante clarão que rompia o negro da noite por trás daqueles prédios vermelhos mais perto do estádio com a janela um pouco aberta para ouvir o , igualmente, impressionante barulho do povo a gritar cada golo. Ainda hoje tenho na mente esse som maravilhoso! Ouvia o relato e assim que se começava a gritar golo na rádio tirava o som para ouvir o verdadeiro "bruá" da Catedral. Era um quadro mágico, o clarão das luzes a iluminar o céu e o som do golo festejado.

Nos jogos de dia ligava o rádio e ouvia os relatos enquanto reproduzia o jogo na alcatifa em cima do tapete do Subbuteo. E tão feliz que uma criança pode ser assim, nem imaginam.

 

Foi também nesta fase pré Estádio que descobri que uma década antes o Benfica tinha dominado a Europa do futebol e que havia muitos jogadores para descobrir além daqueles que jogavam na altura. O avô Alberto contava histórias sobre o Benfica europeu, sobre campeonatos nacionais ganhos, sobre os Magriços e de como era bom ganhar ao Sporting. O tio Victor explicava o problema de sucessão dos grandes craques dos anos 60, das esperanças que tinha nos novos miúdos e de como era bom ganhar ao Sporting. Em comum havia sempre um nome: Eusébio. Já uma lenda na minha cabeça e mal tinha ele acabado de jogar.

 

Depois veio a escola primária, a preparatória e o Liceu. Não poucas vezes ao dizer alto o nome e a naturalidade , Moçambique, recorde-se, o eco era repetido: terra do Eusébio! O orgulho que eu tenho de ter nascido no país do Eusébio!

Frequentei as escolas de Benfica, perto de casa e perto da Luz. Rapidamente as idas ao estádio em dias de jogo se tornaram curtas. Era preciso ir lá ver treinos, estar perto dos jogadores, ver as imensas bancadas despidas, viver o Benfica. Assim foi fácil para mim ter o primeiro encontro com Eusébio relativamente cedo.

Começo dos anos 80, fim de tarde da Luz. Porta principal ao pé da águia de pedra, passam alguns jogadores a caminho dos seus carros e simpaticamente distribuem fotos autografadas a quem os esperava. De repente vejo Eusébio a poucos metros de mim. Eu, que nem 10 anos tinha e andava ali a pedir autógrafos e "bacalhaus" a tudo o que tivesse pernas e saísse da porta dos balneários, fiquei siderado! Não tive reacção, não pedi nada, não falei, ele passou-me a mão pela cabeça e riu-se. Fiquei horas com aquela imagem na mente, o Eusébio tocou-me.

 

E aqui começou uma relação que até hoje nunca consegui clarificar na minha vida. Eu recebi o Eusébio como herança e já em formato de lenda. Mas ao mesmo tempo ele estava ali bem perto de carne e osso.

Mais tarde descobri que Eusébio morava perto da Estrada de Benfica. Foi num daquelas noites de inverno que perto da escola ia com a minha mãe à papelaria, do outro lado da estrada vi Eusébio a sair de um carro. Gritei para a minha mãe que tinha de ir pedir um autógrafo, desatei a correr em direcção a ele para lhe dizer que o primeiro livro que escolhi para ler na biblioteca da escola era sobre o Mundial de 1966. Pelo meio ficou a Dalila em pânico depois de me ver cruzar a estrada de Benfica sem pestanejar. Eusébio ouviu-me, deu-me o autógrafo, esperou pela minha mãe e disse-me para não voltar a atravessar assim a estrada.

A partir daqui cruzei-me com o Rei muitas vezes, felizmente, e sempre com sorrisos à mistura.

 

Foi à conta dele que fiz coisas sem grande sentido para as pessoas que conviveram comigo ao longo dos anos. Tais como ver os jogos inteiros de Portugal em 1966. É estúpido, um gajo já sabe quanto fica o jogo e quem marca os golos. Pois é mas aquilo é magia pura. Mais tarde consegui ver jogos inteiros do Benfica nas caminhadas triunfantes na Taça dos Campeões Europeus. Impressionante!

 

Entretanto, ia crescendo a ver o Benfica. As inesquecíveis noites europeias dos anos 80 na Luz vi com o meu pai, sportinguista, que torcia pelo Benfica na Europa muito por culpa de Eusébio e companhia e nos jogos de domingo à tarde passei a ir com a rapaziada lá da rua.

Habituei-me a ver Eusébio nas equipas técnicas do Benfica, a trabalhar na formação do clube e , mais tarde, como embaixador ou algo assim parecido.

 

Ainda ele fazia parte da equipa técnica como treinador de guarda redes fez-se um passatempo no campo de treinos nº2. Foram às escolas ali da zona convidar os alunos a aderirem a um desafio que era ir defender um penalti do Eusébio para ganhar bilhetes para um jogo europeu. Obviamente fui. Era malta a perder de vista e o bom do Eusébio ali a chutar a tarde toda. Até chegar a minha vez ninguém tinha defendido nada. Recordo-me de estar na baliza, sendo que nessa altura eu tinha a mania que era o Bento nos jogos de rua, e em vez de olhar para a bola fixei o olhar na figura do King. Ele chutou e eu nem vi onde é que a bola entrou, ao ouvir aquele barulho romântico da bola a enrolar-se nas redes saí disparado da baliza para o abraçar perante os protestos dos organizadores. E então , ganhei o bilhete? Claro que não, ganhei um abraço ao Eusébio!

Lembro-me de contar isto em casa todo orgulhoso perante o sorriso de aprovação da minha mãe. Depois a magia acabou quando o meu pai, sempre bem mais realista, fez uma observação pertinente: "Olha lá, mas tu não tinhas aulas à tarde?". Uma criança sofre muito, todos sabemos...

 

Aos poucos percebi que o Eusébio era uma lenda viva demasiado grande para um clube que inevitavelmente ia perder grandiosidade. Habituei-me a um grau de exigência nas bancadas da Luz que roçava o lunático! O Benfica a construir goleadas de 7, 8, 9-0 ao Penafiel, ao Varzim, ao Vitória de Guimarães e eu nunca pude festejar dignamente essas "tareias" porque à minha volta todos eram mais velhos e encolhiam os ombros. "Isto com o Eusébio eram 14 ou 15."

Eu cresci com os ressacados do maior Benfica da história.

 

 

Em 1982/83 vi o melhor Benfica da minha vida. Fui a todos os jogos na Luz, portugueses e europeus, e nunca senti aquelas bancadas verdadeiramente rendidas aquela equipa. Criticavam o Nené, imagine-se! Para mim era maravilhoso ver aquele Benfica jogar mas depois da final perdida com o Anderlecht percebi que, realmente, faltava ali qualquer coisa para ser um Benfica à altura do Benfica de... Eusébio.

 

Depois vieram as lições nobres. Quando eu mostrava orgulho na pêra que o Bento deu ao Manuel Fernandes o avô Alberto explicava que isso já não era o Benfica dele. Ele viu o Eusébio a marcar um golo ao Yashin e em vez de ir festejar foi cumprimentá-lo, ele viu o Eusébio rematar dramaticamente para o golo na final que dava a 3ª Taça dos Campeões ao Benfica em pleno Wembley contra o Manchester United e ao ver que o inglês defendeu valentemente foi dar-lhe os parabéns pela defesa e aplaudiu!

 

Por isso é que 48 anos depois vemos o Old Trafford a aplaudir de pé comoventemente o minuto de silêncio do King.

E é aqui que quero chegar. A grandiosidade, a nobreza, o nome de Glorioso, foi tudo erguido a partir das conquistas internas e externas das equipas onde brilhou Eusébio. Obviamente não vamos esquecer todos os outros grandes nomes que jogaram com ele, que jogaram antes dele e alguns que apareceram já depois da sua retirada. A verdade é que Eusébio pelos seus golos, pela sua educação, pela sua humildade, pela sua figura, encarnou o Benfica e engrandeceu-o à escala planetária.

 

Já me aconteceu em Espanha, na Holanda, em França e , principalmente, em Inglaterra ver e ouvir reacções incríveis só pelo facto das pessoas verem o emblema do Benfica num casaco, numa camisola, num cachecol! Sem eu abrir a boca fui cumprimentado ao som de : "Benfica! EUSÉBIO!" É assim em todo o mundo.

 

Esta foi a herança mais valiosa e pesada que Eusébio deixou ao Benfica, o respeito! O outro nome do Sport Lisboa e Benfica no mundo é Eusébio. O respeito e admiração que as pessoas têm pelo nosso emblema deve-se muito a Eusébio.

 

Infelizmente, Eusébio morreu hoje. O Eusébio dos autógrafos, dos sorrisos na rua, dos acenos, o homem desapareceu. A lenda continua, já era maior que ele há 40 anos quando eu nasci, vai ficar ainda maior.

 

Texto publicado em 2014

Benfica 2 - 1 Aves: Alma Até Almeida

_JPT6587.jpg

"Com a frase «Alma até Almeida» pretende-se elogiar quem nunca desiste, quem leva até ao fim um trabalho árduo ou perigoso – como se regista no Dicionário de Expressões Correntes (Editorial Notícias, 2.ª edição, 2000)".

 

O dicionário tem sempre a resposta certa para colocar em palavras o que queremos transmitir. A crónica do jogo podia terminar aqui que toda a gente percebia o seu sentido. 

Mas para chegarmos até à expressão "Alma Até Almeida" é preciso também ter mundo. É preciso ter a sorte de ter amigos que vivem o Benfica além dos jogos. Que se juntam depois de uma vitória sofrida para jantar e discutir a partida. Mesmo que nessa mesa estejam benfiquistas que vivem a 300 quilómetros e sigam viagem só após o repasto, mesmo que nessa mesa se repitam presenças dos jogos fora da Luz e, especialmente, mesmo que nessa mesa esteja quem seja aniversariante e mesmo assim se junte à tertúlia. E no fim, nas despedidas, sai um "Alma Até Almeida" como sugestão para tópico da crónica. 

Por falar em fazer anos, passei o jogo quase todo a tentar perceber o que se estava a passar neste final de tarde com o Aves. Dia 10 de Janeiro comemora-se o aniversário da Dalila, a minha mãe. Não me lembro do Benfica agravar desfeitas neste dia. A minha ausência num jantar de anos é justificada pela causa maior de ver o Benfica jogar. É uma justificação aceite maternalmente. Improvisa-se um almoço em detrimento do jantar, que seria mais lógico. Tudo resolvido. Mas para acabar dentro da normalidade faltava o Benfica cumprir a sua parte. Mãe, foi complicado mas resolveu-se. O golo do André Almeida é uma espécie de prenda celebrada em família. 

 

Todas as épocas há um jogo assim. Receber o último classificado depois de ganhar em Guimarães. A tentação de lançar Jota, André Almeida, Seferovic e Weigl, num jogo que teoricamente seria o mais indicado para todas estas soluções, torna-se num pesadelo com os imprevistos do futebol. 

Foi assim há um ano com o Tondela em casa, voltou a acontecer agora com o Aves. A boa noticia é que o Benfica arranjou uma maneira de resolver os jogos mesmo que nas pontas finais. 

Jota não foi feliz, André Almeida mostrou a tal alma depois do empate de Pizzi, Weigl mostrou-se e ficou a perceber que isto não é tão fácil como podia parecer e Seferovic luta contra si próprio na hora de mostrar eficácia na finalização. 

Foi preciso chamar Cervi e, essencialmente, Vinicius que entrou e agitou o jogo para o lado do Benfica.

Num noite em que o Benfica bateu o recorde de remates à baliza num jogo da Liga NOS, a vitória em forma de reviravolta é justificada mas só foi possível devido à atitude da equipa até ao fim. 

Há muito tempo que não festejava tanto um golo como este do André Almeida. Os tais momentos mágicos, celebrações que mais não são do que um profundo suspirar de alivio. Tal como no ano passado com o o golo de Seferovic ao Tondela na Luz, este golo do André fica na memória de todos daqui para a frente. Sabe bem festejar, é uma emoção única ver a bola a entrar naquela baliza onde costumo ver os jogos. Tudo muito certo mas continuo a preferir um 4-0 ao intervalo como aconteceu em 1985 no primeiro jogo entre os dois clubes na Luz.

No fim da noite são três pontos, um aniversário feliz para quem merece.

O próximo jogo é dia 14. Dia de anos do meu pai. Agora pensem. 

 

Vitória de Guimarães 0 - 1 Benfica: Conquista no Berço da Nação

81641141_10162862804235716_2469518114010693632_o.j

Se gostam de futebol, se adoptaram um clube para a vida, se apreciam o espectáculo ao vivo, independentemente das vossas cores, façam o favor de colocar nos vossos afazeres uma ida a Guimarães para assistirem a um jogo da vossa equipa com o Vitória SC. Esqueçam o perigoso fanatismo dos adeptos de Guimarães e os episódios negativos que já aconteceram ali. Informem-se da melhor maneira de estacionar e ir para o estádio e vão ver que está tudo bem organizado pelas forças de segurança. E depois desfrutem de uma experiência rara em Portugal, estar em minoria num estádio vestido de preto e branco, orgulhoso da sua cidade e incansável no apoio à sua equipa. Um ambiente contagiante que motiva ainda mais o sector visitante e leva ao limite todas as manifestações de apoio, das mais habituais às mais radicais. Arremessar tochas para o relvado é uma idiotice, já escrevi isto aqui vezes sem conta. Troca de tochas entre bancadas já é ultrapassar os limites do bom senso, arremessar cadeiras para outras bancadas e relvado também é dispensável. Tudo isto aconteceu com da parte das duas bancadas, da casa e da visitante. São excessos indesejados mas que resultam de um contexto de tensão e confronto no limite. Já tinha acontecido antes, vai voltar a acontecer mas não retira força à experiência de viver fortes emoções à volta de um jogo de futebol. 
Por tudo isto, a visita ao D. Afonso Henriques é sempre encarada com desconfiança e respeito. O único objectivo é somar 3 pontos e seguir na frente do campeonato. Mas para se vencer em Guimarães é preciso uma enorme dose de esforço, paciência, suar muito, perceber todos os momentos do jogo, fazer golo e jogar com o tempo e espaço dado pelo adversário. 

A equipa do Vitória é superiormente treinada por Ivo Vieira, tem jogadores muito interessantes, merecem estar na parte superior da tabela do futebol português e jogam muito bem. Ganhar ali não é é para todos. É preciso estar focado, concentrado e atento a todos os pormenores da partida. Na bancada é preciso ter voz, garganta e pulmão para que a equipa do Benfica nunca se sinta sozinha naquele ambiente adverso. 

Quando Pizzi contraria toda uma bancada que do outro lado do estádio pedia para rematar à baliza para fazer um passe atrasado para Cervi, todos entramos num segundo de hesitação. Como se os milhares de benfiquistas suspendessem a respiração naquele topo. Para dois segundos mais tarde explodirem num festejo colectivo tão alto que chegou às muralhas do castelo. Pizzi é um génio a decidir. Cervi é um profissional que soube esperar a sua vez para mostrar toda a sua qualidade e como pode ser decisivo numa maratona que tem muitas oportunidades para oferecer. É o grande momento da noite. Pizzi na direita a optar por assistir, em vez de rematar e Cervi a rematar de pé direito, o pior, para um golo tão desejado quanto festejado. 

Depois havia que sofrer muito. Todos sabíamos. A equipa está habituada a estes cenários e sabe tudo sobre estes jogos. Ferro e Ruben em grande noite e Adel Taarabt com uma exibição enorme e poderosa foram os elementos mais valiosos. Acima de todos, Odysseas imperial na baliza a assinar a exibição perfeita. Daquelas que valem pontos. 

Quem larga tudo para viajar no primeiro sábado do ano e fazer mais de 700 quilómetros só para ver um jogo de futebol ao frio impiedoso do Minho, tem de gostar muito do clube e de futebol. E se gosta tanto, então sabe que a expectativa para esse jogo não é ver um recital de futebol, uma partida divertida e cheia de bom futebol. Porque o futebol não é só exibições a terminarem com goleadas e facilidades. O futebol também pode ser, e é muitas vezes, um jogo de sofrimento, de nervos, de receios, de incertezas. Um jogo em Guimarães está sempre muito mais perto de ter esta cara de batalha de futebol e menos de poesia de bom futebol e muitos golos. Por tudo isto, quando o jogo acaba e se vence por 0-1 o sentimento de conquista e dever cumprido é muito maior do que na grande maioria dos jogos do calendário português. Entrar nesta aventura de ir atrás da nossa equipa de futebol para testemunhar um jogo destes é quase um acto de masoquismo. Quando acaba bem até parece que o regresso de 360 quilómetros marcados no GPS é uma viagem curta e agradável. 

E todos nos sentimos um bocadinho responsáveis pela vitória. É muito bonito ver toda a bancada visitante em harmonia com a equipa no pós jogo. Aquele momento em que tudo faz sentido, eles no relvado a sentirem que deram tudo a agradecer o apoio de um topo que transpira orgulho na sua equipa. 

Isto é o futebol vivido por quem guia a sua vida à procura destas emoções. É muito frustrante quando corre mal mas é muito compensador quando corre bem. 

 

Tudo o que vai além deste contexto já é outra coisa que nenhuma ligação devia ter com o futebol. No rescaldo do jogo aparecerem dezenas de figuras que se limitam a estar no sofá ou em estúdios de televisão de telemóvel na mão a orquestrarem reacções de acordo com o que mais lhes convém para destruírem tudo o que foi conquistado no ambiente que já descrevi, é um atentado ao jogo. Pessoas que não sabem o que é largar a família, pagar um bilhete caro, gastar dinheiro em gasolina, refeições e portagens, passar um dia na estrada só para ver 90 minutos de futebol ao frio, rodeado de policias, a sofrer lance a lance, a vibrar a cada golo e a cada defesa decisiva, pessoas que só apareceram nos últimos anos com o propósito de explicar ao mundo que tudo isto é um engodo e que está tudo viciado. Pessoas que estão tão confortáveis nos seus poleiros e de bolsos cheios e felizes com as figuras que fazem que nem dão pelo tempo passar. Só nos últimos seis anos, passaram cinco nisto e só em uma temporada é que tudo foi limpo, legal e bem ajuizado. O resto é tudo uma falcatrua gigante e só truques para prejudicarem as suas equipas. Nenhuma dessas figuras, no entanto, se farta deste roubo e se dedica à sua área profissional. Assumirem que o futebol é só o assunto mais importante das coisas sem importância e partirem para melhorarem a classe política, a classe jurídica, a classe dos músicos portugueses, a classe dos jornalistas, assumirem-se como comentadores com cores próprias e deixarem de ser falsos isentos sonsinhos ou, simplesmente, pagarem o que devem. Mas não! Estão ali perpetuados no seu papel justiceiro de dedo apontado. Nem que seja só a um lance em 90 minutos. Um lance reduzido a frames manhosas que nada explicam e apenas justificam narrativas nojentas fazendo de estúpidos todos os adeptos que ainda vivem para encher estádios. 

 

Sugiro que se acabe com as transmissões televisivas de todos os jogos do campeonato português. Desliguem as câmaras. Devolvam o futebol a quem o joga e a quem quer sentir as suas emoções nas bancadas. Se quiserem viver às custas de conspurcarem o jogo diariamente, tirem os rabinhos das cadeiras e sofás e façam-se às estradas deste país e sofram o que nós sofremos, semana após semana, só para vermos as nossas equipas ao vivo. Ou então façam o mesmo que eu fiz nos anos 90. A partir do momento que vi guarda redes a defenderem com a mão bolas fora da grande área, que vi golos anulados por anca na bola, ou por foras de jogo bíblicos que devem atormentar o pobre Amaral até hoje, ou árbitros a fugirem à frente de uma equipa em fúria, por exemplo, passei a ir só à Luz em movimentos automáticos sem questionar o que me levava a continuar a ir aos jogos. Apenas ia porque gostava de estar na Luz. Mas deixei de discutir futebol, passei a ver mais jogos internacionais e deixei de ir ver jogos fora da Luz com regularidade. Ou seja, sofria para dentro, não acreditava naquilo mas também não chateava ninguém. 

 

O Benfica ganhou sem brilho, o Benfica passou aflito no teste de Guimarães, o Benfica venceu pela margem minima. Sim, sim. Foi isso tudo. Ou então, o Benfica somou 3 pontos no cenário mais duro que teve de enfrentar até agora.

Foi uma enorme vitória do Benfica, foi um arranque de ano maravilhoso. Fui a Guimarães, voltei e estou a escrever às 4 e tal da manhã. E faço-o para contrastar com quem só destrói o jogo. Por respeito a amigos e companheiros que estão acordados a esta hora e rumam agora ao aeroporto de Lisboa para voltarem para o seu local de trabalho actual, como o grande TM que nos guiou hoje de Lisboa a Guimarães e de Guimarães a Lisboa, foi a casa buscar a mal e segue para a sua rotina. Bem longe dos estádios portugueses, a sofrer ao longe mas feliz por aquilo que Bruno Lage tem dado ao clube desde que chegou. Indiferente ao ruído poluente. 

O Benfica é muito, mas mesmo muito, maior que todos os ódios juntos porque o amor e entrega dos seus adeptos abafa a raiva e inveja do resto do país. 

Vitória de Setúbal 2 - 2 Benfica: Nada Para Festejar

jota.jpg

O Benfica foi ao Bonfim com escassas possibilidades de chegar à Final Four da Taça da Liga. Um cenário que, por ironia do destino ou dos sorteios, era tirado a papel químico do no 2017 quando o Benfica foi fechar o ano no mesmo estádio e encerrar a sua participação na terceira competição do calendário português. 

Na altura tive oportunidade de ir a Setúbal assistir ao jogo e vibrar com a roleta do João Carvalho e com o primeiro golo do Rúben Dias na equipa principal do Benfica. Nesse jogo o resultado foi 2-2 e só serviu para cumprir calendário.

Desta vez, a remota hipótese que o Benfica tinha em ser apurado resumia-se a esperar que o Vitória de Guimarães não ganhasse em casa ao Covilhã. Ora, sabendo-se que a fase final será jogada no cenário mais apetecível para os vimaranenses se imporem, em Braga, era óbvio que o Vitória ia cumprir a sua obrigação. 

Mesmo assim, demorou mais de uma hora a chegar a notícia da vantagem da equipa de Ivo Vieira, tendo o Benfica aproveitado para cumprir também a sua parte e colocar-se em vantagem. Golo de Raul de Tomas que ainda deu alguma emoção a esta cinzenta competição. Depois lá veio a esperada notícia dos golos dos minhotos e aí o golo de Jota já só serviu de fraco consolo, tal como já tinha acontecido na Covilhã. O Vitória de Setúbal aproveitou a desmotivação alheia para empatar o jogo com dois golos inesperados, o primeiro com Zlobin a facilitar e o segundo de Guedes a desafiar todas as leis da precisão de um remate. Bem a equipa de Setúbal a mostrar uma personalidade completamente diferente daquela que mostrou na Luz há umas semanas quando era treinada por Sandro e tinha Acácio Santos a explicar à imprensa que o processo da equipa era óptimo. Está muito bem entregue a equipa a Julio Velázquez que mostra um futebol bem mais digno. 

 

Desta vez não pude ir ao Bonfim, se tivesse ido dava a viagem por bem empregue só de ver aquele golo do puto Jota. Por falar nos golos, vamos já esclarecer aqui uma coisa importante: "bater" no Jota e no RDT porque não festejaram os golos de maneira efusiva é só mais um triste episódio da malta que faz a famosa confusão entre exigência e "demência". 

O RDT marca um golo depois de aproveitar um mau passe do defesa contrário, não tem sido titular, a primeira época fora de Espanha não lhe está a correr bem e ia festejar loucamente um golo na Taça da Liga? Se não o fez em plena Champions depois de um golaço na Rússia ia fazer ali?! 

E o Jota que assina um golão no meio de uma exibição que nem a ele o estava a convencer, sabendo que o Vitória já estava apurado e reparando que só está a conseguir marcar em alturas em que já não chega para ajudar a equipa. Teve o cuidado de agarrar o emblema e beijá-lo no meio daquele contexto. 

Se ambos festejassem iam ser criticados por serem tolinhos e andar a festejar golos que não servem para nada na competição menos importante da época. Isto não é nada fácil de lidar, chiça!

Só para concluir esta não questão deixo o meu exemplo a título pessoal. Raramente festejo um golo de maneira exuberante ao longo da época. No jogo com o Estoril a seguir à derrota em casa com o Porto com aquele golo do Herrera, o Benfica ganhou com um golo do Salvio perto do fim. Nem me mexi. Só senti alivio por cumprirmos o mínimo mas já tinha interiorizado que a derrota no clássico tinha comprometido o campeonato. Isto é criticável? Não é. Como também não é lógico criticar quem festejou, a começar por jogadores e staff no relvado. É uma não questão. 

 

O Benfica termina esta fase de grupos com três empates. Já na época passada só conseguiu chegar à fase final com um golo de Seferovic perto do final da partida na Vila das Aves. O pior veio depois. Eu senti que não somos bem vindos naquela Final Four de apuramento de Campeão de Inverno numa semana de festa do futebol com um circo montado em Braga com a Liga Portugal a mostrar ao país como é bonito o futebol português. Demasiado artificial para mim. Tão artificial que nem me esforcei para viajar a meio da semana e ver a meia final ao vivo. Desconfio daquele show off todo. Acima de tudo, não tenho memória curta e aquilo que vi no Porto - Benfica dessa noite em Braga ainda hoje incomoda-me. Repito, deu para sentir que não somos bem vindos aquele evento. 

Tenho toda a moral para falar da Taça da Liga porque no arquivo vão encontrar muitos textos em que sempre defendi que o Benfica tem que levar a sério a prova e vencer para continuar a somar taças no seu rico Museu Cosme Damião. Quando lhe chamavam Taça da Cerveja, Taça da Carica, Taça Luicilio, quando se diziam aliviados de sair da prova antes do final para não terem desgaste, o Benfica sempre prestigiou a prova. A Taça da Liga cresceu, ganhou dimensão e evoluiu muito graças às sete finais que o Benfica venceu. 

Mas a Liga Portugal não soube aproveitar e cimentar a prova. Não soube ou não conseguiu dar o passo final definitivo para que a competição se impusesse com importância no calendário nacional. As mudanças que foram feitas estragaram a ideia inicial e o formato encontrado é do nível do terceiro mundo. 

O facto do vencedor da Taça da Liga não ter acesso a uma prova europeia mata à nascença o interesse de quase todos os clubes que lutam por essa possibilidade. A calendarização da prova é absurda. Os primeiros jogos só servem para despachar clubes mais pequenos que ainda nem acabaram a pré temporada e avança-se para um sorteio de fase de grupos que é uma mal disfarçada selecção da natureza à espera que os três clubes de sempre confirmem a presença na tal Final Four. Tudo se faz para que Benfica, Porto, Sporting e Braga estejam nas meias finais. É embaraçoso e pequenino.

A competição nasceu com boas intenções, dar tempo e espaço aos mais jovens de aparecerem num nível competitivo mais interessante. Mas, entretanto, foi criado um campeonato de Sub-23 e há as equipas B a jogarem na segunda Liga profissional. A Taça da Liga perdeu-se neste contexto e mantém um regulamento tão labiríntico que faz com que o público desconfie se aquilo é tudo cumprido. No ano passado tivemos aquele caso do Porto no Jamor, agora temos o Portimonense a protestar um jogo. Para trás temos imagens desoladoras de estádios vazios com jogos a horários idiotas desde o verão até agora. Guardo com um certo carinho as imagens de um resumo de um jogo em Barcelos que devia ter umas 100 pessoas envolvidas, já a contar com as equipas. 

O Benfica deixou claro nesta última semana as suas prioridades. Em relação ao jogo da Taça de Portugal com o Braga, Lage manteve Tomás Tavares no 11. E Zlobin. Mesmo assim, com a chamada segunda linha o Benfica tem que ganhar, isso tem que ser uma obrigação. Mas não deu, em especial naquele jogo com o Vitória de Guimarães na Luz, onde ficou claro que não ia ser fácil fazer mais dois jogos em Janeiro. Lá está, depois recordo-me da nossa última presença na Final Four e não consigo ficar demasiado frustrado.

O Carlos Carvalhal tem toda a razão quando diz que isto é para os que precisam de ganhar a vida. Ele e o Rio Ave são a imagem mais simbólica do que é a Taça da Liga actualmente, uma aberração forçado que quer escolher a dedo finalistas e vencedores. É bom para quem precisa disso para ganhar a vida. Ele não precisa e acha que foi ultrapassado um risco demasiado perigoso. Quer bater com a porta. Fica a perder o Rio Ave, fica a perder o futebol português porque o Carlos Carvalhal é do lado bom que ainda há no futebol. 

A Liga Portugal no passado mês de Janeiro não pareceu nada incomodada com outro roubo que aconteceu no clássico do Minho. Este ano não vai ter o Benfica e a sua gente para acenar com fan zones e vendas de bilhetes. Vão continuar sem conseguir encher a Pedreira. Ficam a perder como todas as organizações perdem quando não têm o clube que mais gente arrasta presente. 

Disse-o em Janeiro, repito agora, esta competição deixou de fazer sentido, por tudo o que expliquei e argumentei atrás, e só a Liga Portugal parece não se importar com isso. Continuam apenas e só preocupados em transformar um semana de Janeiro numa festa tosca, artificial a que juntam o ridículo título de campeões de inverno a uma competição que é uma mão cheia de nada. Mas é sempre divertido ver os que mais desprezaram a prova, os que lhe chamaram os nomes mais imaginativos a festejarem loucamente a sua conquista. Ainda vai dar para ver o único clube, do grupo dos protegidos no formato da prova, que não conquistou o troféu a quebrar essa falha e a festejar como se não fosse um alivio ser corrido a meio da competição. 

Uma palavra final para o Vitória de Guimarães que não tem culpa nenhuma deste lodo todo e conseguiu o apuramento de forma bem justa. Que consigam dar uma alegria maior à sua legião de adeptos que bem merece. 

Benfica 2 - 1 Braga e Artur Soares Dias 0

slbscb.jpg

A Taça de Portugal é uma prova com enorme história. Foram os clubes, os jogadores e os adeptos que ao longo de várias décadas escreveram capítulos valiosos que todos juntos resultam numa competição mítica que, quase sempre, se resolve no Jamor. 

Como adepto do Benfica, as minhas grandes recordações estão relacionadas com jogos do clube na Luz e também fora. Boas e más. Muitas. A primeira final no Jamor com vitória de 1-0 sobre o Porto com golo de César. Todas as finais. A ironia de ter visto só vitórias contra os dois rivais e as derrotas terem aparecido da forma mais inesperada contra outros clubes como Belenenses, Boavista ou os Vitórias. 

Gratas recordações das visitas à antiga Luz do Régua, Ponte da Barca ou Dragões Sandinenses, dos 12-0 ao Marinhense e dos 14-1 ao Riachense, que fez um golo por simpatia do Bento que era da Golegã. Daquele prolongamento com o Estrela de Portalegre que o Tó Portela resolveu depois de entrar para o lugar de Chalana e evitar o jogo de desempate em Portalegre. Sim, porque a Taça era a prova onde um empate dava direito a prolongamento e se ficasse resolvido íamos para segundo jogo na casa do visitante. Foi assim que o Cartaxo veio parar à Luz! Tudo a zero até final do prolongamento no Cartaxo, num campo pelado. Escândalo! Jogo para a Luz e 7-0 para o Benfica. 

A Taça que me fez ir ver dezenas de jogos ao longo da vida sem o Benfica em campo. As finais entre Farense e Estrela, a tarde do Campomaiorense - Beira Mar, e os jogos das primeiras eliminatórias com equipas dos distritais em acção, em Lisboa e no Algarve. 

Tantas e tantas memórias de uma competição que foi ficando fora de moda e pouco apetecível. 

Quando a Liga Portugal inventou a Taça da Liga acabou por espicaçar a Federação Portuguesa de Futebol para modernizar e actualizar a Taça de Portugal. Tanto assim é que, actualmente, as meias finais e a final da Taça (mais a Supertaça) são espectáculos ambiciosos e cartões de visita da FPF para rivalizar com aquela bizarra Final Four da Taça da Liga que dá um campeão(?) de inverno na semana do futebol em Braga. 

Enfim, lutas de vaidades que pouco ou nada tem que ver com o adepto do futebol. 

É verdade que a FPF revitalizou a Taça de Portugal. Chamou os clubes mais pequenos das Distritais para as primeiras eliminatórias a troco de prémios financeiros essenciais para viabilizar a presença de todos na prova. 

Mas depois falha no esquema do sorteio. Ao fim destes anos todos ninguém entende o esquema de repescados que desvirtua o espírito da prova e vai buscar equipas derrotadas sem critério nenhum, proporcionando reencontros tão embaraçosos que se repetem jogos entre os mesmo clubes e até com resultados finais diferentes! Impensável. 

Foi positiva a ideia de obrigar as equipas dos escalões profissionais a jogarem na casa das equipas "amadoras". Mas a ideia acabou também desvirtuada com desvios de jogos para terceiras casas. Felizmente, é algo que melhorou muito este ano com as visitas do Benfica à Cova da Piedade e Vizela, por exemplo. Mas não deixámos de ter um Porto - Coimbrões na casa do Porto B. 

Entre coisas positivais para melhorar a prova está também a entrada de mais operadores de televisão com o canal 11 da FPF. Só que tudo isto passa para segundo plano quando olhamos para o modelo das meias finais de uma prova que é toda ela a eliminar num só jogo. Porque raio é que as meias finais são a duas mãos? Claro que a resposta está nos interesses financeiros. O problema é que desvirtua todo o espírito da prova, mais uma vez. Um clube pequeno que consigo a proeza de atingir a meia final fica com a missão quase impossível de surpreender uma adversário mais poderoso porque vai ter de o fazer duas vezes. O dinheiro não pode ser tudo, a FPF tem que acabar com as meias finais a duas mãos. Querem mais jogos com as equipas profissionais? Então façam com que esses clubes entrem mais cedo em competição em vez de começarem na 3ª ronda, parece-me fácil. 

Devolver o feliz rótulo de Festa da Taça aos jogos da prova actual é um acto de enorme hipocrisia. Em testemunhei verdadeiras jornadas de Festa da Taça ao longo das últimas décadas. Só com uma ligeira diferença, os jogos eram disputados aos domingos à tarde, na sua enorme maioria. 
Vale a pena olhar para esta fase, relativamente adiantada, da prova. Jogam-se os 1/8 de final da Taça. A Festa da Taça fez-se em Viseu numa 3ª feira a seguir ao almoço. Na Póvoa de Varzim a meio da tarde do mesmo dia e na Marinha Grande nessa 3ª feira à noite. Era feriado? Nem por isso. 

Continuou hoje na Sertã a seguir ao Almoço, em Paços de Ferreira a meio da tarde e na Luz às 20h45 de uma 4a feira. Era feriado? Claro que não. A festa continua amanhã, 5ª feira, dia normal de trabalho. Estádios vazios, Luz com meia casa, adeptos revoltados por não poderem acompanhar os seus clubes. O espírito da prova rainha não era nada disto.

E o que dizer da medida tomada a meio da prova? A partir desta fase os jogos passam a ter VAR. Então mas e os encontros que ficaram para trás? As dúvidas e as polémicas das eliminatórias anteriores? Muda-se assim as regras?! E estranho. E mais estranho fica quando ficamos a saber mais pormenores sobre esta entrada do VAR na Taça. É que há VAR mas só para alguns! Só em metade dos jogos desta ronda é que há VAR. Digno do terceiro mundo, não é?

E o que isso traz de bom ao Estádio da Luz, em Lisboa? 

Como o Benfica - Braga tem a curiosidade de ser disputado precisamente na mesma data de 2014, quando o Braga venceu o Benfica para a Taça, última vitória dos minhotos contra o Benfica, o Conselho de Arbitragem achou que devia chamar o mesmo árbitro dessa triste noite, Artur Soares Dias. E quem melhor do que Carlos Xistra para ir para o VAR? Parece gozo mas não é. É a realidade. 

Como se não bastasse o Benfica ter um dos adversários mais duros tão cedo na prova ainda leva com uma dupla de arbitragem capaz de fazer convencer qualquer indeciso a ficar em casa numa noite invernosa de chuva, vento e frio evitando o incómodo de ir passar um irritado serão à Luz. 

Como se percebe o único chamariz para termos adeptos no Estádio é o futebol do Benfica, é a história do Benfica e é o amor que os benfiquistas têm ao clube. O resto à volta está todo errado. Todo!

Neste primeiro jogo da Taça de Portugal na Luz descobrimos que há inovação nas regras da prova. Pela primeira vez na vida vejo o Benfica a jogar com o equipamento principal em casa contra uma equipa de vermelho. A regra da Federação sempre obrigou o Benfica a jogar com o equipamento alternativo quando recebia um clube com as cores semelhantes. Vão ver os resumos com o Braga para esta prova em 2012 e 2014 e reparem nas cores do Benfica. Mais uma mudança na tradição. 

O que não muda é aquela postura do Artur Soares Dias nos jogos do Benfica. A altivez, a arrogância, o prazer em distribuir cartões amarelos, as faltas e as faltinhas capazes de tirar do sério qualquer Monge do Tibete em reflexão, as decisões erradas contra os jogadores do Benfica, a consulta ao VAR em caso de dúvida que, recordemos sem nos rir, era chefiado por Carlos Xistra... 

Foi uma desafio muito complicado para a equipa de Lage que manteve toda a equipa que tão boa conta tem dado, só trocou de guarda redes. O Braga começou em vantagem, os nervos ameaçaram tomar conta da equipa e das bancadas mas com Pizzi e Vinicius tudo se resolve. Hoje. o futebol do Benfica chegou para dar a volta ao resultado contra um Braga muito combativo e a tal arbitragem. Valeu para ver o Tomás Tavares a crescer mais um bocadinho naquele lado direito, para apreciar mais pormenores de Adel, perceber o bom momento de Chiquinho e Cervi e, acima de tudo, pela vitória. 

Apesar de tudo ter sido feito para estragar esta Festa da Taça, o Benfica soube dignificar a Prova Rainha e garantir presença nos 1/4 de final. O último jogo de 2019 na Luz foi feliz. 

Uma nota para dizer que é um prazer que é rever o André Horta no relvado da Luz, mesmo que tenha sido só para aquecer. Prazer extensível ao seu irmão mas o natural destaque vai para o André pela passagem recente e triunfante que teve no clube. 

Já que se fazem tantas mudanças e alterações na Taça de Portugal, vou deixar mais uma sugestão: era importante também ir riscando equipas de arbitragem do caminho. Hoje Soares Dias e Xistra tiveram a sua noite de exibição. Pronto, já chega. Que acompanhem o Braga nesta saída da prova, pelo menos no que diz respeito a jogos do Benfica. Era justo. E sem repescagens, por favor.

Portanto, agora entramos na recta final da prova e os problemas diminuem, é isso? Claro que não! Estamos em Portugal e este país nunca desilude no que diz respeito a originalidades à volta do futebol.

Sabem quem é que pode calhar em sorte ao Benfica na próxima ronda? A equipa da claque do Porto! Sim, o líder da claque legalizada do Porto ( e da Selecção da Federação que organiza a prova) e seus companheiros podem jogar contra o Benfica. Aliás, o líder/jogador já fez saber que o seu desejo é defrontar o Campeão Nacional para mostrar o que é o ADN dos Super Dragões. 

Tentei explicar esta possibilidade a um amigo inglês do Liverpool e acho que a esta hora ele ainda pensa que eu estava a inventar só para ser mais bizarro que a Liga dele que obrigou o seu clube a jogar com crianças contra o Aston Villa. 

É a Festa da Taça da Prova Rainha. 

Obrigado, Benfica por esta vitória e por este ano inesquecível de futebol na Luz! Memorável.