Chegámos aquela fase que eu chamo de carreira de tiro final. Isto é, a recta final do nosso peculiar campeonato. É a altura em que o desespero justifica que vale tudo. Jornais estrategicamente colocados na luta, disfarçados de isenção, calúnias, afirmações incendiárias, polémica, enfim, o verdadeiro vale tudo.
Sabemos que estamos nesta fase decisiva quando vemos um jornal diário desportivo, teoricamente isento, a levantar suspeitas sobre os jogos em que o nosso Pizzi não vê cartão amarelo. Assim, à cara podre mesmo.
Depois recupera-se o soundbyte que esteve muito na berra na época passada, por esta altura, claro, que é o facto do Benfica não ter penaltis assinalados contra. Não, não se levanta a questão daquele penalti que ficou por marcar no Bonfim por falta no Carrillo. O problema é a falta de penaltis marcados contra o Benfica.
Aliás, esse árbitro agradou tanto ao país do futebol que está nomeado para nos apitar em Paços de Ferreira!
A enorme vantagem do crescimento desportivo do Benfica na última década, é que nos colocou nos centros das decisões de todas as competições de futebol. Algo que se tinha perdido e que chegou a parecer impossível voltar a acontecer.
Fala-se que o Benfica corre atrás do seu Tetra, do seu quarto campeonato seguido conquistado. Mas é bom lembrar que podíamos estar a ambicionar algo bem mais grandioso. É que o Benfica tem estado na luta pelo título sempre até ao fim nos últimos dez anos, umas épocas mais, outras menos. Mas tem sido o objectivo real do clube. A partir de 2009, já lá vão 8 anos, o Benfica tem andado sempre lá em cima. Descontem-se duas épocas de desorientação técnica, e pensemos que podíamos estar neste momento a lutar por um penta. Bastava não ter acontecido aquele empate com o Estoril na Luz, para não voltar a falar do golo do Kelvin.
Isto só trouxe mais maturidade aos jogadores que vão fazendo os plantéis, às equipas técnicas, aos dirigentes e também aos adeptos. Nós já sabemos muito bem o que é viver estas últimas semanas de campeonato, a tal fase do vale tudo. A nós não nos dão nada. Nunca festejamos títulos no sofá como o rival do norte teve. Temos sempre algum clube em cima, nem que seja o Braga! Sim, o Braga lutou até ao último jogo da época em que no Benfica jogavam Cardozo, Aimar, Saviola, Ramires, Coentrão, Javia Garcia, Di Maria e David Luiz!
Para não andar muito para trás, recuemos só até a 2016. O Sporting fez o que faz sempre, chateia, insulta, aponta, inventa, reclama, duvida e ameaça. Só que no ano passado estavam a lutar anormalmente pelo título. Uma coisa que lhes acontece de vez em quando. Geralmente, nesta altura preparam a nova época.
Contaram com a abençoada colaboração dos eternos aliados azuis, o clássico no Dragão foi um amigável oferecido ao Sporting na luta desesperada de evitar o título benfiquista. Quando começaram a perceber que o Benfica não ia perder pontos, partiram para ataques jamais vistos em Portugal. Recordo apenas o que fizeram com o menino Renato Sanches. Eu não esqueço o racismo dos verdes no alto do seu desespero. Foi do pior que assisti.
Assim, posso afirmar com tranquilidade que aguardo ataques a ferro e fogo até Maio. Isto do Pizzi é só o começo. Será que este "artigo" não é matéria suficiente para o Benfica fechar as portas das suas instalações ao O Jogo ? Fica a dúvida.
Dando o mote para o que aí vem, acho oportuno referir os seguintes factos neste campeonato:
Penalties a favor:
Sporting - 7
Porto - 6
Benfica - 4
Inferioridade numérica:
Benfica - 50'
Sporting - 26'
Porto - 0'
Superioridade numérica:
Porto - 284'
Sporting - 100'
Benfica - 1'
Curioso, não?
Mas preparem-se porque o grande escândalo do nosso futebol foi o presidente do Vitória SC ter estado ontem no Seixal a ver um jogo da 2ª divisão com dirigentes do Benfica. Isto sim, uma pouca vergonha.
Além, claro, de não haver penaltis contra o Benfica e do Pizzi não ver cartões amarelos.
Vamos à luta sem medo porque destas batalhas já nós estamos calejados.
O excelente site These Football Times dedica um belo artigo à evolução do Benfica no futebol português nos últimos anos. Lamentavelmente, não se debruça sobre cuspidelas de índios e cowboys, preferindo uma interessante visão sobre a recuperação do Benfica nas últimas épocas. Reproduzo aqui o artigo original. É em inglês mas serve bem para desenjoar dos assuntos que dominam a agenda do futebol português:
Benfica’s youth-centric plan to rule Portugal and challenge in Europe
There is no doubting that FC Porto have been the most dominant Portuguese side of this century. Shrewd signings and high-profit sales fuelled a staggering 11-year period in which Porto won 26 domestic, European and international titles between 2002 and 2013. In the same timeframe, perennial rival SL Benfica could only manage eight – of which just two were league titles.
While Porto earned plaudits for the development of a long list of talents under a long list of brilliant managers, with the most noteworthy being current Manchester United boss José Mourinho, Benfica struggled due to crippling debt and years of mismanagement of the club from top to bottom.
The seeds of revival, however, were planted in 2009 when Benfica welcomed enigmatic manager Jorge Jesus to the club. At the time, Benfica could boast a squad containing David Luiz, Ramires and Angel Di Maria. They won the league in the 2009-10 season but a fire sale was imminent and sustainable and reliable streams through which Benfica could replace these players were not yet clear.
Jesus provided an unusual stability for Benfica and many of the club’s problems were deflected by the absurd nature of their manager, whose personality reflects a Portuguese version of legendary Czech coach Zdeněk Zeman.
Meanwhile, Benfica’s state-of-the-art Seixal academy was beginning to bear its first fruits. André Gomes and Bernardo Silva were the first notable graduates of the academy. However, in the fledgling years of the academy, a disconnect emerged between the youth division and the first team. Jesus was not prepared to give academy graduates the opportunity to stake a claim for consistent first-team football – undermining the existence of the academy itself.
Benfica’s re-emergence would not be complete without the interference of Portuguese football’s third most influential player, Sporting CP. On 5 June 2015, Jorge Jesus announced he would not be renewing his contract at Benfica and would instead join Sporting, their bitter crosstown rivals. At the time, it was not yet known that this would be next step in Benfica’s evolution.
Former Benfica youth team coach Rui Vitória was signed after a wonderful season at Vitória de Guimarães and immediately set about implementing a familiar policy at Benfica which had served him so well there. That policy would involve maximising the use of the academy.
Now, Benfica top the pile in Portugal. They have won three consecutive league titles, including a nail-biting victory against Jorge Jesus’ Sporting in last year’s domestic campaign. But that is only the start of the good news emanating from Lisbon.
The first-team is bursting at the seams with academy graduates, even without the sales of Gomes, Silva, Renato Sanches, Ivan Cavaleiro and João Cancelo, which have cumulatively earned the club over €100 million (not including potentially massive add-ons from Sanches’ Bayern Munich move). Since Rui Vitória’s arrival, young players like Viktor Lindelöf, Gonçalo Guedes, Ederson Santana and Zé Gomes have all made contributions to the first team, with Lindelöf and Santana being notably influential.
These academy graduates have been joined by an extensive list of clever, cheap and young recruits, headlined by the majestic 19-year-old left-back Alex Grimaldo who was signed for just €1.5 million from Barcelona in January. Joining Grimaldo are Franco Cervi (€4.1 million), André Horta (€400,000), Nelson Semedo (free), Andrija Zivkovic (free), Danilo Barbosa (loan) and Rafa Silva at a slightly more expensive €16.4 million.
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Read | The unique relationship between Benfica and Portugal’s politics
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This introduction of youth is not slowing Benfica down either. Still dominant in Portugal, they even enjoyed their best start to a league season in 2016-17 – no mean feat considering the greats of yesteryear.
Furthermore, Vitória has implemented an exciting, fast-paced brand of football that takes advantage of the incredible depth of quality the club possesses in wide areas. This is also the most efficient way of utilising his veteran core through the centre of midfield and defence, which sits deeper and offers the younger creative players the chance to be expressive and to press higher.
The experienced Serbian Ljubomir Fejsa is at the heart of this. He fills a number of defensive gaps vacated by the attacking wing-back pair of Grimaldo and Semedo. In addition, Lisandro Lopez has become an increasingly clever and composed centre-back and, when paired with the menacing Giorgio Chiellini-like Lindelöf, the two complement each other wonderfully well. As a partnership, they are yet to truly be thwarted.
The solidity of that duo has contributed to the incredible attacking output of Grimaldo and Semedo at wing-back, who frequently chip in with goals and assists. The former, with his La Masia-nurtured impeccable technical quality, has taken Portugal by storm this season and is establishing himself in a similar way to Héctor Bellerín at Arsenal last season. The latter, despite a serious knee injury that hampered his 2015-16 season, has cemented his place at Benfica and is now challenging for a starting spot at international level with Portugal. His pace and willingness to run both ways is elite.
Further up the pitch, André Horta has become one of the shrewdest signings in all of Europe as he accustomed himself to the attacking midfield position in Benfica’s 4-2-3-1 seamlessly. Not only that, Horta’s style of play is great to watch. His touch is immaculate and his ability to break the lines with a perfectly weighted pass is similarly eye-catching.
In attack, Franco Cervi and Gonçalo Guedes are not yet providing massive attacking outputs. Despite this, they have made strong contributions in the early stages of their career and Guedes looks as though he could become a high-volume goalscorer in the future. Out wide, Cervi is a pocket-rocket; he is constantly bouncing around in the final third chasing loose balls, pressing and making a general nuisance of himself.
It makes for a feel of general good will around the club. Benfica sit atop not only their domestic league table but are also excelling in Europe again. Debt is being drawn down, and a new TV rights deal will see Benfica earn €40 million per season for the next decade. They even posted a €20 million profit in the 2015-16 year.
The club faces an enormous task to reduce their debt burden in the long-term – believed to be in excess of €300 million – but the foundations are perfectly laid for the club to minimise this debt over the coming decade. This is important because, with greater financial security, Benfica will hold more leverage in their attempts to keep their best talents. This has the potential to elevate the Portuguese champions from elite talent producers to a truly elite European team.
Eventually, most of the wonderful talents will leave the club, and likely for large sums of money. More will replace them and they too will leave. But during these neo-formative years, Benfica are still asserting a dominance that fans will be undoubtedly excited by. All the while, Champions League knock-out round adventures, domestic titles and great football are becoming the norm in at the Estádio da Luz.
- O Presidente atingiu o auge enquanto entrevistado. Passou com facilidade por esta rara exposição mediática. À vontade na entrevista directa com José Alberto Carvalho e , ainda mais, à vontade na mesa com os três convidados/adeptos. Nota alta para Pedro Ribeiro, o único com confiança para colocar questões menos fáceis.
- Luís Filipe Vieira falou de forma directa e com conhecimento de todos os temas que foram colocados. Foi até onde quis ir, esclareceu até onde lhe foi possível.
- Talisca, processo disciplinar, Garay, reforços, Seixal, jovens vendidos antes do tempo, contrato com a NOS, Jorge Mendes, passou por tudo isto com resposta sempre pronta.
- Pode-se não gostar muito ou pouco, pode-se gostar muito ou pouco, a verdade é que Vieira hoje em dia é que escolhe os momentos para falar, que são poucos, e quando se dispõe a esse exercício passa pelo exame com distinção.
- Fugiu a todas as polémicos, evitou responder aos tontinhos e reforçou a postura passado recente: só interessa o Benfica. Os outros que vivam os seus circos com quem quiser assistir. Agradecido, da minha parte.
- José Alberto Carvalho (e toda a imprensa) sempre que podia puxava pelo assunto JJ. Fê-lo inúmeras vezes, por isso, Vieira teve que se referir ao ex treinador. Respondeu sempre pedindo para encerrar o assunto e nunca fugindo às questões. Também agradeço. A conclusão que os rivais tiraram é que se passou o tempo a falar deles. Surreal!
- Além de Vieira, o grande vencedor da noite foi o projecto BTV. A entrevista foi ultrapassada com facilidade mas a condução deixou a desejar ao nível da profundidade. Na BTV as entrevistas de fundo com o Presidente conduzidas por Hélder Conduto são incomparavelmente mais bem preparadas, profundas e até menos confortáveis para Vieira. E isso é excelente que assim seja.
O These Football Times é um dos sites que mais gosto de ler. Sempre com artigos excelentes à volta do futebol e com uma qualidade gráfica e escrita superior. Certamente, os autores que ali escrevem ainda não devem ter descoberto a interessante prosa do rei dos comunicados e, por isso, perdem tempo com um clube que chamou a atenção nos últimos dias pela sua prestação na Champions League. Os golos contra o Bayern, os elogios dos adversários, o ambiente da Luz e a paixão dos benfiquistas inspiraram o These Football Times a publicar este completo artigo.
É uma pérola que devem descobrir clicando na imagem de cima.
Andámos uns dias nas nuvens dedicados a leituras deliciosas, respeitosas e elogiosas para com o nosso Benfica que nos chegavam de Itália, França, Espanha, Inglaterra ou Brasil. Pelo menos, os que têm prazer em ler sobre futebol e seguem com atenção os editores e colaboradores de publicações de referência publicadas em línguas que consigamos perceber. Vários textos sobre a aposta do Benfica em sete miúdos que tiveram a sua estreia absoluta na Liga dos Campeões este ano, alguns deles deixando fortes marcas, sobre Rui Vitória que jogou pela primeira vez a prova, sobre o nosso estádio, sobre o apoio dos nossos adeptos em Munique, sobre o ambiente fantástico criado na noite de 4ª feira passada. Isto a juntar aos saborosos elogios vindos de figuras maiores do futebol mundial como Pep Guardiola, Arturo Vidal e até Cristiano Ronaldo.
Mais de metade do que li não apareceu em lado nenhum da imprensa nacional. É algo espantoso que tantas referências ao Benfica não tenham tido eco por cá. Tudo o que descobri foi porque apareceu em edições internacionais que já costumo acompanhar ou partilhado por amigos que são igualmente atentos a artigos de futebol.
Então com que é a imprensa nacional, e as redes sociais, anda entretida, agora terminou a carreira europeia das equipas portuguesas? Depois de um duro regresso à realidade do nosso triste quintalzinho futebolístico tirei algumas conclusões que partilho:
- O Benfica andou a amealhar milhões na Champions mas foi ao Sporting que saiu o Euromilhões. Isto pelo que se lê pelas redes sociais onde se fala de prémios motivacionais aos nossos próximos adversário. Mais de 200 mil euros para o Sado, e reforço do plantel para a nova época em Vila do Conde com a cedência em definitivo de Heldon mais dois emprestados. Nada mau. Não admira que os jogadores do Rio Ave estejam mais preocupados com a recepção ao Benfica do que com a deslocação a Arouca, importantíssima para o acesso à Europa.
- O Benfica é que chegou a Abril envolvido em três frentes de luta mas o Sporting é que está preocupado com o calendário. Em vez de nos agradecerem os pontos que conquistámos para o ranking da UEFA, que permite a clubes que raramente ganham campeonatos irem à Champions, apressaram-se a criticar a data do jogo do campeonato após o duelo com o Bayern. Acham um escândalo que se jogue só na 2ª feira. Mas já acharam óptimo que tivéssemos jogado com o Braga poucas horas após o regresso de Jonas do Brasil, por exemplo. Surreal!
Também a data da Taça da Liga faz comichão em Alvalade. A Liga decidiu marcar para dia 2 de Maio, o Sporting queixa-se que isto é tudo como o Benfica quer. O Belenenses riu-se porque ainda há poucos dias não quis jogar um derby numa 2a feira à noite mas não teve outro remédio.
Isto tudo vindo de um clube que paga milionariamente ao seu treinador que não conseguiu entrar na Champions, que foi corrido da Liga Europa, que se despediu da Taça de Portugal antes do Natal e que falhou o apuramento na Taça da Liga com derrota contra uma equipa do segundo escalão. Imaginem se estivessem na luta por quase todos os troféus como nós...
- Escrevi um treinador milionariamente pago com rigor, porque parece que daquela equipa técnica só o chefe é que tem os ordenados em dias
- Renato Sanches na imprensa internacional é o puto do momento, cheio de elogios. Por cá continua a ser um delinquente que foge ao serviço militar com idade falsa. É o que temos.
- Pelo que leio na imprensa portuguesa, um tal de Alan Ruiz é mais craque que todos os craques que disputaram o acesso às meias finais da Champions. Óptimo para o nosso campeonato.
- Outro facto relevante, o Sporting é o que está no melhor momento enquanto o Benfica só ganha com sorte. É isso.
- O Sporting é a equipa mais carregada de jogos esta época, tem mais um que o Benfica. O facto de terem andado em pré eliminatórias que dispensam campeões não é relevante. E o facto de desse jogo a mais não ter servido para nada, também não.
- Carlos Mané não tem problema nenhum. Desabafa em redes sociais.
- João Pereira não desapareceu, continua a treinar muito bem. O resto são decisões. Que nenhuma imprensa ousa colocar em causa, obviamente. Tal como os desabafos do Mané. A tal imprensa que protege o Benfica. Olha, olha... se isto fosse na Luz...
- No Porto está tudo calmo e tranquilo a preparar a nova época. Capas a falar de crise? Zero.
Percebem agora que quanto mais tempo andarmos na Europa menos tempo temos para ler a excelente imprensa portuguesa e todos os comunicados e todas as provocações saídas de vários canais verdes plantados um pouco por todo lado.
Voltamos à realidade do nosso quintal. É aguentar esta poluição sonora e escrita mais cinco jornadas com a mesma força que temos mostrado até aqui. Os elogios de quem nos vê mais longe servem de motivação contra isto que se vê por cá.
Num artigo em que o jornal inglês destaca os 20 melhores estádios de futebol na Europa aparece lá a nossa Catedral. Fica o registo da escolha do The Telegraph.
É tão raro estar de acordo com uma crónica do Director d'A Bola que merece ser partilhado. É tão simples que até ele nota a evidência e não se aventura em segundas leituras.