Vale a pena voltar aquela noite fria de meio de semana em Portimão no começo deste ano. Com a desilusão instalada, a viagem Algarve - Lisboa foi das mais duras de sempre. Se alguém dissesse naquela noite que a partir dali íamos ganhar todos os jogos fora da Luz para o campeonato até ao final do ano seria assassinado com justa causa.
Aliás, proponho ao prezado leitor que prestigia este blog com a sua visita, o seguinte desafio: alguma vez teve um ano civil em que o Benfica tenha ganho todos os jogos fora de casa para o campeonato?
Alguma vez se atreveu a pedir nuns daqueles desejos de passagem de ano "neste ano novo só quero que o Benfica vença todos os jogos para a Liga como visitante!"? As respostas mais prováveis são negativas.
E, no entanto, o ponto de partida foi Portimão. Tivemos que passar pelo Dragão, por Alvalade, por Guimarães, duas vezes por Braga e agora pelo Bessa, entre tantos outros destinos que aqui fui documentando ao logo de 2019.
Contar todos estes jogos por vitórias é estrondoso. Fechar o ciclo com uma goleada no Bessa contra o Boavista de Lito Vidigal e com uma arbitragem de Jorge Sousa é épico!
Grande jogo do Benfica na cidade do Porto. Vitória categórica do Benfica num estádio muito difícil contra uma equipa fortemente competitiva, com uma abordagem muito física e com reforço defensivo sempre à procura de desfazer e contrariar o adversário.
O Boavista jogou exactamente aquilo que se esperava mas encontrou um Benfica completamente focado na vitória e com absoluto conhecimento do adversário. Parecia que os jogadores do Benfica adivinhavam tudo o que o Boavista tinha preparado para esta batalha.
O facto de Pizzi ter marcado um golo muito, anulado com a ajuda do VAR, mostrou ao Boavista que não ia ser fácil quebrar o ritmo, perder tempo, cair no anti jogo e adormecer o Benfica levando-o para a zona de confronto tão conhecido pelos jogadores de Vidigal.
O golo de Vinicius com um passe soberbo de Pizzi veio confirmar a intenção do campeão. Só nos últimos minutos da 1ª parte com o golo do Boavista o jogo pareceu dividido. E depois no arranque da 2ª parte o Boavista tentou manter o balanço só que a equipa de Bruno Lage sabia que tinha feito mais do que suficiente para estar a ganhar o jogo nos primeiros 40 minutos, era só manter o ritmo, a atitude e a ambição até voltar à vantagem. E foi o que aconteceu. Cervi fez o 1-2, num lance em que os boavisteiros, e não só, ficaram a pedir uma falta que não existe, depois Vinicius decide o jogo com mais um belíssimo golo e Gabriel fecha as contas com um raro golo de cabeça.
1-4 no Bessa é um claro sinal da boa forma da equipa de Lage na Liga. Confirma a excelente exibição na Luz contra o Marítimo na jornada passada e faz pensar que o Benfica nos últimos anos tem vindo sempre de menos a mais no campeonato, portanto, a tendência é melhorar e jogar mais e melhor daqui para a frente.
Com o Benfica a preparar assim o jogo, a jogar desta maneira, a marcar com esta facilidade, com uma apoio magnifica naquele topo por trás da baliza para onde atacou a equipa na 2ª parte, com a atitude e a ambição com que contornou as dificuldades extra vindas de Jorge Sousa, o Benfica deu um claro sinal de força na defesa de um título que foi ganho de forma lendária na primeira parte deste ano.
Por falar em apoio, talvez o segredo para esta série incrível de vitórias longe da Luz esteja relacionado com o ambiente que a equipa encontra nestes jogos fora. É um contraste gigante com o ambiente que se vive por estes dias nos jogos em casa. Não é uma critica, é constatar um facto. Que sirva para reflexão.
Um 2019 só com vitórias fora de casa depois de Portimão é outro tipo de monotonia que preciso na minha vida. E esta eu nunca tinha vivido. Que se mantenha assim em 2020.
Lembram-se da teoria da monotonia? De jogos a correrem de feição sem ponta de emoção no que diz respeito ao vencedor da partida? Pois bem, a minha vida precisa disso, como sempre disse.
Mas, desta vez, o sentimento não é de tranquilidade e conforto. É complementar a isso. Além da tranquilidade de ver os três pontos seguros, há um sentimento crescente e entusiasmante à medida que o jogo avança.
O discurso de Bruno Lage é concentrado no treino e no relvado começa a perceber-se esse cuidado.
Saídas de bola Lavolpianas, equipa mais junta, variações de corredores, preocupação em ter os defesas laterais a fazerem jogo interior, aí com muito mais destaque para o esquerdo por força da maior qualidade de Grimaldo em relação a André Almeida no que diz respeito à definição. Jogo entrelinhas constante com João Félix a assumir protagonismo, Gabriel a assumir muitas vezes penúltimas decisões em construção de ataque.
Enfim, muitos pormenores para observar ao longo do jogo. Até no banco. Quando a bola pára e há lugar a livres ou cantos, Bruno Lage senta-se e Nelson Veríssimo sobe até ao limite da área técnica para ajudar na organização posicional, seja atacante ou defensiva.
Por fim, o prazer e o privilégio de estarmos a assistir nas bancadas da Luz ao evoluir de uma "lenda" chamada João Félix. Está a acontecer história e nós estamos a testemunhar.
Assim estamos mais perto de ganhar e o sentimento geral é positivo. Era a resposta que se pedia depois "daquilo" de Braga.
Para começar, perdoem-me o trocadilho do título mas foi o que me lembrei quando vi Ferreyra a festejar no Bessa. Desde o famoso anúncio ao Porto Ferreyra que a pergunta não fazia tanto sentido. Se calhar, os mais novos nem sabem do que se trata. Googlem.
Permitam-me que ande para trás uns dias antes deste sábado.
Porque estamos em pleno verão, porque muitos dos leitores estão ou estiveram de férias, este cenário que vou recuperar deve ser familiar a muitos de vós. Sexta feira, fim de tarde no Algarve. Dia de praia impecável, companhia certa, temperatura amena da límpida água e a simplicidade de estar flutuar do mar tranquilo a olhar de frente para o sol a descer no horizonte e pensar que o momento podia ser eterno. Tudo tão perfeito e tranquilizante que uma pessoa até se interroga: para quê fazer 300 km para Lisboa daqui a pouco e amanhã juntar mais 600 e tal "só" para estar no estádio onde o Benfica joga às 19h?
É complicado de contextualizar naquele momento tão especial. Mas há uma força interior que nem nos deixa hesitar. Já longe do mar e daquele momento outras emoções se repetem. O Ferreyra ganha uma bola lá do outro lado do campo, atira à baliza e há explosão vermelha à minha volta. Claro que tinha de estar ali.
Voltemos outra vez atrás no tempo. Até 2ª feira. Portimão, 20h15m, o que é que leva um homem a ir de Silves para o Estádio do Portimonense? Fácil, vamos ver o próximo adversário do Benfica na Liga NOS. E o que leva dessa noite? Um pré aviso para os seus companheiros de bancada sobre Helton e Raphael Silva. Eram estes, perguntavam alguns deles hoje na bancada? Sim, estes foram os tais que me impressionaram. Pronto, uma pessoa sente que cumpriu a sua tarefa mesmo que aos olhos de pessoas desinteressadas deste contexto pareça ser uma perda de tempo.
Ir ao norte ver o Benfica é uma constante do nosso campeonato. Felizmente, tornou-se um pretexto para encontros gastronómicos com os amigos do costume e caras novas que sempre vão aparecendo. É assim que se estende o benfiquismo. Temo que, desta vez, não venha dar uma grande novidade a nível de local para refeições. O Tourigalo é um clássico da Avenida do Boavista mas eu nunca lá tinha ido. Talvez porque nunca resisto a passar pela Cufra sem parar.
Mesa marcada, recepção personalizada. E aqui deixem-me fazer um destaque para o muito simpático empregado que me veio cumprimentar para informar que é o pai da Alice Carneiro, uma adepta benfiquista do norte que já este no Uma Semana do Melhor. A partir daí ficámos entregues às iguarias do norte. Vitela, secretos, bacalhau, frango e entradas a condizer, com cerveja que o dia foi quente. Belo repasto, excelente convívio.
Depois, é sempre uma maravilhosa sensação subir aquela Avenida e ruas adjacentes e ver o mar vermelho que torna tudo tão familiar mesmo que tão longe da Luz e em plena cidade do Porto.
Já disse e escrevi que um dos locais mais especiais para se ver, sentir e festejar um golo do Benfica é no Estádio do Bessa XXI. Adoro ver futebol ali. Isto apesar do cuidado com a limpeza das cadeiras ser zero, a Liga devia ter vergonha de aprovar estas condições para os adeptos que pagam (e bem) para ver um jogo naquelas condições, e os acessos ao exterior do estádio no final do jogo serem uma vergonha. A Liga que continue a ignorar estas criticas, a Liga que continue a não fazer nada, a Liga que continue a desprezar quem paga e sabe do que fala.
Voltando à visão maravilhosa que se tem no Bessa, mesmo que atrás de uma baliza. Deu para ver um Benfica sem surpresas no onze à procura de ser feliz e com vontade de não repetir os últimos dois resultados ali.
Ver o primeiro golo oficial de Ferreyra ao vivo é um privilégio. Ia escrever que não tem preço mas depois a Liga ainda se aproveitava disto para aumentar os preços. A recuperação de bola, a intenção de rematar a bola a entrar mesmo no canto contrário da baliza no fundo das redes laterais. Que momento. E os festejos? Que pausa na vida para tudo começar a fazer sentido.
Ao intervalo, o 0-1 sabia a pouco.
A 2ª parte trouxe algum do melhor futebol que esta equipa já tinha mostrado a espaços com o Fenerbahçe na Luz e com o Vitória SC. Só que desta vez com maior amplitude e envolvência. A jogada de Salvio na direita em corrida para dentro a dar a bola no momento certo para Pizzi que já tinha pensado como ia fazer o golo, foi tudo vivido ali bem por cima deles por uma multidão vermelha que antes da bola entrar já festejava, tal a simplicidade, a beleza da jogada e a facilidade da execução.
Jogar futebol é muito simples, mas jogar futebol simples é a coisa mais difícil que há. A frase é tão boa que só podia ser do mestre Johan Cruyff. Eu atrevo-me a acrescentar: e quando um adepto tem a oportunidade de assistir a essa simplicidade a funcionar então o futebol é arte. E quando é a equipa do Benfica a interpretar, o futebol é vida.
Foi, também, ali que vi aquele golo épico do nosso Jonas a dar-nos 3 pontos. Simplicidade que causou caos festivo. Inesquecível, claro.
Voltemos aqueles momentos de reflexão. E aquele dia de Dezembro em que pensei o que raio ia eu fazer ao Bonfim para ver um jogo da Taça da Liga em que o Benfica já estava afastado? A resposta apareceu no jogo, como sempre. Vi o Rúben Dias marcar o seu primeiro golo oficial pelo Benfica.
Rúben, que há um ano estava entrar a titular no Bessa. Rúben, que hoje no final foi à bancada entregar a sua camisola. Parece que passou uma década mas foi só um ano.
Isto vem a propósito de quê? Simples resposta. Hoje vi a estreia oficial do João Félix no Benfica. Daqui a uns anos vou poder puxar deste trunfo. Só não foi mais épica porque Jardel não acertou na baliza de cabeça depois de um passe do menino que entrou como se jogasse naquele nível há anos. Reparem que já nem refiro o prazer que é ver Gedson a crescer de jogo para jogo. Mas tenho de referir que quando vi o miúdo a jogar lembrei-me do gozo que me deu estar na praia e ler o belo trabalho que o Nuno Paralvas, da A Bola, fez sobre o seu passado. Ali tudo fez sentido. Os pontos ligam-se assim.
A única derrota fora do Benfica na época passada, para a Liga, foi no Bessa. Se a minha vida fosse influenciada pelas derrotas e o maus momentos do meu clube eu nunca teria estado hoje no Estádio do Boavista a viver emoções tão boas. Nem tinha ido ao Bonfim. Se calhar, ainda estava a banhos no Algarve. Mas ver o Benfica ao vivo não tem comparação com nada. Não é melhor nem pior. Não é mais ou menos importante do que outra coisa qualquer. É, apenas e só, uma dádiva, um privilégio. Felizes aqueles que o podem fazer muitas vezes e que são motivados apenas pelas camisolas vermelhas independentemente dos adversários ou dos estádios.
Por falar em camisolas, ver o Benfica a jogar de calções pretos e o Boavista a jogar de calções brancos é anti-natura para não dizer outra coisa. Não quero saber de recomendações, regras e modernices. Desde a década de 30 que estes dois clubes se encontram no Bessa para jogos do campeonato, raramente o Benfica terá jogado de calções pretos. Estivemos todos enganados até 2018? Já sei, sou um chato do caraças com estes pormenores. Fico pior quando faço tantos quilómetros, pago tanta despesa, bilhete incluído, e tenho de vir para casa lavar a roupa toda suja das cadeiras que a Liga aprova no recinto que me recebe. Isso não interessa, os calções pretos é que são importantes.
Como é difícil manter a sanidade mental nos dias que correm fugindo de todas as maneiras possíveis à espuma dos destaques da imprensa. E não só imprensa desportiva mas sim da imprensa global. Um sábado com um clássico Benfica - Boavista foi dominado pelo gestor do maior circo que o futebol português já viveu. E o que devia ser desprezado e problema de associados e adeptos de um só clube passa a ser o destaque nacional com capas de jornais, directos em canais privados e públicos, e assunto do país. Todos querem saber se são citados pela figura maior do lodo em que tudo isto se transformou. E são, claro. Meios de comunicação, jornalistas, comentadores, rivais, vai tudo a eito. E , pelos vistos, todos adoram e dão eco a tudo aquilo.
Antes que comecem já a responder que aqui se está a fazer o mesmo tenham a bondade de dar o beneficio da duvida e perceber o porquê desta introdução, pedindo, mesmo assim, desculpa por abordar um tema tão lamacento.
É que aquilo que não se ouve, nunca se ouviu e nem se vai ouvir naqueles monólogos delirantes é a explicação do facto sobre o qual o último clube a ganhar um campeonato nacional sem ser o Benfica ou o Porto pôde festejar sem jogar. Se calhar, muitos já não se lembram, outros nem sabem, que a última vez que um clube de Lisboa sem ser o Benfica, venceu a Liga foi porque o Benfica cumpriu o dever de vencer o Boavista na penúltima jornada da temporada 2001/02. O Benfica ia terminar a Liga em 4º lugar, já não lutava por nada mas jogou para ganhar mesmo sabendo que a vitória tornava o clube vizinho campeão. Assim o fez. Sem complexos, sem dramas, percebendo que se vivia um ciclo anormal na história gloriosa do Benfica que será por muito e muito tempo o clube com mais campeonatos ganhos, com mais Taças de Portugal ganhas e até com mais Taças da Liga ganhas. Não se pode vencer sempre, como esse ciclo de 2002 mostrou bem mas não se pode perder a dignidade.
Portanto, a última vez que foram campeões a sério, não falo destes delírios de acrescentarem títulos à conta de pára quedistas, festejaram, celebraram, entraram em clima de festa no dia seguinte na semana seguinte contra o Beira Mar em casa (já que contra o Vitória em Setúbal não foram além de um empate), tudo porque o Benfica venceu o Boavista. O Benfica entregou o último título de campeão ao Sporting. Não vejo ninguém recordar isto. E recordo que nesse tempo o Sporting, ou o seu Presidente, não tinha o tempo de antena absurdo em toda a comunicação social que hoje tem. Na altura vencia, agora faz barulho. Na altura o Benfica não era uma obsessão tão grande como hoje porque até lhes entregava campeonatos.
Dezasseis anos depois, o Benfica é Tetra campeão e recebe o Boavista na Luz num contexto complicado com um historial recente de resultados negativos contra os axadrezados. Hoje como há dezasseis anos, o foco era ganhar. O foco é reunir a nossa gente, encher o nosso estádio, vibrar com a nossa equipa de futebol, celebrar mais uma vitória e sentir o entusiasmo de momentos do jogo vibrantes.
Novamente, a dupla de centrais a marcarem no mesmo jogo na Luz. Ruben Dias a assumir o seu glorioso destino no clube ao abrir o marcador e depois Jardel a dar tranquilidade no resultado antes do intervalo. Para Jardel uma palavra de conforto já que dedicou o seu golo ao falecido avô.
Ver a cumplicidade entre Grimaldo, Cervi e Zivkovic faz-nos sonhar com mais um fim de época épico. Jonas foi a jogo mas não foi feliz quando foi chamado a cobrar um penalti que dava o 1-0. Foi importante mas ficou em branco.
As ausências de Krovinovic e Salvio podiam ser dramáticas mas a verdade é que Rafa e Zivkovic estão a aparecer com vontade de os fazer esquecer e manter a dinâmica de vitórias da equipa.
Ontem na Luz, os 4-0 espelham bem o estado de espírito da equipa e da multidão que a apoia. O golo de Raul Jimenez é simbólico por vir do banco e dar ideia que a equipa quer mais e está mais focada que nunca. O facto de ter sido aos 90 minutos foi um maravilhoso castigo para a malta que vira costas ao jogo e abandona o estádio antes de ouvir o Ser Benfiquista e aplaudir a equipa no final do jogo.
Pessoal, agora a sério, onde é que vocês vão com tanta pressa a partir dos 70 e muitos minutos? O que é que há lá fora assim de tão importante que eu não saiba? Caramba, é o Benfica que está a jogar, ainda por cima a golear, o que é que há assim de tão importante que supere o prazer supremo de ver o Benfica na Luz? Nunca conseguirei entender. Por mim, ganhávamos os jogos todos por 3-0 com golos aos 89, 91 e 93 minutos só para lixar a malta que sai antes do final.
Foi um jogo de ironia profunda, pois o Boavista leva uma bela série de golos marcados em lances de bola parada e na Luz sofreu desse veneno, além de ter sido uma bonita maneira de acabar com os maus resultados contra o Boavista.
Com a dignidade de sempre, com o foco do costume, sem distracções da imensa poluição sonora ali dos vizinhos e com a possibilidade da família benfiquista passar um santo domingo na frente do campeonato enquanto prepara a ida a Paços de Ferreira.
O poder de uma imagem é este, olha-se e vê-se milhares de pessoas unidas por um ideal, neste caso, o melhor de todos, o Sport Lisboa e Benfica. Estes adeptos vivem, teoricamente, na sua maioria no norte de Portugal e resolveram dar tudo para estarem neste sábado à tarde no Bessa para criar um incrível ambiente de apoio que começou antes do jogo e durou até ao apito final. São adeptos que percebem o momento da equipa e quiseram mostrar que podiam contar com eles. Uma resposta às últimas exibições que estiveram longe de convencer. Criaram-se condições fora de campo para que a equipa se sentisse acarinhada, motivada e apoiada para regressar às vitórias após a estreia europeia.
Tudo parecia estar no caminho certo quando Jonas fez o 0-1 e o Benfica mostrava vontade de chegar cedo à vantagem.
Misteriosamente, a equipa voltou a decair após o mais complicado, ou seja, estar a ganhar. Progressivamente, o Benfica tornou-se menos atacante, mais passivo e apenas com um golo de vantagem chegou ao intervalo.
Foi o dia de estreia de Ruben Dias ao lado de Luisão. De resto, as escolhas de Rui Vitória não surpreenderam ninguém em relação ao que tem sido esta época.
Nas bancadas ninguém se conformava, sentia-se que a vantagem era demasiado curta e puxava-se ainda mais pela equipa. Era preciso um Benfica convicto para resolver o jogo. Mas voltámos a ter uma quebra inexplicável que começou aos 51 minutos com a saída de Salvio lesionado. Um filme tantas vezes visto que já nem surpreende e um claro sinal que vinham aí dificuldades para gerir o jogo. Nem foi preciso esperar muito, empate 4 minutos depois por Renato Santos depois de uma jogada que a defesa do Benfica não consegue resolver. A vantagem ali era só uma, ainda sobrava muito tempo para fazer um golo que desse a vitória. Reacção era o que se pedia. Na bancada nem um sinal de rendição, mais convicção no apoio.
Mas o filme dos últimos jogos repetiu-se, a equipa parece emotivamente afectada, não consegue responder de maneira afirmativa e convincente. Para piorar o cenário, aos 74' um livre que parecia inofensivo acaba em golo do Boavista por infelicidade de Bruno Varela. A Lei de Murphy a funcionar, tudo o que podia correr mal, correu.
A infelicidade de Bruno Varela a abordar o lance não foi maior que a ineficácia dos seus colegas da frente. Não foi maior que a falta de objectividade de Rafa e Gabriel na hora de fazerem um golo fácil e atrapalharam-se, nem foi maior que o desaproveitamento total das bolas paradas, em livres e cantos, que a equipa desperdiçou em série.
E, o mais importante de tudo, esta infelicidade do Varela não foi maior, nem nada que se pareça, do que o desprezo que os adeptos, os tais que nunca se renderam e tudo deram para um final de tarde mais digno, sofreram por parte da sua equipa de futebol. Inexplicável.
Sem dramas, aqui personalizo um pouco a crónica. A 16 de Setembro estava na Luz a ver o Benfica bater o Partizani da Albânia numa 4ª feira europeia. Porque sei isto? Porque é o dia de anos da minha irmã que agora chegou aos "entas". Se naquela noite de 1988 foi um pouco chocante eu abandonar o jantar de aniversário pelo Benfica, em 2017 já ninguém acha anormal que eu esteja no Porto num sábado à tarde. Não há dramas, como dizia. É aborrecido para a família mais próxima sentir que há quem largue tudo para estar perto daquilo que é mais importante naquele momento. Ao fim de tantos anos nesta vida, os jogos que não acabam da maneira que queremos já são encarados com a devida experiência. Esta é a primeira derrota no campeonato desde aquela negra noite no Bonfim no começo deste ano. O sabor amargo é sempre o mesmo, a esperança de um jogo melhor cai logo para o próximo. Mas a sensação de desprezo de uma equipa cabisbaixa a sair do relvado sem um agradecimento por quem larga tudo só para ali estar não é descritível por palavras.
O ciclo pode estar a ser mau, o momento pode ser delicado mas o respeito tem que haver sempre no Sport Lisboa e Benfica. De fora para dentro e de dentro para fora. Sempre!
Um verdadeiro luxo, tão raro quanto saboroso. Ter o o Benfica a entrar em campo para um jogo fora de casa a contar para o campeonato nacional e ter zero de preocupação com o resultado final chega, até, a ser estranho.
O Benfica entrou em campo já vencedor da Liga 2016/17 e com vários estreantes, mais alguns regressos, no onze. Uma espécie de teste de pré época mas na última jornada de uma competição que muito nos fez sofrer.
Talvez a pensar nos pontos críticos da época, o Benfica não se encontrou no jogo e fez-nos lembrar o duplo confronto negro com o Vitória de Setúbal e até a visita deste Boavista na primeira volta. Aquele fim de tarde surreal em que de repente estávamos a levar 3 em casa! A maneira como reagimos a esses 0-3 e a outros resultados negativos é que nos conduziu a mais um título.
Ontem a equipa fez uma demonstração de como reagir a uma tragédia em pouco tempo. Mesmo que soubéssemos que com as alterações, por boas causas, no onze o risco de uma desfeita aumentasse. Mas ninguém levava a mal, era preferível consagrar alguns jogadores do que obter uma vitória certa.
Com Pedro Pereira, Kalaica e Hermes em estreia absoluta na Liga, Rui Vitória promoveu ainda os regressos de Júlio César, Lisandro, Eliseu, Samaris, Filipe Augusto, André Horta, Zivkovic e Mitroglou. O grego não fez por menos e fez mais um golo para a sua conta pessoal, Hermes pareceu meio perdido em campo e deu lugar a Rafa que veio a ser decisivo para evitar a derrota, Raul Jimenez também entrou para ajudar a chegar ao empate e Júlio César deu o seu lugar a Paulo Lopes, num dos momentos mais emotivos da noite. Pormenores interessantes, Eliseu entrou com a braçadeira de capitão que fez questão de dar ao guardião português na sua entrada. O facto do golo do empate ter sido marcado à Luisão por Kalaica, mostra que se trabalha bem nas bases para garantir um futuro tranquilo. Estreia de sonho para o central croata aos 18 anos!
Uma palavra a exibição de André Horta, um dos melhores em campo, que não jogando há três meses deixa no ar a incógnita que foi o seu eclipse na segunda metade da temporada.
Positivo, ver o Benfica a entrar no Bessa com os jogadores do Boavista a fazerem um respeitável corredor de aplausos aos campeões, é sempre bonito.
Negativo, os relatos de caixotes do lixo cheios de adereços do Benfica retirados a adeptos em bancadas do estádio que não o sector visitante. Podem dizer que já tinham avisado mas aqui não contem comigo para compreender isto. Já basta o clima dos derbys e clássicos em que quase não se pode sair à rua com as cores dos nossos clubes, num jogo como o de ontem não se justificam actos de terceiro mundo. Qualquer um dos meus amigos boavisteiros que queiram ir à Luz com a camisola ou o cachecol do seu clube vai poder entrar sem ter que mandar para o lixo nada. Foi só triste e evitável.
O Benfica despede-se do campeonato 2016/17 em festa à campeão. Pelo quarto ano seguido vamos para o verão com um sorriso que nenhum anti nos consegue tirar.
E quando os rivais pensam que podem suspirar de alivio pelo fim da época, temos que os lembrar que... para a semana há mais! Foco no Jamor, Tetra Campeões!
Passadas todas estas horas (mais de 5) ainda não sei muito bem o que dizer sobre o 0-3 que no marcador aos 24' de jogo na Luz. Dizer que entrámos pior do que noutros jogos não me convence pois lembro-me do Gonçalo falhar o golo que podia ter sido o 1-0 e continuámos a atacar. De repente, três jogadas, três golos contra. Todos do meu lado, à minha frente. Do livre directo não percebi porque é que não foi marcada falta sobre o Rafa, no 0-2 fiquei a olhar para o árbitro a ver se marcava falta sobre o defesa, no 0-3 fiquei a olhar para o fiscal de linha à espera de ver o fora de jogo assinalado. E assim, tive que lidar com um surreal 0-3 antes da meia hora de jogo. Ficar a chorar e ensaiar o discurso óbvio de dizer que o circo compensa estava fora de hipótese, portanto comecei a fazer contas de cabeça. Era preciso fazer um golo e reagir depressa aquela tragédia para evitar uma derrota inesperada. O golo apareceu.
Ficámos com toda a 2ª parte para fazer 3 golos. Parecia aquelas noites europeias, um jogo de 2ª mão em que era preciso fazer vários golos para seguir em frente e o estádio todo acreditava no milagre.O facto de termos chegado ao empate com mais 20 minutos para consumar a reviravolta deixou-me minimamente satisfeito. Reagimos, fomos à luta, anulámos a desvantagem. Fiquei frustrado por ver que não tivemos forças para mais e não conseguimos fazer um último golo. Não me lembro de ver 6 golos na Luz e não festejar nenhum por estar à espera do 7º para explodir de alegria.
Percebem porque é que não quero destes jogos na minha vida? Muita emoção, surpresa, incerteza, muitos golos... Não! Não preciso nada disto em jogos do Benfica. Isso é bom para jogos que estou no sofá a ver de outras Ligas. Aqui só queria vitórias chatas, previsíveis e aborrecidas, sem ponta de emoção.
(fotogaleria de João Trindade )
Isto foi de todo inesperado, mais um acidente de percurso, espero eu, parecido com aquele primeiro jogo em casa para a Liga. Esta partida final da primeira volta tem que servir de aviso para a metade que falta do campeonato. É verdade que vamos virar na frente mas hoje ficou provado que isto está longe de ser um passeio até ao fim.
Quanto à equipa, assinalo a capacidade de recuperação de três golos, estranho a opção de não entrarmos com Mitroglou de inicio e, há que dizer, pareceu-me que Pizzi acusou o cansaço da jornada dupla de Guimarães, não sei se não devia ter descansado na Taça da Liga. Isto são tudo observações de treinador de bancada e após o jogo, diga-se. Quando começou achei que a equipa estava óptima para mais uma vitória, tal como o nosso treinador.
Nunca mais me esqueci daquela tarde em que perdemos por 0-3 com o Boavista. Aí nunca acreditei numa reviravolta, hoje, felizmente, nunca acreditei que íamos perder. Tempos diferentes.
O dia de hoje fica marcado pelo almoço que tive antes do jogo com o meu pai que comemorou mais um aniversário. Não precisava de mais factores especiais para recordar o 14 de Janeiro de 2017.
Felizmente que este sofrimento inesperado de sábado à noite foi um pouco atenuado porque temos sempre os vizinhos para nos fazer sentir um pouco melhor.
Digerir e reagir é o que se pede, olhando para a frente.