Braga, da Cidade dos Arcebispos ao mini Dragão
Ir a Braga já foi uma viagem simpática para os benfiquistas que enchiam o 1º de Maio para apoiar a equipa em jogos sempre complicados contra o Sporting local. Como se dizia catolicamente nos resumos do Domingo Desportivo, a Cidade dos Arcebispos, era um local onde o Benfica jogava em casa. Foi assim durante muitos anos, Braga era benfiquista assim como o Salgueiros era o Benfica do norte.
Além dos muitos duelos com o Sporting Clube de Braga também houve contra outras equipas do norte que preferiam jogar no 1º de Maio para fazer uma boa receita de bilheteira. Quem não se lembra do jogo do "pau de Marmeleira" do Manuel Machado após uma vitória sobre o Moreirense?
Também foi lá que empatámos com o Porto no arranque do campeonato 1986/87. O estádio das Antas estava a ser rebaixado e marcou-se o clássico para Braga. Enchente benfiquista e um empate conseguido a poucos minutos do fim.
Em Braga o Benfica sagrou-se campeão nacional após o famoso 3-6 de Alvalade, numa 4ª feira o Gil Vicente também escolheu o 1º de Maio para a festa do título.
A última vitória na década de 90 no antigo recinto do Braga aconteceu em 1995. Depois só em 2001 e 2003 na despedida antes da mudança. Muitas recordações ficam do Braga do 1º de Maio. A mais remota que guardo em termos europeus foi do relato de um Braga - Tottenham em 1984 que ficou 0-3, em Londres tinha sido 6-0, mas em Braga abriram as portas na 2ª parte para o povo ir ver os Spurs ao vivo.
Mudança de século, mudança de estádio, mudança de atitude.
Embora nunca tenha sido um jogo fácil havia , como se viu atrás, a vantagem do apoio nas bancadas. O clube minhoto resolveu aproveitar a mudança de estádio para mudar a mentalidade e criar ali uma força considerável no futebol português. Com o presidente António Salvador no comando o Braga cresceu. Desde logo com a preciosa ajuda do super-agente Jorge Mendes que tem lá colocado jogadores de boa qualidade, depois aproveitando para se aproximar dos dirigentes do Porto que lhes valeu proveitosas trocas de jogadores e força nos bastidores e apostando em treinadores de qualidade superior.
O plano era impor respeito no Minho crescendo para o rival regional em termos desportivos e de adeptos, depois uma subida aos degraus mais altos do futebol nacional e , finalmente, dar a conhecer à Europa o nome do Braga.
Em todos os níveis foram dados passos firmes e interessantes mas ainda não se pode dizer que o Braga seja um dos grandes. Vendo bem, o Braga ainda nem é o maior do Minho.
A rivalidade Braga - Vitória é de todos conhecida. Um dos números que os adeptos de Guimarães mais gostam de fazer é chegar ao estádio do Braga e entoar aquele cântico que se ouve na Luz e que os nossos rivais alteram na altura de gritar Glorioso SLB. Cantam mesmo assim para os bracarenses na maior provocação que lhes podem fazer demonstrando que a cidade dos Arcebispos é vermelha mas por maioria de benfiquistas enquanto em Guimarães o branco e preto é lei.
Isto tem feito com que os adeptos do Braga queiram mostrar o seu ódio ao Benfica sempre que lá vamos. Tornaram-se agressivos nos cânticos e nos actos, seguindo a escola do Dragão. Nas últimas épocas temos visto um pouco de tudo ali mas nada de original, bolas de golfe, proençadas, provocações vindas do speaker, etc.
Os efeitos práticos são visíveis. As bancadas já não têm maioria benfiquista, confrontos fora do estádio com a claque da casa a chegar ao jogo com escolta policial, provavelmente a única no mundo.
Temos tido ali alguns desgostos, desde logo a derrota na Liga Europa que impediu o Benfica de estar em 3 finais europeias em 5 anos de Jesus, e a derrota na meia final da Taça da Liga por penaltis. Algumas derrotas na Liga mas nas últimas duas visitas o Benfica até trouxe os 3 pontos.
O Braga pela mão de Jesus colocou o clube no mapa da Europa do futebol, ganharam a Taça Intertoto e passaram a ser presença habitual nas provas da UEFA. Mais tarde chegaram à final da Liga Europa que é um dos pontos mais altos da sua história. A nível nacional passaram a andar no topo da tabela, lutaram pelo título em 2010, chegaram à Liga dos Campeões à frente de Porto e Sporting e até chegaram a estar melhor servidos de jogadores do que o clube de Alvalade com uma interessante guerra de palavras entre os presidentes dos dois clubes. Venceram uma Taça da Liga e podem dizer que têm mais proezas recentes do que o Sporting de Lisboa.
Mas não se sabe se esta subida ao topo é para continuar. O Sporting já recuperou a sua posição e não se vê o Braga nos primeiros lugares há muito tempo.
Feitas as contas este salto do Braga deu-lhe uma identidade, sem dúvida, mas não chega tão pouco para serem os maiores do seu distrito...
É que entretanto o Vitória venceu uma Taça de Portugal no Jamor ao Benfica, algo que o Braga trocava de bom grado pela sua Taça da Liga ou até mesmo pela presença na final de Dublin.
Em termos de apoio, o Vitória continua a ser muito superior quer em jogos em casa, quer em deslocações. E o amor ao clube da terra de Guimarães não tem comparação com o que se passa em Braga. Anos de história não se mudam numa década com mais ou menos Guerreiros.
Portanto, o Benfica vai a Braga nesta jornada para um jogo de grau de dificuldade alto. É das deslocações mais difíceis da época, o facto do jogo ser domingo à noite não ajuda a um maior apoio vindo de Lisboa mas há o enorme suporte dos benfiquistas do norte para ajudaram a trazer a 3ª vitória seguida de Braga.
Já escrevi muito sobre os jogos em Braga nos últimos anos mas uma coisa ainda não mudou, continuo a não conhecer ninguém que seja adeptos do Braga. O Prof. Marcelo não conta.