Quem viveu a emoção dos jogos na Luz durante a década de 80 tem sempre um ponto em comum que o aproxima de outros benfiquistas. Quando se faz uma listagem de jogos de outros tempos é com regularidade que vem à baila o nome do Vizela. Quem viu na Luz esse jogo em 1985 gosta sempre de o lembrar por ter sido contra um adversário raro. O Vizela marcou o arranque do campeonato 1984/85, o Benfica venceu por 1-2 na jornada 1. Depois, na 2ª volta, o Vizela foi à Luz e acabou por ser goleado por 5-1.
Ficou na memória colectiva as cores da equipa de Vizela. Camisola azul clara e calções brancos. Ainda hoje é a segunda parte de qualquer conversa que recorde esse jogo este equipamento. Isto porque na altura o jogo mais popular entre os miúdos era o Subbuteo. Comprar a equipa do Vizela era boa ideia porque essa equipa dava para fazer de Vizela, Amora, Alcobaça e até Belenenses ou Manchester City. Tudo equipas que andaram nas divisões maiores naquela altura.
Serve esta introdução para explicar o meu desapontamento por perceber que 30 anos depois o Vizela trocou aquele belo equipamento por uma réplica do FC Porto! Quem souber quando é que se deu esta triste mudança que me explique e argumente.
O jogo foi encarado com a determinação do costume, não há jogos fáceis, nem competições secundárias. No Benfica é sempre para ganhar e , por isso, foi com facilidade que o Benfica construiu uma goleada natural e tranquila. Tudo certo na abordagem ao jogo, tudo óptimo nos 6 pontos somados em 2 jogos da Taça CTT. É o que se pede.
Notas importantes deste primeiro jogo de 2017, Jonas a titular, a bisar e a mostrar que está pronto para ajudar nesta segunda metade de época. Zivkovic com 3 assistências, uma bela exibição e um pé esquerdo a pedir mais protagonismo na equipa principal. E ainda o regresso de Lisandro aos golos, sempre importante o central argentino.
De resto, ninguém se lesionou, a equipa aproveitou para manter o bom ritmo e o hábito de vencer.
Jonas e o pé esquerdo de Zivkovic mereciam mais do que 19 mil pessoas na Luz mas nem mesmo o preço muito reduzido dos bilhetes convenceu os benfiquistas a irem à bola. Ficaram a perder todos os que não testemunharam ao vivo aquele livre de Jonas.
É preciso ir a Guimarães carimbar a passagem para fase final da Taça da Liga, o trabalho em casa está feito. E bem feito.
Não era pedir muito mas era essencial para a boa disposição de passagem de ano. Depois do Natal, o último jogo do ano no Estádio da Luz merecia uma audiência digna e os adeptos corresponderam. Convenhamos que para um jogo às 21h15 da Taça da Liga, mais de 30 mil pessoas nas bancadas não foi nada mau.
Um ano tão fantástico como o de 2016 merecia uma última vitória do Benfica para o tornar ainda mais especial. E o Benfica cumpriu, estreia na Taça CTT com três pontos conquistados e uma vitória a fechar o ano.
Não foi uma exibição de sonho, não aconteceu um resultado inesquecível mas este 1-0 serve perfeitamente para fazer a ligação entre o Natal e o Ano Novo com toda a tranquilidade, sem euforias e seguindo o caminho do sucesso.
Houve a curiosidade de ver Celis e Jardel no onze inicial e sentir o regresso de André Horta e mais uns minutos de Jonas.
O golo de Cervi deu sentido a esta última partida de 2016, um ano que vamos recordar durante muito tempo.
Entramos no novo ano com todos os objectivos intactos.
(Fotogaleria de João Trindade)
Agora, vem aí a abertura de mercado, um calendário intenso e temos de estar preparados para um ritmo alucinante. As bancadas da Luz perceberam o momento e compensaram a equipa com um apoio emocionante no final do encontro, sinal que estamos todos mais juntos do que nunca e essa é a maior força do Benfica. Unidos, a olhar para dentro e a a dar todo o apoio à equipa porque não nos cansamos de ganhar e querer mais.
Quando me iniciei neste ritual que é ir ver o Benfica ao estádio houve um gesto no inicio dos anos 80 que me deixou perplexo. No final de um jogo na Luz, talvez a Taça Ibérica, não sei precisar, a geração mais velha de benfiquistas com quem fui ao estádio resolveu abandonar as bancadas antes da nossa equipa levantar a taça ganha. Ofereci resistência e disse que não fazia sentido ir embora sem ver o momento mais simbólico da noite. A explicação foi inacreditável. Já era tarde, no dia a seguir havia trabalho e escola pela manhã. Até aqui tudo bem. Mas o remate final foi: isto de ver o Benfica levantar taças é monótono, são tantas, estamos tão habituados que é só mais uma.
E lá fui eu andar numa direcção e com a cabeça virada para trás a espreitar o relvado.
Tenho para mim que foi esta habituação e o adquirir que íamos ser sempre um clube vencedor que nos levou ao abismo que passei traumaticamente já em idade adulta. Naquela fase entre 1996 e 2004, não houve uma época que não me lembrasse da noite em que saímos da Luz mais rapidamente porque já nem se festejavam conquistas.
Aquela Taça de Portugal ganha ao Porto do Mourinho no Jamor em 2004 marcou o regresso aos festejos. Lembro-me que até me caiu uma lágrima quando vi o Simão levantar bem alto o troféu. Estava ali decidido que nunca iria cair no erro das gerações mais velhas que a minha e saberia sempre apreciar o momento da glória festejando à altura.
Esta noite ganhámos a 7ª Taça da Liga. Festejei como se tivesse sido a primeira. Tornar o Benfica viciado em ganhar é o maior triunfo que todos devemos celebrar.
A confiança que se respira à volta da nossa equipa de futebol é qualquer coisa de espantoso. Para a última viagem da época, o ambiente foi constantemente de festa. Nada de receios de perder pontos, nada de preocupações com outros jogos, nenhum stress com um possível regresso em silêncio. A confiança que equipa técnica e jogadores passam publicamente estende-se aos adeptos e, por isso, todos nós passámos a sexta feira na estrada de sorriso aberto e com vontade de festejarmos todos juntos. Sempre pelo Benfica, sempre por nós, sempre com os nossos.
Não há nada melhor que fechar a época com um jogo a sério. Ainda a festejar o Tri mas a puxar pela equipa como se fosse o primeiro jogo da época em buscar de mais uma vitória. Viciados em ganhar, lá está.
Felizmente, o jogo que encerra a nossa temporada foi um daqueles à moda antiga, bem aberto muito atacante, com os jogadores soltos a soltarem qualidade e de olhos postos nas balizas. Mérito do Marítimo que encarou o jogo para o tentar vencer e não para tentar não sofrer golos. Assim se apagou a imagem de pesadelo do nosso último jogo ali onde a Académica deu um show de anti futebol.
Esta final da Taça CTT deu mesmo prazer de seguir.
O Marítimo entrou com tudo e só não chegou à vantagem porque Ederson foi o primeiro a levar isto muito a sério arrastando a equipa para uma enorme exibição. O nosso guarda redes segurou a equipa e o ataque correspondeu com a construção de uma goleada. Parecido com o jogo da Liga na Luz mas agora com a equipa do Marítimo a dar boa réplica.
A história do jogo acaba por ser a marcha do marcador. A diferença esteve sempre na eficácia e na qualidade dos intérpretes. Jonas abriu as hostilidades e o grego Mitroglou bisou até ao intervalo. Parecia resolvido mas João Diogo manteve o Marítimo no jogo de forma justa antes da troca de campo.
Muda aos três acaba aos seis, foi o que pareceu. Mais três golo na 2ª parte para o Benfica, agora a atacar para a bancada onde estavam os seus adeptos mais fieis.
O mais especial de todos aconteceu ao minuto 77, Jonas quis assistir Nico Gaitán que resolveu marcar com classe soberba o 1-4. No meio dos festejos somos invadidos com mensagens nos telemóveis a avisar que o mágico argentino saiu de campo emocionado e não estava a conter as lágrimas no banco. Se foi esta a sua despedida só posso agradecer a qualidade e o nível com que sai.
Ainda houve tempo para o Marítimo reduzir de penalti por Fransérgio, o tal que nem Francisco nem somente Sérgio, e bom jogador, diga-se.
Mas a época não podia terminar assim. Jardel veio até à nossa baliza fazer de cabeça o 2-5 e Raúl Jimenez mostrou que as tradições são para se respeitar e cumprir. O mexicano entrou e marcou o penalti que fechou o resultado final.
Na minha bancada ninguém sai. Há que festejar. Este ano o som da festa é o "Bailando" do Enrique Iglésias que, por cá, teve a ajuda de Mickael Carreira a massificar o sucesso. Uma canção que estava reservada para ser banda sonora dos festejos de uns adeptos que a usaram a meio da época mas que assistem agora à sua transformação no seu pior pesadelo. Mãos no ara a balançar cantando "Oh oh oh oh".
Imagens magnificas que vislumbrei no relvado com a dupla Jonas e Luisão em grande coreografia, Renato Sanches a queimar os últimos cartuxos e Gaitán realmente emocionado.
Somos uma família que continuará junta, uns partem, outros chegarão. Tudo o que pedíamos é que nos respeitem enquanto vestirem aquele manto sagrado.
Por falar nisso, e que tal a categoria deste equipamento branco à Benfica a brilhar tão alto na Europa, a ser tricampeão e ontem a garantir a 7ª Taça da Liga? Coisa mais linda! A quantidade de camisolas brancas nas bancadas não engana, a melhor escolha como equipamento alternativo das últimas décadas.
A festa continuou fora do estádio, a última viagem para Lisboa fez-se com ânimo, a última ultrapassagem da temporada ao autocarro do Benfica em plena A1 com acenos para os craques e uma chegada diferente ao nosso estádio. Ainda fomos a tempo de os receber à entrada da garagem juntamente com os que não estiveram em Coimbra.
A caminho de casa lembrei-me de como tudo isto começou, no Algarve em Agosto parado no parque do Estádio à espera de sair e com a cabeça feita em água a tentar perceber como é que ia chegar a este dia a celebrar. Obrigado a todos os que acreditavam mais do que eu e sempre mostraram confiança ao longo deste caminho.
Entre o final do jogo com o Nacional e a entrega da Taça CTT vivi em festa. Na 5ª feira à noite vi , mais uma vez, um dos meus heróis do rock no Parque da Bela Vista. Quando Bruce Sringsteen cantou "Glory Days" a tradução na minha cabeça era Sport Lisboa e Benfica. Um momento perfeito de sintonia entre música e futebol.
Vivemos mesmo dias de glória, saibamos aproveitá-los e que nunca as gerações mais novas se habituem a estas conquistas de forma displicente e a virar costas ao levantamento de taças. Sejamos viciados em ganhar sem nunca nos cansarmos, já vimos o que é o outro lado e não foi bonito.