Dia 17 de Outubro de 1998, perto da meia noite em Lisboa. Portugal vivia um período de esperança, em particular Lisboa estava em empolgada no pós Expo' 98. Mas o Benfica não sabia o que era festejar um campeonato desde 1994. Em 1998 ainda não havia blogues e estes desabafos ficavam nas mesas de cafés e nas ruas estreitas e labirinticas do Bairro Alto. Como nesta noite de 17 de Outubro de 1998, depois de mais uma ida ao Estádio da Luz. Um ritual nunca interrompido mesmo que na altura não fizesse o menor sentido ser um dos 25 mil adeptos que se dignavam a ir ver um Benfica - Alverca para o campeonato nacional. Um adepto com cativo e orgulhoso de não falhar nenhum jogo na Luz. Mesmo que na ficha desse jogos estivessem Paulo Santos, Abel Silva, José Soares, Marco Freitas, Ramires, Maniche e Mário Wilson no banco do... adversário!
Era o mundo ao contrário. O Benfica de Souness empatava 2-2 com o Alverca.
O hábito era ir para a Luz motivado por uma misteriosa esperança e sair de lá, invariavelmente, frustrado. Essa tristeza levava-me a longas noites de reflexão com amigos. Uma terapia sempre à procura de algo positivo que nos mantivesse ligados a qualquer coisa.
Em Outubro de 1998, depois desse 2-2 com o Alverca, alguém projectou o futuro numa conversa bem regada e dizia algo como isto:
Um dia vamos rir destas noites. Vamos recordar estes pesadelos quando liderarmos com frequência a primeira liga. Por exemplo, em 2019 vamos chegar ao fim do ano, olhar para os jogos que disputámos a contar para o campeonato e dizer: perdemos um jogo em Portimão no primeiro jogo do ano mas no último vamos dar 4 ao Famalicão e confirmar a liderança na passagem de ano. Entretanto, vamos recuperar 7 pontos de atraso entre Janeiro e Maio e vamos festejar o 37º de campeão. Depois, damos 5 aos lagartos na Supertaça e, apesar, de perdermos um clássico em casa, fechamos o ano a golear e com vantagem para o rival Porto. Depois de Portimão, todo e qualquer jogo fora da Luz que façamos em 2019 a contar para Liga vamos ganhar. Nem empatamos, só ganhamos. Em Guimarães, em Braga, em Alvalade, no Dragão, em Moreira de Cónegos, nos Açores, nos Arcos, onde quiserem. Só ganhamos. Teremos um jovem treinador que pega na equipa e só não vence duas vezes. De resto, ganha tudo com 109 golos marcados e 21 sofridos.
Mais: vamos ter um português a partir tudo, a marcar golos, a dar golos, a fazer jogar com o nome de Pizzi. E um marroquino a jogar um futebol mágico.
Alto!! Aqui mais ninguém estava a ouvir este amigo optimista. No 2-2 com o Alverca o nosso marroquino era o Tahar. Não dá para imaginar um jogador desta nacionalidade a ser uma referencia da equipa. Fiquemos pelo Hajry.
A conversa nunca existiu, foi só um exercício de imaginação porque ninguém teria a capacidade para imaginar em 1998 um ano como o de 2019. Quem diz 1998 diz entre 1995 e 2004. Ganhar, golear, jogar bem, ter jogadores de nível superior, era toda uma realidade cada vez mais distante num clube que até 1994 parecia destinado a ganhar todos os anos.
Por ter vivido intensamente essas épocas, dou muito valor a noites como a de hoje. Voltar a ver o Famalicão na Luz, com personalidade, bem treinado, descomplexado contra um Benfica em alta rotação e a jogar um futebol atraente, é algo natural para as gerações mais novas mas é um orgulho maior para quem passou pelos anos negros.
O Benfica cresceu em Leipzig e veio melhorar desde o jogo da Alemanha. Depois da goleada no Bessa, dos 3-0 ao Zenit, um 4-0 ao Famalicão em forma de grito de guerra a apontar a qualidade de Pizzi, Tomás Tavares ( a crescer tanto ), Adel, Chiquinho, Cervi e Vinicius, por exemplo.
O Benfica está a jogar bem, Bruno Lage assinou uma página histórica no clube em 2019 que vai ser lida com espanto e saudade daqui a anos.
Só peço que 2020 traga uma normal continuidade deste ciclo incrível.
Para o campeonato, 2019 morre aqui. Temos de esperar, quase, um mês para jogar nesta competição.
Se em 1998, alguém me dissesse que ainda ia viver um ano como este de 2019 a ver o Benfica, eu iria reagir com violência.
Ainda bem que vivi o suficiente para ver este ciclo e este jogo. Aproveitem este Benfica.
Vale a pena voltar aquela noite fria de meio de semana em Portimão no começo deste ano. Com a desilusão instalada, a viagem Algarve - Lisboa foi das mais duras de sempre. Se alguém dissesse naquela noite que a partir dali íamos ganhar todos os jogos fora da Luz para o campeonato até ao final do ano seria assassinado com justa causa.
Aliás, proponho ao prezado leitor que prestigia este blog com a sua visita, o seguinte desafio: alguma vez teve um ano civil em que o Benfica tenha ganho todos os jogos fora de casa para o campeonato?
Alguma vez se atreveu a pedir nuns daqueles desejos de passagem de ano "neste ano novo só quero que o Benfica vença todos os jogos para a Liga como visitante!"? As respostas mais prováveis são negativas.
E, no entanto, o ponto de partida foi Portimão. Tivemos que passar pelo Dragão, por Alvalade, por Guimarães, duas vezes por Braga e agora pelo Bessa, entre tantos outros destinos que aqui fui documentando ao logo de 2019.
Contar todos estes jogos por vitórias é estrondoso. Fechar o ciclo com uma goleada no Bessa contra o Boavista de Lito Vidigal e com uma arbitragem de Jorge Sousa é épico!
Grande jogo do Benfica na cidade do Porto. Vitória categórica do Benfica num estádio muito difícil contra uma equipa fortemente competitiva, com uma abordagem muito física e com reforço defensivo sempre à procura de desfazer e contrariar o adversário.
O Boavista jogou exactamente aquilo que se esperava mas encontrou um Benfica completamente focado na vitória e com absoluto conhecimento do adversário. Parecia que os jogadores do Benfica adivinhavam tudo o que o Boavista tinha preparado para esta batalha.
O facto de Pizzi ter marcado um golo muito, anulado com a ajuda do VAR, mostrou ao Boavista que não ia ser fácil quebrar o ritmo, perder tempo, cair no anti jogo e adormecer o Benfica levando-o para a zona de confronto tão conhecido pelos jogadores de Vidigal.
O golo de Vinicius com um passe soberbo de Pizzi veio confirmar a intenção do campeão. Só nos últimos minutos da 1ª parte com o golo do Boavista o jogo pareceu dividido. E depois no arranque da 2ª parte o Boavista tentou manter o balanço só que a equipa de Bruno Lage sabia que tinha feito mais do que suficiente para estar a ganhar o jogo nos primeiros 40 minutos, era só manter o ritmo, a atitude e a ambição até voltar à vantagem. E foi o que aconteceu. Cervi fez o 1-2, num lance em que os boavisteiros, e não só, ficaram a pedir uma falta que não existe, depois Vinicius decide o jogo com mais um belíssimo golo e Gabriel fecha as contas com um raro golo de cabeça.
1-4 no Bessa é um claro sinal da boa forma da equipa de Lage na Liga. Confirma a excelente exibição na Luz contra o Marítimo na jornada passada e faz pensar que o Benfica nos últimos anos tem vindo sempre de menos a mais no campeonato, portanto, a tendência é melhorar e jogar mais e melhor daqui para a frente.
Com o Benfica a preparar assim o jogo, a jogar desta maneira, a marcar com esta facilidade, com uma apoio magnifica naquele topo por trás da baliza para onde atacou a equipa na 2ª parte, com a atitude e a ambição com que contornou as dificuldades extra vindas de Jorge Sousa, o Benfica deu um claro sinal de força na defesa de um título que foi ganho de forma lendária na primeira parte deste ano.
Por falar em apoio, talvez o segredo para esta série incrível de vitórias longe da Luz esteja relacionado com o ambiente que a equipa encontra nestes jogos fora. É um contraste gigante com o ambiente que se vive por estes dias nos jogos em casa. Não é uma critica, é constatar um facto. Que sirva para reflexão.
Um 2019 só com vitórias fora de casa depois de Portimão é outro tipo de monotonia que preciso na minha vida. E esta eu nunca tinha vivido. Que se mantenha assim em 2020.
O Benfica é uma óptima ideia que veio ao mundo há mais de cem anos. Um conceito abstracto que é abraçado por milhões de simpatizantes e que na teoria tem tudo para ser a melhor ideia de sempre. Algo que influencia a vida das pessoas, algo que passa a guiar e a influenciar quase tudo na vida daqueles que desde sempre abraçam esse ideal de ser benfiquista. O futebol do Benfica é algo de tão esmagador que passa de geração em geração, gera amor e ódio e transforma a exigência em demência.
É tão abrangente que se tornou o objecto mais mediático do país para o bem e para o mal. É algo de tão forte que divide o universo benfiquista em vários sub géneros. Alguns transversais a todos os universos de adeptos de todos os clubes, os mais optimistas, os que só querem falar do que está bem, e o mais pessimistas, os que acham que está tudo mal e se desgastam à espera das desgraças para poderem crescer para os optimistas com o clássico "eu não disse?". Há de tudo um pouco no magnifico universo benfiquista, como em tudo na vida.
Mas a grande tendência destes novos tempos, os tempos das opiniões sábias das redes sociais, das condenações públicas jogo a jogo a treinadores, dirigentes e jogadores, das exigências e intolerâncias, a grande tendência, dizia eu, é a de ver tudo pela negativa. Não é dramático porque é um estado de espírito que obriga o clube a andar sempre no limite, que não dá tempo nem espaço a zonas de conforto nem a adormecimentos.
Ganhar por 1-0 é uma vergonha, por 2-1 é porque se sofre um golo, por 3-1 e com exibição pouco entusiasmante é uma vergonha, por 5-0 é porque o adversário era fraco, por 10-0 é falta de respeito e por aí fora. Todos nós já ouvimos isto, todos nós já teremos dito algo assim.
Como disse, é bom porque obriga sempre a mais e melhor.
Mas também é imensamente triste. Também é perigosamente injusto. Acima de tudo, é estupidamente redutor e tira-nos algo que vai passando de geração em geração que é a, muito lusa, conclusão de que antigamente é que era bom.
Um fado que transforma o passado em ouro e o presente em insuficiente. Algo que faz com que nem haja espaço para umas horas de folga, respirar fundo e concluir: porra, estou a ver o Rúben Dias a crescer em campo jogo a jogo. Que orgulho!
Caramba, o Taarabt é mesmo um craque de mão cheio e o nosso clube está a proporcionar-lhe encher o relvado da Luz de classe. O marroquino hoje foi "só" o melhor em campo. Ninguém vai usufruir disto porque virá sempre o passado do marroquino à baila.
Por falar em relvado, no Benfica uma simples troca de relvado é assunto de Estado! Parece resolvido. E isso é bom? Claro que não, somos o Benfica e nunca devia ter acontecido. Mesmo que se desconheça que o lendário Benfica dos anos 60, 70 e 80 raramente apresentava um relvado melhor que este.
Por falar em Benfica de outras décadas. Em 1993 o Benfica recebia o Marítimo a 3 jornadas do final do campeonato. O Benfica tinha jogadores como Futre, João Pinto, Paneira, Veloso, Mozer, Schwarz, Paulo Sousa, Kulkov, Yuran, Rui Águas, Rui Costa e Isaías, só para dizer alguns nomes. A maioria dos nomes vem à conversa sempre que se quer denegrir a equipa actual, ou o trabalho recente. "Ah, isto nos tempos do Rui Costa, Mozer, João Pinto, Paneira, Futre..."
Eu fui ver esse jogo com o Marítimo na Luz. Chovia muito. Apareceram no Estádio antigo, que à hora em que escrevo faz anos que foi inaugurado, pouco mais de 10 mil pessoas. O Benfica não ganhava sempre, os adeptos do Benfica não enchiam sempre a Luz, os jogadores do Benfica não jogavam sempre bem. Isto, apesar, de se dizer hoje que antigamente é que era à Benfica.
Os números que Bruno Lage apresenta em 2019 para o campeonato nacional são estrondosos, a facilidade com que o Benfica goleia faz com que Lage já tenha mais de 100 golos marcados em cerca de 30 jogos para a Liga. O Benfica é líder e campeão em título. Podia viver em clima de festa, confiança e superioridade. Felizmente, não vive. O dia a dia à volta do clube é de uma eterna crise.
Ninguém quer ir para casa rever a exibição do Taarabt. Ninguém quer admitir que se precipitou ao condenar a contratação do Vinicius, ninguém quer dizer que o Pizzi é um dos melhores jogadores da história do Benfica, ninguém quer parar para apreciar a qualidade do Rúben Dias e a evolução do Ferro porque a ânsia de os ver errar é maior que o prazer de os ver triunfar.
Tudo o que foi feito de bom esta noite nunca será valorizado se num futuro próximo o Benfica perder pontos da Liga, como se as coisas estivessem ligadas. Ou seja, como se um bom trabalho de uma noite ficasse à espera de validação eterna.
Esta urgência há muito que extravasou para fora do jogo. Veja-se a maneira como se trata a questão das claques em Portugal. Um problema como se fosse uma podridão, como se não houvesse gente boa e de bem no meio de cada claque. É legalizar e pronto. É obrigar esse pessoal a usar um cartão para ter direitos nos estádios e está resolvido. Como se esses movimentos não tivessem uma história, não fossem movidos a paixão e dedicação, como se, como dizia o Gullit, o facto de meia dúzia de estúpidos estragar o que a maioria faz de bom desse o direito de transformar o todo num lixo.
Muitos viram uma faixa aberta no Topo Sul do Estádio da Luz dedicada à Petra. Muitos perguntam quem é a Petra. Ninguém faz a menor ideia do que é ver e sentir uma amiga, uma companheira, uma associada exemplar na sua dedicação ao clube e ao Topo a sofrer por causa de uma doença injusta, traiçoeira e desesperante.
Não interessa quem é a Petra, quem a conhece entende o tamanho e o significado de uma faixa a exigir Força com o reconfortante recado de Estamos Juntos. Isto é que devia fazer reflectir os imbecis e hipócritas que querem impor leis às três pancadas a grupos de associados que se manifestam da forma mais humana e solidária que a vida pode mostrar.
Viver com saúde é um privilégio que não devia ser descurado. Devia ser aproveitado para elogiar a classe do Adel, a finalização do Vinicius, a qualidade do Pizzi, a determinação do Rúben, o incrível trabalho do Bruno Lage que desde que tomou conta da equipa só não venceu dois jogos no campeonato. A vida é demasiado curta para ser vivida em negatividade disfarçada de moralidade e exigência.
Hoje ganhámos, aproveite-se o momento. Amanhã logo se vê. Um dia vamos todos pedir streamings daqueles tempos em que o Benfica só sabia ganhar na liga portuguesa, umas vezes a jogar bem, outras nem por isso, com resultados curtos e com goleadas, com remontadas e com nota artística. Mas nada que nunca leve ninguém no momento a dizer algo como isto: É tão bom estar na Luz a ver este Benfica.
Uma frase que nos devia fazer reflectir, um autentico objectivo de vida, ter oportunidade familiar, financeira, social, e, acima de tudo, com saúde que nos permita estar ali ao lado da equipa do Benfica naqueles 90 minutos.
O Benfica é maior que a vida mas só pode ser vivido enquanto estivermos a passar por cá. Todo o tempo que perdemos a antever o pior, é energia gasta.
Há jogos que se tornam complicados de ver e comentar. Este foi um deles. Demasiada expectativa pessoal para esta viagem aos Açores acabou em frustração antes do jogo que aumentou depois de vista a primeira parte.
Uma rápida contextualização pré jogo para explicar que já tinha a logística toda tratada desde Julho, viagens marcadas, bilhete garantido, alojamento pago, tudo devidamente programado. Motivos de força maior a nível profissional fizeram abortar a missão São Miguel. Seria o regresso à Ilha depois de uns dias de férias bem passados no verão. A vida é mesmo assim.
O pior de todo o cenário foi ter de ver pela primeira vez na televisão um jogo do Benfica em competição interna. É uma sensação horrível ficar entregue à realização e aos comentários alheios.
O Benfica tinha o desafio de pegar no campeonato no ponto em que o tinha deixado, ou seja, depois de uma boa exibição com o Rio Ave na Luz há uma semana. Faltava saber se a derrota europeia ia atrapalhar o bom momento interno.
A resposta foi assustadora. O Benfica deve ter feito a pior primeira parte de um jogo na Liga com Bruno Lage. Não querendo ser injusto, nem personalizar o quadro, é impossível esquecer a prestação de Gabriel no primeiro tempo. Que festival de asneiras! Além da péssima exibição, o Benfica ainda encaixou um golo que colocava o Santa Clara na frente ao intervalo.
Estava eu a passar os piores 15 minutos de que me lembro nos últimos tempos a meio de um jogo do Benfica, quando Bruno Lage resolvia calmamente o problema no balneário levando o desafio para o campo mental e motivacional. Pediu uma vitória aos seus jogadores para celebrar o facto de saber que vai ser novamente pai. Muitos parabéns, Mister. Que criança mais abençoada que aí vem. Foi uma saída original e certeira porque, parece-me, que isto hoje não ia lá com palestras tácticas nem correcções posicionais. Às vezes a vida pode ser muito simples, portanto um jogo de futebol também. Chegar a um balneário desinspirado e dizer algo como: "Pá, que raio de jogo é este? Logo agora que vou se pai pela segunda vez e vocês estão a complicar isto? Vamos lá, pessoal, ofereçam-me a 14ª vitória seguida fora da Luz!" (isto sou eu a imaginar a palestra)
E pronto, só tinham de fazer o mesmo que fizeram em Moreira de Cónegos, virar o jogo na 2ª parte só que mais cedo e sem levar ninguém ao limite dos nervos, coisa que eu agradeço. Pizzi lá terá pensado que tinha de assistir e marcar pela 5ª vez esta época e os jogadores entraram decididos a somar a 8ª vitória seguida na Liga.
Entrou Vinicius para o lado de Seferovic, saiu Florentino e Chiquinho recuou para perto de Gabriel. Mais tarde entrou Taarabt para o lugar de Cervi. Foram estas as mudanças práticas na equipa.
Aos 54' Vinicius empatava o jogo a passe de Pizzi e aos 78' Pizzi revirava o resultado assistido por Seferovic. Depois daquela primeira parte parecia um milagre. Festejos merecidos dos muitos milhares de benfiquistas nas bancadas.
Como o Benfica venceu vou guardar um espaço carinhoso para a equipa de arbitragem. É que, na verdade, o maior milagre foi ter havido forças para a remontada num jogo apitado por Artur Soares Dias e um VAR ao mesmo nível.
Tão impressionante como o número de passes falhados por Gabriel na primeira parte, foi a decisão de Soares e do VAR a ignorarem o penalti sobre Cervi. Tão evidente que até na Sport TV os comentadores confirmaram! Por falar em Sport TV, impressionante como depois de um penalti destes o directo de São Miguel acabe com a rápida que explicação de que hoje não ia haver Juízo Final devido a problemas técnicos. Sensacional!
A 10ª vitória do Benfica em 11 jornadas da Liga NOS 2019/20 foi sofrida e em enorme esforço. Quando o filho de Bruno Lage nascer cá estaremos para lhe agradecer.
O Santa Clara tem que continuar na primeira divisão, aquela Ilha e a sua gente merece!
A alma do Benfica está nas bancadas do norte. Não me interpretem mal. Gosto muito do Estádio da Luz, tenho lugar cativo há décadas e é a minha casa. Mas, neste momento, para sentir aquela dedicação e motivação extra das bancadas é preciso assistir a um jogo do Benfica no norte do país. Foi assim em Braga e voltou a ser em Moreira de Cónegos.
Não é uma deslocação fácil, pela logística, pela distância (do ponto de vista de um lisboeta), pela ausência familiar em metade do fim de semana, pelo cansaço que é ir e vir no mesmo dia, pela chuva e nevoeiro que nos acompanhou durante mais de 700 km, pelo desgaste, pelos acessos ao Estádio, pela espera na entrada, até pelos preços dos bilhetes que não condizem com a qualidade dos lugares. Mas tudo é compensado pela jornada de convívio entre benfiquistas, pelo encontro com outros grupos de benfiquistas. Pelas histórias trocadas, pelas opiniões divergentes e, acima de tudo, pela vontade de estar ao pé da equipa e ajudá-la a ganhar três pontos.
O ponto alto é o repasto. Aconteceu já perto do Estádio na Tasca du Nuno 7Olhinhos, pelo menos é assim que está no trip advisor. Uma casa muito conhecida naquela zona e que em nada desiludiu. As referências eram óptimas e confirmou-se como escolha acertada. A começar no facto de terem aberto a casa mais cedo de propósito para um jantar antes do jogo e pela oferta gastronómica irrepreensível. Entradas como queijo, paio, alheira à braz, moelas e panados. Depois, arroz de camarão com filetes, e secretos de porco preto. Tudo óptimo!
Já estava ganha a viagem.
Faltava o jogo. Felizmente, a chuva deu tréguas e conseguimos estar na bancada ainda em modo de verão, manga curta e calções ainda foi indumentária aceitável. O relvado aguentou-se muito bem e estava bem melhor que o do Jamor, por exemplo.
Tudo em condições para o Benfica repetir a boa exibição da última temporada no Estádio Comendador Joaquim de Almeida Freitas.
Só que o momento não é o mesmo. Bruno Lage voltou ao desenho normal de campeonato, o 442 com RDT e Seferovic na frente, Rafa e Pizzi nas alas, Taarabt e Fejsa no meio. Também André Almeida regressou ao seu posto. O começo de jogo mostrou um Benfica com demasiada circulação de bola, pouca velocidade e a jogar muito longe da baliza de Pasinato, onde se encontravam os adeptos do Benfica.
Demorou bastante até vermos o ataque do Benfica a funcionar com perigo, Pizzi não acertou na baliza e desperdiçou a primeira boa jogada já a meio da primeira parte. Aliás, Pizzi é o espelho deste menor fulgor da equipa. Sobra Rafa para pautar os tempos de arranque dos ataques da equipa. Ele e Taarabt são os que mais procuram a bola e tentam com a sua qualidade individual dar um rasgo de génio que acabe com a previsibilidade da equipa.
Isto perante o mérito de um Moreirense muito bem organizado por Vítor Campelos que posicionou o seu 433 de forma superior tirando espaços no jogo entrelinhas do Benfica e deixando sempre Bilel, Nené e Luther como principais ameaças quando tinha bola. Sobreviveram à melhor fase do Benfica na primeira parte e conseguiram chegar vivos ao intervalo.
Regressaram ambiciosos no 2ª tempo e com três minutos jogados fizeram o 1-0 por Luther com todo o mérito numa bonita jogada onde ficaram expostas deficiências da organização defensiva encarnada.
A partir dali cabia ao Benfica mostrar outra face, mais ambição, mais velocidade, mais objectividade e dar tudo para revirar um resultado que era muito negativo.
Até ao minuto 85, o Moreirense pareceu sempre confortável no jogo, a defender de frente para a bola a maior parte das vezes e mesmo apertado parecia ter o resultado controlado.
Bruno Lage tentou de tudo, trocar os alas de posição, fez regressar Gedson, uma excelente notícia, fez entrar Caio Lucas para o lugar do "desaparecido" Pizzi e apostou tudo em Jota no lugar de André Almeida.
Rafa, tinha de ser ele, fez o empate a 5 minutos dos 90 de cabeça com uma naturalidade que nem parecia que estávamos ali há 85 minutos a sofrer. Esse momento de aparente normalidade que foi o empate fez com que as bancadas no Minho explodissem num apoio incondicional à equipa. Começou fora do relvado a reviravolta. Como que a empurrar a equipa desde a o sector por trás de Vlachodimos até ao outro lado do campo.
E quando Ruben Dias mete a bola por alto para o lado esquerdo onde Jota recebe e prepara o cruzamento, foi como se o tempo tivesse parado. Foi como se o mundo fizesse ali uma pausa. Todos os olhos nos pés de jota onde estava a bola, as gargantas roucas a puxarem pelo Benfica, a distância ficou mais curta, por segundos parecia que a bancada estava tão crente e tão forte que podia estar na linha de meio campo a assistir ao cruzamento. E quando a bola sai por cima numa trajectória perfeita para a cabeça de Seferovic foi só suster a respiração, arregalar os olhos e contemplar a viagem final da bola até ao fundo da baliza do Moreirense.
Naquele momento, desculpem-me mas não há nada tão bonito, emocionante, justo e arrebatador como um festejo em plena bancada em estado puro de alegria.
Tudo dentro da normalidade, o Var analisou, o tempo de descontos ainda não tinha acabado, o árbitro até era o insuspeito Soares Dias e o Benfica ganhou assim. Da forma mais dramática, da maneira mais dura mas venceu sem deixar margem para discussões.
Numa maratona como é a Liga NOS, ganhar jogos em que a equipa não esteve bem é essencial para manter a chama. Na época passada vimos isso com o Tondela na Luz e com Seferovic a resolver.
Precisamos de voltar a jogar mais e melhor mas esta vontade, determinação e procura pelo golo final nunca pode ser diminuída nem ignorada porque isto também é futebol.
Como já sabem eu sou simpatizante do 3-0 aos 20 minutos e de uma aborrecida monotonia sem emoção com o Benfica a ganhar. Mas quando se ganha desta maneira voltamos sempre a festejar como uns putos que foram à bola pela primeira vez na vida. Uma adrenalina que torna a viagem de regresso mais simpática. Uma dose de felicidade que faz com que venha aqui desabafar a caminho das 5 da manhã antes de ir descansar de mais uma épica odisseia atrás da equipa que escolhi para me fazer regressar à infância todos os fins de semana.
Que esta vitória seja recordada em Maio com a mesma satisfação que recordei aquela com o Tondela na Luz.
São 3h56 da manhã de dia 2 de Setembro. Fui ver um jogo da jornada 4 da Liga NOS no domingo, o Braga - Benfica, e consegui chegar a casa antes das 4h da manhã. O meu muito obrigado para quem tutela o futebol em Portugal.
Quis o "sorteio" que o Benfica voltasse à Pedreira quatro meses depois daquela vitória por 1-4 com um estádio cheio num grande fim de tarde de futebol. Desta vez, o estádio esteve longe de encher e o jogo começou depois das 21h de um domingo. Há que esclarecer que o sector visitante não teve uma ocupação só de 1/3. Isso é uma análise errada. O Braga é que fez questão de só ceder bilhetes para 1/3 daquela bancada. Esse espaço esteve cheio de benfiquistas. O resto que esteve vazio foi por opção do clube da casa.
Depois, importa dizer que para aquela "caixa de segurança" foram vendidos bilhetes de 31€ e 93€.
Pergunta o leitor: e qual era a diferença nos acessos e nos lugares?
Eu respondo: absolutamente nenhuma.
Ou seja, para o Braga e para a Liga Portugal, um bilhete de 93€ dá acesso a um lugar com a mesma visibilidade e com a mesma entrada de um bilhete de 31€.
E em Abril como foi? Foi bancada esgotada de uma ponta a outra e sem bilhetes a 93€.
Eu esperava que os adeptos portadores de bilhetes de 93€ fossem levados ao colo por aquela interminável escadaria, tivessem uma água fresca à sua espera lá em cima e que no fim fossem transportados para o Aeroporto para regressarem a Lisboa de avião.
Os preços aumentaram para lá dos limites do razoável, mas dentro dos limites da Liga Portugal, e as condições para os adeptos continuam as mesmas. Uma só escadaria de acesso para entrar e para sair. Saída que acontece para lá das 23h30 e que fora do estádio não tem iluminação até à estrada.
Realmente, é preciso gostar muito do Benfica para nos sujeitarmos a tudo isto.
O plano da viagem foi feito entre amigos. Saída da Luz pelas 16h, paragem em Condeixa para uma boa sandes de leitão, umas imperiais e um pastel de Tentúgal e seguir caminho para a Pedreira.
A expectativa para saber o 11 do Benfica era grande. Confirmou-se o regresso de André Almeida e a aposta em Taarabt.
Mais do que acertar na equipa, a exibição do Benfica trouxe de volta aquele conforto, aquele entusiasmo e aquela tranquilidade de ver um futebol atraente. Perceber que esta é a normalidade da Era Lage. Sentir que a jogar assim estamos sempre mais perto de ganhar.
Adel entrou de forma perfeita na posição "8", Florentino fez uma exibição magnifica, Raul de Tomas sempre que esteve em jogo fez quase tudo bem, Rafa foi sempre uma ameaça com a sua velocidade, Pizzi voltou a bisar quatro meses depois naquele relvado. Só Seferovic é que teve uma noite desinspirada mas mesmo assim trabalhou o suficiente para ficar ligado a um dos golos, neste caso, auto golos.
Odysseas quando teve de aparecer esteve bem, e a defesa do Benfica só por uma vez foi ultrapassada, uma grande recepção de Ricardo Horta com um remate que o poste caprichosamente devolveu. Podia ter sido o 1-1 antes do intervalo.
Para evitar mais sustos, o Benfica entrou ainda mais forte na 2ª parte e rapidamente ampliou a vantagem. De forma normal e natural.
Cedo se resolveu um problema que não se adivinhava de fácil resolução.
O apoio na bancada visitante foi brutal. Quando começam a jogar sujo com os adeptos do Benfica, a inventar obstáculos, a quererem evitar a presença de muitos, é quando os benfiquistas se juntam para apoiar mais forte. Se pensavam que depois de uma derrota, a Pedreira ia conseguir afastar o povo da equipa, enganaram-se. E vão estar sempre enganados quando esfregaram as mãos a pensar que estão todos a ser muito espertos prejudicando os benfiquistas com preços vergonhosos.
Os adeptos do Braga que trataram os benfiquistas que se manifestaram no primeiro golo na bancada inferior de forma cobarde e violenta, são os mesmo que se riram com as condições impostas a quem quis ir para o sector visitante do seu estádio. Não se esqueçam que ainda vão ter de ir à Luz.
Uma resposta do Benfica de Lage à Benfica de Lage. Sem dramas, sem lamúrias, com trabalho, com motivação, e construindo mais uma goleada, mostrando que o normal deste Benfica é isto. Jogar e ganhar bem.
Os que encheram o peito há uma semana com uma efémera liderança e os que acharam que uma derrota ia derrubar o campeão, devem ter percebido algo que já é certo e sabido há muito tempo: vão ter que levar connosco. Quer gostem ou não, quer queiram ou não. Com preços luxuosos ou com regressos a casa de madrugada já em dia útil de trabalho. A força do Benfica não se anula assim.
Uma nota final, mesmo na bancada superior, bem longe da zona de acção do primeiro tempo, consegui ver nitidamente João Novais a cortar com a mão uma bola que podia levar perigo à baliza do Braga. Não precisem de Juízos Finais. Mas o árbitro conseguiu não ver. Aposto que se estivesse numa zona de 93€ tinha visto. Afinal, os lugares até eram baratos com tão boa visibilidade.
Não tentem brincar com o Benfica, respeitem o Campeão.
Um jogo e tudo muda no universo dos dois candidatos ao título. Uma vitória justa do Porto no Estádio da Luz e a vantagem pontual no campeonato ficou anulada.
A verdade é que a história deste derby ficou influenciada pelo momento em que as duas equipas chegaram à jornada 3.
O Benfica não teve influência nenhuma no falhanço europeu do Porto nem na inesperada derrota em Barcelos para o campeonato. Bruno Lage limitou-se a preparar a entrada na temporada de forma tranquila desenhando um onze em 4-4-2 que teve na ausência de André Almeida a maior dor de cabeça e na lesão de Gabriel o maior contra tempo. A saída de João Félix já estava assimilada e nem conta para esta equação.
Se o Benfica vinha com um registo de vitórias seguidas, não era expectável que fosse o seu treinador a inovar algo para este clássico, nem tacticamente nem individualmente. Adivinhava-se o mesmo onze dos últimos jogos. E é aqui que o Benfica começa a perder, por estranho que pareça.
É que do outro lado, subitamente este jogo passou a ser tudo ou nada para Sérgio Conceição que percebeu a importância histórica de motivar a equipa no confronto directo com o grande inimigo. A isso acrescentou uma ousada ambição e deu todos os sinais de querer entrar na Luz para vencer e dar a volta à má entrada na época. Em relação à equipa que lançou contra o Vitória FC, manteve ambiciosamente Corona no lado direito da defesa e Romário Baró na sua frente. Ou seja, repetiu a equipa que tinha goleado na jornada anterior.
A isto, o Porto juntou uma atitude ousada baseada numa pressão alta muito forte e com os jogadores a mostrarem uma motivação enorme.
O facto do Benfica chegar bem em termos de resultado ao clássico tornou a abordagem ao jogo previsível e o Porto apostou tudo na tentativa bem sucedida de anular todos os pontos fortes do jogo do Benfica.
Cedo se percebeu que perante aquele 4-3-3 de Conceição levantava muitos problemas ao futebol do Benfica. Ou a equipa de Lage se enchia de paciência e saía a jogar no limite com calma, atraindo a marcação agressiva do Porto para a contornar com troca de bola apoiada para depois criar situações de superioridade mais à frente do terreno ou então era preciso afinar posicionalmente a equipa chamando a jogo um médio de ligação e abdicando de um dos dois avançados. Penso que não sobravam mais alternativas depois de ver como o jogo estava ao fim de algum tempo.
O Benfica precipitou a saída de bola sem paciência optando por bater na frente facilitando a vida a Marcano e, especialmente, Pepe que esteve como quis a noite toda. Depois o jogo interior do Benfica não entrava e tanto Rafa como Pizzi acabaram por ter de correr atrás das tais bolas batidas em largura. Vimos Rafa a lutar pela posse bola no ar com os centrais do Porto. Dificilmente podia resultar.
Com estes sinais todos evidentes, sobrava ao Benfica a esperança da inspiração individual ou associativa dos dois do costume. Infelizmente, a inspiração individual global esteve tão apagada como a colectiva. E quando assim é, a tendência é para o jogo partir e ficar resolvido para o outro lado. Marega não marcou na primeira oportunidade clara mas fez o 0-2 na segunda.
Até neste pormenor o Benfica falhou. Depois daquele falhanço de Marega, o Benfica devia ter ido para cima e puxar pelo ditado popular "Quem Não Marca Sofre". Mas não era noite para isso.
A troca de Samaris por Taarabt trouxe mais personalidade na construção mas não resolveu o problema da superioridade numérica e posicional do Porto.
O Porto apostou em surpreender, arriscou, foi ambicioso e conseguiu transformar a tranquilidade do Benfica em previsibilidade fácil de anular.
Agora, é fácil olhar para trás e pensar que o Benfica podia ter feito outras opções mas não fazia sentido à luz dos resultados obtidos até aqui. Por isso é muito mais fácil escrever agora que devia ter sido diferente.
A maior desconfiança que tinha antes do jogo era, precisamente, o momento do Porto. É que sinto que não há maneira de darmos um golpe profundo quando eles estão magoados. Isto nem tem nada a ver com o jogo de hoje, é algo tradicional e histórico nas últimas décadas. O Porto precisa do Benfica para se recompor e, geralmente, consegue. É uma motivação extra enfrentar o inimigo, nem a saída da Champions, nem a derrota em Barcelos, pesam na hora de mostrar unhas e dentes ao rival. Sempre foi assim, sempre assim será.
A tranquilidade e a zona de conforto em que os jogadores do Benfica vivem desde a conquista do campeonato, mais a supertaça e a entrada triunfante nesta Liga, acabou por ser uma sensação traiçoeira quando confrontada com a fúria e a determinação de prova de vida do rival.
Agora sai o Porto deste confronto directo em vantagem e com um onze desenhado e cabe a Bruno Lage analisar e meditar sobre o que não correu bem neste clássico que ditou a primeira derrota do técnico no campeonato. Claro que não se espera uma revolução mas há conclusões a tirar desta noite. Nomeadamente, as que abordei na crónica.
Nada estaria ganho em caso de triunfo, como nada está perdido com esta derrota. Nos últimos seis anos o Benfica venceu cinco campeonatos e nenhum foi fácil nem folgado. Este não ia ser diferente. A luta continua. Como sempre.
Antes de irmos ao jogo tenho de começar por falar naquilo que o rodeia.
Este foi o segundo jogo fora da Luz da época. O primeiro foi organizado pela FPF, este foi responsabilidade da Liga Portugal. Sobre as condições miseráveis do Estádio do Algarve está tudo escrito na crónica da Supertaça. Esta partida era do campeonato da Liga e as razões de queixa dos adeptos são na mesma escala.
Reparem, quem é que se preocupou em promover este jogo, em chamar gente ao Jamor em preocupar-se com iniciativas que passaram por publicar vídeos com jogadores a convidarem os adeptos a ir ao estádio?
O Belenenses SAD, vamos chamar-lhe assim, nunca iria fazer tal coisa, mesmo porque não tem adeptos para convidar.
Terá sido a Liga Portugal?
Não. Foi o Benfica. O Benfica desafiou os seus adeptos a invadirem o Jamor. Mesmo na condição de visitante, foi o Benfica o responsável pela melhor assistência que o Belenenses SAD terá para apresentar no final da época, arrisco eu. Não sei quantos milhares de benfiquistas foram ao Jamor porque não encontrei até agora o número oficial mas, claramente, foram muito mais do que na época passada.
E porque é que a Liga não se mete nisso de chamar gente ao Estádio. Uma rápida reflexão dá-nos uma possível resposta. Aquilo funciona bem como está na maior parte dos jogos da competição ali disputados. Sem transito, sem problemas de acessos, sem pessoas a desesperarem para entrar no Estádio. Sem adeptos, tudo corre melhor. Os adeptos atrapalham muito e depois são chatos com reparos.
Meia dúzia de torniquetes em cada lado da Praça da Maratona mais uma revista policial lenta leva a uma espera desesperante. Aliás, o jogo começa e continuam adeptos a entrar em número impressionante.
Casas de banho no Estádio é tarefa quase impossível, bares nem vê-los e, finalmente, as cadeiras imundas à nossa espera. Parece ser um toque de classe do nosso futebol, não é? Venham ao futebol, pá! Ah, e tragam um kit de limpeza de cadeiras de plástico. Que vergonha, que nojo. A FPF e a Liga deviam pensar numa parceria com a 5àSec para umas limpezas de calças e calções de borla.
O cenário à volta do jogo é todo tão mauzinho que nem a cobertura de rede de dados para telemóveis é decente. Em compensação, tivemos a constante visita de vespas que fazem um curioso ninho naquela bancada.
E no final quem optar por sair por cima do Topo vai dar a um caminho de corta mato com obstáculos numa descida radical às escuras.
Enfim, é preciso gostar muito do Benfica para passar sábados numa realidade de terceiro mundo.
Compreendo perfeitamente quem já não tenha paciência para meter os pés nos estádios com estas condições. Já tenho mais dificuldade em perceber a mentalidade de todos aqueles, e são muitos, que se dão ao trabalho de ir ver o jogo mas depois viram as costas à equipa completamente imunes à incerteza no resultado. Parece que há um despertador invisível na bancada que toca sem parar a partir do minuto 70 e empurra os adeptos do estádio para fora criando um cenário surreal para quem fica sofrer com a reacção do Belenenses SAD à vantagem do Benfica. Ou seja, está 0-1 e há centenas (milhares?) de benfiquistas que não estão preocupados com desfecho final do jogo e vão à sua vida. Ou então, todos eles são movidos a uma confiança tão alta que têm a certeza que o Benfica ganha os três pontos e a prioridade deles passa a ser chegar à A5 antes dos outros. Não entendo.
Finalmente, o jogo.
Começou por Silas. O treinador que descobriu como trabalhar um sistema que parte de uma linha de 5 defesas para condicionar por completo o jogo ofensivo do Benfica. Funcionou nos últimos três jogos, hoje voltou a apostar neste conceito. Silas colocou muitas dificuldades ao Benfica, principalmente no jogo interior e ainda viu Odysseas negar um golo que ia repetindo o cenário do jogo da época passada. Desta vez o internacional grego foi determinante para manter tudo igual.
Apesar de gostar muito do trabalho do Silas, não consigo compreender como é que o treinador passou o jogo a ir até perto do relvado dar instruções à sua equipa. O Rúben Amorim não foi castigado por estar numa condição académica parecida?
No Benfica voltou a ficar aquela sensação que a equipa mesmo sem conseguir fazer uma exibição empolgante, cria três ou quarto oportunidades em cada parte. Geralmente, com a qualidade individual que tem, é futebol suficiente para chegar à vitória. Neste caso, a tradução à letra de qualidade individual escreve-se assim: Rafa.
Jogo soberbo do avançado do Benfica, foi ele quem desequilibrou a organização azul e inventou o primeiro golo que desbloqueou a equipa para uma vitória muito saborosa.
A juntar a tudo isto havia a componente psicológica, ou como diz o Valdano, o medo cénico de encarar uma equipa treinada por um homem que não sabia o que era perder para o Benfica no Restelo, no Jamor e na Luz.
Olhando mais a fundo para a equipa do Benfica, há algumas dúvidas que persistem do meio campo para a frente quando o jogo está demasiado previsível. Hoje houve Pizzi a menos e Rafa a mais, RDT parece menos confortável atrás de Seferovic que não mostrou eficácia na hora da verdade.
Só que depois, nas contas finais, vemos que Seferovic só não marcou por causa do VAR e Pizzi acabou a noite a festejar o 0-2, mais um jogo a marcar!
Por falar em VAR, além de todas as questões que já lancei extra jogo, vamos juntar mais esta. Há uma semana, a Liga inglesa estreou o VAR e uma das preocupações principais dos ingleses é informar os adeptos nos estádios sobre o que é que o VAR está a intervir.
Que me lembre, em Portugal já estamos a levar com o VAR, nós benfiquistas, desde a final da Taça de 2017 contra o Vitória SC. Em plena época 2019/2020 continuamos entregues aos mistérios do VAR sem termos a menor ideia do que se está a passar. Saí do Jamor sem entender porque é que o golo foi anulado. Nada vai ser feito para informar quem está no estádio, pois não? Claro que não, esta malta que vê jogos ao vivo só atrapalha. O melhor é recorrer à internet do smarphone. Ah, espera... a cobertura de rede é horrível. Quando conseguimos aceder a uma rede social qualquer é para ficarmos a saber que o mesmo VAR ignorou este lance do Rafa que estas pessoas insuspeitas analisam assim:
Estamos esclarecidos.
Por falar nisto, quem era o árbitro e quem estava no VAR?
Pois.
É que há as regras escritas, as normas e as leis que devem ser seguidas. E depois, como em tudo na vida, há a invisível lei do bom senso que pede que não se criem dilemas desnecessários. Qual é o objectivo de quem manda em chamar Veríssimo e Xistra para apitar um jogo com um historial tão complicado para o Benfica depois daquele atentado que foi a actuação da dupla em Janeiro deste ano na Final Four da Taça da Liga? Não houve lei do bom senso. Houve provocação.
Também por isto, esta foi uma vitória importantíssima.
Apesar da forma como somos tratados, para a semana lá estaremos no nosso lugar pago indiferentes ao local e adversário.
Ao Jamor espero só voltar na final da Taça de Portugal, a ver se escapamos a esta aberração chamada Belenenses SAD nos sorteios da Taça.
Se em Maio cá voltarmos, espero que a FPF se digne a limpar os lugares dos adeptos, pelo menos. É que isto não pode só ser frases fortes como Futebol a Sério e Futebol com talento e depois apresentarem um embrulho todo bonito para um conteúdo de terceiro mundo. Vejam lá isso.
Quanto ao Benfica, é continuar a trabalhar, há muito para melhorar no jogo e manter este foco frio e objectivo no próximo adversário.
Quis o "sorteio" da Liga 2019/20 que, caprichosamente, duas das três equipas que subiram à primeira divisão começassem a competição contra os primeiros dois classificados da última temporada. Para o Estádio da Luz avançava o campeão da 2ª Liga que manteve uma boa parte do seu experiente plantel e reforçou-o. Para o Porto ficava o clube que vinha do 3º escalão directamente para a Liga NOS e que tinha de fazer uma equipa em pouco mais de um mês.
As previsões começaram, os prognósticos sucediam-se. Passou a ser banal começar frases por "Então, e se ...".
Então, e se o Benfica vier "morto" lá do torneio dos "states" e chegar ao Algarve e perder a Supertaça para os rivais de Lisboa? É que o Sporting não vai perder ninguém até lá e se está a reforçar. Aposto que o Bruno Fernandes só sai depois de ganhar ao Benfica.
Ah, e se o Benfica perde a Supertaça aquilo abana tudo, ficam nervosos e podem perder pontos na estreia em casa. Olha que neste milénio o Benfica já teve muitos arranques aos soluços. Isto até dava uma boa capa para o jornal O Jogo.
Entretanto, o Porto começa no Minho com o Gil Vicente que teve de ir comprar um plantel novo e está a meio de uma eliminatória europeia. Vai correr tudo bem.
Curiosamente, não li, nem ouvi, ninguém lançar a seguinte suposição: então, e se o Benfica ganhar a ICC, chegar ao Algarve e golear o Sporting na conquista da Supertaça, voltar a golear na estreia da Liga e partir para a jornada 2 já com 3 pontos de avanço para o Porto?
Não lembrava a ninguém, pois não?
A estreia num campeonato é sempre um momento simbólico muito esperado por adeptos e jogadores. Mais de 62 mil (!) benfiquistas encheram a Luz para o arranque da Liga. Depois da vitória na Supertaça, a ambição e o optimismo, que já vinha reforçado de Maio, aumentaram. A vontade de voltar a ver a equipa atinge níveis de inquietação geral. Além de tudo isto, enquanto a equipa está a aquecer chega do Minho a notícia da derrota do Porto.
A resposta do Benfica? 5-0 ao Paços de Ferreira. Mas 5-0 com vários sinais para serem decifrados. Samaris regressou à equipa com a ausência de Gabriel. Nuno Tavares voltou a jogar à direita. Mais do que uma interessante solução, o miúdo hoje baralhou as contas todas aqueles que o apontavam como um erro de casting de Lage. Um golo, duas assistências. Já vi estreias piores na Liga.
Por falar no golo de Nuno Tavares, queria agradecer, sinceramente, ao Paços de Ferreira a troca de campo que obrigou o Benfica a jogar para sul primeiro. Foi da maneira que vi na perfeição o golaço de Nuno Tavares na Baliza Grande. Que momento inesquecível.
O sinal mais interessante desta goleada é que me parece que a equipa do Benfica até aparenta ainda estar longe do patamar de qualidade de jogo ideal. Há muito para melhorar. Mas com uma exibição normal, sem deslumbrar, o Benfica consegue ganhar por 5-0. Com Bruno Lage as goleadas voltaram a fazer parte dos hábitos de campeonato da equipa.
Último sinal interessante, Carlos Vinicius apresentou-se na Luz com um golo à ponta de lança. Estrear a marcar, o que se pode pedir mais a um avançado?
Depois da conquista da Supertaça, começámos a grande maratona até Maio da melhor maneira. Com a ambição de sempre, com a vontade do costume, pelo Benfica.