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Red Pass

Rumo ao 38

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Famalicão 1 - 1 Benfica: De Volta ao Jamor!

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Há coisa de um ano estava em casa a ver um Famalicão - Paços de Ferreira da Liga Pro numa 4a feira à noite na televisão. Fiquei impressionado pelo estádio cheio, pelo ambiente e pelo futebol dos minhotos. Percebi que iam subir e anotei mentalmente que tinha de fazer um esforço para conseguir lá ir ver um jogo e conhecer aquela realidade. Depois, vi e li várias reportagens à volta do clube e percebi que ali havia uma alma parecida com aquela que faz do Vitória um clube diferente em Guimarães, por exemplo. 

As contratações mediáticas e impressionante primeira volta do Famalicão nesta temporada fazem daquele clube o que mais evoluiu entre as ligas profissionais em Portugal. Um exemplo de gestão e com apostas muito interessantes em jogadores de grande potencial. 

Por tudo isto, tenho sempre elogiado o Famalicão e a vontade de conhecer o Estádio Municipal 22 de Junho foi crescendo. Quis o destino que o Benfica tivesse de jogar quatro vezes com os minhotos. Dois dois jogos da Luz já passaram e o facto da segunda partida da Taça de Portugal estar marcada para uma 3ª feira às 20h45 abria uma janela de oportunidade de investir numa viagem ao norte para conhecer aquela realidade. O desafio foi encher um carro com cinco benfiquistas que ajustaram a sua vida profissional e familiar para, mais uma vez, colocar o Benfica em primeiro lugar e acompanhar o clube a um destino novo e diferente. 

Para tornar tudo ainda mais aliciante houve sondagem entre amigos mais informados para saber onde devíamos parar antes do jogo para conhecer a gastronomia local. Depois de muitas sugestões, optámos pela Casa Pêga porque serviam antes da clássica hora de jantar. Saída de Lisboa pelas 15h, regresso à A1 três dias depois da ida ao Dragão e chegada ao restaurante antes das 19h. Os carros de vários meios de comunicação parados à porta já indicavam que o poiso seria de qualidade. Lá dentro vários profissionais conhecidos da Sport Tv, SIC ou TSF confirmaram que tínhamos feito a escolha certa. A recepção é desarmante. Simpatia e esforço por servir bem. Bolinhos de bacalhau, broa, queijo e uns rojões típicos do Minho que compensaram logo aquela loucura de estar ali numa 3a feira por causa de um jogo de futebol. 

A partir daqui foi sempre a descer.

Infelizmente, a realidade em Vila Nova de Famalicão é mais do mesmo do que temos vindo a descobrir noutros pontos do país. Afinal, os adeptos do Famalicão também são movidos a ódio e no nosso caminho para o estádio só ouvimos insultos e provocações. Tudo se agrava com a existência de uma casa do Futebol Clube do Porto junto ao estádio que costuma estar fechada em dias de jogo. Ontem, curiosamente, estava aberta e cheia de adeptos do Porto bem identificados. 

Acresce a tudo isto a ausência de indicações por parte de quem organiza o jogo. A Federação Portuguesa de Futebol podia ter feito um esforço para dignificar a prova rainha e organizar, por exemplo, um parque de estacionamento para as poucas centenas de adeptos visitantes. Principalmente, a maioria que nunca tinha ido ali e não sabia como se orientar até ao recinto. Nada disso aconteceu, os adeptos do Benfica iam à descoberta e assim passavam junto a elementos da claque do Famalicão e muitos portistas num ambiente de tensão. 

Quando chegámos ao acesso à nossa bancada vieram as piores noticias. Relatos de adeptos benfiquistas que contaram que durante a tarde a festa da Taça foi andarem a roubar adereços do Benfica em permanente provocação. Nem a equipa de reportagem da BTV se safou dos apertos. Nas revistas aos adeptos proibiam os adereços do Benfica a adeptos que tinha comprado bilhete de 25 euros para a bancada central. Continuamos nisto em 2020. 

E para saltar já para o fim, após o jogo fomos obrigados a ficar mais de 40 minutos à espera para sair. Relembro que o jogo começou às 20h45, portanto mais 40 minutos depois de terminar a partida são penosos para quem tanto tinha de andar a seguir. Isto tudo para depois na saída dos adeptos do Benfica haver logo insultos e provocações de famílias movidas a ódio nos prédios ao lado do estádio. Um triste espectáculo. Continuo a desejar tudo de bom à equipa do Famalicão, ao seu treinador e aos jogadores que mostram um bom futebol. Mas em termos de adeptos já não me enganam mais, estão apresentados. Desilusão total na cidade e nas bancadas. 

 

O Benfica tinha de responder à derrota no Dragão. Não o fez de forma categórica, longe disso. Mas a equipa teve o mérito de perceber que não está bem e, portanto, tinha que adaptar-se ao contexto competitivo e fazer o possível para garantir a presença no Jamor.

Bruno Lage voltou ao formato normal depois daquele triângulo no meio campo no Porto. Cervi na esquerda, Pizzi na direita, Rafa e Vinicius no meio. Recuperou Florentino para o meio campo e insistiu em Taarabt para dinamizar o jogo ofensivo da equipa. Tomás Tavares ocupou o lugar do lesionado André Almeida. 

Com uma vantagem mínima e perigosa, o Benfica tentou agarrar no jogo e tirar a iniciativa ao Famalicão. Essa foi a primeira preocupação. E percebe-se bem porque a equipa veio de um jogo muito exigente, afectada pela derrota e encontrava um Famalicão que não se desgastou desde o jogo na Luz. A derrota por 0-7 com o Vitória de Guimarães foi o reflexo da aposta de João Pedro Sousa numa equipa de reservas deixando a equipa fresca para este jogo decisivo.

Em parte, a estratégia do Famalicão resultou porque conseguiu encostar o Benfica e lutar pelo apuramento até ao fim. No entanto, o facto do Benfica ter saído na frente deu uma outra tranquilidade à equipa de Lage. Tranquilidade que Ferro e Grimaldo não conseguem ter. Voltou a ser por aquele lado que o adversário fez mossa. O Benfica acaba por sair com uma simpática vantagem para o intervalo já que viu o golo do empate ser invalidado por fora de jogo. 

Quando se esperava uma forte reacção do Famalicão, por estarem bem mais frescos, o jogo caiu numa surpreendente toada morna que muito convinha ao Benfica. Surpreendeu a falta de objectividade e eficácia do Benfica em vários momentos que podia ter resolvido o jogo com recuperações de bola e ataques rápidos sempre mal definidos e assim deixaram sempre o Famalicão em jogo. O cenário complicou-se a cerca de 10 minutos do fim quando surgiu mesmo o 1-1. O Benfica voltava à condição da época passada em Alvalade, mais um golo sofrido e o Jamor desaparecia. 

Emoção e nervos até ao fim. Mais nervos só mesmo com a atitude de Seferovic no momento de poder fazer o 1-2. O que se passa com o suíço? Que má vontade é aquela? Que desprezo pelo jogo é aquele? Tem sido inexplicável a atitude de Seferovic nestes últimos tempos no Benfica. 

A verdade é que o apuramento para o Jamor foi garantido, sem brilho mas com esforço depois de uma jornada complicada no passado fim de semana. O objectivo de voltar à final da Taça de Portugal foi conseguido. Cumprimos um trajecto digno, passámos por Cova da Piedade e Vizela e depois medimos forças com três equipas do Top 6 da Liga NOS, Braga, Rio Ave e Famalicão. Muito mérito nesta caminhada.

Agora, na final do Jamor, a Federação Portuguesa de Futebol já pode montar toda a estrutura milionária para embelezar a prova rainha. Já ninguém se vai lembrar das condições miseráveis que os adeptos do Benfica encontraram nesta meia final em que não se viu sinal da organização da prova junto de quem dedicou um dia útil para acompanhar o apuramento para a final. Segue-se o fogo de artificio e o glamour VIP do Jamor e da Supertaça e na próxima temporada lá voltam os folhetins de jogos repetidos por repescagens, de aventuras dos Canelas da vida e destas meias finais ridículas a duas mãos e com os golos fora a valerem por dois como na UEFA. 

O mais importante está conseguido, churrasco no Jamor! 

Benfica 3 - 2 Famalicão: O Caminho Para o Jamor é Longo

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O Benfica se quiser chegar ao Jamor tem de afastar 3 equipas do Top 6 da Liga NOS. Braga e Rio Ave já foram afastados, chegou a vez do duplo duelo com o Famalicão.

Segundo de quatro encontros entre Benfica e Famalicão nesta época. Tudo graças a um formato aberrante que transforma o acesso à final da Taça de Portugal numa espécie de eliminatória europeia com os golos fora a valerem por dois em caso de empate como um dia os responsáveis da UEFA inventaram. As meias finais da Taça de Portugal são o total oposto ao espírito da prova que desde Agosto anda a apurar clubes num só jogo. 

Por isso, em vez de termos um emocionante jogo decisivo lá para Março / Abril com porta aberta para o Jamor, temos esta meias finais a duas mãos para se resolverem numa semana. Numa 3a feira à 19h15 era difícil pedir mais gente na Luz para um jogo que nada decide na sombra do grande clássico do próximo fim de semana. 

Bruno Lage não facilitou e chamou Odysseas para a baliza, quebrando a tradição de rotação na prova, André Almeida para defesa direito e apostou em Jardel no lugar de Ferro. Correu mal, o brasileiro saiu lesionado ao intervalo e Ferro foi a jogo. Depois, Weigl descansou cabendo a Gabriel fazer dupla com Taarabt, Cervi e Pizzi mantiveram os lugares, na frente Seferovic e Chiquinho foram titulares. 

Pedia-se ao Benfica uma entrada forte e uma atitude ofensiva que levasse o jogo para um resultado tranquilo que desse conforto para a 2ª mão. A equipa não interpretou assim o jogo e andou uma velocidade abaixo do que é normal tornando a partida aborrecida, convidando o Famalicão a arriscar mais. O nulo ao intervalo mostrava que as equipas estavam à espera de resolver a passagem à final na próxima semana.

A 2ª parte trouxe um novo jogo. Cinco golos que animaram a noite e trouxeram muita emoção à Luz.

Ao golo de Pizzi, num penalti conquistado por Seferovic, o Famalicão respondeu com o melhor futebol que se tem visto por cá esta época. Diogo Gonçalves assistiu Pedro "Pote" Gonçalves no empate e depois o marcador deu o golo a Toni Martinez que deixava o Famalicão mais perto do Jamor. Entretanto, já tinham entrado Rafa e Vinicius e o Benfica encontrou força e motivação para fazer nova remontada. Aos 78' o inevitável Rafa fez o empate e no último minuto Gabriel responde de cabeça a um canto de Grimaldo dando a suada vitória ao Benfica.

No fim do dia, o Benfica sai moralizado com o triunfo perto do fim e parte em vantagem para a 2ª mão no Minho.

O Jamor parece perto mas ainda está muito longe. Vai ter de ser conquistado lá bem no norte em mais uma jornada de futebol a meio da semana, bem longe dos interesses dos adeptos.

Posto isto, um repto para a FPF: acabem com estas meias finais a duas mãos, façam mais uma eliminatória e coloquem as equipas profissionais mais cedo no sorteio. Isto é absurdo. 

Benfica 4 - 0 Famalicão: Um 2019 Épico na Liga

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Dia 17 de Outubro de 1998, perto da meia noite em Lisboa. Portugal vivia um período de esperança, em particular Lisboa estava em empolgada no pós Expo' 98. Mas o Benfica não sabia o que era festejar um campeonato desde 1994. Em 1998 ainda não havia blogues e estes desabafos ficavam nas mesas de cafés e nas ruas estreitas e labirinticas do Bairro Alto. Como nesta noite de 17 de Outubro de 1998, depois de mais uma ida ao Estádio da Luz. Um ritual nunca interrompido mesmo que na altura não fizesse o menor sentido ser um dos 25 mil adeptos que se dignavam a ir ver um Benfica - Alverca para o campeonato nacional. Um adepto com cativo e orgulhoso de não falhar nenhum jogo na Luz. Mesmo que na ficha desse jogos estivessem Paulo Santos, Abel Silva, José Soares, Marco Freitas, Ramires, Maniche e Mário Wilson no banco do... adversário! 

Era o mundo ao contrário. O Benfica de Souness empatava 2-2 com o Alverca. 

O hábito era ir para a Luz motivado por uma misteriosa esperança e sair de lá, invariavelmente, frustrado. Essa tristeza levava-me a longas noites de reflexão com amigos. Uma terapia sempre à procura de algo positivo que nos mantivesse ligados a qualquer coisa. 

Em Outubro de 1998, depois desse 2-2 com o Alverca, alguém projectou o futuro numa conversa bem regada e dizia algo como isto:

Um dia vamos rir destas noites. Vamos recordar estes pesadelos quando liderarmos com frequência a primeira liga. Por exemplo, em 2019 vamos chegar ao fim do ano, olhar para os jogos que disputámos a contar para o campeonato e dizer: perdemos um jogo em Portimão no primeiro jogo do ano mas no último vamos dar 4 ao Famalicão e confirmar a liderança na passagem de ano. Entretanto, vamos recuperar 7 pontos de atraso entre Janeiro e Maio e vamos festejar o 37º de campeão. Depois, damos 5 aos lagartos na Supertaça e, apesar, de perdermos um clássico em casa, fechamos o ano a golear e com vantagem para o rival Porto. Depois de Portimão, todo e qualquer jogo fora da Luz que façamos em 2019 a contar para Liga vamos ganhar. Nem empatamos, só ganhamos. Em Guimarães, em Braga, em Alvalade, no Dragão, em Moreira de Cónegos, nos Açores, nos Arcos, onde quiserem. Só ganhamos. Teremos um jovem treinador que pega na equipa e só não vence duas vezes. De resto, ganha tudo com 109 golos marcados e 21 sofridos. 

Mais: vamos ter um português a partir tudo, a marcar golos, a dar golos, a fazer jogar com o nome de Pizzi. E um marroquino a jogar um futebol mágico. 

Alto!! Aqui mais ninguém estava a ouvir este amigo optimista. No 2-2 com o Alverca o nosso marroquino era o Tahar. Não dá para imaginar um jogador desta nacionalidade a ser uma referencia da equipa. Fiquemos pelo Hajry. 

A conversa nunca existiu, foi só um exercício de imaginação porque ninguém teria a capacidade para imaginar em 1998 um ano como o de 2019. Quem diz 1998 diz entre 1995 e 2004. Ganhar, golear, jogar bem, ter jogadores de nível superior, era toda uma realidade cada vez mais distante num clube que até 1994 parecia destinado a ganhar todos os anos. 

Por ter vivido intensamente essas épocas, dou muito valor a noites como a de hoje. Voltar a ver o Famalicão na Luz, com personalidade, bem treinado, descomplexado contra um Benfica em alta rotação e a jogar um futebol atraente, é algo natural para as gerações mais novas mas é um orgulho maior para quem passou pelos anos negros. 

O Benfica cresceu em Leipzig e veio melhorar desde o jogo da Alemanha. Depois da goleada no Bessa, dos 3-0 ao Zenit, um 4-0 ao Famalicão em forma de grito de guerra a apontar a qualidade de Pizzi, Tomás Tavares ( a crescer tanto ), Adel, Chiquinho, Cervi e Vinicius, por exemplo. 

O Benfica está a jogar bem, Bruno Lage assinou uma página histórica no clube em 2019 que vai ser lida com espanto e saudade daqui a anos.

Só peço que 2020 traga uma normal continuidade deste ciclo incrível. 

Para o campeonato, 2019 morre aqui. Temos de esperar, quase, um mês para jogar nesta competição.

Se em 1998, alguém me dissesse que ainda ia viver um ano como este de 2019 a ver o Benfica, eu iria reagir com violência. 

Ainda bem que vivi o suficiente para ver este ciclo e este jogo. Aproveitem este Benfica.