Benfica 5 - 0 Belenenses: Uma Ode a Cruyff
Johan Cruyff costuma dizer que, no futebol, “não existe som mais fantástico do que o da bola a bater no poste”. E exemplificava, falando que nos jogos já ganhos, gostava mais de, nos últimos minutos, enviar uma bola ao poste e ouvir aquela típica reacção da multidão “oooooohh”, do que fazer mais um simples golo.
Eu quando reconheço génios em campo lembro-me logo de outros génios que aprendi a admirar. Aqui me confesso devoto do génio Cruyff, foi por isso que comecei a crónica com ele. Não é todos os dias que estamos a ver um jogo de futebol e os acontecimentos levam-nos até ao universo de Johan. Mas hoje aconteceu. Quando Jonas chuta do meio do campo uma bola para a baliza do Belenenses e o poste a devolve, é como se algo de poético tivesse nascido no relvado da Luz. O resultado já ia em 3-0, sentia-se que a vitória estava segura e, por isso, aquele momento genial do "10" do Benfica tem tudo para ficar eternizado. A tal beleza do fracasso que aquele Brasil de 1982 é o expoente máximo. A noite em que o Benfica goleia o Belenenses mas o momento é um pontapé do meio campo que ia dando golo.
Depois, já na segunda parte, Luisão cabeceia ao seu estilo na área adversário e a bola bate no poste e sai. Segue-se Cervi, cruzamento do lado esquerdo, bola em arco e em vez de entrar na baliza é devolvida pelo poste da baliza sul da Luz.
Precisávamos de Johan Cruyff ali ao nosso lado na Luz para apreciar este festival de bolas a baterem no poste. No entanto, faltava-me o som. Faz toda a diferença, o som da bola a bater no ferro. Pois bem, Raul Jimenez fez-nos, a mim e a Cruyff, a vontade e atirou uma bomba que levou a bola a bater com estrondo no poste direito da baliza mesmo à minha frente. Desta vez ouvi e sorri.
Convenhamos que com tanto capricho até ficava mal irmos embora com um marcador nuns "míseros" 3-0. Então regressamos ao mundo dos génios, Jonas finaliza a meia altura um passe de Raul e faz um golo que a maior parte dos futebolistas que já pisaram o relvado da Luz falhariam.
Pizzi também quis servir o Rei Gonçalves e o brasileiro finalizou o seu terceiro golo no jogo.
Mais do que a vitória, viveram-se momentos de epicismo no Estádio do Sport Lisboa e Benfica.
Tudo ficou muito claro logo no arranque do jogo. Um golo logo no começo de jogo e mais dois até aos 33 minutos da 1ª parte é algo que está muito perto dum mundo perfeito para mim.
É um arranque de temporada incrível do Benfica. Desde a temporada de Trapattoni que o Benfica não vencia nos três primeiros jogos do campeonato. Esta época junta-se ainda a conquista da Supertaça. Quatro jogos, quatro vitórias. O melhor arranque do ciclo de Rui Vitória no Benfica, e um dos melhores sempre.
Isto depois de mais uma pré época decepcionante. Já ninguém se lembra da crise em que acabou aquele período de treinos e experiências, no entanto cheguei a ouvir que o Benfica este ano partia atrás dos rivais.
O treinador Rui Vitória já definiu o seu 11 ideal para este primeiro mês de competição. Varela, Almeida, Luisão, Jardel e Eliseu, Fejsa, Pizzi, Salvio e Cervi, Jonas e Seferovic. Para o derby com o Belenenses não havia Fejsa, avançou Filipe Augusto. A única alteração na equipa em nada prejudicou o jogo do Benfica. O brasileiro aproveitou bem a oportunidade a titular para mostrar argumentos convincentes para ser opção para aquela posição.
Do lado do Belenenses, Domingos Paciência pareceu hesitar muito na opção dos 3 defesas mais ao centro e acabou por não mostrar um plano B que fosse convincente. Nunca conseguiu estar por dentro do jogo ou em condições de discutir o derby,
Num jogo em que o Benfica acerta quatro vezes nos postes da baliza e consegue vencer por 5-0 está tudo dito. Cruyff aplaudiu entusiasmado lá em cima.