Arouca 1 - 0 Benfica : Preocupante!
Ir para Aveiro em pleno mês de Agosto num domingo à tarde para ver o Benfica parecia uma óptima ideia na teoria. Assim como parecia apelativo jogar contra o Arouca no Estádio Municipal de Aveiro à 2ª jornada depois da goleada na estreia e dos empates dos dois rivais na véspera.
A chegada ao caótico estacionamento à volta do Estádio faz-nos lembrar porque é que nunca gostámos de ir ali ver bola. O nevoeiro e a incrível chuvada que caía poucas horas antes do jogo eram um sinal claro que a tal óptima ideia não era assim tão boa.
O começo do jogo encarregou-se de desmentir também a outra teoria de que era um jogo apelativo. Em apenas dois minutos esvaziou-se aquele ânimo do final do jogo com o Estoril.
A grande dúvida para este jogo era saber se íamos ter o Benfica empolgado que acabou o jogo de estreia na Liga ou se voltaríamos à estaca zero do trabalho do novo treinador. A aposta em Samaris mantendo Ola John e Pizzi de inicio era mais um ajuste de uma equipa que não consegue entrar nos jogos de forma convincente.
Tinha chamado a atenção para esta equipa do Arouca no final da crónica do último jogo. Tinha elogiado Lito Vidigal e não foi por cortesia ou obrigação. Acho mesmo que é um dos mais competentes treinadores do campeonato. Fez o que se estava à espera, montou uma defesa sólida com excelente cobertura de um trio no meio campo que contou com mais duas ajudas de homens sempre prontos para apoiar o avançado. Isto é, além de Bracali na baliza, que já mostrou qualidade noutras alturas, Jaílson na direita, Velazquez e Hugo Basto como centrais e Lucas Lima na esquerda. Depois, o capitão Nuno Coelho à frente da defesa com David Simão na ala esquerda e Nuno Valente na ala direita, sempre prontos para fecharem espaços interiores, ficando Ivo Rodrigues e Artur de olho no contra ataque e a servir Roberto.
Logo aos 2 minutos David Simão isolou Roberto que fez o 1-0.
Nada de grave porque havia o jogo todo para dar a volta e já na época passada foi assim que aconteceu na deslocação a Arouca.
O problema é que aos 9 minutos Nuno Valente também conseguiu desmarcar Roberto, aos 22' novamente Roberto aparece com perigo e aos 40' Lucas Lima tentou marcar de livre directo. Valeu ao Benfica Júlio César, a grande mais valia neste começo de temporada!
E comecei por destacar o futebol do Arouca para depois enquadrar melhor as oportunidades do Benfica e para dizer que a equipa não se limitou a defender. Houve boa organização defensiva, excelente posicionamento e, o mais preocupante para nós, facilidade em adivinhar e anular o jogo benfiquista.
Feitos os elogios quero deixar registado a minha condenação por terem aliado ao bom desempenho o pior que se pode fazer com um jogo de futebol: o anti-jogo. Jogadores deitados no chão por tudo e por nada, perdas de tempo desesperantes com entradas de assistência médica e um guarda redes a demorar todas as reposições de bola. Nem acredito que sejam indicações de Vidigal, é uma tentação dos próprios jogadores. É pena porque, infelizmente, o Arouca não precisava de reduzir desta maneira o tempo útil de jogo para ser mais feliz no final do jogo. Na bancada não há nada pior que a sensação do jogo parado, falo por mim.
O Benfica entrou a perder mas manteve a atitude de procurar o golo como se nada tivesse acontecido. Na primeira parte houve várias oportunidades para fazer golo mas a finalização voltou a ser preocupante. As oportunidades apareciam por tentativas de longe, Jonas aos 20', Pizzi aos 25', Ola John aos 46', ou de perdas de bola, como a que Ola John recuperou para dar a Pizzi que permitiu uma grande defesa de Bracali aos 31', ou de bolas paradas como nas oportunidades que Mitroglou teve de cabeça em livre e canto de Gaitán. De bola corrida apenas o incrível falhanço de Nelson Semedo após passe de Samaris!
E é aqui que tudo se torna preocupante. O Benfica não cria oportunidades de golo em jogo corrido, em jogadas envolventes que peçam finalizações naturais dentro da área ou em desequilíbrios com movimentações atacantes envolventes. A bola anda ali de um lado para o outro entre a defesa e o meio campo sem grandes ideias e sem se perceber qual a finalidade.
Ao terceiro jogo oficial da época não consigo vislumbrar a ideia de jogo de Rui Vitória para a equipa. Antes pelo contrário, vejo ali um bloqueio perigoso na construção das jogadas. A equipa parece ainda hesitar entre as movimentações do passado e as novas propostas. Procurar sempre Nico Gaitán ou Nelson Semedo para ganhar improvisação ou velocidade no jogo não são propriamente grandes ideias de jogo...
Não conseguir contornar a organização defensiva contrária com variações de sistema de jogo apelando só à improvisação individual não augura nada de bom. É urgente que o Benfica se apresente em campo com vontade própria e um estilo de jogo próprio, que siga um rumo, que tenha um sistema, que apresente um conceito de jogo. Ainda não se viu nada disso e começa a ser difícil perceber porquê.
A 2ª parte foi muito pior que a primeira. Menos oportunidades de golo, muito nervosismo transmitido de dentro para fora e mexidas na equipa que preocupam. Repetir a aposta em Victor Andrade não foi a melhor opção quando o jogo pedia a entrada de Talisca para o lugar de um Pizzi completamente perdido entre sectores. A entrada de Andrade veio dar irreverência ao flanco direito e muito individualismo mas não resolveu a questão apesar do jovem brasileiro até ser dos mais inconformados a tentar chegar à baliza do Arouca. Depois a aposta em Carcela no lugar de Eliseu evidenciou a falta de preparação do novo reforço que baralhou de tal maneira o flanco esquerdo que nem o vimos a criar desequilíbrios na linha final como ainda proporcionou a bizarra situação de ver Gaitán a lateral esquerdo a espaços! A última aposta já cheirou a desespero compreensivo, lançar Jimenez no lugar de Samaris é o mesmo que anunciar a falência de ideias e passar para a fé na bola para área a ver o que acontece. Não aconteceu nada porque nem isso a equipa consegui impor, não houve bolas para uma frente de ataque com Jonas, Mitroglou e Jimenez! Incompreensível.
Lito Vidigal mexeu bem e nunca descompensou a equipa, limitou-se a refrescar os homens mais talhados para o contra ataque e nem guardou substituições para queimar tempo. Entre os 54' e os 75´ lançou Maurides, Adilson e Dabó. Manteve sempre em sentido Júlio César que acabou por ser o melhor do Benfica, o que já diz muito deste jogo.
Perder um jogo em que se fez tudo para ganhar, em que se massacrou o adversário e que só por azar a bola não entrou, pode sempre acontecer em qualquer caminhada. Querer fazer deste jogo apenas e só isso é meio caminho andado para não se perceber o que (não) está a acontecer no futebol do Benfica. É claro que a equipa podia ter feito golos mas já vi exibições bem mais massacrantes com os postes a negarem golos e guarda redes a fazerem milagres que, sinceramente, ontem não vi. Vi desperdício nos pés do Nelson, vi uma bola tirada da linha por um defesa bem posicionado, vi várias tentativas desesperadas com remates de longe e cabeceamentos apertados para boas defesas de Bracali. Ficava mais animado se tivesse visto qualidade ofensiva.
Claro que não percebi porque não se marcou falta sobre Mitroglou na área do Arouca na primeira parte nem o porquê de anular o último remate à baliza de Bracali. Mas não foi por aqui que correu mal.
Acho que Rui Vitória tem mostrar ao que vem e exibir um esquema em que se consiga perceber o que quer fazer do futebol do Benfica e soltar as tais amarras que referiu na semana passada. Parece-me que ele está a ter mais dificuldade do que eu a soltar amarras do futebol que se viu no clube até à sua chegada. E eu até estou à vontade porque gostava e defendia esse futebol. Agora, gostava de apoiar, defender e perceber o novo futebol mas ele tarda em aparecer e isso é preocupante.
Vamos para dois jogos na Luz, vamos ver o que esta equipa tem para nos dar já a nível definitivo já que o mercado fecha dentro de uma semana.