A análise ao Basileia por Rui Malheiro para o jornal Record:
O desaire com o CSKA Moscovo (1-2) coloca pressão ao Benfica em Basileia, onde necessita de triunfar para manter a chama do apuramento para os ‘oitavos’ acesa. O favoritismo pende para as águias ante um octacampeão suíço em crise na qualidade de jogo e nos resultados – é 3.º na liga, a 6 pontos do líder Young Boys.
Contestação. Raphaël Wicky sucedeu a Urs Fischer, aposta de risco dada a inexperiência, já que apenas orientara as formações secundária e de juniores do Basileia. Manteve a espinha-dorsal do plantel, com a exceção de Doumbia, mas rompeu com o 4x2x3x1 do antecessor, apostando num 3x5x2. O início aquém das expectativas conduziu ao regresso ao 4x2x3x1 e a uma passagem pelo 4x4x2 clássico, que não surtiram efeito. Com o Benfica, a aposta deverá ser o 5x4x1, com desdobramento, em momento ofensivo, em 3x4x2x1 – ensaiado ante Zurique (1-0), Chiasso (1-0) e Man. United (0-3).
Previsibilidade. A busca do jogo exterior, explorando a projeção dos laterais Lang e Riveros, e de cruzamentos destes para a área, onde Wolfswinkel é referência, são marcas do ideário de Wicky. Na Champions, a equipa surge com linhas mais baixas, explorando contra-ataques e ataques rápidos, onde a velocidade, mobilidade e criatividade de Oberlin e Steffen, com Elyounoussi (em dúvida) e Bua como alternativas, a serem a chave do assalto à profundidade, onde Wolfswinkel continua determinante. A construção e criação são previsíveis e partem das saídas em condução e em construção dos centrais Akanji e Balanta (e do guarda-redes Vaclík), que devem ser pressionados. O critério aumenta com Zuffi e Xhaka, que oferecem qualidade na ligação entre sectores. As bolas paradas laterais são cruciais, com Suchy, Akanji, Balanta, Oberlin e Wolfswinkel a atacarem na área.
Debilidades. Exposto na transição, o Basileia tem revelado uma organização defensiva a roçar o caótico, sentindo arduidades na definição e coordenação da última linha e no controlo da profundidade. A busca de referências individuais conduz a arrastamentos que destapam espaços para desmarcações de rutura e há debilidades na cobertura aérea do segundo poste nos cruzamentos. Perdas de bola na primeira fase de construção convidam a uma pressão alta, o que poderá redundar em contratransições.
Hoje a questão era entre ganhar ou ganhar. O Benfica tinha de manter o caminho imaculado nos jogos em casa no campeonato e com isso regressar à normalidade das vitórias após estreias em falso na Europa e na Taça CTT, a que se somou uma inesperada derrota no Bessa.
Respirar fundo e preparar um onze que desse garantias de uma noite tranquilo com três pontos conquistados, era tudo o que os benfiquistas pediam para esta primeira noite de outono no Estádio da Luz neste sábado.
Júlio César aproveitou a oportunidade aberta na Taça da Liga a meio da semana para reconquistar a titularidade natural na baliza do Benfica. Almeida manteve-se à direita, Luisão voltou a encontrar ao seu lado o jovem Ruben Dias e Grimaldo está a regressar aos bons desempenhos na esquerda da defesa.
Depois o mais importante, Fejsa regressa à equipa e é logo outra dinâmica. Isto com Fejsa é quase começar a ganhar o jogo. Pizzi continua a subir de forma na sua posição e nas alas houve oportunidade para Zivkovic brilhar mais à direita, como tanto gosta, e Cervi pela esquerda.
Na frente, a dupla desta época, Jonas e Seferovic.
( Fotogaleria de João Trindade)
Curiosamente, os golos nascem destas duas últimas duplas. Zivkovic assistiu Cervi, Seferovic assistiu Jonas.
A história do jogo fez-se mais dos golos falhados do que dos golos marcados. Numa noite mais inspirada e de acerto, o Paços de Ferreira saía da Luz como mais uma, das muitas, goleadas que tem no historial de encontros com o Benfica.
Mas para o contexto do jogo hoje o mais importante era mesmo vencer e sentir confiança na equipa.
Acham mesmo que com um guarda redes com a carreira de Júlio César, com Fejsa a titular, com Pizzi a subir de forma, com dois alas daquela qualidade e um avançado da classe de Jonas, o Benfica está morto e enterrado?
A mim não me parece que seja assim.
Hoje não foi brilhante mas foi bom. A resposta está dada e até já se recuperaram pontos a um dos rivais.
É este o caminho.
E nós, melhor do que ninguém, conhecemo-lo muito bem.
Que tenha sido a viragem de uma fase má porque com Fejsa a fase é sempre boa.
Há pouco mais de um mês o Benfica recebeu o Braga na Luz para o arranque do campeonato. O Benfica vinha da conquista da Supertaça e conquistou os três pontos contra o Braga.
Repito, pouco mais de um mês depois e o contexto futebolístico está virado ao contrário. O Benfica volta a receber o Braga na Luz mas em luta para inverter um ciclo negativo que teima em manter-se.
Rui Vitória sentiu necessidade de lançar novas caras, novos nomes e algumas estreias no clube, como foi o caso de Krovinovic. Também tentou inovar na organização táctica da equipa.
Júlio César voltou à baliza, Eliseu, André Almeida, Jardel e Ruben Dias, na defesa. Depois, Filipe Augusto e Samaris, com Krovinovic mais à frente e Gabriel na direita, Rafa na esquerda e Raul na frente de ataque.
O mais interessante é que a equipa respondeu de forma positiva, tomou conta do jogo, mostrou vontade e chegou ao 1-0 por Raul.
O que é misterioso é o que se passa depois. Uma espécie de apagão colectivo progressivo que vai deixando a equipa apática a assistir à reacção do adversário até este chegar ao golo. Foi assim com o Portimonense, CSKA e Boavista. Muito estranho.
Dá ideia que psicologicamente a equipa não está estável, sinais mais evidentes à medida que chegamos perto do final do jogo e não se vê objectividade no ataque. Jonas podia ter dado a vitória mas André Moreira negou-lhe o golo e há uma jogada de Gabriel pela direita que é interrompida por fora de jogo inexistente e que dava golo. São pormenores que podiam ter mudado a história do jogo.
As coisas não estão a sair a bem mas hoje viu vontade de mudar o rumo dos acontecimentos, seja pela aposta em novos jogadores, seja pela escolha táctica, seja pela maneira como se chegou à vantagem.
É verdade que o ciclo é delicado mas falamos de três jogos seguidos para três competições completamente diferentes. Marcámos passo em todas elas mas não é o mesmo do que estar três jogos sem ganhar para o campeonato.É uma fase má que a equipa precisa de ultrapassar e hoje voltou a contar com a ajuda dos seus adeptos.
(Fotogaleria: João Trindade)
24160 que foram dignificar uma competição tratada aos pontapés pela Liga de Clubes. Que justificação dá a Liga para este Grupo ter o seu primeiro jogo depois da 9 da noite e até há pouco tempo nem se saber bem quando é que se disputava o outro encontro. Que competição é esta que tem um calendário completamente baralhado, o Porto adiou o seu jogo por alma de quem?! Um grupo que era para ter o Real mas que foi afastado para entrar o Belenenses que, por sua vez, trocou de lugar com o Portimonense como parceiro de Benfica e Braga. Isto é tudo surreal mas 24160 quiseram acompanhar a sua equipa numa competição que apenas o Benfica costuma prestigiar.
24160 que percebem o momento mau que a equipa atravessa e fizeram um esforço por vir ao estádio aproveitando os preços dos bilhetes baratos.
24160 num jogo de abertura da Taça da Liga na Luz deve ser um recorde, costumamos ser menos.
24160 nas bancadas não chega a ser metade da lotação do estádio e, por isso, temos sempre de perguntar pela outra metade. Parece-me que a equipa precisa do apoio dos seus adeptos mais do que nunca.
Valentes 24160, mereciam mais felicidade naquele último tiro do Jonas.
Que tudo volte ao normal no sábado com o Paços de Ferreira, já noutra competição.
O poder de uma imagem é este, olha-se e vê-se milhares de pessoas unidas por um ideal, neste caso, o melhor de todos, o Sport Lisboa e Benfica. Estes adeptos vivem, teoricamente, na sua maioria no norte de Portugal e resolveram dar tudo para estarem neste sábado à tarde no Bessa para criar um incrível ambiente de apoio que começou antes do jogo e durou até ao apito final. São adeptos que percebem o momento da equipa e quiseram mostrar que podiam contar com eles. Uma resposta às últimas exibições que estiveram longe de convencer. Criaram-se condições fora de campo para que a equipa se sentisse acarinhada, motivada e apoiada para regressar às vitórias após a estreia europeia.
Tudo parecia estar no caminho certo quando Jonas fez o 0-1 e o Benfica mostrava vontade de chegar cedo à vantagem.
Misteriosamente, a equipa voltou a decair após o mais complicado, ou seja, estar a ganhar. Progressivamente, o Benfica tornou-se menos atacante, mais passivo e apenas com um golo de vantagem chegou ao intervalo.
Foi o dia de estreia de Ruben Dias ao lado de Luisão. De resto, as escolhas de Rui Vitória não surpreenderam ninguém em relação ao que tem sido esta época.
Nas bancadas ninguém se conformava, sentia-se que a vantagem era demasiado curta e puxava-se ainda mais pela equipa. Era preciso um Benfica convicto para resolver o jogo. Mas voltámos a ter uma quebra inexplicável que começou aos 51 minutos com a saída de Salvio lesionado. Um filme tantas vezes visto que já nem surpreende e um claro sinal que vinham aí dificuldades para gerir o jogo. Nem foi preciso esperar muito, empate 4 minutos depois por Renato Santos depois de uma jogada que a defesa do Benfica não consegue resolver. A vantagem ali era só uma, ainda sobrava muito tempo para fazer um golo que desse a vitória. Reacção era o que se pedia. Na bancada nem um sinal de rendição, mais convicção no apoio.
Mas o filme dos últimos jogos repetiu-se, a equipa parece emotivamente afectada, não consegue responder de maneira afirmativa e convincente. Para piorar o cenário, aos 74' um livre que parecia inofensivo acaba em golo do Boavista por infelicidade de Bruno Varela. A Lei de Murphy a funcionar, tudo o que podia correr mal, correu.
A infelicidade de Bruno Varela a abordar o lance não foi maior que a ineficácia dos seus colegas da frente. Não foi maior que a falta de objectividade de Rafa e Gabriel na hora de fazerem um golo fácil e atrapalharam-se, nem foi maior que o desaproveitamento total das bolas paradas, em livres e cantos, que a equipa desperdiçou em série.
E, o mais importante de tudo, esta infelicidade do Varela não foi maior, nem nada que se pareça, do que o desprezo que os adeptos, os tais que nunca se renderam e tudo deram para um final de tarde mais digno, sofreram por parte da sua equipa de futebol. Inexplicável.
Sem dramas, aqui personalizo um pouco a crónica. A 16 de Setembro estava na Luz a ver o Benfica bater o Partizani da Albânia numa 4ª feira europeia. Porque sei isto? Porque é o dia de anos da minha irmã que agora chegou aos "entas". Se naquela noite de 1988 foi um pouco chocante eu abandonar o jantar de aniversário pelo Benfica, em 2017 já ninguém acha anormal que eu esteja no Porto num sábado à tarde. Não há dramas, como dizia. É aborrecido para a família mais próxima sentir que há quem largue tudo para estar perto daquilo que é mais importante naquele momento. Ao fim de tantos anos nesta vida, os jogos que não acabam da maneira que queremos já são encarados com a devida experiência. Esta é a primeira derrota no campeonato desde aquela negra noite no Bonfim no começo deste ano. O sabor amargo é sempre o mesmo, a esperança de um jogo melhor cai logo para o próximo. Mas a sensação de desprezo de uma equipa cabisbaixa a sair do relvado sem um agradecimento por quem larga tudo só para ali estar não é descritível por palavras.
O ciclo pode estar a ser mau, o momento pode ser delicado mas o respeito tem que haver sempre no Sport Lisboa e Benfica. De fora para dentro e de dentro para fora. Sempre!