Benfica 1 - 0 Rio Ave
Num dia como este mas em 1987 fui ao Jamor festejar uma dobradinha. Na altura foi contra o nosso rival e vizinho. Nessa altura foi particularmente complicado conviver com os lags que andavam doidos por um resultado conseguido em Dezembro de 1986. Reparem que não estavam eufóricos por ganharem alguma coisa, nada disso. Viviam em loucura porque já tinham vingado os 5-0 para a Taça da época anterior. E cheios deles próprios lá foram para o Jamor a pensar nos 7-1 ignorando que o Benfica já era Campeão Nacional tendo ganho na Luz o derby da 2ª volta. Obviamente ganhámos a final, 2-1 com um dos golos de Diamantino ainda hoje recordado por mim como a mais bela folha seca que vi.
Serve esta introdução para explicar que nessa longínqua tarde de 1987 não me passava pela cabeça ter de esperar por 2014 para ver nova dobradinha. Algumas finais vencidas, outras perdidas mas dobradinhas nunca mais.
Há um ano senti-me destroçado com o final de jogo e de época que vivi no Jamor. Tudo mau demais para ser verdade. Um pesadelo que começou na remontada do Vitória de Guimarães e que se prolongou com a triste saída de campo da equipa e com o episódio Cardozo e Jesus.
Saí do jamor desfeito, cheguei a casa ainda o Vitória não tinha recebido a Taça e partilhei aqui toda a minha revolta. Fiquei à espera de uma revolução no meu clube, apatecia-me um novo ciclo, novo treinador, novo goleador, enfim tudo de novo.
Passei os anos anteriores sempre a defender o trabalho de Jesus, estive sempre do lado da equipa técnica mas depois daquele fim de época do ano passado não consegui ver mais à frente. Interiormente sentia um vazio porque não tinha alternativa para o comando técnico da equipa e sabia que era uma mudança penosa mas não conseguia imaginar mais um ano com as mesmas figuras de tamanho falhanço.
Afinal ficou tudo na mesma, o Presidente teve um rasgo de teimosia e acertou em cheio. Olhou para o exemplo do Bayern de Munique e deu-se bem. A minha vénia a Vieira pela coragem na aposta, a minha vénia a Jesus por ter aceite tamanho desafio. Desconfiado não acreditei num final de época vitorioso mas lá me lancei para mais uma temporada de militância na Luz onde vi Sporting e Porto a caírem lindamente na Taça de Portugal. Foi, aliás, nesta Taça de Portugal que vivi os meus momentos mais fortes emocionalmente e enterrei o pessimismo e a desconfiança. Os 3 golos de CarDeuz contra os lags e aquela obra de arte, que já devia estar no nosso Museu, do André Gomes contra o Porto.
A grande dúvida na Taça de Portugal era saber como íamos ultrapassar o cansaço de uma longa época, o trauma de há um ano e como recuperávamos da jornada esgotante de Turim. Não fizemos uma exibição espantosa mas garantimos o mais importante, ganhámos a Taça de Portugal!
Gaitan assinou um golão, Oblak mostrou porque é que faz parte da fórmula ganhadora da mudança de rumo do nosso clube, Salvio e Enzo vingaram-se da ausência europeia, Maxi acabou a época em grande e Jesus geriu tudo sem stresses. Cardozo acabou a tarde a tirar fotos com o seu treinador e a festa que os jogadores fizeram perto dos adeptos benfiquistas mostra uma rara comunhão que me emociona mesmo.
Mas isto hoje foi muito mais do que uma dobradinha, hoje concretizou-se um triplete que anda aí há anos à mercê de quem o queria completar e só o Benfica conseguiu fazer! É um momento incrível para o clube e para os adeptos , ainda para mais quando olhamos para trás e nos lembramos do nosso estado de espírito à precisamente um ano. Isto não foi só dar a volta à dor, foi reagir e dar um passo em frente. Alias, dar três grandes passos em frente. Isto é entrar numa passada que temos de saber continuar já na Supertaça.
Há um ano não fui para o Jamor. Passei pelo Jamor, o que é uma coisa diferente. No ano passado nem me apetecia ir ao Estádio Nacional mas fui. Cheguei lá uma hora antes, passei pelo lugar onde o pessoal se juntou só para beber uma cerveja e seguir para a bancada.
Este ano fui para o Jamor. Às 11h já lá estava com o pão que combinei levar. Passei lá meio dia, almocei, lanchei, jantei e vivi um dia à Benfica com benfiquistas. Uma festança pela mata fora que só quem nunca a viveu é que pode ousar querer tirar dali! Que nunca se tire a Taça do Jamor. Que nunca demore tanto tempo a fazermos um dobradinha e um triplete, já agora.
Que nunca desistamos do nosso Benfica, acabamos sempre na mesma conclusão: é tão bom ser do Benfica!
Viva o Benfica!