A seguir ao triunfo no Europeu, publiquei aqui um longo desabafo sobre a complicada relação que tenho mantido com a Selecção de futebol portuguesa. Parecia que depois do golo do Eder não ia voltar a sentir desprezo pela equipa da FPF.
Claro que me enganei.
Houve um pequeno pormenor que passou para segundo plano com a vitória de Paris. Já com o Euro a decorrer a FPF recorreu aos serviços do líder da maior claque do Porto para animar a malta em França. Não sei se de maneira legal ou ilegal, assumida ou não, a FPF criou uma claque para a sua equipa com profissionais ligados ao Porto e ao Sporting, maioritariamente. Foi estranho notar isto a meio da competição. Não faltaram de relatos de trafulhices com bilhetes para adeptos e emigrantes relacionados com a tal claque. Nada que se estranhe, basta ler o livro do líder deste grupo para se perceber a sua impunidade perante crimes.
O assunto até já estava meio esquecido quando se dá um daqueles acasos muito próprios do futebol português. Numa altura da época que o campeonato está no auge da luta entre Benfica e Porto, em vésperas de um escaldante clássico na Luz, num ambiente de guerrilha verbal constante, que envolve também o 3º classificado, a FPF tem o primeiro jogo oficial de 2017 marcado para o Estádio do Sport Lisboa e Benfica.
Numa altura que os jornais se deliciam com capas sobre adeptos portistas a mostrarem bilhetes para o clássico obtidos de maneiras misteriosas, fica-se a saber que o Portugal - Hungria vai contar com a presença da claque da FPF, algo como os Super Leo!
A foto que ilustra este texto, pela qual peço desculpa pela poluição visual, é deste jogo e dá para identificar bem dois conhecidos membros de claques rivais do Benfica.
Se dúvidas houvessem sobre as suas maiores motivações futebolísticas, desfazem-se no seguinte vídeo:
Entraram assim na Luz, escoltados e a insultar benfiquistas. Para um jogo de Portugal no estádio do... Benfica.
Isto faz sentido? Isto tem explicação?
A Federação Portuguesa de Futebol apoia um grupo de anti benfiquistas protegidos pela polícia de segurança pública, sob o pretexto de um apoio que o resto dos 50 e tal mil que compraram bilhete para verem o jogo não conseguem dar.
Não entendo.
Conseguiram borrar a pintura toda, voltei a sentir desprezo por esta causa. Lamento mas acho isto tudo demasiado triste. Criaram um monstro que se descontrolou.
Antes de irem para França, os jogadores de Portugal fizeram o último jogo na Luz. Uma goleada que foi uma jornada de festa e alegria nas bancadas e fora do estádio. Foi um bom balanço para a proeza a seguir conquistada.
Voltaram ao maior estádio de Portugal com o caneco e uma claque embaraçosa, provocadora e injustificada. Não era preciso, espero que não voltem à Catedral tão cedo.
Um dos melhores momentos da 2ª parte do Benfica - Vitória FC aconteceu quando um adepto invadiu o campo tranquilamente para ir dar um abraço correspondido a Ederson que estava ali sozinho no nosso meio campo. Acredito que o companheiro terá dito ao nosso guarda redes para ficar atento ao último lance do Vitória perto do fim do jogo. Obrigado e boa sorte com isso da multa.
Como é que um diário desportivo como o Record avança, numa chamada de capa, a prisão dos dois invasores de relvado de Paços de Ferreira sem ter a certeza, é algo que me transcende. Ainda bem que no post de ontem fiz questão de sublinhar que era uma informação avançada por aquele jornal. A reacção foi feita em cima de uma notícia de capa.
Hoje vem o desmentido mas só para quem ler com toda a atenção a edição do jornal. Num cantinho está lá este parágrafo discreto e sem um pedido de desculpas.
É tão triste quanto a possibilidade da notícia poder ter sido mesmo verdadeira.
No entanto, fica o exemplo para os adeptos mais inocentes e tentados a agir por impulsos, invadir relvados é crime.
Fazer capas assim, também devia ser.
Aqui fica o artigo da lei:
Artigo 32.º Invasão da área do espetáculo desportivo
1 - Quem, encontrando-se no interior do recinto desportivo durante a ocorrência de um espetáculo desportivo, invadir a área desse espetáculo ou aceder a zonas do recinto desportivo inacessíveis ao público em geral, é punido com pena de prisão até 1 ano ou com pena de multa.
2 - Se das condutas referidas no número anterior resultar perturbação do normal curso do espetáculo desportivo que implique a suspensão, interrupção ou cancelamento do mesmo, o agente é punido com pena de prisão até 2 anos ou com pena de multa.
Num país tão marcado por escândalos de crimes envolvendo bancos, política, pedofilia, etc., ficamos a saber que invadir um relvado dá direito a passar duas noites na prisão antes de ir a tribunal. É o que diz o Record.
A notícia fala por si. E óbvio que quem invade um campo já sabe, ou devia saber, que arrisca uma pesada multa e problemas com a justiça que se traduz em comparência em tribunal e horas de serviço comunitário, muito provavelmente. Mas duas noites na prisão é capaz de ser uma ofensa para com os verdadeiros criminosos deste país.
Face aos incidentes registados em Madrid, que o SL Benfica desde a primeira hora lamentou e condenou, o Comité de Ética e Disciplina da UEFA decidiu penalizar o Benfica com um jogo à porta fechada.
Esta pena, no entanto, só será aplicada se nos próximos 2 anos se voltar a registar incidente de igual gravidade. A esta sanção acresce uma multa de 20 000 €.
De destacar que novo incidente durante o período de suspensão da pena determinará de forma automática não apenas um jogo à porta fechada como também nova sanção.
As multas aplicadas pela UEFA e pela LPFP ao Benfica, nos anos mais recentes, representam um valor próximo do meio milhão de euros.
Perante a gravidade dos incidentes registados em Madrid e perante o comportamento reiterado de uma minoria de adeptos que teima em penalizar o Sport Lisboa e Benfica, o clube irá estudar novas medidas a adotar nos jogos em que participa, de forma a combater os atos que reiteradamente nos têm colocado na mira disciplinar da UEFA.
Entre essas medidas, a Benfica SAD admite implementar:
a) A não requisição de bilhetes para jogos fora;
e/ou,
b) A identificação de todos os detentores de bilhetes para jogos europeus.
Foi já solicitado ao Conselho Superior dos Desportos espanhol o nome dos adeptos do SL Benfica que foram identificados e responsabilizados pelos incidentes de Madrid.
Finalmente, o Sport Lisboa e Benfica apela a todos os seus sócios e adeptos para que incidentes como os que se registaram em Madrid não voltem a repetir-se quer em jogos europeus ou nacionais, tanto em jogos realizados no Estádio da Luz como fora de casa.
Acho que estamos todos de acordo quanto ao grau de imbecilidade, irresponsabilidade e burrice de quem resolve atirar uma tocha de uma bancada para o relvado. Neste caso, com a agravante de terem sido atiradas sem força de uma bancada superior caindo em cima de outros adeptos na bancada inferior. Mais grave por uma delas ter ferido uma criança. Também é estranho uma criança tão nova estar numa bancada quando há uma idade mínima bem superior para poderem entrar num estádio, mas isso é outra conversa.
Igualmente grave por ter ocorrido na competição de clubes mais mediática do mundo organizada por uma entidade que há muito tempo anda a avisar o Benfica que os seus adeptos têm que parar com este comportamento.
Ou seja, sem desculpa, sem justificação e sem perdão.
O Benfica tem pedido de todas as maneiras possíveis para que os seus adeptos sejam sensíveis às ameaças da UEFA sob pena do clube ser exemplarmente castigado. E não custa muito perceber que se a UEFA quiser mesmo dar o exemplo, mais depressa agarra no Benfica que é um clube de enorme historial mas que não pertence à elite dos países com peso de decisão na Europa. Será muito mais simples aplicar uma sanção exemplar ao Benfica do que a qualquer clube de Espanha, Itália, Alemanha, Inglaterra ou mesmo França.
E a verdade é que nos temos metido a jeito.
No estádio da Luz é fácil encontrar avisos colados nas paredes dentro e fora do Estádio a explicar porque é que não se deve rebentar petardos ou abrir tochas e potes de fumo.
Mas generalizar é muito perigoso e hipócrita. Tanto da parte do clube, como da parte da imprensa, como até da UEFA e, especialmente, da opinião pública. Uma coisa são dois ou três actos absolutamente condenáveis, outra é reduzir tudo a uma condenação pública.
Se estamos todos de acordo quanto ao castigo a aplicar aos imbecis atiradores de tochas, também temos de fazer justiça aos que ainda arriscam em pleno futebol moderno, vigiado e controlado como nunca. Todos sabemos que é proibido usar pirotecnia num estádio, no entanto , quando acontecem os momentos da chamada tochada e potes de fumo são recolhidas imagens que todos, sem excepção, não hesitam em usar para ilustrar jornais e peças de televisão. Mesmo sabendo que é proibido. Querem melhor exemplo que os festejos no Marquês ? Aquelas imagens aéreas de dezenas de tochas acesas são incríveis, não são? É tudo proibido. Quem as transporta corre sérios riscos de ter problemas com a justiça. No entanto, nunca ouvi ninguém elogiar ou agradecer as épicas imagens e fotografias que proporcionam nas bancadas ou nos festejos urbanos. Aqui, desculpem, mas também temos de estar todos de acordo. Há muita hipocrisia.
Portanto, há que apontar sem receios o dedo a dois ou três que erraram e pedir desculpa pela sua irresponsabilidade. Mas não se parta daqui para um justiça cega feita por quem transporta nos seus smartphones fotos e vídeos de grandes tochadas.
Também estou preocupado com o castigo que a UEFA dará ao Benfica, também estou triste por dois ou três adeptos terem manchado uma página gloriosa europeia mas recuso-me a alinhar na hipocrisia colectiva. Aliás, nem entendo como é que em 2015 com tanta vigilância, com policia especializada, com todos os meios à disposição não se consegue identificar precisamente quem são os irresponsáveis. É que a solução não pode ser a de irem buscar uma dezena de supostos suspeitos sem provas, só porque as autoridades acham que podem ser os culpados. Isto acontece todas as semanas em todos os estádios mais concorridos. É também uma injustiça inacreditável que não faz sentido.
Reforço que gosto de ver fumos e tochas acesas nas bancadas de apoio, desde que abertas e pousadas no chão sem representar perigo para ninguém. Dispenso os petardos, acho horrível. Assim como dispenso quem não tenha inteligência suficiente para saber estar num estádio mesmo que a viver no limite do risco.
Eu não me esqueço do que vi em frente à Assembleia da República numa manifestação de polícias a usarem pirotecnia. Que eu saiba nunca foram interrogados sobre essa prática ilegal.
Condenação individual a irresponsáveis, sim. Hipocrisia, dispenso.