Famalicão 1 - 1 Benfica: De Volta ao Jamor!
Há coisa de um ano estava em casa a ver um Famalicão - Paços de Ferreira da Liga Pro numa 4a feira à noite na televisão. Fiquei impressionado pelo estádio cheio, pelo ambiente e pelo futebol dos minhotos. Percebi que iam subir e anotei mentalmente que tinha de fazer um esforço para conseguir lá ir ver um jogo e conhecer aquela realidade. Depois, vi e li várias reportagens à volta do clube e percebi que ali havia uma alma parecida com aquela que faz do Vitória um clube diferente em Guimarães, por exemplo.
As contratações mediáticas e impressionante primeira volta do Famalicão nesta temporada fazem daquele clube o que mais evoluiu entre as ligas profissionais em Portugal. Um exemplo de gestão e com apostas muito interessantes em jogadores de grande potencial.
Por tudo isto, tenho sempre elogiado o Famalicão e a vontade de conhecer o Estádio Municipal 22 de Junho foi crescendo. Quis o destino que o Benfica tivesse de jogar quatro vezes com os minhotos. Dois dois jogos da Luz já passaram e o facto da segunda partida da Taça de Portugal estar marcada para uma 3ª feira às 20h45 abria uma janela de oportunidade de investir numa viagem ao norte para conhecer aquela realidade. O desafio foi encher um carro com cinco benfiquistas que ajustaram a sua vida profissional e familiar para, mais uma vez, colocar o Benfica em primeiro lugar e acompanhar o clube a um destino novo e diferente.
Para tornar tudo ainda mais aliciante houve sondagem entre amigos mais informados para saber onde devíamos parar antes do jogo para conhecer a gastronomia local. Depois de muitas sugestões, optámos pela Casa Pêga porque serviam antes da clássica hora de jantar. Saída de Lisboa pelas 15h, regresso à A1 três dias depois da ida ao Dragão e chegada ao restaurante antes das 19h. Os carros de vários meios de comunicação parados à porta já indicavam que o poiso seria de qualidade. Lá dentro vários profissionais conhecidos da Sport Tv, SIC ou TSF confirmaram que tínhamos feito a escolha certa. A recepção é desarmante. Simpatia e esforço por servir bem. Bolinhos de bacalhau, broa, queijo e uns rojões típicos do Minho que compensaram logo aquela loucura de estar ali numa 3a feira por causa de um jogo de futebol.
A partir daqui foi sempre a descer.
Infelizmente, a realidade em Vila Nova de Famalicão é mais do mesmo do que temos vindo a descobrir noutros pontos do país. Afinal, os adeptos do Famalicão também são movidos a ódio e no nosso caminho para o estádio só ouvimos insultos e provocações. Tudo se agrava com a existência de uma casa do Futebol Clube do Porto junto ao estádio que costuma estar fechada em dias de jogo. Ontem, curiosamente, estava aberta e cheia de adeptos do Porto bem identificados.
Acresce a tudo isto a ausência de indicações por parte de quem organiza o jogo. A Federação Portuguesa de Futebol podia ter feito um esforço para dignificar a prova rainha e organizar, por exemplo, um parque de estacionamento para as poucas centenas de adeptos visitantes. Principalmente, a maioria que nunca tinha ido ali e não sabia como se orientar até ao recinto. Nada disso aconteceu, os adeptos do Benfica iam à descoberta e assim passavam junto a elementos da claque do Famalicão e muitos portistas num ambiente de tensão.
Quando chegámos ao acesso à nossa bancada vieram as piores noticias. Relatos de adeptos benfiquistas que contaram que durante a tarde a festa da Taça foi andarem a roubar adereços do Benfica em permanente provocação. Nem a equipa de reportagem da BTV se safou dos apertos. Nas revistas aos adeptos proibiam os adereços do Benfica a adeptos que tinha comprado bilhete de 25 euros para a bancada central. Continuamos nisto em 2020.
E para saltar já para o fim, após o jogo fomos obrigados a ficar mais de 40 minutos à espera para sair. Relembro que o jogo começou às 20h45, portanto mais 40 minutos depois de terminar a partida são penosos para quem tanto tinha de andar a seguir. Isto tudo para depois na saída dos adeptos do Benfica haver logo insultos e provocações de famílias movidas a ódio nos prédios ao lado do estádio. Um triste espectáculo. Continuo a desejar tudo de bom à equipa do Famalicão, ao seu treinador e aos jogadores que mostram um bom futebol. Mas em termos de adeptos já não me enganam mais, estão apresentados. Desilusão total na cidade e nas bancadas.
O Benfica tinha de responder à derrota no Dragão. Não o fez de forma categórica, longe disso. Mas a equipa teve o mérito de perceber que não está bem e, portanto, tinha que adaptar-se ao contexto competitivo e fazer o possível para garantir a presença no Jamor.
Bruno Lage voltou ao formato normal depois daquele triângulo no meio campo no Porto. Cervi na esquerda, Pizzi na direita, Rafa e Vinicius no meio. Recuperou Florentino para o meio campo e insistiu em Taarabt para dinamizar o jogo ofensivo da equipa. Tomás Tavares ocupou o lugar do lesionado André Almeida.
Com uma vantagem mínima e perigosa, o Benfica tentou agarrar no jogo e tirar a iniciativa ao Famalicão. Essa foi a primeira preocupação. E percebe-se bem porque a equipa veio de um jogo muito exigente, afectada pela derrota e encontrava um Famalicão que não se desgastou desde o jogo na Luz. A derrota por 0-7 com o Vitória de Guimarães foi o reflexo da aposta de João Pedro Sousa numa equipa de reservas deixando a equipa fresca para este jogo decisivo.
Em parte, a estratégia do Famalicão resultou porque conseguiu encostar o Benfica e lutar pelo apuramento até ao fim. No entanto, o facto do Benfica ter saído na frente deu uma outra tranquilidade à equipa de Lage. Tranquilidade que Ferro e Grimaldo não conseguem ter. Voltou a ser por aquele lado que o adversário fez mossa. O Benfica acaba por sair com uma simpática vantagem para o intervalo já que viu o golo do empate ser invalidado por fora de jogo.
Quando se esperava uma forte reacção do Famalicão, por estarem bem mais frescos, o jogo caiu numa surpreendente toada morna que muito convinha ao Benfica. Surpreendeu a falta de objectividade e eficácia do Benfica em vários momentos que podia ter resolvido o jogo com recuperações de bola e ataques rápidos sempre mal definidos e assim deixaram sempre o Famalicão em jogo. O cenário complicou-se a cerca de 10 minutos do fim quando surgiu mesmo o 1-1. O Benfica voltava à condição da época passada em Alvalade, mais um golo sofrido e o Jamor desaparecia.
Emoção e nervos até ao fim. Mais nervos só mesmo com a atitude de Seferovic no momento de poder fazer o 1-2. O que se passa com o suíço? Que má vontade é aquela? Que desprezo pelo jogo é aquele? Tem sido inexplicável a atitude de Seferovic nestes últimos tempos no Benfica.
A verdade é que o apuramento para o Jamor foi garantido, sem brilho mas com esforço depois de uma jornada complicada no passado fim de semana. O objectivo de voltar à final da Taça de Portugal foi conseguido. Cumprimos um trajecto digno, passámos por Cova da Piedade e Vizela e depois medimos forças com três equipas do Top 6 da Liga NOS, Braga, Rio Ave e Famalicão. Muito mérito nesta caminhada.
Agora, na final do Jamor, a Federação Portuguesa de Futebol já pode montar toda a estrutura milionária para embelezar a prova rainha. Já ninguém se vai lembrar das condições miseráveis que os adeptos do Benfica encontraram nesta meia final em que não se viu sinal da organização da prova junto de quem dedicou um dia útil para acompanhar o apuramento para a final. Segue-se o fogo de artificio e o glamour VIP do Jamor e da Supertaça e na próxima temporada lá voltam os folhetins de jogos repetidos por repescagens, de aventuras dos Canelas da vida e destas meias finais ridículas a duas mãos e com os golos fora a valerem por dois como na UEFA.
O mais importante está conseguido, churrasco no Jamor!