Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Red Pass

Rumo ao 38

Red Pass

Rumo ao 38

De Volta ao Trauma Ruy Seabra

0 por ita1271.jpg

 

Aproveitar que está encerrado mais um capítulo de Selecção Nacional para partilhar uma visão pessoal sobre o que se pode sentir pela equipa da FPF. Esta indiferença com que vejo chegar cada jornada da Selecção nem sempre foi assim. Vale a pena viajar no tempo, sendo que no meu caso são cerca três décadas, para a malta mais nova entender que nem sempre é só por embirração que a geração nascida nos anos 70 despreza a equipa de Portugal. O pessoal perto dos 40 anos de vida é capaz de ser rever neste texto.

 

Voltemos então ao fim dos anos 70. Quando começo a descobrir a paixão pelo Benfica fico a saber que há um bónus com que temos também de nos preocupar. Quando os jogos do campeonato paravam entrava a Selecção. Foi um contacto pacifico já que a maior parte da equipa portuguesa era do Benfica, daí não ter sido complicado simpatizar com o conceito.

Sem demoras vamos para a fase de qualificação do Euro'84. Foi quando senti realmente vontade de apoiar Portugal. Tinha 9 anos quando começou a corrida ao apuramento. Para trás tinha ficado um rasto de miséria que já vinha desde 1966!

 

Como se não chegasse o trauma de herdar o Benfica campeão europeu dos anos 60, ainda levei com uma selecção que era desprezada pelo seu país por nunca mais ter repetido as emoções do Mundial de Inglaterra. Não havia jogo, até 1982, da Selecção que não acabasse com os pais e avós a contarem as façanhas dos 5-3 à Coreia e dor da derrota com os ingleses. Era automático, Portugal falhava e a lenda de 1966 aumentava. Ganhou contornos monstruosos para miúdos, como eu, que pareciam ter nascido no tempo errado.

Crescemos a saber que nunca iríamos ver a equipa de futebol do nosso país a dar-nos as emoções mais altas de um Euro ou Mundial. Era triste. Essa tristeza passava para o ambiente da Selecção que entrava em campo já com o rótulo de "falhados" na testa.

Não estivemos em nenhum campeonato da Europa até então e depois de Inglaterra'66, falhámos o apuramento para os mundiais do México, Alemanha Federal e Argentina. Em 1982 o Mundial era aqui ao lado, havia enorme expectativa na qualificação para Espanha. Falhámos, pois.

 

Já com o ritual de ir à Luz ver sempre o Benfica bem assimilado, acabei por ir ver os jogos de apuramento para o Euro84 no nosso estádio. Os nossos adversários eram a Finlândia, a forte Polónia que vinha de um brilharete no Mundial, e a poderosa e favorita União Soviética.

Em casa goleámos a Finlândia por 5-0. Não fui ver porque foi em Alvalade. Foi um resultado animador a juntar à vitória por 0-2 na Finlândia. E estes 5-0 serviam para disfarçar a derrota incrível que sofremos pelos mesmos números numa noite de terror em Moscovo.

Como ganhámos também na Polónia por 0-1 era possível o milagre de uma estreia num Europeu se ganhássemos os jogos em casa.

Com a Polónia na Luz foi um jogo incrível com um ambiente que me conquistou e vitória por 2-1. Depois era preciso vencer a União Soviética.

Outra vez na Luz, ambiente espectacular, casa cheia, e o apoio de uma geração que queria acabar com os fantasmas de 1966 e ter direito ao sonho com a sua Selecção. Chalana cavou o penalti que Jordão marcou ao grande Dasaev. Estava conquistada a simpatia com a equipa da FPF.

chalana.jpg

Para verem como a malta já na altura era tramada com piadas à volta do futebol conto esta piada que reproduzi orgulhosamente à mesa numa almoço de família uns dias depois do jogo. Sabem o que queria dizer o CCCP nas camisolas soviéticas? Era uma mensagem para não largarem o Jordão: Cuidado Com o Cabr** do Preto. Nem era preciso haver redes sociais, a malta já era assim. A família nao apreciou a piada.

 

Depois foi o que se sabe em terras francesas com Portugal a brilhar até às meias finais. A dramática derrota com a França deixou a porta aberta para continuarmos a apoiar os "Patrícios". Para estreia num Europeu, não foi mau.

O desafio era que 1984 não ficasse na história como 1966. Queríamos estar sempre presentes naqueles torneios e não ir uma vez na vida, brilhar e ficar a falar daquilo o resto do tempo.

 

Assim, o apuramento para o Mundial do México 1986 foi encarado com optimismo apesar de termos no mesmo grupo a RFA.

Em setembro de 1984 começámos a ganhar na Suécia, depois em casa batemos a Checoslováquia mas fomos derrotados em Alvalade pelos suecos. Voltavam os receios que não seriam afastados com a vitória em Malta e duas derrotas seguidas, no Jamor com a Alemanha, uma das melhores selecções que vi ao vivo, e na Checoslováquia.

Tínhamos que ganhar a Malta na Luz e fazer contas a sonhar com uma vitória em Estugarda. Ganhar a Malta foi incrivelmente complicado, 3-2 arrancado a ferros. Depois o seleccionador Torres pediu que o deixassem sonhar e aconteceu o milagre. A Suécia tramou os checos e Carlos Manuel arrancou aquele pontapé fabuloso que deu a vantagem que Manuel Bento defendeu de forma épica.

 

Dois apuramentos seguidos para grandes competições. Estava contente com a minha Selecção que, por acaso, era composta por vários jogadores do Benfica. Tudo fácil de gerir.

 

Aconteceu o que sabemos em Saltilho e acabou-se a magia da Selecção. Nem foi só o circo e a falta de profissionalismo, o que marcou mesmo o fim foi a lesão do Bento. O que eu mais temia apareceu por causa da FPF e confirmou-se que Portugal e o Benfica sem Bento já não eram a mesma coisa.

 

A vida continua e lá encarámos o apuramento para o Euro 1988. Aí começou a reviravolta sentimental com a Selecção. Nós, adeptos, fomos traídos, gozados e humilhados por jogadores e dirigentes. Ninguém se conseguiu entender após o México e apresentaram-nos uma equipa anedótica escolhida por Rui Seabra. Quem? Pois, ninguém fazia ideia quem era.

Foi assim que se passou do Portugal do Bento, Eurico, Jordão, Chalana, Oliveira, Gomes, Carlos Manuel, etc. para o Portugal do Rui Seabra, os Seabrinhas!

Era ver para crer. Recordo com carinho o empate com Malta, 2-2, nos Barreiros. Portugal alinhou com:

Jesus, Álvaro, Veloso, Eduardo Luís e Dito, Frasco, Adão, Jaime e Nascimento, Manuel Fernandes e Jorge Plácido (fez os dois golos). Ainda entraram Rui Barros e Skoda.

Luxo, não?

Foi assim que em 8 jogos ganhámos 2, a Malta e à Suécia. Com a Suíça e Itália nada feito. Os emigrantes na Alemanha ficaram deprimidos. O Benfica ainda compensou em 1988 com a presença em Estugarda na final da Taça dos Campeões um mês antes de começar o Euro. O Benfica perdeu para os holandeses que viriam a ser campeões da Europa com a sua selecção mas o gigante ajuntamento de benfiquistas nesse dia de Maio ficou para sempre na recordação de todos os que lá estiveram.

 

Depois seguiu-se o apuramento para o Mundial 1990 e mais uma vez falhámos e vimos a prova em Itália sem Portugal. Já era um hábito viver isto por fora, 1966, 1984 e 1986 pareciam mesmo milagres. Eu já me dava por contente por ter visto dois.

O Euro 1992 na Suécia também nos passou ao lado, tal como o Mundial nos Estados Unidos da América em 1994.

E com isto tudo, em vinte e poucos anos de vida tinha visto Portugal entrar em duas grandes competições. Duas, nada mais. Portanto, os laços afectivos com a equipa da FPF não podiam ser nem fortes e nem felizes.

 

Houve uma enorme injecção de esperança com os Mundiais de juniores ganhos com a malta da minha idade. Mas em termos práticos até ao final do século só tivemos direito à alegria de ir ao Euro de 1996 em Inglaterra onde Poborsky nos mandou para casa. O Mundial em França de 1998 também não foi para nós.

Duas décadas a ver a Selecção, 80 e 90, e marcar presença apenas em 3 fases finais.

 

Estamos falados sobre afeição à Selecção em metade da minha vida.

Felizmente, a partir de 2000 as coisas mudaram muito e deu-se um salto enorme a nível de profissionalismo na FPF. Voltámos a sonhar no Europeu da Bélgica e Holanda onde voltámos a cair com a França, fomos ao Mundial da Coreia e Japão reavivar os fantasmas de Saltilho em 2002, e atingimos o auge em 2004 com o nosso Europeu.

 

Digam o que disserem, foi o Scolari que me fez vibrar a sério com a Selecção. Foi com ele em 2004 e 2006 que cheguei a por bandeiras à janela e que sofri com um jogo de futebol como costumo sofrer com o Benfica. Os jogos de 2004 e do Mundial 2006 mexeram mesmo comigo. Senti que, finalmente, tinha uma Selecção. Fomos a uma final de um Euro e a uma meia final de um Mundial, tal como em 1966. Estava igualado o feito que me seguia desde que nasci.

Seguimos para o Euro 2008 na Áustria e Suíça e fomos apurados com naturalidade, tal como acabámos eliminados com naturalidade por uma superior Alemanha.

Com maior ou menor dificuldade nunca mais falhámos apuramentos para as fases finais de Euros e Mundiais. Isso é uma enorme evolução. Infelizmente, sinto que depois de 2008 foi sempre a descer outra vez. Queirós e Paulo Bento não entusiasmaram nada. A fasquia ficou na obrigação do apuramento, o que já não é mau tendo em conta o que já passei.

Agora com Fernando Santos não sei se voltaremos ao entusiasmo de 2004-2008 mas com a média de idades tão alta da equipa que bateu a Sérvia, o futuro não é animador. E se dúvidas haviam, ontem com a derrota contra Cabo Verde e um "11" ao nível da Era Rui Seabra o medo está de volta.

 

O meu entusiasmo com a Selecção atingiu níveis assinaláveis entre 1982 e 1986, 2004 e 2008, não sei se algum dia voltará.

Para a malta que não entende a relativa frieza com que encaro estes compromissos da FPF fica aqui o historial de um adepto de futebol que gostava imenso de vibrar com o futebol do seu país mas que já levou tanta "porrada" que tem dificuldade em levar isto a sério.

Isto também explica que muita gente da minha geração vibre com um determinado país, que não o nosso, em grandes torneios. Alemanha, no meu caso, Argentina, Brasil, Inglaterra ou Itália são escolhas para muito boa gente que acompanha Mundiais ou Europeus há várias décadas. Fomos obrigados a adoptar um país há muitos anos quando isto não era CR7 contra o mundo e Portugal em fases finais nem na playstation.

 

 

Espanha 4-0 Itália

 

Uma final que foi um passeio para a Espanha se sagrar Bicampeã da Europa! Impressionante caminhada da selecção espanhola que venceu o Euro 2008, o Mundial 2010 e hoje limpou sem grande dificuldade o Euro 2012. Esperava-se que a Itália repetisse a boa exibição da fase de grupos quando as equipas empataram a 1 e a Espanha chegou a estar em desvantagem. Mas nada a fazer quando a Espanha tomou logo conta do jogo e chegou cedo vantagem por Silva aos 14'. Depois aos 41' Jordi Alba aumentou para 2-0 e todos percebemos que a final estava decidida.

Dificilmente veremos outra selecção nacional tão dominadora como esta Espanha. Foram décadas e décadas sem nada ganharem para agora limparem tudo! E esta para durar porque estes rapazes ainda aguentam bem mais duas temporadas até ao Brasil 2014.

Ficam alguns factos que explicam a superioridade dos espanhóis no futebol actual:

 

- Casillas, tem 100 vitórias em jogos pela Espanha. Nenhum outro jogador conseguiu tal proeza em Selecções
- Maior goleada de sempre numa final de Euro ou Mundial
- Vence 4 de 5 finais jogadas de Euros ou Mundiais
- Soma o 12º jogo em Campeonatos Europeus sem perder. A última derrota foi há 8 anos em Lisboa.
- A Del Haye, Matthaus, Vieira, Henry, Petit juntam-se agora Llorente e Javi Martínez como jogadores que vencem um Euro após terem perdido uma final europeia da UEFA no mesmo ano
- Casillas não sofre 1 golo na fase do mata mata de Euros ou Mundiais há 990m!
- Del Bosque igualou hoje o alemão Helmut Schön (1972-1974) como único seleccionador a vencer Campeonato Europeu e Mundial
- até hoje só o alemão Rainer Bonhof ( 1972 - 1980) tinha conseguido vencer 2 Euros como jogador. Hoje 12 espanhóis igualaram o seu feito.
- ao 16º jogo a Espanha acabou com a invencibilidade italiana em jogos oficiais. Ficaram assim perto de baterem o recorde de 22 jogos sem perder entre 1996 e 1999.
- Mata e Torres juntam-se a Suárez, V.Breukelen, V.Aerle, Koeman e Vanenburg como jogadores vitoriosos num Euro no mesmo ano que vencem a Liga dos Campeões
- Torres ultrapassou Villa como melhor marcador de sempre em Euros

 

Em 2014 há mais festa desta.

 

Prémio Melhor em Campo

Iniesta

Alemanha 1-2 Itália

Começo a desconfiar que a história dos escândalos de apostas em Itália são ainda mais complexos do que parecem... 1982, 2006, campeões do mundo. 2012 já estão na final do Euro!

A Itália chega à final com toda a justiça, está a fazer uma prova muito boa e hoje superou todas as expectativas confirmando que a tradição ainda manda muito mantendo-se a impotência alemã perante os azuis em fases finais de Euros ou Mundiais. Apesar de ter feito o 21º jogo oficial seguido a marcar golos os alemães voltaram a sofrer golos em jogos a eliminar pela 14ª vez seguida em Euros! Hoje o golo alemão veio já fora de horas num penalti marcado por Ozil, o 8º jogador diferente da mesma equipa a marcar na mesma prova (é recorde) e fez o resultado final. Mas nem aí a vitória italiana esteve em causa, hoje além do habitual acerto defensivo e da interessante movimentação atacante sempre coordenada por Pirlo e Montolivo, juntou-se um Super Mario Balotelli que resolveu rebentar em dois golpes com a Alemanha. Primeiro de cabeça após jogada genial de Cassano, depois à bomba após incrível abertura de Montolivo.

Antes Pirlo na linha de golo tinha salvo a Itália e , mais uma vez, deu a mote para que o jogo mudasse de rumo. Depois em vantagem a Itália não abdicou da sua maneira de jogar bem comandada pelo carismático Buffon que hoje se tornou o italiano com mais minutos jogados em Euros ultrapassando Paolo Maldini.

Löw sai derrotado de Varsóvia numa noite em que voltou a improvisar na escolha do "11". Desta vez lançou Kroos mas perdeu em toda a linha o duelo táctico com Prandelli.

Foi a noite da Itália e , especialmente, foi a noite de Balotelli. Foi o Grupo C a dar os 2 finalistas do Euro.

 

 

Prémio Melhor em Campo

Pirlo

 

Portugal 0-0 Espanha (ap, Espanha vence 4-2 nos penalties)

 

Portugal fez o mais complicado, encaixou-se tacticamente na Espanha e conseguiu anular ofensivamente o adversário. Obrigou os espanhóis a preocuparem-se a sério com marcações defensivas e bateu-se de igual para igual com os seus argumentos. Penso até que Portugal andou mais perto de resolver o jogo nos 90' do que os espanhóis. Del Bosque surpreendeu com Negredo no ataque mas os efeitos práticos dessa aposta foram nulos e teve que ir buscar Fàbregas para ser realmente ameaçador. Durante 90' Portugal não envergonhou ninguém e justificou perfeitamente a sua presença nestas meias finais. Quando se esperava que a equipa de Paulo Bento arriscasse mais no prolongamento graças aos 2 dias a mais de descanso que tinha e à gestão de substituições guardadas até ao último período do jogo, foi a Espanha que cresceu e tomou conta do jogo e até justificava resolver o jogo antes dos penaltis. Faltou a Portugal mais inspiração e acerto a Ronaldo, Nani e Hugo Almeida mas sobrou em determinação e luta até ao fim.

Estes rapazes têm o grande mérito de terem devolvido ao país a ilusão e a esperança à volta de um jogo de futebol, algo que estava arredado desde os cómicos tempos de Queirós. Pensar que a Selecção começou esta caminhada a tropeçar em Chipres e afins e ver hoje a forma como perdeu com a Espanha obriga a dar mérito a esta equipa técnica e aos jogadores que desta vez não saem envergonhados de um grande torneio.

Portugal não perdeu por falta de sorte, perdeu porque Casillas é enorme ( não sofre um golo em fases a eliminar de um euro ou mundial há 15 horas) e negou o penalti a Moutinho, que fez um Euro soberbo,  porque Sérgio Ramos teve uma coragem impressionante ao imitar Pirlo e atirar para o lixo de uma só vez as piadas dos seus falhados penaltis e a pressão que a equipa sentia desde o falhanço de Alonso no 1º penalti. Depois não ajuda dar a responsabilidade a Bruno Alves que já tinha hesitado antes... Com a Inglaterra em torneios recentes tivemos sorte nos penaltis , hoje não. A Espanha segue para a final e soma o 11º jogo sem perder num Euro, Portugal pode regressar de consciência tranquila, o povo gostou do esforço.

 

Prémio Melhor em Campo

Sergio Ramos