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Red Pass

Rumo ao 38

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Um Ano Depois, o Que Mudou?

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Faz um ano que escrevi este balanço do Portugal campeão europeu de futebol. Desde aí, muita coisa mudou no futebol nacional. A Selecção arranjou uma claque oficial legalizada, inspirada por uma santa aliança em que os Saraivas deram lugar aos Baluartes para uma nova colecção de Truques. O Porto passou a ser o campeão dos hackers informáticos e da caça aos bruxos, o Sporting venceu brilhantemente vários campeonatos nacionais. Só no verão passado passaram a ter 22 ligas conquistas de forma nobre.

Um ano depois, só o Benfica continua em crise.

O dia inesquecível, e único, faz hoje um ano:

 

Portugal 1 - 0 França, Visto por João Gonçalves

 

Chego a estas linhas após um longo caminho que começou há mais de três décadas quando percebi o quanto gostava de futebol. Há três caminhos possíveis para se viver com paixão o futebol. O óbvio, que é começar a gostar tanto de um clube que o acabamos por seguir e defender até ao fim do mundo. O geral, que é perceber que se gosta tanto do jogo que a dedicação a ele vai muito além da paixão clubística. E o patriótico, naturalmente se gostamos de futebol queremos que o nosso país seja o melhor neste desporto.

O caminho clubístico foi interiorizado muito cedo e nem merece discussão.

O caminho de gostar do jogo em geral veio logo a seguir quando senti que os jogos de uma só equipa não satisfaziam o meu gozo de ver futebol. Veio o Mundial 1982 e tudo mudou, percebi que se podia vibrar com um emblema de forma incondicional mas também se podia ver futebol com prazer.
O caminho patriótico foi o mais complicado de sentir, explicar e viver até hoje. E é sobre esse que vou falar neste espaço dedicado à final do Euro 2016, o tal onde vim parar por paixão ao jogo e pela necessidade de me juntar com amigos, até de outros clubes, que vivam estas fases finais com o mesmo entusiasmo que eu.

 

Já o meu clube ganhava campeonatos e jogava finais europeias quando me encantei pela primeira vez pela Selecção portuguesa. Foi no verão de 1984, finalmente podia ver jogos com o prazer supremo da descoberta que já vinha do Mundial dois anos antes e, ao mesmo tempo, ter uma equipa com quem sofrer e torcer. Quando perdemos com a França fiquei de rastos. Por um lado não tinha noção do valor dos gauleses, só mais tarde percebi que era uma grande equipa, por outro lado começava a desconfiar que o futebol bonito não vencia taças, ainda não tinha recuperado da queda do Brasil'82. Mas o pior foi ouvir os comentários dos mais velhos a dizer que nunca iríamos fazer melhor do que aquilo. Nem o Eusébio em 1966 tinha conseguido melhor que um 3º lugar no Mundial, portanto...

Ou seja, cresci com a barreira invisível de nunca poder ver o meu país fazer melhor do que deixou feito num Mundial em que eu ainda nem era nascido. Interessei-me, li sobre a epopeia dos Magriços, vi as imagens icónicas do Rei a chorar. Portugal era aquilo. Fomos longe mas não nos deixaram fazer mais. Nem o Eusébio foi capaz. Era este o mote para a minha vida de adepto da Selecção.

 

Claro que a minha geração recusou acreditar nesta fatalidade e entre nós dizíamos que íamos ver mais e melhor. Estivemos em França em 84 graças a um milagre duplo, Chalana cavou um penalti e Jordão bateu o monstruoso Dasayev. Estava no 3º anel com os meus amigos de vários clubes da minha rua. Vibrámos e festejámos tão intensamente esse apuramento como o seguinte para o México. Outro milagre, Carlos Manuel do meio do campo manda uma bomba que "Toni" Schumacher, outro guardião monstruoso, não segurou. Portugal batia a RFA em Estugarda, coisa inédita! Crescia entre nós, putos, a convicção que íamos celebrar grandes feitos da nossa Selecção. O entusiasmo durou até ao final do jogo com a Inglaterra, vitória épica por 1-0. Olhava para os mais veteranos com o orgulho de dizer aos 13 anos que a tal derrota em Wembley estava agora vingada, tínhamos caminho livre para o sonho que José Torres alimentou. Acabámos atraiçoados com o que se passou a seguir. Derrota com a Polónia e humilhação com Marrocos. Que facada, Saltillo!

Ficámos sozinhos na dor já que as gerações mais velhas encolhiam os ombros e pareciam pouco surpreendidas com tamanha vergonha. Se calhar 1966 era mesmo irrepetível.
Atraiçoados mas não convencidos, continuámos a acreditar que Portugal ia dar a volta e apresentar uma Selecção à medida da nossa paixão e ambição. Mesmo sabendo que íamos para um apuramento para o Euro da Alemanha em 1988 com uma equipa de segunda escolhida por um advogado(!), lá fomos para o Jamor ver o empate com a Suécia e a derrota com a Itália. O jogo com Malta foi marcado para o Funchal e acabou num embaraçoso empate 2-2. Falhámos a presença no Euro 1988 e o nosso orgulho estava cada vez mais ferido. Já não havia como gostar e vibrar com a nossa Selecção, tiraram-nos todos os argumentos.

 

É aqui que a minha geração fica com uma cicatriz difícil de sarar, olhamos sempre desconfiados para a Selecção depois de tantas esperanças nela depositadas. Como a paixão pelo jogo se mantinha intacta, é por estas alturas que somos obrigados a eleger selecções alheias para dar mais emoção ao acompanhamento de fases finais que Portugal teimava em ficar de fora. Uns torciam pelo rigor italiano visto em 1982, outros ficaram para sempre encantados pela canarinha de 82, muitos ainda hoje torcem pela Argentina de D10S Maradona e há quem goste da Alemanha. Eu, neste caso.

Foi no Euro'88 que um amigo da minha mãe a viver em Hamburgo ao saber da minha dedicação ao futebol ofereceu-me aquela camisola da RFA com listas frontais com as cores da bandeira. Foi antes do torneio e fiquei fascinado com o futebol alemão desde aí. Tão simples como isto, passei a ter uma equipa pela qual torcia nas fases finais de Euros e Mundiais. Eu fiquei com a Alemanha, os meus amigos e vizinhos torciam por outras equipas. Sem problema nenhum, sem ninguém nos apontar o dedo acusador de traição. Foi adopção por ausência própria.

 

Euro 1988, Mundial 1990, Euro 1992, Mundial 1994, tudo torneios onde Portugal não entrou. Cheguei aos meus vinte anos, já adulto trabalhador sem esperar absolutamente nada de Portugal. Foi assim que cresci, foi este contexto que me apresentaram. E o fantasma de 1966 cada vez maior e mais pesado.

 

No entanto, houve uma esperança muito importante que nos voltou a dar algum alento. Ainda em 1989 quando os juniores se sagram campeões do Mundo em Riade, com direito a dispensa das aulas para ir ver a final, voltou o direito ao sonho. Direito esse que foi reforçado dois anos depois na Luz com renovação do título mundial na Luz contra o Brasil. EM 1991 fui ver os jogos todos de Portugal na Luz e vivi, ainda com os amigos de infância, toda a aventura rumo ao título mundial. A final na Luz foi dos ambientes mais impressionantes e loucos que presenciei na minha vida. A chama voltava a estar acesa. Mas foi preciso esperar por 1996 para voltarmos a vibrar com Portugal.

Novamente em Inglaterra caímos no antepenúltimo jogo antes do sonho. O fantasma de 1966 estava maior que nunca.

Para piorar o cenário, voltámos a falhar uma presença num Mundial em 1998. Era o regresso a França. Nova facada.

O triste fado parecia não ter fim, as fases finais eram vividas com picardias em base de apoios em países emprestados, não era a mesma coisa que torcer pelo nosso país. Foram muitos anos nisto.

Até que em 2000 tudo mudo. Portugal passou a ser presença habitual nas fases finais. Também porque os formatos de Europeus e Mundiais foram evoluindo no sentido de se alargarem e receberem muito mais equipas de acordo com o desenvolvimento europeu e mundial. Passou a ser mais acessível e Portugal aproveitou para se fixar entre os grandes.

 

O Europeu de 2000 devolveu a felicidade juvenil de vestir a camisola das quinas, juntar os amigos e voltar a sonhar. Um trajecto orgulhoso que nos levou ao penúltimo jogo. Caímos contra os franceses. Lá vinha o fantasma.

O entusiasmo voltou e carregou a equipa nacional para o apuramento para o primeiro Mundial asiático. Depois de tão boa prestação na Bélgica e Holanda a esperança era enorme. Voltámos a ser atraiçoados por uma comitiva que ficou mais conhecida por episódios pouco dignos em Macau do que pelo futebol que não apresentou perante Estados Unidos da América e Coreia do Sul. Voltávamos aos tempos humilhantes.

 

E, 2004 o ponto alto de toda uma vida a acompanhar a Selecção. Finalmente, tinha chegado o nosso momento. Íamos mostrar ao mundo que podemos ir mais longe que os Magriços e ganhar uma prova importante. Acabou numa tragédia grega. Nunca sofri tanto com uma derrota de Portugal como em 2004. Meto a final perdida no meu Top10 de momentos angustiantes vividos no futebol.

 

Mesmo assim, voltei a acreditar no Mundial da Alemanha, as bases estavam lançadas e não havia Grécia pela frente. Eliminados pela Alemanha, não era uma surpresa, só mais uma desilusão anunciada. E tal como em 1988 a "minha" Alemanha também não venceu em casa, desilusão a dobrar.

 

O tempo passava e o respeito pela Federação Portuguesa de Futebol era cada vez menos existente a nível pessoal. Deixei de acreditar. Quando vi Carlos Queirós de regresso torci o nariz. Queria uma boa prestação no primeiro Mundial africano de 2010 mas não acreditava. Já nem senti grande dor quando caímos frente aos espanhóis.

No Euro 2012 voltámos a sair por causa da Espanha, desta vez nos penaltis e com Paulo Bento a não entusiasmar. Mais uma desilusão nas meias finais. Já não tinha dúvidas, não nasci para ver Portugal ser feliz. Lá está, isto nem com o Eusébio fomos lá...

 

Chegava o Mundial do Brasil e, apesar, de continuarmos sem ganhar nada, tínhamos feito progressos, jogámos uma final, andámos em meias finais, já não éramos o país que nem ia às fases finais, estávamos mais perto de ganhar.

A esperança numa boa campanha no Brasil em 2014 era legitima. Como sempre, o nosso entusiasmo voltou a ser traído por uma presença humilhante em que não passámos a fase de grupos! Passei a vida nisto, dar um passo para a frente para depois dar dois para trás.

 

Passei a ver os jogos da Selecção com aquela indiferença de quem não acredita nada nisto mas se correr bem fico contente. Reparem, desde 1984 À espera de algo maior, desde 1991 à espera de ver a nossa qualidade provada com um troféu nos seniores.

 

Nos tempos mais recentes senti uma enorme melhoria na FPF. Mudança de atitude, mudança de mentalidade, sangue novo, ambição e muito trabalho à mostra. Falo com conhecimento de causa, conheço duas pessoas que entraram para a organização e que me devolveram a esperança de ver a Federação de futebol do meu país a ir de encontro às minhas expectativas.

Os resultados estavam à vista antes deste europeu, a Taça de Portugal foi revista, aumentada e muito melhorada. Um excelente trabalho que merece todos os elogios, embora achemos sempre que se pode melhorar ainda mais. Mas é um facto que a competição deu um grande salto qualitativo.

Depois, o meu projecto favorito, a renovação da 3ª divisão do futebol nacional. Um patrocinador capaz de impulsionar um campeonato com forte componente regional, jogos em directo num canal por cabo, grande visibilidade de um torneio que tem tudo para ser acarinhado por todos.

Também uma revista que dá eco de todas estas melhorias, enfim, senti que se deu um salto qualitativo e ambicioso na FPF. Depois a estreia da casa das Selecções, algo que ouvia falar desde miúdo, a aposta no futsal e, especialmente, no futebol feminino. Uma modernização que passa pela presença inteligente nas redes sociais e a aposta num treinador que passou pelos três clubes de futebol com mais adeptos no nosso país.

 

Fernando Santos apanhou uma Selecção deixada em cacos por Paulo Bento. Trouxe pragmatismo e realidade, que ele tanto usa nas suas palestras, à equipa. O Engenheiro veio provar o que eu já desconfiava há uns tempos, é muito melhor seleccionador do que treinador. Parecendo que é a mesma coisa, não é. Santos trouxe um ambiente de paz, chamou jogadores afastados por outros guerras, motivou os mais novos, confiou nos melhores e tentou fugir à inevitável pressão externa de agentes ligados ao futebol. Ganhou o respeito de todos e até a simpatia de quem não tinha saudades dele pelas passagens nos clubes. Recuperou a equipa na fase de apuramento que parecia perdida e qualificou directamente Portugal.

Soube fazer crescer a onda de entusiasmo. Tudo na FPF foi em crescendo nos últimos meses.

 

Eu e a minha geração sorrimos, ao menos voltámos a ter alguém que quer nos dar novamente o direito a sonhar. Mesmo que não tenhamos acreditado em nenhum momento que ia ser desta que ia acontecer magia.

 

O Euro em França começou, eu juntei amigos que adoram futebol e fizemos este espaço porque gostamos de escrever sobre a competição e tudo o que engloba todas as equipas e todos os jogadores. Temos uma paixão pelo jogo que vai muito além da confiança na Selecção, que era cerca de zero da minha parte.

Além da curiosidade sobre Portugal, lá vinham as picardias com amigos que torcem pela Itália ou Inglaterra e que não gostam que a Alemanha ganhe. Portugal faz uma fase de grupos ridícula e apura-se em 3º. É a antítese de tudo o que conheci no futebol até agora. Em 1984 eram 8 equipas a disputar o Euro, hoje uma equipa que empata todos os jogos segue em frente.

Nos jogos a eliminar já a conversa era outra. Já que ali estamos não quero ver Portugal perder mas a confiança continua a ser zero. Gostei do golo do Quaresma à Croácia. Já sofri qualquer coisa com os penaltis contra a Polónia. Tinha a certeza que íamos ganhar ao País de Gales. Mas tinha a mesma certeza que não ia servir de nada porque na final vinha um papão daqueles que nunca dobrámos nas fases finais.

Mas estar na final já era um grande feito. Fruto de uma incrível onda de sorte que nos meteu a jogar com os adversários mais acessíveis possíveis. E é aqui que comecei a desconfiar que o fado podia mudar. O Fernando Santos sempre foi um homem com ar de perdedor, era aquele treinador que num jogo com o Boavista na Luz viu a sua equipa acertar no poste vezes sem conta, por exemplo. Mas as vitórias da fase de apuramento, o golo da Islândia fora de horas da fase grupos, a sorte do jogo com a Croácia, tudo indicava que a sorte só queria o Engenheiro como Seleccionador de Portugal para o premiar.

 

O jogo com a França foi o único que vi no meio da multidão, no Terreiro do Paço em frente a um écran gigante. Estive mais de 100 minutos em crescendo. Fui da fase de acreditar zero à euforia do festejo. Mas passei pela motivação comovente dada por um grupo de jovens turistas estrangeiros que sofriam mais com o jogo do que eu. Gritavam por Portugal com convicção. Acabei completamente envolvido no jogo quando percebi que atrás de mim estava um grupo de franceses cheios de soberba à espera do seu golo para nos humilhar. Riram-se na bola à trave do Raphael e das imagens de Ronaldo a sofrer no banco. Eu sorri quando vi a bola de Gignac a bater no poste. Pensei mesmo, ora aqui está! Isto com Fernando Santos treinador era o golo da ordem no final dramático. Com Fernando Santos seleccionador vai tão acontecer epicismo.

Foi o que aconteceu naquele golo surreal de ... Éder! Andei 32 anos a conviver com esta estranha ligação à nossa Selecção para tudo ser resolvido com um golo do... Éder? Um pontapé em corrida sem olhar para a baliza matou os franceses. Finalmente, fui feliz com as cores do meu país no final de um jogo decisivo. Graças ao Éder e com o Fernando Santos a treinar. O futebol é mesmo algo de maravilhoso.

 

Sei que não mereci tamanha alegria de ver Portugal campeão da Europa, sei que o futebol tem sido mesmo muito generoso para com a minha paixão e toda a minha dedicação ao jogo mas não me esqueço que nas inúmeras caminhadas infelizes de Portugal ao longo destas décadas estive muitas vezes a torcer por dentro. Lembro também que no outro caminho paralelo de viver o futebol com dedicação a um clube passei mais de uma década de amargas tardes e noites e mesmo assim nunca desisti, nunca virei costas ao meu clube. Reforcei anualmente a minha paixão ao clube, ao futebol e de dois em dois anos às fases finais de grandes torneios internacionais que continuam a deliciar-me como no primeiro momento em 1982. Acabou-se o fantasma de 1966 e eu vivi o suficiente para testemunhar isso. Estou grato.

 

Viva Portugal

Viva o futebol.

Isto Não é Um Pouco Estranho?

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Hoje joga-se um Portugal - Roménia no estádio do Restelo em futebol feminino.

Será normal usar este relvado para este jogo 48 horas antes do Benfica ir lá jogar com o Belenenses para o campeonato? Ainda para mais com previsões de chuva que pode deixar o relvado em estado preocupante.

As Queixas do Porto Sobre a Selecção

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É olhar para a lista de utilizados na jornada dupla e tirar conclusões:

 

1-Clésio (210 min.)

2-Renato Sanches (199 min.)

3-Samaris (180 min.)

Bryan Ruiz (180 min.)

Tobias Figueiredo (180 min.)

Vincent Aboubakar (180 min.)

Maxi Pereira (180 min.)

Héctor Herrera (180 min.)

9-Islam Slimani (178 min.)

10-Miguel Layún (161 min.)

11-Mitroglu (160 min.)

12-André André (142 min.)

13-Jesús Corona (119 min.)

14-João Mário (111 min.)

15-Gonçalo Guedes (109 min.)

16-William Carvalho (102 min.)

17-Raúl Jiménez (101 min.)

18-Rúben Neves (98 min)

19-Iker Casillas (90 min.)

Danilo Pereira (90 min.)

Rui Patrício (90 min.)

Carlos Mané (90 min.)

Ederson (90 min.)

Eliseu (90 min.)

25- Gelson Martins (75 min.)

26- Yacine Brahimi (67 min.)

27- Teo Guitiérrez (58 min.)

28- Nuno Santos (28 min.)

29- Nico Gaitán (20 min.)

Elogios e Reparos à FPF e à Taça de Portugal

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(Taça de Portugal no Estádio Municipal de Mogadouro, na tarde chuvosa de 20 de Dezembro de 1981. O resultado final foi de 0 - 2. Os marcadores dos golos foram Humberto Coelho, aos 67 minutos e Nené, aos 85 minutos - foto enviada pelo grande Francisco Araújo)

 

A Federação Portuguesa de Futebol tem feito um grande esforço por modernizar a sua imagem, aproximar as selecções dos adeptos, melhorar as competições que organiza e tentar devolver toda a dignidade à chamada prova raínha do futebol português. Isto merece muitos elogios porque é visivel o excelente trabalho em todas estas componentes. Aos olhos salta logo o ambiente à volta da selecção principal com estádios cheios e o apuramento para França já garantido. Tantos anos a batermos na FPF, agora é justo reconhecer o excelente trabalho que está ali a ser feito.

 

Falemos, então, da Taça de Portugal.

A FPF fez uma clara e óptima aposta em levar a competição a mais clubes, distribuir mais dinheiro, melhor o quadro competitivo.

Desde logo chamou mais equipas dos distritais na 1ª eliminatória e teve a preocupação de acabar com aquela aberração que era vermos nos primeiros sorteios dezenas de equipas isentas. Até acertar o número de equipas para que a prova decorresse com normalidade era preciso isentar tantas equipas que não fazia sentido.

A FPF achou que o melhor para acertar matematicamente as contas dos sorteios, seria repescar equipas derrotadas da ronda inaugural e dar-lhes nova hipótese na 2ª eliminatória. É bizarro na mesma. Numa prova a eliminar não faz sentido ir repescar clubes. Mesmo que fosse este o menos mau dos planos, devia haver um critério. Não se devia dar a mesma oportunidade a uma equipa goleada por 9-0 em comparação com um clube afastado no desempate por penaltis, por exemplo.

Sabendo que não é fácil chegar à solução ideal, o melhor era mesmo a FPF convencer todos os clubes inscritos a participarem na prova. Chamar mais equipas dos distritais em troca de incentivos financeiros. Sei que muitos clubes abdicam de jogar a prova por não quererem entrar em despesas mas a FPF devia insistir neste caminho. Quantas mais equipas entrarem menos problemas matemáticos ficam por resolver com isentos e repescados.

No entanto, diga-se, que esta é a edição em que entraram mais equipas e esse esforço tem que ser mesmo elogiado. A ideia aqui é só pegar no que de bom se fez para se tentar chegar ao óptimo.

 

Depois veio a ideia de obrigar os clubes das divisões profissionais a jogarem no campo dos adversários dos escalões amadores. Óptima ideia.

Mas aqui também devíamos limar arestas.

Ponho já de parte queixas que já ouvi de adeptos e responsáveis ligados a clubes amadores que reclamam também o direito de jogarem por uma vez num estádio de primeira classe. Há quem prefira calhar com um clube de topo e poder jogar na casa deles para sentir o ambiente da elite. Será uma minoria mas têm direito à sua opinião.

Em contrapartida, a sugestão da FPF é levar as melhores equipas do nosso futebol a jogarem aos cantos mais esquecidos de Portugal, como o interior do país. Levar os grandes jogos a estádios e campos que raramente vivem a azáfama dos grandes dia do futebol. Fazer a festa em localidades que nem em sonhos podem chegar aos campeonatos profissionais.

É aliciante para quem recebe e para quem gosta de viajar para ver a sua equipa jogar. Ir a locais desconhecidos descobrir novas paisagens e gastronomia. Tudo certo.

 

O problema está maneira como se está a forçar isso. Condicionar o sorteio da 3ª eliminatória desta maneira parece-me um exagero. Obrigar todos os clubes da 1ª divisão a terem um jogo fora com um clube amador é alterar o espírito da prova.

Temos que nos lembrar que o encanto da Taça está também na sorte das bolas escolhidas. Se sair um clássico ou um derby logo nesta fase também tem um especial encanto e faz parte da tradição da competição.

Por isso, sugeria que o sorteio fosse o mais puro possível. A única regra seria esta: quando saíssem jogos entre clubes de divisões diferentes o jogo seria sempre na casa do que estivesse na divisão mais baixa. Simples. Entre clubes das duas divisões profissionais não era preciso esta condição, respeitava-se o alinhamento do sorteio. Parece-me aceitável.

 

Finalmente, a parte que mais me irrita. Depois deste esforço todo em proporcionar futebol com equipas de primeira em locais nada habituados a estas andanças não se pode deitar tudo por terra e sair a correr para o estádio maior que se encontrar nos arredores.

Aqui é, talvez, a medida mais utópica que eu gostaria de ver aplicada.

Os clubes não podem ganhar o euromilhões e reagirem como se tivessem também acertado na lotaria e no totoloto. Quando uma clube das divisões inferiores tem a sorte de receber um dos grandes ou mesmo o Benfica, o maior de todos, não devia poder sair da sua casa.

Deviam aceitar a realidade, o regresso às origens. Eu lembro-me de ver o Benfica a jogar em campos pelados apinhados de pessoas. Já nem há pelados, por isso não vamos inventar condições, seguranças e transmissões de televisão.

Diga-se que o Benfica já jogou três vezes em Viana do Castelo contra o Vianense. Duas nos anos 60, sim, a equipa de Bella Guttman a caminho da glória europeia passou pelo pelado minhoto, e outra nos anos 70 com Nené a brilhar.

Atentem nesta maravilha, o Benfica a jogar em Macedo de Cavaleiros:

Os clubes deviam jogar onde jogam sempre. Não cabem lá os milhares que gostariam de ter? Paciência, a realidade é o que é. As televisões vão ter mais trabalho para transmitir em estádios modestos? Vão mais cedo e criem as condições.

Nenhum clube vai mudar o seu destino por causa de um jogo na Taça com uma equipa profissional. Pode ganhar ali mais dinheiro mas não lhes muda a vida. A experiência de receber o Benfica num modesto campo em Viana do Castelo é que não tem preço. Ficaria para sempre na memória daquelas gentes.

Ir para Barcelos é vulgarizar o momento. É só mais um jogo num estádio banal das ligas profissionais. Daqui a um ano ninguém se vai lembrar desta noite.

Era isto que eu gostava de ver defendido. Um esforço de proporcionar encontros destes não pode ser aniquilado por ganâncias financeiras porque o simbolismo de ter um clube grande na terra original de um clube pequeno não tem preço.

 

O meu sonho era ver o Benfica defrontar o Silves no estádio Dr. Francisco Vieira.

Nelson Semedo na Selecção

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Que maravilha estarmos a testemunhar a ascensão de uma estrela. Chamada justa para Nelson Semedo se estrear na Selecção de Portugal. Digo mesmo que ,nesta altura, a Selecção precisa muito mais do Nelson do que o miúdo da Selecção. É merecido e um motivo de orgulho para ele.

Também lá está o Eliseu. Também podiam estar o André Almeida ou o Gonçalo Guedes. É uma questão de tempo.

 

Mais um Pesadelo no Restelo

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A semana tem passado calma e pouco ou nada se falou da vergonha que foi o sistema de entradas dos adeptos do Benfica no estádio do Restelo. Tal como em tantos outros campos onde os benfiquistas são sujeitos a condições dignas do terceiro mundo e até perigosas, as queixas de quem anda a pagar os bilhetes desta Liga Profissional caem em saco roto. Já nem vale a pena falar da figura decorativa do Provedor do Adepto...

A questão no Restelo nem é nova. Há três décadas que vou aquele estádio e sempre que o Benfica leva uma onda grande de adeptos há complicações nas entradas. Estão há 30 anos para arranjar uma solução digna e não conseguem. No twitter o Belenenses/clube lamentou a situação e atirou as culpas para a SAD e a PSP. Desses ninguém ouviu grande coisa. A imprensa também parece não se interessar nada pelos problemas que os adeptos, e alguns leitores, passam nestes dias.

Valeu a crónica de Pedro Adão e Silva esta semana no Record a chamar a atenção para a incompetência de quem tem responsabilidades. Isto porque, desta vez, ele foi para a bancada problemática, a norte, que leva sempre o maior número de adeptos.

 

Quem leva a companheira ou crianças, especialmente, passa por momentos de absoluto pânico. Além de estar mais de hora e meia em pé numa interminável fila que não avança, acaba por ser abalroado por uma massa humana que se amontoa perto de umas grades que nos sugam em direcção a um enorme muro de pedra! Ao fim de anos e anos a organizarem jogos destes é o melhor que conseguem...
Para agravar a situação, quando a hora do começo da partida se aproxima, o povo desespera e empurra, fura a fila, enerva-se e ameaça. Vem a polícia de intervenção para complicar ainda mais todo aquele caos.

Absolutamente incompreensível o que temos de passar só porque queremos ir ver a nossa equipa jogar num estádio que nunca recebe ninguém. As cadeiras estão num estado nojento, as casas de banho não funcionam. Há fotos disto tudo pelas redes sociais. Tudo foi ignorado. As pessoas que se queixam e denunciam são as mesmas que ainda pagam para ir ao futebol. Dá ideia que os dirigentes só descansam quando não tiverem uma única pessoa nas bancadas, aí deixam de ter problemas de organização e nem precisam de pagar policiamento.

 

O que se passa nestas situações é demasiado grave para ser ignorado. O futebol português anda tranquilamente à espera de uma tragédia. Não aconteceu no Restelo, apesar do caos, como não aconteceu no Jamor na última final da Taça. Não acontece quase por milagre. O normal não deveria ser aquelas confusões a que somos sujeitos. O normal seria pagarmos para poder entrar sem problemas a tempo e horas de vermos a nossa equipa jogar. Houve adeptos que não viram parte do jogo e muitos entraram no estádio sem terem que mostrar o bilhete do jogo! Como é que o Belenenses anuncia uma assistência oficial se nem viram se alguns adeptos do Benfica tinham bilhete ou não?!

 

A maior parte do campeonato fora da Luz é isto. Ninguém quer saber. Qualquer dia acontece algo mais trágico e aí já vão tarde.

De Volta ao Trauma Ruy Seabra

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Aproveitar que está encerrado mais um capítulo de Selecção Nacional para partilhar uma visão pessoal sobre o que se pode sentir pela equipa da FPF. Esta indiferença com que vejo chegar cada jornada da Selecção nem sempre foi assim. Vale a pena viajar no tempo, sendo que no meu caso são cerca três décadas, para a malta mais nova entender que nem sempre é só por embirração que a geração nascida nos anos 70 despreza a equipa de Portugal. O pessoal perto dos 40 anos de vida é capaz de ser rever neste texto.

 

Voltemos então ao fim dos anos 70. Quando começo a descobrir a paixão pelo Benfica fico a saber que há um bónus com que temos também de nos preocupar. Quando os jogos do campeonato paravam entrava a Selecção. Foi um contacto pacifico já que a maior parte da equipa portuguesa era do Benfica, daí não ter sido complicado simpatizar com o conceito.

Sem demoras vamos para a fase de qualificação do Euro'84. Foi quando senti realmente vontade de apoiar Portugal. Tinha 9 anos quando começou a corrida ao apuramento. Para trás tinha ficado um rasto de miséria que já vinha desde 1966!

 

Como se não chegasse o trauma de herdar o Benfica campeão europeu dos anos 60, ainda levei com uma selecção que era desprezada pelo seu país por nunca mais ter repetido as emoções do Mundial de Inglaterra. Não havia jogo, até 1982, da Selecção que não acabasse com os pais e avós a contarem as façanhas dos 5-3 à Coreia e dor da derrota com os ingleses. Era automático, Portugal falhava e a lenda de 1966 aumentava. Ganhou contornos monstruosos para miúdos, como eu, que pareciam ter nascido no tempo errado.

Crescemos a saber que nunca iríamos ver a equipa de futebol do nosso país a dar-nos as emoções mais altas de um Euro ou Mundial. Era triste. Essa tristeza passava para o ambiente da Selecção que entrava em campo já com o rótulo de "falhados" na testa.

Não estivemos em nenhum campeonato da Europa até então e depois de Inglaterra'66, falhámos o apuramento para os mundiais do México, Alemanha Federal e Argentina. Em 1982 o Mundial era aqui ao lado, havia enorme expectativa na qualificação para Espanha. Falhámos, pois.

 

Já com o ritual de ir à Luz ver sempre o Benfica bem assimilado, acabei por ir ver os jogos de apuramento para o Euro84 no nosso estádio. Os nossos adversários eram a Finlândia, a forte Polónia que vinha de um brilharete no Mundial, e a poderosa e favorita União Soviética.

Em casa goleámos a Finlândia por 5-0. Não fui ver porque foi em Alvalade. Foi um resultado animador a juntar à vitória por 0-2 na Finlândia. E estes 5-0 serviam para disfarçar a derrota incrível que sofremos pelos mesmos números numa noite de terror em Moscovo.

Como ganhámos também na Polónia por 0-1 era possível o milagre de uma estreia num Europeu se ganhássemos os jogos em casa.

Com a Polónia na Luz foi um jogo incrível com um ambiente que me conquistou e vitória por 2-1. Depois era preciso vencer a União Soviética.

Outra vez na Luz, ambiente espectacular, casa cheia, e o apoio de uma geração que queria acabar com os fantasmas de 1966 e ter direito ao sonho com a sua Selecção. Chalana cavou o penalti que Jordão marcou ao grande Dasaev. Estava conquistada a simpatia com a equipa da FPF.

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Para verem como a malta já na altura era tramada com piadas à volta do futebol conto esta piada que reproduzi orgulhosamente à mesa numa almoço de família uns dias depois do jogo. Sabem o que queria dizer o CCCP nas camisolas soviéticas? Era uma mensagem para não largarem o Jordão: Cuidado Com o Cabr** do Preto. Nem era preciso haver redes sociais, a malta já era assim. A família nao apreciou a piada.

 

Depois foi o que se sabe em terras francesas com Portugal a brilhar até às meias finais. A dramática derrota com a França deixou a porta aberta para continuarmos a apoiar os "Patrícios". Para estreia num Europeu, não foi mau.

O desafio era que 1984 não ficasse na história como 1966. Queríamos estar sempre presentes naqueles torneios e não ir uma vez na vida, brilhar e ficar a falar daquilo o resto do tempo.

 

Assim, o apuramento para o Mundial do México 1986 foi encarado com optimismo apesar de termos no mesmo grupo a RFA.

Em setembro de 1984 começámos a ganhar na Suécia, depois em casa batemos a Checoslováquia mas fomos derrotados em Alvalade pelos suecos. Voltavam os receios que não seriam afastados com a vitória em Malta e duas derrotas seguidas, no Jamor com a Alemanha, uma das melhores selecções que vi ao vivo, e na Checoslováquia.

Tínhamos que ganhar a Malta na Luz e fazer contas a sonhar com uma vitória em Estugarda. Ganhar a Malta foi incrivelmente complicado, 3-2 arrancado a ferros. Depois o seleccionador Torres pediu que o deixassem sonhar e aconteceu o milagre. A Suécia tramou os checos e Carlos Manuel arrancou aquele pontapé fabuloso que deu a vantagem que Manuel Bento defendeu de forma épica.

 

Dois apuramentos seguidos para grandes competições. Estava contente com a minha Selecção que, por acaso, era composta por vários jogadores do Benfica. Tudo fácil de gerir.

 

Aconteceu o que sabemos em Saltilho e acabou-se a magia da Selecção. Nem foi só o circo e a falta de profissionalismo, o que marcou mesmo o fim foi a lesão do Bento. O que eu mais temia apareceu por causa da FPF e confirmou-se que Portugal e o Benfica sem Bento já não eram a mesma coisa.

 

A vida continua e lá encarámos o apuramento para o Euro 1988. Aí começou a reviravolta sentimental com a Selecção. Nós, adeptos, fomos traídos, gozados e humilhados por jogadores e dirigentes. Ninguém se conseguiu entender após o México e apresentaram-nos uma equipa anedótica escolhida por Rui Seabra. Quem? Pois, ninguém fazia ideia quem era.

Foi assim que se passou do Portugal do Bento, Eurico, Jordão, Chalana, Oliveira, Gomes, Carlos Manuel, etc. para o Portugal do Rui Seabra, os Seabrinhas!

Era ver para crer. Recordo com carinho o empate com Malta, 2-2, nos Barreiros. Portugal alinhou com:

Jesus, Álvaro, Veloso, Eduardo Luís e Dito, Frasco, Adão, Jaime e Nascimento, Manuel Fernandes e Jorge Plácido (fez os dois golos). Ainda entraram Rui Barros e Skoda.

Luxo, não?

Foi assim que em 8 jogos ganhámos 2, a Malta e à Suécia. Com a Suíça e Itália nada feito. Os emigrantes na Alemanha ficaram deprimidos. O Benfica ainda compensou em 1988 com a presença em Estugarda na final da Taça dos Campeões um mês antes de começar o Euro. O Benfica perdeu para os holandeses que viriam a ser campeões da Europa com a sua selecção mas o gigante ajuntamento de benfiquistas nesse dia de Maio ficou para sempre na recordação de todos os que lá estiveram.

 

Depois seguiu-se o apuramento para o Mundial 1990 e mais uma vez falhámos e vimos a prova em Itália sem Portugal. Já era um hábito viver isto por fora, 1966, 1984 e 1986 pareciam mesmo milagres. Eu já me dava por contente por ter visto dois.

O Euro 1992 na Suécia também nos passou ao lado, tal como o Mundial nos Estados Unidos da América em 1994.

E com isto tudo, em vinte e poucos anos de vida tinha visto Portugal entrar em duas grandes competições. Duas, nada mais. Portanto, os laços afectivos com a equipa da FPF não podiam ser nem fortes e nem felizes.

 

Houve uma enorme injecção de esperança com os Mundiais de juniores ganhos com a malta da minha idade. Mas em termos práticos até ao final do século só tivemos direito à alegria de ir ao Euro de 1996 em Inglaterra onde Poborsky nos mandou para casa. O Mundial em França de 1998 também não foi para nós.

Duas décadas a ver a Selecção, 80 e 90, e marcar presença apenas em 3 fases finais.

 

Estamos falados sobre afeição à Selecção em metade da minha vida.

Felizmente, a partir de 2000 as coisas mudaram muito e deu-se um salto enorme a nível de profissionalismo na FPF. Voltámos a sonhar no Europeu da Bélgica e Holanda onde voltámos a cair com a França, fomos ao Mundial da Coreia e Japão reavivar os fantasmas de Saltilho em 2002, e atingimos o auge em 2004 com o nosso Europeu.

 

Digam o que disserem, foi o Scolari que me fez vibrar a sério com a Selecção. Foi com ele em 2004 e 2006 que cheguei a por bandeiras à janela e que sofri com um jogo de futebol como costumo sofrer com o Benfica. Os jogos de 2004 e do Mundial 2006 mexeram mesmo comigo. Senti que, finalmente, tinha uma Selecção. Fomos a uma final de um Euro e a uma meia final de um Mundial, tal como em 1966. Estava igualado o feito que me seguia desde que nasci.

Seguimos para o Euro 2008 na Áustria e Suíça e fomos apurados com naturalidade, tal como acabámos eliminados com naturalidade por uma superior Alemanha.

Com maior ou menor dificuldade nunca mais falhámos apuramentos para as fases finais de Euros e Mundiais. Isso é uma enorme evolução. Infelizmente, sinto que depois de 2008 foi sempre a descer outra vez. Queirós e Paulo Bento não entusiasmaram nada. A fasquia ficou na obrigação do apuramento, o que já não é mau tendo em conta o que já passei.

Agora com Fernando Santos não sei se voltaremos ao entusiasmo de 2004-2008 mas com a média de idades tão alta da equipa que bateu a Sérvia, o futuro não é animador. E se dúvidas haviam, ontem com a derrota contra Cabo Verde e um "11" ao nível da Era Rui Seabra o medo está de volta.

 

O meu entusiasmo com a Selecção atingiu níveis assinaláveis entre 1982 e 1986, 2004 e 2008, não sei se algum dia voltará.

Para a malta que não entende a relativa frieza com que encaro estes compromissos da FPF fica aqui o historial de um adepto de futebol que gostava imenso de vibrar com o futebol do seu país mas que já levou tanta "porrada" que tem dificuldade em levar isto a sério.

Isto também explica que muita gente da minha geração vibre com um determinado país, que não o nosso, em grandes torneios. Alemanha, no meu caso, Argentina, Brasil, Inglaterra ou Itália são escolhas para muito boa gente que acompanha Mundiais ou Europeus há várias décadas. Fomos obrigados a adoptar um país há muitos anos quando isto não era CR7 contra o mundo e Portugal em fases finais nem na playstation.