Depois do 1-1 da Luz fiz aquilo que gosto de fazer sempre nestas lutas europeias, colocar o resultado em perspectiva e recorrer a experiências anteriores para contextualizar o que podia vir a ser a segunda mão. Já o tinha feito depois do jogo com o Fenerbahçe, na altura sublinhei que o 1-0 na Luz numa primeira mão costumava dar apuramento.
O 1-1 com o PAOK deixava um amargo de boca no final mas fez-me lembrar as últimas três situações que saí do nosso Estádio pessimista com a eliminatória. Ora, as últimas vezes que fomos para a luta fora de casa com 1-1 na bagagem fomos felizes. Em Londres com o Arsenal, em Leverkusen com o Bayer e em Marselha com o OM, o Benfica assinou algumas das suas páginas mais gloriosas na Europa.
É a isto que me agarro sempre, à minha experiência, à história do clube, aos contextos das apaixonantes eliminatórias europeias. Acresce o pormenor que nestas últimas eliminatórias começámos sempre a perder no segundo jogo.
É fácil adivinhar que não fiquei particularmente assustado com o 1-0 de Salónica. Fiquei furioso porque achei que a defesa do Benfica foi demasiado passiva a reagir a uma bola parada que merecia outra postura.
Mas o golo do PAOK teve o efeito que história já nos ensinou. O ambiente ficou mais eufórico, a confiança dos gregos subiu aos céus, eles que foram sempre tão arrogantes na abordagem ao jogo em sua casa, e o Benfica aproveitou para mostrar, mais uma vez, à Europa a beleza, o encanto e a glória do seu nome, das cores maravilhosas do seu equipamento e a força do seu emblema. Reacção à Benfica.
Primeiro por Jardel de cabeça, num canto cobrado por Pizzi. Depois, com um penalti ganho por Cervi e que Salvio converteu. O 1-2 mostrou que o apuramento para a Champions League já não ia fugir. Em 26' o Benfica assumiu o seu estatuto e acabou com as dúvidas. Antes do intervalo o Benfica mostrou qualidade futebolística ao nível exigido pela Champions League. Um tributo à asa esquerda do ataque do Benfica dos tempos de Chalana. Combinação genial entre Grimaldo e Cervi em progressão, o argentino vai à linha e cruza para trás onde estava Pizzi à espera da bola para fazer o 1-3. Tão bom, tão simples, tão épico.
Vivemos para isto. Jogadas perfeitas, golos à altura e o nome do Benfica a brilhar na Europa do futebol.
Estava resolvida a eliminatória. Deu para Odysseas justificar o seu lugar na baliza e para os jogadores irem mostrando o seu valor individual.
Quando era de esperar forte reacção grega na segunda parte, é o Benfica que ganha novo penalti. Podia aqui dizer que trocava um dos que o árbitro marcou hoje por aqueles que não quis marcar em Turim mas não a vale a pena desenvolver.
Salvio aumentou para 1-4 e mostrou porque é que os clubes gregos e turcos não ganham a Champions todos os anos. Simplesmente porque os ambientes infernais não ganham jogos. Impressionam mas não querem dizer nada. Aliás, desde 1999 que o Benfica ali jogou três vezes com ambiente fanático e ganhou sempre. Fim de mito.
Já na Luz, o Benfica ficou a dever a si próprio um resultado assim parecido. Hoje, Rui Vitória fez regressar Salvio, sempre essencial por muito que os benfiquistas não entendam, e apostou em Seferovic prevendo um jogo mais directo e de luta física com os centrais do PAOK. Acertou em cheio, o resultado fala por si.
Mais do que os milhões de euros, esta noite foi essencial para o Benfica voltar a colocar o seu nome no lugar que lhe pertence, entre os maiores da Europa. É na Champions League que temos de andar. Depois da desastrosa época europeia da época passado, este arranque europeu já serviu para o Benfica voltar a ser admirado. Quatro jogos, duas vitórias e dois empates, nenhuma derrota. Brilhante apuramento para a maior prova de clubes do mundo.
Na altura do sorteio da 3ª pré eliminatória calhou a equipa mais forte, o Fenerbahçe. Depois, seguiu-se este PAOK que estava a surpreender a Europa com o afastamento do Basileia e Spartak. Portanto, não vale a pena desvalorizar este feito do Benfica.
Foi um mês de Agosto muito exigente. O Jonas ia embora, o Ruben Dias ia embora, o derby a meio do playoff ia complicar as contas europeias, a deslocação ao Bessa, único estádio em que o Benfica perdeu na Liga passada, ia ser dura, o cansaço acumulado ia prejudicar a equipa. O Benfica acaba o mês no pelotão da frente na Liga e com o passaporte para a Champions carimbado. A janela de transferências ainda está aberta, entradas e saídas são possíveis até ao fim da semana. Há lesionados a recuperar e um jogo na Choupana já a seguir.
O arranque de época do Benfica em Agosto foi bom e com objectivos cumpridos. Estão de parabéns todos os envolvidos no futebol do Benfica, agora é trabalhar para melhorar, aproveitar os reforços e crescer colectivamente.
Os 200 adeptos do Benfica em Salónica mereceram todos os festejos da noite.
Para quem desconfiou do 1-0 e 1-1 a nível europeu na Luz pode acreditar na força da nossa história. Isto está tudo ligado. De Highbury ao Toumba o elo de ligação é o Benfica. E o futebol do Benfica é maior que as nossas vidas.
Nona presença seguida para o Benfica na Champions League, só Real, Barça e Bayern apresentam melhor registo. É o nosso lugar.
O João Félix envergonha os meus 18 anos. Tenho que esclarecer que até tenho muito orgulho nos meus 18 anos. Passei a estudar à noite para começar a trabalhar numa fábrica da Nestlé em Linda-a-Velha e saber o que custa a vida, passei a rapar o cabelo e abandonei o estilo de risco ao lado e a 2 de Outubro de 1991 arranjei o meu primeiro conflito laboral por querer sair mais cedo para ir à Luz ver o jogo com esse colosso de Malta, o Hamrun Spartans. Tudo muito engraçado mas com 18 anos não estava no relvado a fazer golos ao Sporting e o João Félix está.
Foi o grande momento do derby. Cruzamento de Rafa, depois de Fejsa ter dado a Zivkovic que meteu rápido no português, bola para a área e o puto a saltar para fazer de cabeça o primeiro golo pela equipa principal e salvar o Benfica de uma derrota embaraçosa.
Aliás, esta jogada que deu o empate exemplificou na perfeição o que o Benfica não fez no resto do jogo. Meter velocidade, ligar o jogo rápido entre sectores e criar desequilíbrios e imprevisibilidade para quem defende.
Não tenho outra maneira de dizer isto, este derby foi muito frustrante para quem já vê jogos destes desde os anos 80. Esperava mais do Benfica.
Na teoria, este seria o Sporting menos forte na Luz dos últimos anos. Na verdade, não me lembro de uma equipa do Sporting tão remendada na Luz. Fizeram o seu jogo, acabaram o derby ao pior estilo de uma equipa de meio da tabela a lutar por um pontinho mas, lá está, tinham noção da enorme diferença de qualidade de um lado e do outro.
O Benfica não fez o que lhe competia e o que se esperava. Acabou por ir caindo na teia que Peseiro montou, tornou o seu futebol previsível e anulável e deixou o adversário acreditar e crescer.
O lance que dá o penalti, indiscutível, ao Sporting mostra bem tudo o que não era preciso fazer. Jardel passa a Rafa sem nexo. Ruben Dias acaba a fazer falta em Montero. Impensável estar a perder com este Sporting em casa. Mas aconteceu.
Verdade que Salin engatou grande exibição, lá está, ao melhor estilo de equipa menor. Aquilo que eu achava que seria um trunfo, mais jogos nas pernas numa altura da época em que o cansaço não é dramático por ser o arranque da temporada, afinal teve efeito contrário. A equipa pareceu desgastada nas alturas em que era preciso imprimir velocidade. Gedson e Pizzi não estiveram tão fortes como em jogos anteriores.
Sem Salvio para esticar o jogo pela direita, foi Rafa quem tentou desequilibrar, tendo Cervi no lado oposto a forçar a entrada de bola no meio onde Ferreyra voltou a estar desligado do resto da equipa.
Acabou o Benfica com Seferovic e João Félix em campo a ser muito mais objectivo e perigoso. Eu já tinha escrito aqui que o miúdo até podia ser lançado mais cedo nos jogos. Quando entrou agitou sempre. Hoje mexeu com o marcador final.
Apesar da desilusão que foi esta noite queria deixar aqui uma curiosidade da primeira parte. Uma jogada colectiva em que a bola teve de passar pelo guarda redes do Benfica foi brindada com uma enorme assobiadela. A bola continuou a correr e acabou por ser uma das jogadas mais bem conseguidas da primeira parte na Luz.
Outra nota, esta positiva, para a postura do rival na Luz. Desta vez, sem a rábula de nos trocar a ordem de ataque, com dirigentes na bancadas da Luz, sem stresses desnecessários.
Depois, deixem-me dizer que um derby à 3ª jornada é uma parvoíce em termos de calendário, a adrenalina desce para metade.
Finalmente, tenho lido muita coisa bonita sobre intenções de tornar o futebol português melhor. Muitas acções que ia tornar o espectáculo mais atraente, com mais qualidade e com o tempo útil de jogo a aumentar.
Muito bem, então o que foi isto que este Godinho veio fazer à Luz?! Atenção, não estou a falar em lances polémicos nem nada disso, o tom deste blogue não é esse. Falo no tempo perdido e das rábulas para fazer parar o tempo útil de jogo. Do mais enervante que já vi num estádio. E não me pareceu que Godinho tivesse poder para tornar o jogo melhor. Foi pena.
Esta foi a primeira grande desilusão da época, pedia-se uma vitória num derby que deixasse a equipa moralizada para o jogo decisivo na Grécia. Não foi possível e a derrota caseira do Porto atenuou um pouco esta frustração.
Mas o sucesso desta primeira etapa depende muito da qualificação europeia e da viagem à Choupana que se segue. Tudo com a companhia de João Félix, de preferência, o verdadeiro raio de Luz neste derby.
Depois de Sabry, Warda. Há uma ligação entre o PAOK e jogadores egípcios que nos afecta directamente.
Antes do jogo começar, a discussão andava à volta da formação grega. Vieirinha jogaria mesmo a defesa esquerdo? Jogou. E Warda ficaria no banco para jogar Léo Jabá? Ficou.
Isto porque em 2018 é banal sabermos tudo sobre o nosso adversário até aos mais pequenos pormenores. De repente, o sérvio Prijovic, o "10" Pelkas, o Varela que até nos marcou pelo Feirense ou Paschalakis passaram a ser nossos velhos conhecidos com as várias possibilidade que há de estudar o adversário.
Nem sempre foi assim.
Por exemplo, em 1983 quando ouvi na rádio o sorteio da Taça dos Campeões Europeus ditar um encontro com o Olympiakos senti pânico nos benfiquistas mais velhos. Isto porque ainda estavam traumatizados com uma inesperada eliminação quatro anos antes. Em 1979 o Benfica foi a Salonica e perdeu por 3-1. Na 2ª mão, na Luz, a equipa de Mário Wilson deu a volta à eliminatória com golos de Jorge Gomes e Reinaldo, que já tinha marcado na Grécia. Só que aos 80 minutos o Aris fez um golo de todo inesperado por Smertzidis. Foi um choque e os benfiquistas nem queriam ouvir falar em equipas gregas tão cedo. O trauma passou logo em 1983 quando na 2ª mão o Benfica de Eriksson atropelou o Olympiakos por 3-0 depois da derrota por 1-0 em Atenas.
Mesmo assim, perdurou um outro trauma. Camisolas amarelas na Luz. O Aris jogou de amarelo, o Liverpool fez miséria de amarelo e o Dukla também.
São factos curiosos que ficam na memória porque naquela altura antes dos jogos não havia tanta informação para reter.
Este PAOK chegou à Luz moralizado e com uma aura surpreendente depois de afastar Basileia e Spartak. Proeza que levantou desconfianças.
O Benfica arrancou bem a época e estava preparado para o embate.
Para começar houve uma alteração inesperada na equipa, saiu Salvio, entrou Zivkovic. André Almeida não tinha treinado na véspera mas foi a jogo.
Repetiu-se o enredo do outro jogo europeu na Luz deste mês, alguma desconfiança de parte a parte, o adversário a pressionar alto e a evitar que o Benfica entrasse muito forte. Aos poucos, o Benfica foi impondo o seu jogo e as dinâmicas de Pizzi e Gedson pelo meio, com Cervi e Zivkovic, sempre apoiados por Grimaldo e André, foram fazendo a diferença criando desequilíbrios que levaram o Benfica a construir uma mão cheia de boas oportunidades de golo.
Esta foi a boa notícia do jogo, o Benfica continua a criar muitas ocasiões para marcar. A má notícia é que não consegue concretizar. Pizzi tentou de cabeça, de longe em arco, de primeira junto ao poste mas só conseguiu de penalti no fim do primeiro tempo.
O Benfica jogou devia ter feito mais golos. E foi com esse sentimento que arrancou a segunda parte. Em poucos minutos apareceu Ferreyra várias vezes em situação de ser feliz mas não estava a ser uma noite boa. Também por culpa do guarda redes Paschalakis, diga-se.
Não marcando e perdendo frescura física o Benfica permitiu que o PAOK subisse com perigo. A entrada de Warda, lá está, foi determinante para dar mais velocidade e qualidade do flanco esquerdo para dentro e acabou por ser ele mesmo a fazer o golo do empate.
Golpe duro para a equipa do Benfica e para o seu treinador que já tinha apostado em Rafa e que se preparava para lançar João Felix. Assim juntou-lhe Seferovic. Se sobre os mais velhos já sabemos o que esperar e não deslumbraram, a entrada do jovem João foi mesmo uma mais valia. Talvez até a pedir para entrar ainda mais cedo na partida. A qualidade que tem na decisão, nos cruzamentos, no drible, no passe, não engana. Não há que hesitar.
Ainda houve oportunidade para o Benfica fazer o 2-1, que seria sempre pior que o 1-0, assim como este 1-1 é muito pior que um 0-0.
Mau resultado em casa, o Benfica entra em campo em Salonica já em desvantagem mas parece-me ser perfeitamente possível alcançar um resultado na Grécia que nos permita entrar na Liga dos Campeões.
E nem é preciso um milagre, basta mais acerto na hora da finalização.
Para começar, perdoem-me o trocadilho do título mas foi o que me lembrei quando vi Ferreyra a festejar no Bessa. Desde o famoso anúncio ao Porto Ferreyra que a pergunta não fazia tanto sentido. Se calhar, os mais novos nem sabem do que se trata. Googlem.
Permitam-me que ande para trás uns dias antes deste sábado.
Porque estamos em pleno verão, porque muitos dos leitores estão ou estiveram de férias, este cenário que vou recuperar deve ser familiar a muitos de vós. Sexta feira, fim de tarde no Algarve. Dia de praia impecável, companhia certa, temperatura amena da límpida água e a simplicidade de estar flutuar do mar tranquilo a olhar de frente para o sol a descer no horizonte e pensar que o momento podia ser eterno. Tudo tão perfeito e tranquilizante que uma pessoa até se interroga: para quê fazer 300 km para Lisboa daqui a pouco e amanhã juntar mais 600 e tal "só" para estar no estádio onde o Benfica joga às 19h?
É complicado de contextualizar naquele momento tão especial. Mas há uma força interior que nem nos deixa hesitar. Já longe do mar e daquele momento outras emoções se repetem. O Ferreyra ganha uma bola lá do outro lado do campo, atira à baliza e há explosão vermelha à minha volta. Claro que tinha de estar ali.
Voltemos outra vez atrás no tempo. Até 2ª feira. Portimão, 20h15m, o que é que leva um homem a ir de Silves para o Estádio do Portimonense? Fácil, vamos ver o próximo adversário do Benfica na Liga NOS. E o que leva dessa noite? Um pré aviso para os seus companheiros de bancada sobre Helton e Raphael Silva. Eram estes, perguntavam alguns deles hoje na bancada? Sim, estes foram os tais que me impressionaram. Pronto, uma pessoa sente que cumpriu a sua tarefa mesmo que aos olhos de pessoas desinteressadas deste contexto pareça ser uma perda de tempo.
Ir ao norte ver o Benfica é uma constante do nosso campeonato. Felizmente, tornou-se um pretexto para encontros gastronómicos com os amigos do costume e caras novas que sempre vão aparecendo. É assim que se estende o benfiquismo. Temo que, desta vez, não venha dar uma grande novidade a nível de local para refeições. O Tourigalo é um clássico da Avenida do Boavista mas eu nunca lá tinha ido. Talvez porque nunca resisto a passar pela Cufra sem parar.
Mesa marcada, recepção personalizada. E aqui deixem-me fazer um destaque para o muito simpático empregado que me veio cumprimentar para informar que é o pai da Alice Carneiro, uma adepta benfiquista do norte que já este no Uma Semana do Melhor. A partir daí ficámos entregues às iguarias do norte. Vitela, secretos, bacalhau, frango e entradas a condizer, com cerveja que o dia foi quente. Belo repasto, excelente convívio.
Depois, é sempre uma maravilhosa sensação subir aquela Avenida e ruas adjacentes e ver o mar vermelho que torna tudo tão familiar mesmo que tão longe da Luz e em plena cidade do Porto.
Já disse e escrevi que um dos locais mais especiais para se ver, sentir e festejar um golo do Benfica é no Estádio do Bessa XXI. Adoro ver futebol ali. Isto apesar do cuidado com a limpeza das cadeiras ser zero, a Liga devia ter vergonha de aprovar estas condições para os adeptos que pagam (e bem) para ver um jogo naquelas condições, e os acessos ao exterior do estádio no final do jogo serem uma vergonha. A Liga que continue a ignorar estas criticas, a Liga que continue a não fazer nada, a Liga que continue a desprezar quem paga e sabe do que fala.
Voltando à visão maravilhosa que se tem no Bessa, mesmo que atrás de uma baliza. Deu para ver um Benfica sem surpresas no onze à procura de ser feliz e com vontade de não repetir os últimos dois resultados ali.
Ver o primeiro golo oficial de Ferreyra ao vivo é um privilégio. Ia escrever que não tem preço mas depois a Liga ainda se aproveitava disto para aumentar os preços. A recuperação de bola, a intenção de rematar a bola a entrar mesmo no canto contrário da baliza no fundo das redes laterais. Que momento. E os festejos? Que pausa na vida para tudo começar a fazer sentido.
Ao intervalo, o 0-1 sabia a pouco.
A 2ª parte trouxe algum do melhor futebol que esta equipa já tinha mostrado a espaços com o Fenerbahçe na Luz e com o Vitória SC. Só que desta vez com maior amplitude e envolvência. A jogada de Salvio na direita em corrida para dentro a dar a bola no momento certo para Pizzi que já tinha pensado como ia fazer o golo, foi tudo vivido ali bem por cima deles por uma multidão vermelha que antes da bola entrar já festejava, tal a simplicidade, a beleza da jogada e a facilidade da execução.
Jogar futebol é muito simples, mas jogar futebol simples é a coisa mais difícil que há. A frase é tão boa que só podia ser do mestre Johan Cruyff. Eu atrevo-me a acrescentar: e quando um adepto tem a oportunidade de assistir a essa simplicidade a funcionar então o futebol é arte. E quando é a equipa do Benfica a interpretar, o futebol é vida.
Foi, também, ali que vi aquele golo épico do nosso Jonas a dar-nos 3 pontos. Simplicidade que causou caos festivo. Inesquecível, claro.
Voltemos aqueles momentos de reflexão. E aquele dia de Dezembro em que pensei o que raio ia eu fazer ao Bonfim para ver um jogo da Taça da Liga em que o Benfica já estava afastado? A resposta apareceu no jogo, como sempre. Vi o Rúben Dias marcar o seu primeiro golo oficial pelo Benfica.
Rúben, que há um ano estava entrar a titular no Bessa. Rúben, que hoje no final foi à bancada entregar a sua camisola. Parece que passou uma década mas foi só um ano.
Isto vem a propósito de quê? Simples resposta. Hoje vi a estreia oficial do João Félix no Benfica. Daqui a uns anos vou poder puxar deste trunfo. Só não foi mais épica porque Jardel não acertou na baliza de cabeça depois de um passe do menino que entrou como se jogasse naquele nível há anos. Reparem que já nem refiro o prazer que é ver Gedson a crescer de jogo para jogo. Mas tenho de referir que quando vi o miúdo a jogar lembrei-me do gozo que me deu estar na praia e ler o belo trabalho que o Nuno Paralvas, da A Bola, fez sobre o seu passado. Ali tudo fez sentido. Os pontos ligam-se assim.
A única derrota fora do Benfica na época passada, para a Liga, foi no Bessa. Se a minha vida fosse influenciada pelas derrotas e o maus momentos do meu clube eu nunca teria estado hoje no Estádio do Boavista a viver emoções tão boas. Nem tinha ido ao Bonfim. Se calhar, ainda estava a banhos no Algarve. Mas ver o Benfica ao vivo não tem comparação com nada. Não é melhor nem pior. Não é mais ou menos importante do que outra coisa qualquer. É, apenas e só, uma dádiva, um privilégio. Felizes aqueles que o podem fazer muitas vezes e que são motivados apenas pelas camisolas vermelhas independentemente dos adversários ou dos estádios.
Por falar em camisolas, ver o Benfica a jogar de calções pretos e o Boavista a jogar de calções brancos é anti-natura para não dizer outra coisa. Não quero saber de recomendações, regras e modernices. Desde a década de 30 que estes dois clubes se encontram no Bessa para jogos do campeonato, raramente o Benfica terá jogado de calções pretos. Estivemos todos enganados até 2018? Já sei, sou um chato do caraças com estes pormenores. Fico pior quando faço tantos quilómetros, pago tanta despesa, bilhete incluído, e tenho de vir para casa lavar a roupa toda suja das cadeiras que a Liga aprova no recinto que me recebe. Isso não interessa, os calções pretos é que são importantes.
Escrevi no final da primeira mão que tinha sido muito importante não sofrer golos na Luz. Por outro lado, essa teoria só valia se o Benfica fosse à Turquia procurar marcar. Aliás, Rui Vitória tinha prometido na véspera do jogo que a equipa ia à procura do seu golo. Prometeu e cumpriu.
O Benfica fez uma exibição personalizada na primeira parte, a equipa tirou partido da agressividade do titular Castillo e conseguiu pressionar bem o Fenerbachçe nunca dando sinais de intranquilidade por causa do ambiente sempre adverso.
Quando a equipa de Cocu teve que pegar no jogo e ir à procura dos seus golos nunca foi convincente mostrando que aquele domínio de jogo que mostrou na primeira parte da Luz é curto e pouco objectivo.
A equipa do Benfica foi crescendo com Gedson a dar alma ao lado direito onde André e Salvio sempre se entenderam melhor do que o lado esquerdo, que até foi a ala mais produtiva da época passada. Cervi, Pizzi e Grimaldo não deram tanta profundidade muito por culpa da desinspiração do argentino.
Uma combinação entre Castillo, Salvio e Gedson deu o tão esperado golo fora de casa que acabou por ser um seguro de vida muito tranquilizador.
Defensivamente foi uma pena aquela desconcentração no final da primeira parte que voltou a dar vida aos turcos. Ruben teve que sair da sua zona acção, Fejsa demorou a fazer a dobra, André também não dificultou o cruzamento no seu lado e Grimaldo ficou demasiado exposto na marcação individual que perdeu pela diferença de estatura.
Felizmente, o Benfica não acusou o golo e tentou nunca ficar só em postura defensiva na segunda parte. Podia ter tido mais critério de decisão sempre que construiu ataques em velocidades de maneira a resolver a eliminatória mais cedo.
Mas na verdade o Benfica conseguiu gerir emocionalmente o rumo da partida, perdeu Castillo ainda na primeira parte e Ferreyra foi lançado. Pena não ter assinado o seu golo depois de uma desmarcação óptima.
Uma palavra para Odisseas que voltou a responder bem quando foi chamado a intervir. O facto da defesa não hesitar em lhe passar a bola na hora de construir é um bom sinal de confiança da equipa para o guarda redes.
Um empate com sabor a vitória e o primeiro objectivo deste mês cumprido. O Benfica ultrapassou o adversário mais complicado do sorteio com toda a justiça e agora prepara o duelo e reencontro com o PAOK.
Não tenho grandes problemas em admitir que sofro de grandes traumas com o jogo de estreia no campeonato. Pode parecer estranho mas houve um longo período, cerca de uma década, em que o Benfica não conseguia ganhar o seu primeiro jogo na Liga de maneira nenhuma. Nem fora de casa, nem na Luz. Simplesmente, começava sempre mal o campeonato com pontos perdidos. Ano após ano. Até foi assim no arranque do Tetra, derrota no Funchal.
Quero sempre que este jogo de estreia no campeonato nunca seja o primeiro oficial do ano. De preferência, quero que o primeiro jogo oficial seja a Supertaça. Em alternativa pode ser uma noite europeia. Tudo para tirar aquela carga dramática da inauguração do campeonato. Vão ver os registos e depois percebem.
Felizmente, nos últimos anos temos tido arranques de época de luxo. Ou com Supertaças conquistadas ou com entradas de pé direito na maratona da Liga. Mas tenho sempre aquela aflição.
Depois de uma noite europeia em que a exibição da equipa foi de baixo para cima, o Benfica entrou em campo com a mesma equipa para defrontar o Vitória de Guimarães.
De forma clara e natural, o jogo revelou a subida de forma do Benfica da parte final do último jogo e o desacerto defensivo do Vitória que vinha da surpreendente derrota na Taça da Liga em casa com o Tondela.
Durante meia parte tudo fez sentido na Luz, o Benfica a jogar bem, a criar oportunidades e toda a equipa a ter oportunidade de brilhar, até Odysseas com boas intervenções. A excepção voltou a ser Ferreyra que desperdiçou um penalti. Não está fácil a integração do avançado, de qualquer maneira fica na memória a sua simulação, deixando a bola passar para um dos golos de Pizzi.
Pizzi, que noite! Três golos na primeira parte e uma exibição de excelência. Ele deu o mote para um grande arranque no campeonato. Salvo e Gedson acompanharam de perto a boa forma do português.
Tudo o de bom que elogiei na 2ª parte contra o Fenerbahçe, repetiu-se neste jogo com o Vitória. Chegar aos 3-0 antes do intervalo não devia estar nos sonhos do adepto mais optimista.
Vou repetir uma teoria que já tenho mostrado várias vezes. Eu não me importo nada de estar a vencer por três ou mais ao intervalo. Não me aborrece nada que a segunda parte seja uma pasmaceira. É o tipo de monotonia que aprecio. Resultado dilato, o tempo a passar e os três pontos no horizonte.
Já não aprecio tanto ver a equipa a quebrar com as substituições, nomeadamente a saída do omnipresente Fejsa, e ver o adversário crescer ao ponto de colocar o triunfo em causa.
O Benfica fez o mais complicado que foi construir uma boa vantagem nesta estreia da Liga que fica a meio de uma importante eliminatória europeia. Percebe-se a tentação de tirar o pé, abrandar o ritmo, rodar a equipa e começar a pensar no jogo seguinte. Mas pode sair muito caro. O 3-2 final revela uma segunda parte sofrida e a força de vontade do Vitória muito bem orientado por Luís Castro.
Objectivamente, cumprimos o objectivo dos três pontos. A equipa voltou a mostrar períodos de bom futebol que se deseja que sejam mais longos no futuro.
Depois do 3-2 vi dezenas de adeptos a virarem costas ao jogo e abandonarem o estádio. Em vários sectores da Luz. Foi uma imagem curiosa que me ficou no pensamento. Gostava de ter aquela coragem de ver uma vantagem de três golos passar para um com uns dez minutos para jogar e ir à minha vida.Gente valente e confiante.
O Benfica já leva dois jogos oficiais em 2018/19 com duas vitórias. Tem um onze que veio da época passada com um novo guarda redes, que tem justificado a aposta, um miúdo da formação que está a subir de produção de jogo para jogo e um corpo (ainda) estranho na frente com uma fase menos boa de Ferreyra.
Os momentos bons entusiasmam, os entendimentos das alas, Cervi, Grimaldo, André, Salvio, a grande forma de Pizzi e a entrega de Gedson, tudo sinais positivos.
O desligamento do jogo assusta, não há mudança individual que explique uma forte reacção do adversário
Prevejo um bom campeonato para este Vitória suspirei de alivio com o apito final que garantiu os primeiros três da temporada.
PS: um abraço à turma que estava a jantar no Edmundo e que me exigiu a crónica quando chegasse a casa. Cá está.
Bem vindos à época 2018/19 e à publicação de crónicas sobre os jogos do Benfica.
Nos últimos anos, durante o defeso, tem crescido em mim a dúvida se é mais forte ansiedade de voltar a ver jogos a doer do Benfica ou se é preferível estar mais tempo em descanso com tempo para ver outro futebol. Nos anos pares tudo é muito mais fácil de gerir, termina a época e seguem-se torneios de dimensões enormes, Mundiais e Europeus.
Na verdade, são, quase, três meses seguidos sem jogos oficiais do Benfica. Durante as primeiras décadas de vida sentia uma ansiedade muito grande pelo primeiro jogo da época. Ultimamente, nem por isso. Explica-se com a velhice e com aquele chavão de que o tempo começa a passar mais depressa. Mas também são sinais dos tempos. É que, na realidade, depois do último jogo oficial do Benfica nunca há descanso de verdade. O peso mediático arrasta-se de forma incrível todos dias e noites.
Enfim, serve esta introdução para explicar que o tempo passa, os contextos mudam, os desafios renovam-se e a grande verdade é que umas horas antes do primeiro jogo oficial abate-se um nervosismo, uma ansiedade e uma vontade inexplicável de ocupar o lugar na bancada e começar tudo de novo. É isto há uns 40 anos seguidos, mais coisa menos coisa. É absolutamente mágico aquele momento em que o jogo começa, respiramos fundo, damos uma olhadela pelas bancadas, fixamos o olhar na bola e depois espreitamos o céu como que a pedir uma ajuda divina para mais uma viagem, para mais uma maratona que só acaba em Maio.
O primeiro jogo é sempre especial. Geralmente, quando a estreia não é no campeonato é bom sinal. Nos últimos cinco anos, arrancámos as temporadas a disputar a Supertaça. Óptimo sinal, dá para começar logo a lutar por um troféu e quebra-se o gelo para a Liga. Tenho para mim que esse facto tem ajudado a quebrar aquele enguiço que durou várias épocas e que fazia com que as estreias no campeonato fossem decepcionantes. Ou seja, uma estreia a frio da Liga não é a melhor maneira de começar. O ideal é termos a Supertaça, sinal que alguma coisa correu muito bem no final da época passada.
Este ano, o desafio é europeu. Já não acontecia há muito e até apareceu de maneira inesperada. Na última jornada do campeonato já não era expectável terminar no 2º lugar. Felizmente, aconteceu e agora abriu-se uma porta de entrada para a Champions League.
Temos, portanto, para estreia da época uma noite europeia contra um velho conhecido, o Fenerbahçe que tinha estado na Luz a disputar uma meia final da Liga Europa de boa memória.
É muito complicado gerir todas as emoções nestas estreias. É o equipamento novo que vai ser visto ao vivo pela primeira vez por muitos adeptos, é o relvado que tem meio mês de vida e que apresenta uma imagem espectacular, são os reforços que vão sentir a Luz pela primeira vez, são as saudades daqueles nervos únicos que já não sentimos há três meses.
Ao mesmo tempo é preciso gerir o contexto da partida. Não é um jogo qualquer, é metade de uma eliminatória, está muita coisa em jogo, desde prestígio, a orgulho, a saúde financeira.
Um estádio cheio para receber uma equipa que, pela primeira vez em cinco anos, entra em campo sem ser campeã nacional. Há expectativa entre os adeptos de saber como vai a equipa reagir, há expectativa entre os jogadores para saberem como vão estar os adeptos durante o jogo.
Começo por destacar o imenso respeito que os turcos mostraram pelo Benfica. Estudaram bem todos os pormenores. Logo na saída de bola obrigaram o Benfica a atacar de norte para sul contrariando a tradição da Luz. É porque conheciam este hábito.
Depois, a postura em campo nas duas partes mostrou um Fenerbahçe bastante receoso. Na primeira metade, a pior do Benfica, os turcos deram prioridade à posse de bola, tentando controlar o jogo mas nem por isso se mostraram muito atrevidos na busca de um golo.
Na segunda parte, os turcos limitaram-se a defender, mesmo depois de estarem em desvantagem. Fica registado.
Era muito importante não sofrer golos. Esta é sempre a primeira prioridade para quem joga uma eliminatória da UEFA primeiro em casa. Depois, procurar vencer pelo maior número de golos possíveis. Graças à velha regra do golo fora, é muito melhor vencer por 1-0 do que por 2-1. É dos livros.
Nesse aspecto, a única boa notícia ao intervalo é que não havia golos.
O Benfica estreou Odysseas na baliza, ganhou a titularidade na pré época por mérito próprio. Ferreyra na frente e Gedson no meio campo. O jovem só teve que superar o nervosismo inicial porque tem Benfica da cabeça aos pés. O guardião teve uma estreia tranquila. O avançado não teve a estreia que desejava e que se desejava.
O Benfica não conseguiu impor o seu jogo na primeira parte mas podia ter chegado ao golo no primeiro minuto se a falta de Isla sobre Cervi tivesse sido devidamente assinalada.
A imagem mais simbólica da apagada primeira parte ficou naquele lance de Ferreyra, perto do intervalo, em que o avançado remata fraco.
Na segunda parte foi um Benfica de menos a mais. A equipa cresceu muito com a subida dos sectores, com os jogadores a jogarem muito mais juntos a velocidade aumentou, as iniciativas nas alas cresceram e os problemas para os turcos começaram a aparecer.
Gedson a transportar jogo sem complexos, Salvio e André na direita, Grimaldo e Cervi na esquerda, nas habituais criações conseguiram levar o jogo para um patamar muito mais interessante. Faltou mais Pizzi, no sentido do português aparecer mais perto da baliza e faltou muito mais Ferreyra.
Com 0-0, Rui Vitória optou por trocar de avançados lançando Castillo, outra estreia. Na Luz pedia-se um alargamento da frente de ataque mas, sinceramente, pareceu-me a melhor opção. É que Ferreyra não me pareceu que fosse dar muito mais ao jogo e a equipa estava a crescer a olhos vistos apesar do nulo. O chileno trouxe mais energia, mais combate, mais garra ao ataque do Benfica e o Fenerbahçe encolheu-se mais um pouco. O guarda Redes Demirel recusava-se a repor a bola em jogo com o árbitro a permitir perdas de tempo inaceitáveis.
O golo apareceu de forma natural e justa, ligação directa entre extremos, Salvio da direita para dentro assiste Cervi que veio da esquerda para receber e improvisar um remate cruzado que deu o 1-0.
Foi um bom período do Benfica, houve ali um momento em que vários jogadores do Benfica mostraram uma subida de confiança grande com trocas de bola de nível técnico superior e isso deixou a equipa turca desconfiada e sem vontade de procurar um valioso golo.
Foi a 14ª vez que o Benfica venceu uma primeira mão por 1-0. Só contra Anderlecht e Dortmund correu mal na segunda mão. O Fenerbahçe sempre que perdeu por este resultado nunca conseguiu seguir em frente em sua casa. Há que preparar a ida à Turquia com o pensamento de marcar lá. Há argumentos para isso.
Não foi uma estreia fantástica mas foi uma primeira missão cumprida. Foi a primeira vitória desde Dortmund e fica o sentimento de arranque positivo.
Agora que a bola já rolou não há volta a dar. Voltámos ao ritmo alucinante dos jogos a doer. Ainda estamos a fazer rescaldo e projecções para a segunda mão e já aí está o Vitória Sport Club à espera de entrar em cena no novo tapete da Luz.