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Red Pass

Rumo ao 38

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Benfica 3 - 2 Belenenses SAD: Magia de Adel Contra a Maldição do Ano Passado

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O futebol é muito pródigo em criar tradições, cultos, fantasmas e universos próprios entre clubes. O historial de confrontos entre o Benfica e Clube de Futebol "Os Belenenses" dava para um livro. Histórias de jogos para o campeonato ou para a Taça de Portugal que atravessam décadas no futebol português. É um derby muito rico em episódios marcados por jogadores que vestiram as duas camisolas e transformou-se num clássico do nosso futebol. Infelizmente, essa história foi interrompida há uns anos e deu lugar a um novo ciclo. Agora é um derby sem grande passado e já não é um clássico porque estamos a falar de outro clube. Ou de um projecto que ninguém sabe ao certo como se chama, B SAD, Codecity, Belenenses SAD. No lugar da cruz de Cristo aparece um logo feito à pressa, não tem estádio, não tem adeptos, enfim, é uma SAD a competir no maior campeonato do país. 
Mas como escrevi ao abrir o texto, o futebol é muito pródigo em criar tradições, cultos, fantasmas e universos próprios entre clubes. Muito pródigo e muito rápido. Tão rápido que os jogos desta época com o Belenenses SAD, chamemos-lhe assim, levantam maus pensamentos. Na primeira volta, no Jamor, 18 mil benfiquistas foram apoiar a equipa mas desconfiados da derrota da época passada. Uma noite negra de chuva intensa, com arbitragem de Soares Dias e uma derrota amarga. O triunfo deste ano serenou os adeptos e tirou uma certa carga negativa que os jogos contra este projecto acarretam.

Para o primeiro jogo da 2ª volta da Liga NOS na Luz, temos o Belenenses SAD. O Benfica vinha de uma vitória na Mata Real, com um balanço incrível de vitórias e golos marcados e o pensamento de muitos já na próxima saída ao Porto. Muito optimismo antes do jogo mas à medida que se aproxima a hora de começar novos pensamentos afectam o tal optimismo. Na época passada, depois da vitória mais épica de Bruno Lage, 1-2 no Dragão, a curta almofada de conforto trazida do norte desapareceu logo com um incrível empate com o Belenenses SAD a quem o Benfica não venceu nenhum jogo. 

Na primeira volta o enguiço foi quebrado mas esta ironia de voltarmos a defrontar a mesma equipa tão perto da visita ao Dragão podia agitar fantasmas?

 

A resposta veio precisamente depois do 2-0. O Benfica na primeira parte parecia ter construído o suficiente para voltar a ter uma noite tranquila, como teve em Paços de Ferreira. O treinador deu o sinal mais importante ao resto da equipa ao não abdicar de André Almeida no onze, mesmo sabendo que um cartão amarelo o tirava do clássico da próxima jornada. O sinal foi claro, o jogo que interessava era este e ninguém queria facilitar. Bruno Lage lançou Adel Taarabt no lugar de Gabriel, única mudança na equipa, à procura de mais criatividade no meio campo e imprevisibilidade para contornar a linha de cinco defesas que Petit preparou, um esquema que tem dado dores de cabeça a Bruno Lage na abordagem dos jogos no último ano. 

Aposta mais do que ganha, o marroquino abriu o livro e foi o melhor em campo. Fez uma jogada genial a driblar todos os que lhe apareceram pela frente em metade do campo, uma jogada que acabou por dar golo graças à insistência de Vinicius. Tudo épico, as fintas de Adel, o passe para Cervi, a cabeça à trave de Vinicius que acabou por ser uma "auto assistência" para o seu golo. Momentos que já justificavam a ida ao estádio para mais de 45 mil adeptos. 

 

Pelo meio e justo destacar a importância de Odysseas que negou o golo ao Belenenses SAD, em especial numa defesa soberba a um livre directo na primeira parte. 

Um Belenenses SAD motivado pela vitória na última jornada, atrevido, determinado a pressionar alto e a arriscar desafiar o Benfica na Luz, uma boa imagem deixada por Petit. 

O Benfica descansou com o 2-0 e na 2ª parte pareceu querer controlar o jogo sem grandes riscos desde muito cedo. O 3-0 tardou em aparecer e os tais fantasmas apareciam na Luz. Comentava-se nas bancadas que ainda podia acontecer o drama do ano passado e os jogadores pareciam demasiado ansiosos com a bola. 

Sem grande explicação lógica, o jogo cai de repente num carrossel de lances imprevisíveis e emoções descontroladas. Licá faz mesmo o 2-1 e toda a gente pensou no desfecho da última época. As bancadas inquietaram-se e começaram a passar o nervosismo para o relvado de forma irresponsável. André Almeida, Ruben Dias e até Bruno Lage pediam calma e apoio ao Estádio da Luz. A equipa reagiu e lá apareceu mais um golpe de génio. Ruben passou para Vinicius que num toque de calcanhar simples e vistoso isolou Chiquinho que contornou o guarda redes e fez o primeiro golo na Liga pelo Benfica. O festejo foi simbólico, sentou-se no relvado e estado zen, como que pedindo tranquilidade no ambiente da Luz. 

Depois do golo de Taarabt, o golo de Chiquinho a acabarem com o mito de não conseguirem marcar pelo clube no campeonato. 

Estávamos a pouco mais de 10 minutos do final do jogo e o 3-1 parecia acalmar os nervos. Mas seis minutos depois Rafa acaba por fazer penalti sobre Varela e permite que Licá reduza para 3-2. 

Com cerca de 10 minutos para jogar, o Estádio da Luz virou um lugar de loucos. Na minha tentativa de me acalmar, fixei o olhar na bancada por trás do banco do Benfica enquanto ia alternando com a visão do jogo. O momento é tão rico graficamente que acabei por me rir sozinho. Riso de nervosismo, claro, mas só dava para rir. 

Então, tínhamos sócios de pé a refilar e a dar indicações à equipa, adeptos a assobiar, outros em silencio a sofrerem com as memórias do empate de há um ano, e, pasme-se, muitos benfiquistas completamente indiferentes ao desfecho da partida e a virarem costas ao relvado para saírem do estádio como se estivéssemos a golear ou o jogo tivesse terminado. A sério, como é que conseguem. É que não foram poucos, olhem para as várias saídas do estádio e estavam dezenas neste ritual. Quero pensar que é malta com problemas cardíacos e que se recusa a ficar até ao fim por problemas de saúde... Este recinto, às vezes, parece uma casa de loucos. 

Tudo acaba bem quando o Benfica vence. Com muito mais dificuldade que seria de esperar depois do 2-0, com muito mais sofrimento daquele que eu acho aceitável para a minha vida mas no fim do dia respiramos fundo e concluímos: fizemos mais 5 pontos no campeonato só contra esta equipa em relação ao último campeonato. Vamos dormir com 10 pontos de avanço na liderança e agora os outros que se esforcem. Com estas duas vitórias ao Belenenses SAD acabou-se a maldição dos pontos perdidos.

Esta noite tem que ficar na memória de todos como a noite da magia de Adel.

Desejo tudo de bom ao Petit e que evite a descida, apenas e só pela estima que tenho por ele, mas espero, sinceramente, que a médio prazo esta aberração do B SAD desapareça e dê lugar a um clube a sério no escalão maior do futebol português.