O Artigo Completo da Sábado Sobre o Processo ao Ex-Treinador
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Para ler aqui.
Começa o contrato de Rui Vitória como treinador do Sport Lisboa e Benfica.
Os contratos de Maxi Pereira, Jorge Jesus, Airton e Artur Moraes com o SL Benfica terminaram.
A Emirates, é, a partir de hoje, o principal patrocinador do SL Benfica, para as próximas três épocas.
Hélder Cristóvão renovou com o SL Benfica por mais três épocas.
"É um reconhecimento mútuo. As condições que me foram dadas foram de excelência e agora é continuar a fazer crescer os jovens jogadores do Benfica para integrarem a equipa principal", afirmou em declarações à BTV.
Depois de duas temporadas no comando técnico da equipa B das 'águias', o antigo jogador `encarnado´ conseguiu na última temporada levar o Benfica B até ao sexto lugar da II Liga, naquela que foi a segunda melhor classificação de sempre da equipa B 'encarnada', tendo terminado o campeonato como o melhor ataque, com 81 golos marcados.
Fechado que está o ciclo anterior e depois de um limbo em que deu para pensar em tudo, é altura de olhar para o presente e futuro.
Apesar do nome de Rui Vitória ser uma constante nas equações à volta do problema "e se mudarmos de treinador", a verdade é que na altura certa ficou no ar uma certa sensação a hesitação.
Parto do principio que o plano do Presidente seria mesmo começar um novo ciclo com uma equipa técnica moldada aos objectivos do futebol encarnado, gastar menos, aproveitar mais o trabalho da formação e um novo perfil no banco. Para este novo rumo o nome de Rui Vitória há muito que é citado na Luz.
A outra ideia tinha a ver com o futuro do nosso ex-treinador. Uma saída airosa para fora de Portugal a ganhar muito mais e onde não pudesse ser um fantasma omnipresente num rival. Foi essa decisão que terá perturbado mais a sua sucessão.
De repente, Marco Silva parecia uma óptima resposta à situação. Ou então tentar algo quase impossível como convencer um nome como Klopp a vir para a Luz.
Pela minha cabeça passou um pouco de tudo.
Um estrangeiro? Mas qual?
Um regresso? Mas de quem?
Vítor Pereira seria uma aposta segura?
Marco Silva? Não seria dar muita importância ao "golpe"?
E que tal Rui Vitória?
Alguns dias de delírio que penso ter sido extensível aos caros leitores e até a quem rodeia quem tem poder de decisão na SAD benfiquista.
Convenhamos que não havia a solução ideal. Seria sempre um risco, seria sempre uma aposta pessoal.
Um dia perguntei ao nosso ex-treinador, já antevendo este desfecho, qual seria o nome que ele indicaria para o suceder no banco do Benfica caso tivesse que o fazer antes de ir embora. Estrangeiro: não há. Português: não há. Foram as respostas após animado diálogo.
Sem uma resposta convicta para dar a quem me pedia opinião, virei-me para o pensamento mais racional e justo que podia ter nesta altura. O que o Presidente decidir terá o meu apoio. Devo-lhe isso. As últimas duas vezes que Vieira teve que decidir quem ficaria à frente do futebol do Benfica decidiu pela cabeça dele, sozinho, convicto, surpreendentemente determinado e correu bem. Se ele acha que estava na altura de mudar e até já tinha um rosto pensado para seguir em frente, então vamos confiar.
A verdade é que não nos sobram muitas alternativas a não ser acreditar e apoiar quem chega.
Da minha parte, continuo a ser sincero quando afirmo que o entusiasmo com a chegada de Rui Vitória à Luz é igual ao que mostrei na chegada do anterior treinador. Pouco ou nenhum. Mas estou preparado para me motivar e ver as expectativas subirem assim que a bola começar a rolar.
Até lá, lamento, mas volto a 2009.
Volto ao ponto de partida mas com uma enorme vantagem, é que agora o contexto à volta do novo treinador é completamente oposto ao que se vivia na altura.
Um treinador novo a chegar a um Benfica com a moral de rastos, com os adeptos habituados a exibições medíocres, com resultados irregulares, com um plantel desequilibrado e mal aproveitado e com os sócios todos desconfiados, precisa de ser um homem de ruptura, de convicções muito fortes e começar a dar tudo para ganhar logo na pré época para iniciar a mudança de estado de espírito geral.
Um treinador novo a chegar a um Benfica Bicampeão, com a moral elevadíssima, com os adeptos habituados a ganhar, a exigirem um futebol decente, com um plantel organizado e com os seus jogadores em alta, só precisa de aproveitar o momento, desenvolver as suas ideias aproveitando o que de bom está feito, gerir bem as inevitáveis saídas de jogadores mais valiosos com apostas de qualidade e manter o nível. Será que Rui Vitória tem esta capacidade? Parece-me que sim. É uma tarefa bem mais simpática do que chegar cá e ter de começar tudo do zero.
A famosa estrutura
Mas a maior vantagem que a equipa técnica de Rui Vitória vai ter no Benfica é, precisamente, a organização que vai encontrar à volta do futebol. Algo que tem sido construído, desenvolvido e aperfeiçoado nos últimos anos. O futebol do Benfica cresceu muito e não foi só dentro de campo. Fora dele soube acompanhar o salto qualitativo e aos poucos foi se organizando de forma superior. Nos últimos tempo habituámo-nos a ouvir elogios à estrutura do futebol mas nem ligámos porque o que queremos é a bola no fundo da baliza.
Agora que fomos obrigados a parar e a olhar à volta assistimos pasmados com o ataque total que o clube rival fez a todos os sectores da organização do nosso futebol. Foi a melhor notícia que podíamos ter. Todos.
O assédio a elementos de Scouting, o assédio a Lourenço Coelho, o assédio aos elementos da equipa técnica que não saíram com Jorge Jesus, o assédio a responsáveis do Lab, isto tudo junto só nos pode descansar. É a maior prova que temos um futebol profissional superiormente organizado e dotado dos melhores profissionais. O facto de TODOS terem recusado o convite milionário dos verdes deixa-nos orgulhosos, agradecidos e confiantes. Rui Vitória começa a ter vantagem logo aqui. Só tem que saber integrar-se nesta organização, deixar cada um fazer o seu trabalho e tirar o máximo possível de cada área.
Foi um alívio ouvir o novo treinador dizer que só se fosse tolinho é que não ia aproveitar o bom trabalho que já está feito. Sinal de inteligência. Vitória "só" tem que desenvolver as suas ideias em harmonia com quem já está no clube a fazer um trabalho vencedor.
Olhamos para a nova equipa técnica e identificamos Arnaldo Teixeira, Sérgio Botelho, como adjuntos. Há um novo preparador físico, Paulo Mourão que irá ter um papel muito importante. Dos trabalhos anteriores nunca lhe vi ser apontada incompetência.
Juntam-se Minervino Pietra, o Grande, Hugo Oliveira, o treinador de guarda-redes que é reconhecidamente do melhor que temos em Portugal. Curiosamente, houve relatos de conflito com anterior equipa técnica e a Direcção do Benfica sempre teve o bom senso de manter o Hugo. Uma mais valia.
Finalmente, Marco Pedroso, o observador que o ex-treinador fazia questão de levar para o rival. Também o Marco preferiu ficar. Os novos elementos já sabem que têm a fidelidade de quem já cá estava mesmo antes de começarem a trabalhar. O senhor Sheu Han abençoará a nova equipa técnica com o seu benfiquismo de valor inestimável.
O Plantel
Na teoria há todas as condições para se dar continuidade a um bom trabalho no nosso futebol.
Olhando para o plantel também não parece haver razões para alarmismos.
Se Rui Vitória quiser fazer hoje um "11" para ganhar, não terá dificuldade em escalar uma equipa deste género:
Júlio César, Maxi, Luisão, Jardel e Eliseu, Samaris e Pizzi, Gaitán e Talisca, Jonas e Lima.
Agora, temos que ir cortando a direito.
Maxi renova? Não sabemos. Nem temos culpa que prefira deixar nas mãos de um empresário duvidoso o seu destino.
Gaitán é vendido? Inevitavelmente.
Talisca está de saída? Se tivermos sorte sim e por uma fortuna.
Lima ficará? Depende da proposta.
Mas entretanto já chegaram Carcela, que joga na ala, e Taarabt, que também pode jogar nos flancos embora seja melhor no meio do campo.
Ou seja, Vitória tem aqui matéria para se entreter e até divertir ( porque não? ) sem nunca ter de entrar em pânico. Uma equipa que começa por Júlio César, Jardel e Luisão, que passa no meio campo por opções como Fejsa ou Samaris e termina em Jonas, é uma base de luxo para qualquer treinador, certo?
Rui Vitória só terá de aproveitar da melhor maneira, arranjar o melhor sistema e a melhor táctica, embora agora os treinadores não gostem de falar destas coisas básicas e preferirem levar tudo para o mundo obscuro das filosofias de jogo e outras ciências. Para mim continua a ser uma boa táctica e um sistema de jogo correcto mas eles é que sabem.
Por causa da saída dos jogadores mais valiosos pode haver problemas? Claro que sim.
Mas até nisto estou mais optimista do que estava há um mês . O facto da mudança de clube do ex-treinador ter mexido numa ponta delicada chamada Jorge Mendes veio abrir um horizonte mais risonho para o nosso lado.
O Super Agente já manifestou vontade de mostrar de que lado fica nesta guerra aberta por Bruno de Carvalho. E eu nestas coisas prefiro estar do lado de Mendes. Fico confiante que as contratações serão de grande qualidade. Rui Vitória deve sorrir com este cenário. Foi uma das boas consequencias desta novela.
O Apoio
Portanto, com o apoio incondicional da Direcção liderada pelo homem que confiou nele, Rui Vitória pode contar com uma equipa técnica competente e com todas as áreas ligadas ao futebol cheias de profissionais de top. Pode confiar em jogadores de qualidade que já cá estão, pode esperar a chegada de outros com selo de qualidade do empresário mais cotado a nível mundial.
Sobra o trabalho de escolher os jovens a integrar na equipa principal e aqueles que poderá vir a chamar ao longo da época. Também não me parece que tenha de inventar muito nesta área, os jogadores mais promissores estão todos identificados.
Quanto ao povo, na sua apresentação já ouviu alguns benfiquistas gritarem o seu nome. Nada mau para entrar. As reacções são positivas. Ninguém está eufórico, ninguém está deprimido.
Terá que fazer o trabalho mais complicado que é o de criar uma onda de entusiasmo à volta do seu trabalho. Mas isso é exactamente o seu trabalho. Já muitos tentaram, poucos conseguiram. Vitória terá que ser capaz de entrar no restrito lote de treinadores que o Terceiro Anel acarinha desde o começo. É a parte mais complicada porque não depende da simpatia do treinador. Não acontece por o treinador falar bom português, vestir bem, ter um discurso agradável ou brilhar perante a comunicação social. Isso pode ajudar mas o que importa é se a bola entra ou não. Ontem, hoje e sempre.
Pessoalmente
Da minha parte, repito, o entusiasmo nesta altura é zero. Depois da viagem em montanha russa que foram os últimos seis anos, saí de lá como Bicampeão, com uma Supertaça ganha no primeiro jogo da última época que fechou com a conquista da Taça da Liga. A herança é pesada mas é bem mais agradável do que um fardo de derrotas.
O entusiasmo é zero mas a tranquilidade é absoluta. Confio nos que ficaram e tenho esperança nos que chegam. Estou preparado para começar a viagem e ir subindo a moral.
Para tirar qualquer tipo de pressão a Rui Vitória até lhe digo que me lembro do seu último jogo, espero não me estar a enganar, de águia ao peito. O Benfica também tinha acabado de ser campeão e fui a Odivelas ver a partida final do Nacional de juniores. Não acabou bem. Portanto, podemos começar por inverter isso. Já era começar logo a melhorar.
Esta também será uma vantagem que pode ser bem gerida por Vitória, ele sabe muito bem onde estávamos há 10 anos e as condições que veio agora encontrar. Não pode haver maior motivação do que esta, dar valor ao que foi sendo feito e construído.
Sei que o Rui Vitória foi de férias e que os trabalhos de campo só começam em Julho. Óptimo, também não tenho pressa nenhuma. Somos Bicampeões e estamos a viver um dos períodos da história do Benfica mais empolgantes! O Benfica está mais Glorioso do que nunca. Até nisso o clube está a ajudar o novo treinador.
Aquela pancada que sofremos no auge da euforia dos festejos podia ter sido traumática. Podíamos cair no ridículo de sermos super vencedores deprimidos pela partida de um treinador para o rival. O Benfica, como sempre, tratou logo de mostrar que seguimos em frente e grandes. As modalidades do clube que estavam para encerrar a temporada depois do futebol limparam tudo! É festa atrás de festa. Sendo que o auge aconteceu no futsal. A conquista do campeonato nacional de futsal acabou por ter uma carga simbólica tão grande e tão reveladora da nossa vitalidade que ajudou tudo e todos a mudarmos a página de forma mais rápida, convicta e determinada. E na cara deles. Na casa não, porque eles não têm casa para as modalidades, como sabemos.
Somos campeões em quase tudo. Estamos mais fortes do que nunca. Um clube com uma dinâmica global de vitória como nunca se viu em Portugal, é este o Benfica que recebe Rui Vitória. Querias melhor entrada, Rui? Que saibas e consigas aproveitar a oportunidade é o que te desejo porque o teu sucesso será a minha alegria.
Agora caminhemos juntos, passo a passo. Rumo ao Tri.
FOTOS: João Trindade
Agora que o ciclo Jesus está completo e começa-se uma nova Era no futebol do Benfica, justifica-se uma reflexão sobre a mudança.
Voltemos a 2009, seis anos atrás. Por esta altura estava quase no mesmo ponto em que estou hoje em relação ao comando técnico da equipa de futebol. Falava-se na chegada de Jorge Jesus à Luz para suceder a Quique Flores. O espanhol bem parecido, de discurso fácil e que agradava a imprensa, terminava a sua aventura no Benfica ganhando uma Taça da Liga e figurava entre as vitimas de Pedro Proença depois de um jogo no Dragão inesquecível. Mas como o seu futebol se centrou na fé em Suazo ignorando as capacidades de Cardozo ou Di Maria, a sua saída era inevitável.
Terminada a época aproveitei a presença de Rui Costa no Pavilhão da Luz no final de um derby de andebol para o abordar sobre a escolha do novo treinador. Disse-lhe que não queria Jesus porque não acreditava que pudesse resultar. Rui Costa só me perguntou quem é que eu queria: Ancelotti, Ferguson, Mourinho... ?
Fui para casa deprimido e convencido que vinha mesmo o Jesus.
A Chegada de Jesus
Jorge Jesus na sua apresentação como treinador do Benfica afirma que com ele o Benfica ia jogar o dobro. E acrescentou que o dobro ainda era pouco, se calhar.
Ri-me, encolhi os ombros mas fiquei preso aquela promessa. O ar com que disse aquilo convictamente deixava algo no ar.
Eu não o queria na Luz mas admirava-o pelos trabalhos em Guimarães ou Braga, de onde veio para cá, e, especialmente, no Belenenses. Adorei as suas declarações depois dos jogos com o Bayern e com o Portsmouth. Gostava do atrevimento e da sua convicção. Mas não queria aquilo na Luz porque eu achava que não ia resultar.
Começa a pré época de 2009 e sou completamente apanhado de surpresa. Eu que não ligo nenhuma à pré época, acho que é uma altura em que se pode observar mas sem tirar grandes conclusões e é para , essencialmente, as equipas trabalharem e experimentarem. A verdade é que parti do grau zero de entusiasmo para uma assinalável curiosidade em ver mais de perto aquele Benfica.
Estava no Minho para acompanhar o Festival Paredes de Coura quando desafio o meu amigo nortenho e verde P.V. para irmos a Guimarães ver o Benfica - Portsmouth do Torneio daquela cidade. Fiquei de tal maneira impressionado com o futebol do Benfica que tentei nem verbalizar o que estava a sentir para não cair no ridículo da febre da euforia própria das pré épocas. Mas até o meu amigo ficou espantado com a qualidade apresentada.
O resto da pré temporada foi sempre a abrir, de jogo para jogo o nível subia, as Taças vinham todas para o nosso lado e parecia que se estava mesmo no bom caminho.
A ansiedade pelo primeiro jogo oficial era enorme.
A Primeira época
Um empate com o Marítimo na Luz veio adiar o entusiasmo e deixar no ar a dúvida. Afinal, entrámos na Liga a perder pontos. Mesmo que a exibição tenha sido convincente e o resultado injusto.
Segue-se uma pré eliminatória da Liga Europa e volta a animação. Contra o Poltava a mesma exibição da estreia da Liga mas com golos e o apuramento garantido.
Regresso a Guimarães para a 2ª jornada e uma vitória arrancada a ferros no final do jogo.
Depois disso, goleadas por 8-1 ao Vitória sadino e 0-4 no Restelo.
Foi nesta fase que me rendi a Jesus.
O Benfica jogava um futebol que eu pensei não voltar a ver na minha vida. Já me contentava quando ganhávamos por 1-0. De repente voltou o futebol avassalador do Benfica. O rolo compressor, como alguém lhe chamou.
Esse campeonato foi ganho com muitas exibições grandiosas, muitos golos mas também algumas desilusões, como a derrota em Braga e um empate no Bonfim.
Para ter sido perfeito faltou a Jesus perceber a importância que era ter empatado no Dragão e festejar lá esse título. Facilitou e o Porto acabou a época com fôlego para vencer a Supertaça e anular tudo o de bom que foi feito no inesquecível ano de estreia de Jesus.
A tempestada depois da bonança.
O impacto que Jorge Jesus teve ao chegar ao Benfica foi tão grande que fez acordar um monstro adormecido. Não havia dúvidas do seu talento e da sua capacidade no banco para levar o Benfica às grandes conquistas.
No entanto, os seus pontuais erros estratégicos deitaram a perder tudo o de bom que estava construído.
Total falta de capacidade para escolher reforços, subestimar adversários, olhar mais para dentro do que para fora, não saber medir os riscos de decisões arrojadas ou incompetentes, valeram a Jesus o ódio de muitos adeptos benfiquistas.
Todos falam na goleada do Dragão, da 2ª mão da Taça que o Porto virou na Luz, da eliminação inacreditável na Liga Europa aos pés do Braga, da derrota de Anfield, de David Luiz a defesa esquerdo, do clássico que estava a ganhar 2-1 e depois de mexer na equipa permitiu que James empatasse para que a seguir Proença validasse o 2-3.
Tudo pontos negros, é verdade.
Pessoalmente, o que mais me irritou foi um empate na Luz com o Portimonense. Ao nível dos piores jogos que vi do Benfica em anos, e vi muitos, infelizmente. Alertou-se na altura para o facto de não podermos facilitar nesse jogo, pois se o Porto ganhasse todos os jogos até à visita ao nosso estádio podia festejar o título na Luz. Claro que Jesus não quis saber e empatou com os algarvios. Obviamente, o Porto acabou a festejar na Luz. Uma das noites mais tristes da história recente do Benfica podia ter sido evitada com uma simples vitória sobre o Portimonense...
Por outro lado, depois desta fase negra o treinador do Benfica mostrou evolução e mudança de mentalidade.
Depois do deslumbramento de um um primeiro ano excelente, veio uma época terrível. Seguiu-se um equilíbrio e o Benfica estabilizou.
Os jogos na Luz passaram a ser todos para ganhar. O Benfica não voltou a perder na Luz para a Liga desde aquele 2-3 com o Porto. Esta será uma das maiores e mais pesadas heranças que Jesus aqui deixa. Nós já nem sabemos o que é perder em casa. É impensável. A fasquia não ficou alta, ficou onde devia estar sempre.
A mudança
A fobia pelas goleadas deu lugar à leitura realista do contexto de cada partida. O Benfica de Jesus passou a lutar por todas as competições até ao fim. Cada acidente que acontecia tinha sempre a cara de Jesus. Ninguém lhe perdoava um falhanço. Substituições por fazer ou mal feitas, apostas erradas, invenções de posições de jogadores, tudo era rasgado na imprensa e nas redes sociais. Só que Jesus passou a errar cada vez menos, começou a inventar cada vez menos e a ficar mais objectivo e prático. Nunca mudou a sua maneira de ser. Teimoso, orgulhoso e vaidoso. Rapidamente passou a dominar as conferencias de imprensa onde deu sempre espectáculo. Todas as suas conferências tinham um "soundbite" para ecoar na imprensa. Conversava sempre olhos no olhos, não fugia às perguntas e falava muito de futebol. Houve sempre muito conteúdo antes e depois dos jogos.
Eu não perdia nem os lançamentos de jogo nem os rescaldos. Era bom ver e ouvir o Jesus a falar pelo Benfica. Lembro-me que nos últimos jogos deste ano na Luz quando estava a sair do estádio acabava sempre por parar num écran gigante montado ao pé das piscinas para ouvir Jesus a falar depois do jogo. Não era só eu, havia umas centenas de adeptos que se sentavam naquela erva para ouvir o treinador. Sempre de sorriso na cara. Uma cumplicidade que demorou a ser construída mas que agora estava forte.
Depois de três épocas sem vencer o campeonato, a paciência para Jesus esgotou-se na Luz.
Se a 2ª época de Jesus não teve explicação, a 3ª também não acabou melhor. Uma derrota Um empate em Vila do Conde entregou o título ao Porto. Para a 4ª época a margem de manobra de Jesus era nula. Na Luz eram muitos mais os que o queriam dali para fora dos que estavam com ele.
Para Jorge Jesus era indiferente. O próprio confessou que no Benfica só falava com duas pessoas fora do futebol, Vieira e Domingos Soares Oliveira. Do resto não queria saber e percebia que ninguém gostava dele. Vive bem com isso.
É na sua 4ª época que Jesus volta a entusiasmar os adeptos como no seu primeiro ano. Aos poucos a equipa cresceu, avançava nas diferentes competições e em Abril atinge o auge que lhe escapava desde a época de estreia. O apuramento para uma final europeia era o regresso ao caminho que se queria. O Benfica liderava o campeonato e só precisava de vencer o Estoril em casa para deixar a coisa quase resolvida, regressava a Amesterdão para uma final da Liga Europa, estava na final da Taça de Portugal. Os benfiquistas faziam as pazes com Jesus e voltavam a acreditar no treinador.
Mas subitamente a tragédia bate à porta da maneira mais cruel. Num ápice tudo se perde. Um rombo tão forte que acabei em lágrimas no ArenA e em fúria no Jamor. Inacreditável o fecho daquela época.
Tinha terminado o ciclo de Jesus. Venceu um campeonato e andou tanto tempo para acertar o passo entre a sua convicção e a grandeza do Benfica que acabou a ser castigado pelos deuses do futebol que o fizeram ajoelhar em pleno Dragão.
A Segunda Vida de JJ
Pessoalmente, sentia um misto de emoções. Por um lado estava convicto que com Jesus estávamos muito mais perto de ganhar do que de perder. Os jogos na Luz eram um regalo, a competitividade em todas as provas era assinalável, a maturidade táctica da equipa era indesmentível. Não havia dúvidas que Jesus tinha capacidade para altos voos e ganharmos muito.
Mas depois não dava para entender os Robertos, Jaras, Filipes Menezes e tantos outros...
Ficava no ar a ideia que faltou qualquer coisa para Jesus ser grande no Benfica mas depois de uma varridela daquelas a perder tudo de seguida não havia outra alternativa a não ser mudar de treinador.
Aqui entra Luís Filipe Vieira. O Presidente que o escolheu em 2009, aparece numa jogada de risco altíssimo e dá-lhe outra oportunidade. Vieira teve a calma suficiente para dizer a Jesus que já estávamos muito perto de ganhar. Falhou ali algo que se podia emendar e mudar.
Aos poucos deixaram de entrar na Luz jogadores vindos de delírios de madrugadas de PFC e começaram a chegar jovens promessas detectadas por uma equipa de olheiros que , finalmente, via o seu trabalho totalmente reconhecido.
Encontrou-se o equilíbrio perfeito. Jesus é o homem certo para planear treinos, para trabalhar tácticas, para desenvolver e aproveitar jogadores de grande potencial descobertos com muito trabalho e contratados com bastante esforço.
Jesus, o treinador de campo era imbatível. Sem invenções, sem fetiches de compras, sem delírios.
O que se seguiu é o que todos sabemos. Dois campeonatos ganhos e várias taças com outra final europeia jogada.
O próprio Jesus parecia ter atingido uma maturidade total na abordagem aos jogos na gestão das vantagens pontuais, no aproveitamento real e pontual de situações em que teve de abdicar de ganhar para gerir empates. Tudo ficou mais fácil de gerir.
O Final
Já não imaginava o Benfica a ser treinado por outra equipa técnica. Jesus parecia não ter fim. Mesmo porque ainda havia algumas arestas para limar. Era preciso convencê-lo a reduzir o plantel, a abdicar de craques como Gaitán e trabalhar com o que estava no Seixal. E aqui é que Jesus pareceu traçar um limite.
Nunca me pareceu que Jorge Jesus quisesse aceitar o desafio de continuar a ganhar todas as provas tendo que ficar privado de contratar meia dúzia de jogadores e começar a trabalhar com os melhores rapazes vindos da formação.
Também nunca pareceu muito aberto a aceitar jogadores escolhidos por outras cabeças que não a sua.
No tal almoço em que pude dialogar com ele lembro-me da maneira com que reduziu a qualidade de Muhktar a zero. Não acreditava nele, nem o conhecia antes da prospecção do Benfica o ter caçado. O alemão tem qualidade como se viu no Mundial Sub 20. E este é só um caso entre muitos que justificam as reservas criadas quanto ao futuro imediato do treinador no projecto de futebol do Benfica.
Por mim, continuava a aturar as loucuras de Jesus na boa porque tinha a certeza que íamos continuar a não perder jogos em casa, que íamos lutar pelas competições até ao fim e com qualidade.
O grau de confiança que atingi antes de qualquer jogo do Benfica neste último ano é algo que já não vivia desde os anos 80. A certeza com que ia para os jogos é um sentimento que não tem valor. Mesmo quando as partidas começavam mal como em Arouca ou em Moreira de Cónegos, nunca entrava em pânico. Era disto que não me queria livrar. Era desta zona de conforto que não me apetecia sair. A sensação de que estávamos sempre mais perto de ganhar por defeito era desconhecida desde os tempos do Manuel Bento. Por mim continuava assim.
Mas quando percebo que o Presidente tem uma nova ideia para continuarmos a ganhar e a crescer, sendo que essa ideia colide com muitas convicções do treinador, começo a perceber que vamos mudar.
Quando me dizem que foi pedido ao treinador do Benfica para apostar mais em Gonçalo Guedes que já tinha propostas de 20 Milhões de euros e que jogando podiam valer o dobro, não dá para entender o desprezo de Jesus.
Quando me dizem que houve uma boa proposta para vender Derley e o negócio não é aprovado pelo treinador em Janeiro, não dá para entender a pouca utilização do brasileiro até ao fim da época.
Quando me lembro que Jesus pedia Djavans para dois meses despachá-los, não tenho saudades.
São bons exemplos de uma postura de "eu quero posso e mando" que era impossível de manter se queremos ver os nossos miúdos mais talentosos a jogar a sério na equipa principal. Admito isso.
Agora é fácil criticar Jesus por tanta coisa. Eu critiquei-o quando chegou. Convenceu-me com a sua nota artística no relvado. Depois perdi a paciência com ele na 2ª e 3ª época mas nunca defendi que fosse despedido porque não via ninguém com capacidade para fazer melhor. No final daquela 4ª época foi quando admiti que não percebia nada disto e que tínhamos de mudar de treinador, embora tivesse a certeza que Jesus iria triunfar em qualquer rival que o chamasse.
Vieira encarregou-se de me mostrar que eu não percebo mesmo nada disto e levou Jesus a duas épocas maravilhosas. Confirmou o que desconfiava, com uns acertos Jesus é mesmo um enorme treinador.
Quando eu pensei que agora Jorge Jesus estava mais domesticado do que nunca e pronto para mais conquistas, o Presidente optou por mudar o estilo e aposta noutro homem da sua confiança.
Só aconteceu um choque porque Jesus optou por ir para o Sporting de forma mal explicada. Jesus abriu a porta de Alvalade enquanto lutava na Luz para não deixar fugir o bicampeonato.
Vieira planeou lançar Jesus para ganhar uns milhões a mais mas longe daqui saindo em glória do Benfica.
Jesus não gostou de se ver dispensável no projecto de Vieira e não hesitou em provocar um terramoto pós temporada e aceitou trabalhar com Bruno de Carvalho.
A imagem de Jesus a ter êxito pelo Sporting tirou-me o sono, a razão e o discernimento. Durou uns dias até me acalmar.
Neste momento já estou tranquilo. Jesus não pode por o Sporting a jogar o dobro do que fizeram Jardim e Marco Silva porque é impossível. É o primeiro contra.
O segundo é que não tem lá Di Marias, David Luiz ou Cardozos para aproveitar e não deve contar com Javis Garcias ou Ramires a chegarem. Como se sabe, contratar jogadores também não é o seu forte.
E o que me tranquilizou definitivamente foi o assalto que se tentou fazer à organização de futebol do Benfica nos últimos dias. O facto de todos os responsáveis por todos os departamentos determinantes para o sucesso do nosso futebol terem recusado a traição deixa-me muito aliviado. E agradecido. Afinal, parece que estamos mesmo bem apetrechados.
Também ainda não vi nenhum jogador desesperado com a partida de Jesus. O que é curioso.
Jesus foi um treinador que aprendi a admirar. É uma personagem que me conquistou com todos os seus defeitos e feitio. Fiquei muitíssimo feliz por ter ganho tudo o que ganhou depois daqueles três anos de dúvidas.
Mas isso tenho de agradecer ao Presidente.
Vieira apostou duas vezes em Jesus. Ganhou em 2010 e acertou em cheio em 2013 quando o deixou ficar. Agora apresentou uma nova equipa técnica. Que direito tenho eu de duvidar da escolha? Já se percebeu que eu não percebo nada disto.
Depois desta viagem na montanha russa que foram estes seis anos de Jesus no Benfica, depois de já ter desabafado tudo o que passei neste tempo, queria dizer que na hora do adeus volto a sentir aquilo que sentia em 2009: Jesus não acredito nada que vás ter sucesso nessa tua nova vida.
Acreditei que ficaria a acompanhar alegremente o resto da carreira de Jesus e até a torcer pelo seu sucesso. Com a escolha que fez tornou-se impossível.
Disse-lhe pessoalmente, repito aqui: ir para aquele clube é algo de tão nefasto que nem há perdão que se possa imaginar. Só pena e convicção que mudou para pior. Como todos os que tiveram o mau gosto de o fazer antes. Não sou ingrato mas nestes dias só me vem à cabeça aquele jogo com o Portimonense. Nem é preciso dizer mais, pois não?
Deixaste de ser muita forte a partir de agora.
( Jesus, ficaste a dever um almoço à malta. Lamentável)
Boa sorte.
A Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD, em cumprimento do disposto no artigo 248º do Código dos Valores Mobiliários, informa que chegou a acordo de princípio com o treinador Rui Vitória para a celebração de um contrato de trabalho desportivo para vigorar nas próximas três épocas desportivas .
Estou numa das entradas principais do Estádio da Luz e reparo que se continuam a apagar figuras históricas do clube que já sairam.
Só que não.
Em boa hora posei para a fotografia de família com os Bi Campões nacionais. Esta foto foi tirada nem 24 horas após a conquista do título em Guimarães.
Qualquer pessoa pode entrar na Megastore do Estádio da Luz e posar à frente dos jogadores campeões desde este dia.
Note-se que originalmente nem figurava o treinador, só jogadores.
Uns dias depois juntou-se a figura 2D de Jorge Jesus.
Depois dos acontecimentos que conhecemos, achou-se por bem voltar a deixar só os jogadores para evitar vandalismos. As figuras dos jogadores lá continuam e ninguém se queixa da falta de um treinador que já está de corpo e alma no rival. Não vejo nenhuma polémica aqui.
Só venho esclarecer isto porque com o calor vejo pessoal a começar a delirar e a seguir uma história paralela que já chegou às colunas de opinião nos jornais ou aos marretas rivais dos programas de televisão.
Para que fique bem claro: isto não é fotografia oficial nenhuma. Isto não é a imagem oficial do plantel campeão. Isto é somente uma atracção da loja do Benfica com alguns jogadores do plantel deste ano em figuras de cartão 2D.
Ninguém apagou fotografia nenhuma da história do Benfica!
A BTV continua a mostrar as imagens dos festejos de todas as competições com jogadores e equipa técnica, o jornal do clube também e no site oficial não se apagou nada.
Mais, ninguém ligado ao Benfica foi despedido por justa causa por não ter apagado fotografias ou imagens dos meios de comunicação do clube, note-se!
Espero que alguém mostre isto ao Santos Neves d'A Bola que hoje já fala em Estaline e Leon Trótski.
Tenham juízo.