Aves 1 - 3 Benfica: Ala Esquerda Que Avança com Toda a Confiança
O futebol do Benfica virou à esquerda. A grande conclusão desta vitória tranquila na Vila das Aves é que há uma nova movimentação ofensiva na equipa tetra campeã.
Rui Vitória optou por deixar Pizzi no banco, já não acontecia há uns dois anos, e voltou ao esquema clássico de consumo interno, o 4-4-2 com Jonas e Seferovic na frente.
Foi, precisamente, Jonas o elo de ligação da irrequieta juventude que compõe o lado esquerdo. Grimaldo e Diogo Gonçalves foram sempre empreendedores encontrando no "10" um excelente vértice de um triângulo de talento. E esta opção pela ala esquerda explica-se pela ausência de ideias no corredor central, Fejsa e Filipe Augusto não se desprendem, o brasileiro não consegue chegar-se à frente na condução do ataque, fica uma dupla mais posicional e de contenção mas sem fulgor atacante.
Assim, é natural que sejam as alas a ser chamadas ao jogo. Salvio e, o regressado, André Almeida também foram construindo pela direita mas sem o mesmo entusiasmo que o corredor oposto.
O Benfica fez o suficiente para sair das Aves com um resultado folgado, Quim resolveu assinalar o jogo em que se tornou o mais velho de sempre a jogar no campeonato com uma enorme exibição.
Por falar em opostos, na outra baliza o miúdo Svilar estreou-se na Liga com uma noite tranquila, uma bela defesa no começo e um golo sofrido num pontapé de canto em que a culpa tem de ir para quem falhou na marcação a Defendi.
Uma vitória com dois penaltis, o que é maravilhoso para os dependentes de audiências televisivas, mas que nem merece discussão.
Foi a minha estreia no Estádio do Aves.
Claro que tudo começou com a organização de um almoço que juntou mais de duas dezenas de benfiquistas. Repasto feito no restaurante Lazer Sampaio, em Monte Córdova, freguesia do concelho de Santo Tirso. A simpatia do costume das boas gentes do norte, atendimento impecável e um cabrito assado que não dá para descrever aqui de tão bem que soube. A viagem já estava justificada só com aquele almoço.
Depois, viagem para o estádio. Estradas curtas, cheias de curvas, paisagens verdejantes e a ideia que íamos rompendo por entre aldeias até chegar a um estádio no meio de uma Vila. Gosto muito. É o futebol a andar pelas terras de Portugal, é o povo a invadir estradas e caminhos da sua paixão num final de tarde de domingo.
Oportunidade para matar saudades do Vítor Pimenta, amigo de longa data de quem já falei por aqui várias vezes. Hoje é fisioterapeuta do Aves. A simpatia daquele abraço num rápido convívio que marca de forma diferente estes dias especiais.
Estádio pequeno e pintado de vermelho e branco, mesmo porque as cores da equipa da casa também são bonitas.
Guarda a visão que se tem da bancada num pôr de sol digno da estação de verão. Cabos de alta tensão que ladeiam o recinto contrastam com a tranquilidade da vitória do Benfica. Pessoas que enchem as varandas e janelas das casas que substituem uma bancada de topo dão um ar de futebol de outros tempos àquela partida. Do nosso lado esquerdo vibra-se tanto no alto daquelas casas como na nossa bancada. Muitos cachecóis do Benfica pendurados e festa garantida no único golo que Jonas fez naquela baliza.
À saída em conversa com os locais percebemos que a Vila das Aves é composta por uma larga maioria de benfiquistas. Teoria que depois confirmámos num jantar inesperado e improvisado junto do local onde estacionámos o carro. No caminho até lá o encontro, que já é um clássico, com a boa malta de Fafe. Esses é que levam isto bem. Carro parado num passeio, porta bagagens aberto para improvisar uma banca que exibe panados, presunto e uma bôla que devia ser considerada património mundial da gastronomia. Claro que tudo devidamente partilhado e oferecido. É uma turma que só por si representa o que é ser Benfica. Abraço a todos e também à malta que ainda ia para Vila Real. Ali respira-se Benfica.
Para o fim ficou um inesperado convívio no Clube Amadores Pesca Vila Ave, penso ser este o nome oficial de um restaurante onde nos serviram uma bifana de qualidade superior ao nível das famosas do Conga. E ficámos também a conhecer um vinho chamado Boca Aberta. Faz jus ao nome. A simpatia de uma família que ficou com histórias para contar de um grupo de adeptos do Benfica que sabem que ser benfiquista vai muito além daquilo que se passa num jogo de futebol. A senhora cozinheira é a que trata da alimentação do plantel do Aves. É assim este pequeno mundo. Sair de casa para ir ver um jogo é uma maneira de ver a coisa, conhecer sempre mais e mais mundo por esse Portugal fora com emblema glorioso no comando é outra. A que eu mais gosto. Tenho pena dos que acham que isto tudo se resume a um jogo.
O Benfica ganhou, 6ª feira há mais.