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Red Pass

Rumo ao 38

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Rumo ao 38

Benfica 2 - 1 Braga e Artur Soares Dias 0

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A Taça de Portugal é uma prova com enorme história. Foram os clubes, os jogadores e os adeptos que ao longo de várias décadas escreveram capítulos valiosos que todos juntos resultam numa competição mítica que, quase sempre, se resolve no Jamor. 

Como adepto do Benfica, as minhas grandes recordações estão relacionadas com jogos do clube na Luz e também fora. Boas e más. Muitas. A primeira final no Jamor com vitória de 1-0 sobre o Porto com golo de César. Todas as finais. A ironia de ter visto só vitórias contra os dois rivais e as derrotas terem aparecido da forma mais inesperada contra outros clubes como Belenenses, Boavista ou os Vitórias. 

Gratas recordações das visitas à antiga Luz do Régua, Ponte da Barca ou Dragões Sandinenses, dos 12-0 ao Marinhense e dos 14-1 ao Riachense, que fez um golo por simpatia do Bento que era da Golegã. Daquele prolongamento com o Estrela de Portalegre que o Tó Portela resolveu depois de entrar para o lugar de Chalana e evitar o jogo de desempate em Portalegre. Sim, porque a Taça era a prova onde um empate dava direito a prolongamento e se ficasse resolvido íamos para segundo jogo na casa do visitante. Foi assim que o Cartaxo veio parar à Luz! Tudo a zero até final do prolongamento no Cartaxo, num campo pelado. Escândalo! Jogo para a Luz e 7-0 para o Benfica. 

A Taça que me fez ir ver dezenas de jogos ao longo da vida sem o Benfica em campo. As finais entre Farense e Estrela, a tarde do Campomaiorense - Beira Mar, e os jogos das primeiras eliminatórias com equipas dos distritais em acção, em Lisboa e no Algarve. 

Tantas e tantas memórias de uma competição que foi ficando fora de moda e pouco apetecível. 

Quando a Liga Portugal inventou a Taça da Liga acabou por espicaçar a Federação Portuguesa de Futebol para modernizar e actualizar a Taça de Portugal. Tanto assim é que, actualmente, as meias finais e a final da Taça (mais a Supertaça) são espectáculos ambiciosos e cartões de visita da FPF para rivalizar com aquela bizarra Final Four da Taça da Liga que dá um campeão(?) de inverno na semana do futebol em Braga. 

Enfim, lutas de vaidades que pouco ou nada tem que ver com o adepto do futebol. 

É verdade que a FPF revitalizou a Taça de Portugal. Chamou os clubes mais pequenos das Distritais para as primeiras eliminatórias a troco de prémios financeiros essenciais para viabilizar a presença de todos na prova. 

Mas depois falha no esquema do sorteio. Ao fim destes anos todos ninguém entende o esquema de repescados que desvirtua o espírito da prova e vai buscar equipas derrotadas sem critério nenhum, proporcionando reencontros tão embaraçosos que se repetem jogos entre os mesmo clubes e até com resultados finais diferentes! Impensável. 

Foi positiva a ideia de obrigar as equipas dos escalões profissionais a jogarem na casa das equipas "amadoras". Mas a ideia acabou também desvirtuada com desvios de jogos para terceiras casas. Felizmente, é algo que melhorou muito este ano com as visitas do Benfica à Cova da Piedade e Vizela, por exemplo. Mas não deixámos de ter um Porto - Coimbrões na casa do Porto B. 

Entre coisas positivais para melhorar a prova está também a entrada de mais operadores de televisão com o canal 11 da FPF. Só que tudo isto passa para segundo plano quando olhamos para o modelo das meias finais de uma prova que é toda ela a eliminar num só jogo. Porque raio é que as meias finais são a duas mãos? Claro que a resposta está nos interesses financeiros. O problema é que desvirtua todo o espírito da prova, mais uma vez. Um clube pequeno que consigo a proeza de atingir a meia final fica com a missão quase impossível de surpreender uma adversário mais poderoso porque vai ter de o fazer duas vezes. O dinheiro não pode ser tudo, a FPF tem que acabar com as meias finais a duas mãos. Querem mais jogos com as equipas profissionais? Então façam com que esses clubes entrem mais cedo em competição em vez de começarem na 3ª ronda, parece-me fácil. 

Devolver o feliz rótulo de Festa da Taça aos jogos da prova actual é um acto de enorme hipocrisia. Em testemunhei verdadeiras jornadas de Festa da Taça ao longo das últimas décadas. Só com uma ligeira diferença, os jogos eram disputados aos domingos à tarde, na sua enorme maioria. 
Vale a pena olhar para esta fase, relativamente adiantada, da prova. Jogam-se os 1/8 de final da Taça. A Festa da Taça fez-se em Viseu numa 3ª feira a seguir ao almoço. Na Póvoa de Varzim a meio da tarde do mesmo dia e na Marinha Grande nessa 3ª feira à noite. Era feriado? Nem por isso. 

Continuou hoje na Sertã a seguir ao Almoço, em Paços de Ferreira a meio da tarde e na Luz às 20h45 de uma 4a feira. Era feriado? Claro que não. A festa continua amanhã, 5ª feira, dia normal de trabalho. Estádios vazios, Luz com meia casa, adeptos revoltados por não poderem acompanhar os seus clubes. O espírito da prova rainha não era nada disto.

E o que dizer da medida tomada a meio da prova? A partir desta fase os jogos passam a ter VAR. Então mas e os encontros que ficaram para trás? As dúvidas e as polémicas das eliminatórias anteriores? Muda-se assim as regras?! E estranho. E mais estranho fica quando ficamos a saber mais pormenores sobre esta entrada do VAR na Taça. É que há VAR mas só para alguns! Só em metade dos jogos desta ronda é que há VAR. Digno do terceiro mundo, não é?

E o que isso traz de bom ao Estádio da Luz, em Lisboa? 

Como o Benfica - Braga tem a curiosidade de ser disputado precisamente na mesma data de 2014, quando o Braga venceu o Benfica para a Taça, última vitória dos minhotos contra o Benfica, o Conselho de Arbitragem achou que devia chamar o mesmo árbitro dessa triste noite, Artur Soares Dias. E quem melhor do que Carlos Xistra para ir para o VAR? Parece gozo mas não é. É a realidade. 

Como se não bastasse o Benfica ter um dos adversários mais duros tão cedo na prova ainda leva com uma dupla de arbitragem capaz de fazer convencer qualquer indeciso a ficar em casa numa noite invernosa de chuva, vento e frio evitando o incómodo de ir passar um irritado serão à Luz. 

Como se percebe o único chamariz para termos adeptos no Estádio é o futebol do Benfica, é a história do Benfica e é o amor que os benfiquistas têm ao clube. O resto à volta está todo errado. Todo!

Neste primeiro jogo da Taça de Portugal na Luz descobrimos que há inovação nas regras da prova. Pela primeira vez na vida vejo o Benfica a jogar com o equipamento principal em casa contra uma equipa de vermelho. A regra da Federação sempre obrigou o Benfica a jogar com o equipamento alternativo quando recebia um clube com as cores semelhantes. Vão ver os resumos com o Braga para esta prova em 2012 e 2014 e reparem nas cores do Benfica. Mais uma mudança na tradição. 

O que não muda é aquela postura do Artur Soares Dias nos jogos do Benfica. A altivez, a arrogância, o prazer em distribuir cartões amarelos, as faltas e as faltinhas capazes de tirar do sério qualquer Monge do Tibete em reflexão, as decisões erradas contra os jogadores do Benfica, a consulta ao VAR em caso de dúvida que, recordemos sem nos rir, era chefiado por Carlos Xistra... 

Foi uma desafio muito complicado para a equipa de Lage que manteve toda a equipa que tão boa conta tem dado, só trocou de guarda redes. O Braga começou em vantagem, os nervos ameaçaram tomar conta da equipa e das bancadas mas com Pizzi e Vinicius tudo se resolve. Hoje. o futebol do Benfica chegou para dar a volta ao resultado contra um Braga muito combativo e a tal arbitragem. Valeu para ver o Tomás Tavares a crescer mais um bocadinho naquele lado direito, para apreciar mais pormenores de Adel, perceber o bom momento de Chiquinho e Cervi e, acima de tudo, pela vitória. 

Apesar de tudo ter sido feito para estragar esta Festa da Taça, o Benfica soube dignificar a Prova Rainha e garantir presença nos 1/4 de final. O último jogo de 2019 na Luz foi feliz. 

Uma nota para dizer que é um prazer que é rever o André Horta no relvado da Luz, mesmo que tenha sido só para aquecer. Prazer extensível ao seu irmão mas o natural destaque vai para o André pela passagem recente e triunfante que teve no clube. 

Já que se fazem tantas mudanças e alterações na Taça de Portugal, vou deixar mais uma sugestão: era importante também ir riscando equipas de arbitragem do caminho. Hoje Soares Dias e Xistra tiveram a sua noite de exibição. Pronto, já chega. Que acompanhem o Braga nesta saída da prova, pelo menos no que diz respeito a jogos do Benfica. Era justo. E sem repescagens, por favor.

Portanto, agora entramos na recta final da prova e os problemas diminuem, é isso? Claro que não! Estamos em Portugal e este país nunca desilude no que diz respeito a originalidades à volta do futebol.

Sabem quem é que pode calhar em sorte ao Benfica na próxima ronda? A equipa da claque do Porto! Sim, o líder da claque legalizada do Porto ( e da Selecção da Federação que organiza a prova) e seus companheiros podem jogar contra o Benfica. Aliás, o líder/jogador já fez saber que o seu desejo é defrontar o Campeão Nacional para mostrar o que é o ADN dos Super Dragões. 

Tentei explicar esta possibilidade a um amigo inglês do Liverpool e acho que a esta hora ele ainda pensa que eu estava a inventar só para ser mais bizarro que a Liga dele que obrigou o seu clube a jogar com crianças contra o Aston Villa. 

É a Festa da Taça da Prova Rainha. 

Obrigado, Benfica por esta vitória e por este ano inesquecível de futebol na Luz! Memorável.