Porto 0 - 0 Benfica: Vivos!
Para quem ia sair do Dragão a 8 pontos e desmoralizado para o resto do campeonato não está nada mal seguir para a segunda semana de Dezembro a 3 pontos da liderança e com a passagem pelo Porto concluída.
Este constante desprezo pela equipa de futebol do Benfica tem sido o grande defeito dos nossos adversários. Quer dizer, também tem sido usado pelos próprios benfiquistas nos últimos três anos mas aí até é útil porque aumenta sempre a exigência. Tem sido sempre de trás para a frente, a luta do Benfica no campeonato nos últimos anos e mesmo assim acham constantemente que estamos mortos.
Mas quero começar por algo superior a tudo o que aqui vamos falar. Este foi o primeiro clássico sem o grande Zé Pedro a torcer por nós. Não vou aqui repetir elogios (merecidos e unânimes) nem contar histórias mais pessoais. Apenas recordar o que o amigo Nuno Calado, da Antena 3 e amigo de longa data do Zé Pedro, ontem me lembrou por sms quando eu ia a caminho do Porto: O nosso clube é tão grande que sempre que os Xutos & Pontapés actuaram nos intervalos dos jogos no Estádio da Luz deixavam o Kalu vestir a camisola do Porto.
Esta era a grande força do Zé Pedro, conseguia ser benfiquista sem melindrar ninguém que fosse seu fã. E tinha o mesmo bom gosto futebolístico que mostrou na música. Um dos maiores que nos vai fazer muita falta.
Este ponto também foi para ti na esperança de te podermos dedicar algo maior em Maio.
Posto isto, passo para um pedido muito especial para a nossa querida Liga de Clubes. Olhem lá, eu pago um lugar cativo no meu estádio que dá acesso a todos os jogos da vossa competição na minha casa. O cartão tem o nome que inspira a existência deste blogue. Mas o que eu quero mesmo a partir de hoje é saber quanto custa e como posso arranjar o bilhete que este companheiro, cheio de futebol com talento, adquiriu:
É que isto de sair da bancada directamente para o banco do adversário e fazer parte do espectáculo é outra dimensão! Que categoria, invade, empurra, agride e sai escoltado perante os sorrisos dos companheiros de bancada. Se não for pedir muito, alguém pode explicar o que deveria acontecer na teoria numa campeonato profissional quando um adepto do clube da casa entra no relvado e agride jogadores do clube adversário? Há leis para isto? Está previsto no regulamento ou é só mais um delicioso momento terceiro mundista do nosso futebol? Aguardo com muito interesse.
Por falar em leis e castigos. Então, o que para aí vai de análises isentas à arbitragem! Um treinador que acha que devia ter dado 5-1 e especialistas que viram tanta coisa.
Ora, não consigo ter a certeza absoluta que o Luisão fez penalti, no golo "anulado" vejo uma falta sobre o Grimaldo, do Jardel também não vi nada que desse penalti. Acho que é isto que se agita por aí, certo?
Agora, o que levei com carinho do Dragão foi a proeza do Porto acabar com um cartão amarelo no total do jogo. Um! E por simulação do Otávio.
Já o Zivkovic levou um amarelo assim que entrou por estar em pé e a respirar em frente à bola. Isto para logo depois fazer uma falta, repito, uma falta, e foi para a rua. Brilhante!
É aqui que chamo a esta prosa uma figura simbólica deste nosso futebol. O central Felipe. Vamos todos ver a repetição daquela entrada do defesa portista sobre Jonas aos 12 minutos. Estamos todos sintonizados? Pronto, então estamos de acordo que Jorge Sousa esteve bem em não lhe mostrar o cartão amarelo. É que aquela entrada é para expulsão. O árbitro até esteve bem ao não mostrar o amarelo. "Só" faltou mostrar o respectivo vermelho. E Isto seria aos 12 minutos de jogo. Assim, o Porto não ficou em desvantagem numérica e ainda pôde continuar a beneficiar da classe e magia de Felipe, que até um jogador do Benfica no chão pisou, e que conseguiu acabar sem ver um único cartão. Não é para todos. O Zivkovic que o diga.
Voltemos à manhã do clássico.
Então o jornal A Bola e Record resolveram entrar no espírito natalício e lembraram-se que o futebol pode ser um lugar engraçado de rivalidades sãs? Fiquei emocionado com aquela foto de dois jovens adeptos, cada um com a camisola do seu clube a olhar para o estádio e a frase "divirtam-se". Tão emocionado que nem abri os jornais ontem.
É preciso não ter mesmo vergonha nenhuma na cara para fazerem capas tão hipócritas. Os mesmos jornais que se alimentam de lixo e difundem as teorias das conspirações de figuras sinistras ligadas a um clube que já aceitou perder pontos por corrupção, ganhando na mesma títulos, e por outras figuras, ainda mais lunáticas, de clubes que nada ganham e inventam campeonatos conquistados no calor do verão. Dão palco, dão voz, submetem-se às suas agendas, espalham as suas mentiras, os seus ódios desmedidos, as suas invejas, as suas raivas incontidas em páginas e páginas de jornais, em linhas e linhas dos sites online na busca selvagem de pageviews, ajudam a conspurcar todo um ambiente que se tornou absolutamente irrespirável para aqueles que só gostam de futebol. Mas no dia clássico tomem lá umas capas todas giras, cheias de fair play e muito preocupadas com o futebol.
Assumam-se! Deixem de ser hipócritas. Deixem de fazer de nós otários. Os jornais, as televisões e os sites online só querem a podridão em movimento para aumentar audiências.
Olhem, da próxima vez façam-se à vida, sejam homenzinhos, saiam do casulo e venham connosco numa maravilhosa viagem atrás da nossa paixão num feriado para apoiar a nossa equipa num jogo vergonhosamente marcado para depois das 20h que nos obriga a regressar para junto das nossas preocupadas famílias depois das 4 da manhã.
Venham connosco mas não é de microfone, gravador ou cameras afiadas. Não venham em busca de mais uma reportagem hipócrita sobre "claques" ou grupos organizados. Nada disso. Entrem connosco num carro a seguir ao almoço no estádio da Luz. Façam a viagem Lisboa - Porto, e já agora preparem-se para partilhar despesas de gasolina e portagens, vão ver que é um rombo engraçado nas finanças. Venham sentir a adrenalina de entrar na cidade do Porto em dia de clássico enquanto ligam para casa a dizer que está tudo bem e começam a pensar onde é que vão estacionar o carro. E o que acontece se alguém embirrar com a matrícula do carro ser de um stand de Lisboa. Ou se houver o azar de alguém reconhecer uma cara que até aparece na BTV com regularidade. Ah, e perceber que para ir a um jogo da sua equipa deve vestir todas as cores menos aquela que identifica o seu clube. E depois ir a pé à volta do estádio e sentir o clima de ódio enquanto percebem que as capas que fizerem são mais fictícias que os volumes do Harry Potter. Caminharem até ao sector visitante em passo largo sem ceder aos cânticos insultuosos.
Depois, serem revistados como se estivessem a entrar nos Estados Unidos da América vindos do México. Várias vezes. E esperarem ao frio duas horas para subir umas escadas e entrar no estádio. No final terem de ficar mais uma hora após o fim do jogo à espera de sair. E voltar a pé até à Estação da Campanhã. Entretanto, irem ligando a companheiros que viram o jogo noutros sectores e sairam após o jogo para nos irem buscar perto da estação em segurança. Venham sentir isto tudo e vão ver se da próxima vez há vontade para brincarem às capas de realidade virtual.
Desta vez o roteiro gastronómico resume-se a uma paragem na estação de serviço da Mealhada. Sandes de Leitão, pastel de bacalhau, uma imperial, umas batatas fritas de pacote, um café e um pastel de Vouzela. Deu vontade de usar o visa e pagar aquela pequena fortuna em dez meses mas soube pela vida.
Afinal, que amor é este que mexe com mais de três mil adeptos que não hesitam em largar tudo para passarem um dia num comboio, ou de carro como já vimos, para apoiar uma equipa que todos dizem estar acabada, sem rumo, sem chama e sem hipóteses de ganhar? Serão estes milhares de adeptos que estão enganados? Serão eles que não percebem nada de futebol e contrastam com os sábios que poluem jornais e televisões com teorias do Apocalipse?
Pode parecer estranho mas esta forma de vida é a única solução para manter intacto o amor pelo clube e pelo futebol. Temos a vantagem de ver o jogo todo tal como ele é e não o jogo que a realização da Sport TV quer mostrar. Temos a vantagem de cantarmos juntos apenas e só pelo clube que amamos em vez de passarmos o jogo todo a insultar rivais. A propósito, quando é que a Liga do futebol com talento resolve ter a coragem de punir seriamente os clubes que nos seus estádios têm como "hino oficial" de cânticos o famoso SLB, FDP, SLB. Ou fingem que não ouvem? Ou não vos incomoda? Ou faz parte de uma espécie de cânticos com talentos. Sempre que se brindar o adversário com algo como FDP devia dar castigo, digo eu.
Passar por isto tudo para estar ali no estádio com a nossa equipa tem mais vantagens. Não ouvir os disparates que se dizem durante a transmissão televisiva, não levar com mil repetições e mais teorias da conspiração e, acima de tudo, no final do jogo ficar longe do circo que logo se instala para falar de tudo menos do jogo, menos de futebol. Bem melhor estar ali ao frio a conversar entre nós e a pensar que dia 17 há uma saída com muito potencial gastronómico a Tondela.
E quando é que nos sentimos recompensados? É quando a nossa equipa entra no Dragão com uma personalidade, atitude e um futebol de posse digno de um tetra campeão. A primeira parte do Benfica no Dragão foi à campeão. É isso que nos move. É isto que exigimos, uma atitude que bata certo com a nossa, ir ali com tudo, sem receios e com personalidade. Dentro e fora de campo. Não esquecer que aos 12' devíamos ter ficado em vantagem numérica e aí o jogo era outro.
Elogiar a postura do Benfica, o jogo superior de Varela, dos dois centrais, de Fejsa e, especialmente de Krovinovic. Então se o croata faz aquele golo, que José Sá negou, era a coroação total de um jogador que começa a apontar para uma presença num Mundial que vai ter um prometedor Argentina-Croácia.
Não gostei tanto de Pizzi, e esperava mais de Jonas. Mas o facto do brasileiro não se ter desmanchado todo aos 12' já foi positivo. Aquele aperto que o Porto deu no jogo pelo minuto 60 era aquilo que eu esperava desde o começo da partida, afinal jogavam contra o maior inimigo da sua existência, perante a sua gente na sua casa. Só a partir dali deram um sinal de força. No entanto, o falhanço do Marega, ao melhor estilo do seu bom aliado de guerra, Ruiz, foi a demonstração de falta de eficácia deste Porto. Já ali passei noites bem piores. Esta até foi relativamente tranquila.
Resultado menos mau para o Benfica, falhanço do Porto em fugir na tabela classificativa e muito sangue para os vampiros que esvaziam o futebol com as suas análises laterais, secundárias, desnecessárias e dramáticas para sobreviverem.
Quanto a nós, 3ª ainda há uma noite europeia e foco na recepção ao Estoril.