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Red Pass

Rumo ao 38

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Benfica 2 - 1 Vitória de Guimarães: Triplete à Campeão!

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 Abrimos a época em Agosto a celebrar a conquista da Supertaça. Foi um belo lançamento para dez meses de luta, sofrimento, empenho, trabalho e capacidade de acreditar que íamos chegar ao fim de Maio bem felizes. O tão ambicionado Tetra já é uma realidade, faltava fechar em grande.

 

Entre 1997 e 2004, o Benfica não jogou uma final no Jamor. Parecia uma tarefa quase impossível, até que naquela tarde de 2004, Hélder e Simão levantaram a Taça de Portugal e todos sentimos que a normalidade vencedora do nosso clube ia voltar a ser uma realidade.

Treze anos depois, novo encontro marcado no último jogo da temporada no cenário único do Jamor. Desde a compra do bilhete às combinações para os convívios cheios de comes e bebes, tudo nos soa muito mais familiar. Não temos voltado todos os anos, mas desde 2013 já é a terceira vez que passamos o dia mágico no Estádio Nacional. É um bom hábito que devia ser uma rotina.

Alguns ainda se devem recordar dos anos negros quando Vale e Azevedo organizava no final da temporada um dia à Benfica no Estádio da Luz. Era uma boa ideia que só não pode ser válida porque o clube tem de ter como objectivo estar presente no último jogo de cada época proporcionando aos seus adeptos um legítimo dia à Benfica.

Isto que se viu hoje na mata do Jamor é Benfica. É Benfica por todos os lados. Grupos de adeptos do Benfica organizados à volta de grelhadores, muitos de cervejas na mão, alguns nem bilhete tinham para o jogo, um mar vermelho de todas as idades, homens, mulheres e crianças, tudo num convívio incrivelmente bonito. Isto sim, é que é um dia à Benfica, com benfiquistas vindos das mais diversas partes do país e do mundo.

 

Depois o jogo. Não me lembro de assistir a uma final de Taça com uma chuvada destas. Nas bancadas tentámos recuperar entre as memórias, as maiores molhas a ver o Benfica. Um Benfica - Penafiel na Luz, um clássico com o Porto na Luz, uma noite europeia com o Olympiakos e por aí fora. No Jamor não me lembro de tal coisa. Fica esta para a história colectiva. Sendo que o pessoal vinha preparado para um dia primaveril, ténis, calções e manga curta. O São Pedro foi abusador.

O que não me esqueço é do sentimento de ver o Benfica entrar naquele relvado para o jogo decisivo. Em 1981, tinha oito anos e vivi pela primeira vez a experiência. Ainda hoje sinto o mesmo arrepio ao ver as camisolas berrantes alinhadas naquele ambiente.

 

Jogo intenso, Benfica dominador mas poucas oportunidades de golo. Animação nas bancadas, se do nosso lado nunca surpreende o apoio, já do outro lado do estádio sentia-se o clube de uma maneira muito particular. Os adeptos do Vitória são muito grandes.

Com a equipa do Benfica a atacar para a nossa baliza, tal como acontece na Luz, o jogo foi completamente diferente. Aquela vontade de ganhar, aquela motivação de campeão, aquela qualidade individual aliada a uma harmonia colectiva, veio tudo ao de cima e Raul Jimenez respondeu rápido a uma defesa incompleta após remate de Jonas. Um chapéu mexicano tão arqueado, tão convicto, que por momentos pensei que a bola ia para fora. Não foi, entrou e mais de metade do estádio explodiu num festejo anunciado. A celebração de Raul só serviu para a euforia ser ainda maior.

Não foi preciso esperar muito pelo segundo, Nelson Semedo pela direita cruza e cabeçada perfeita de Salvio para golo. A ala direita do Benfica a deixar o mar vermelho do Jamor em delírio. Ainda vimos ali naquela baliza o Pizzi a imitar o Raul mas em mau, em termos de chapéus, o Jonas a acertar na trave e o Raul a mandar uma bola para Queijas, em vez de fechar o jogo facilmente.

O Vitória reduziu, um prémio merecido para a luta que deu e uma felicidade para os seus adeptos que acreditaram até ao fim. Dispenso estas emoções até final das partidas mas o sentimento de alegria no apito final é único.

 

Então e o vídeo árbitro?

Gostei muito. Dois penaltis por mão na área, que se viram bem da bancada, por acaso, uma tentativa de assassinato ao Fejsa que acabou por só levar 12 pontos e tudo escapou ao sistema salvador do futebol português. Promete muito...

 

Repito os elogios aos adeptos do Vitória, são incríveis. Contribuíram muito para uma tarde inesquecível.

 

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Agora, permitam-me um pequeno reparo aos meus companheiros de luta benfiquistas. Então passamos mais de 90 minutos debaixo de uma chuva que não poupou nem as cuecas e depois aproveitamos o apito final para virar costas ao estádio!?

Eu nestes dias de finais, não venho para apreciar um grande jogo ou um belo duelo táctico. Não, não. Nada disso. Eu venho apenas e só com um objectivo, ver o nosso capitão levantar a taça no fim. Vivemos para ver os capitães do Benfica levantarem taças. E quando estamos a minutos disso acontecer debandamos e deixamos meia bancada vazia para o grande momento? Não faz sentido nenhum.
Muita atenção, meus caros, nunca se cansem de ganhar. Nunca desprezem uma conquista. Nunca!

Da mesma maneira digo que os jogadores do Benfica também não se podem cansar de celebrar. Nem terem pressa para irem para o balneário em vez de mostrarem a Taça aos que ali estão por eles. Eliseu salvou o momento e não deixou ninguém recolher. Grande final de época para Eliseu.

 

Ganhar a Supertaça, vencer o campeonato e conquistar a Taça de Portugal é um triplete à antiga. Parecendo fácil e normal é coisa que já não acontecia desde o começo da década de 80! Um triplete histórico, estamos a viver história. Estamos a começar e a terminar épocas da maneira que faz mais sentido, a jogar e a ganhar. Em Aveiro batemos o Braga, no Jamor derrotámos o Vitória, pelo meio deixámos os rivais a falarem sozinhos e a consumarem alianças no campeonato.

 

Benfiquistas, o Benfica voltou a encontrar-se com a História. A sua história! O Benfica voltou a estar à altura do... Benfica. E o que nós penámos para aqui chegar. Nós somos o Benfica que sempre sonhámos. Nos próximos dias, nas próximas semanas, nos próximos meses, sintam esta alegria, desfrutem a sorte de serem benfiquistas, juntem-se, almocem, jantem, lanchem, recuperem as memórias desta época. E da anterior. Aliás, lembrem-se daquela tarde no Jamor em 2013 e de como partimos para um ciclo maravilhoso.

Vivam o Benfica, ignorem o resto. Tudo é insignificante perante a nossa alegria. Mas nunca se cansem de ganhar, nunca se cansem de festejar, nunca se cansem de ver troféus ao alto nas mãos dos nossos jogadores.

Viva o Benfica!
Voltamos lá mais para o verão para a conquista da Supertaça. Sempre a somar.

Benfica do Vietname Vs Tetra por Pedro Ribeiro

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Há uma expressão que uso, nas conversas com amigos benfiquistas, sobre aqueles negros anos entre 94 e 2005. “O nosso Vietname, é como eu chamo a esses anos de frustrações, derrotas e humilhações.

A geração mais nova só ouviu falar disso, e não sabe o que doeu. E eis que, em 2017, vamos com quatro campeonatos seguidos no nosso bandulho. Um regalo. Uma impossibilidade, se nos falassem disso durante esse período trágico do nosso clube.

O exercício festivo que proponho é o de reavivar a memória dos leitores do Red Pass para esses tempos, até para que tenham todos, a cada momento, a noção exacta dos tempos gloriosos que estamos a viver no nosso clube.

Comparemos, com a decência de não incluir na comparação craques que por aqui passaram nesses anos de horror, mas que estavam à altura do nosso clube. Tiveram o azar que cá estarem nessa altura, fazendo deles parte de nós, neste sentido: foram vítimas inocentes:  João Vieira Pinto, Michel Preud’Homme, Karel Poborsky, Nuno Gomes, Robert Enke, por exemplo.

Mas olhemos para os outros. Craques lendários da caderneta dos cromos mais difíceis, sabe Deus debaixo de que pedra vieram. E comparemos com os craques superiores que temos hoje.

 

Bossio/Ederson – Ora o que é que temos aqui? O argentino chegou ao Benfica e logo no primeiro jogo, na apresentação com o Bayern de Munique, deu um frango muito maior que o seu imponente metro e noventa e quatro. Ficou apresentado. Uma espécie de Roberto antes do tempo, Bossio foi um expoente do Vietname benfiquista e compará-lo com Ederson é até cruel, para os dois. Ederson é o melhor guarda-redes do mundo, pelo menos está em campo com ar disso, e tem tal confiança em si, nas capacidades da equipa e na necessidade de promover o futebol espetáculo, que pode dar-se ao luxo de dar uma barraca aos três minutos de jogo em Alvalade, e depois esperar calmamente que o sueco que tem à sua frente, e que vai ser seu companheiro de quarto nos estágios do unaitid faça a sua magia. Se já existisse, com a idade que tem hoje, nos anos 90, Ederson teria sido guarda-redes e médio, dada a capacidade de colocar a bola na frente. Eu acredito que ele continuará a fazer assistências para golo para os nossos avançados, mesmo a jogar noutro campeonato qualquer. Já Bossio, coitado, tem de contentar-se em comprar uma assinatura e ver os jogos da Premier League, lá na Argentina, mentindo aos amigos, olhando para Ederson na televisão e dizendo: “le ensine todo.”

Mas nós é que sabemos.

 

Rojas / Nelson Semedo – Ainda vamos no lateral direito, e acabo de perceber que isto vai ser um rolo compressor de paródia e regabofe. Naquela negra Quinta-feira, 25 Novembro de 1999, Rojas exerceu marcação cerrada sobre Karpin, que o cerrou ao meio várias vezes, fazendo dele um pobre número de magia em que o truque estava tão à vista que, a dada altura, veio Gustavo Lopez para o seu lado. Rojas só não chorou porque desconfio que nem percebeu bem o que lhe aconteceu. Nélson Semedo é o melhor lateral direito do mundo, ou vai ser um dia destes. Faz três ou quatro maratonas em cada jogo, tem um tempo de corte e uma técnica que farão Rojas pensar, tarde demais, que escolheu a profissão errada.

Ronaldo / Luisão – Brasileiros, defesas centrais. A semelhança acaba aí. Quando digo ao meu filho que nós tivemos um Ronaldo no Benfica, ele abre muitos os olhos de espanto. É então que realizo o que quero dizer com essa revelação, arrependo-me e mudo de assunto. Ronaldo tinha a rapidez da minha bicicleta de infância, tal como ela está hoje: num ferro velho qualquer, toda torta e sem uso possível. Parecia, tal como a maioria daqueles jogadores, que não percebia bem o que lhe estava a acontecer, mas era bom rapaz. Esse parece ter sido, muitas vezes o requisito para jogar naquele Benfica. Isso ou simplesmente ir ali a passar na Avenida General Norton de Matos e dar um pontapé numa lata ou numa pedra.

Luisão é o nosso capitão, e custou um milhão de euros (rir a bom rir), quando o fomos buscar ao Cruzeiro. Mais de 500 jogos depois, compará-lo com o nosso Ronaldo é estar a comparar CR7 com, digamos, Paulo Nunes, outro portento que tivemos.

 

King / Lindelof  - Oremos. King foi um bloco de cimento que encontrámos, ao sol do Algarve, e achámos que era boa ideia, até termos percebido que betão não tem mobilidade e os avançados podem sempre dar a volta, ou jogar à parede, só para reinar. Lindelof é o futuro melhor central do mundo, é jogador de futebol mesmo, corta, faz passes, marca golos de livre, enfim. King jogou apenas meio jogo pelo Benfica. Foi meio jogo a mais. Lindelof estreou-se numa altura quem que ninguém o conhecia, tal como ninguém conhecia o King. Mas as semelhanças acabam aí. Lindelof segue a linhagem de um Schwarz, um Thern, um Magnusson. King é aquele logotipo Galucho que aparece em veículos pesados. Como foi possível, no clube do Rei Eusébio, ter existido este outro King?

 

Escalona / Grimaldo – Ora bem, Escalona é um daqueles nomes que, só por si, representam uma era. Pesaresi lê isto e pensa: porquê Escalona e não eu? Ou um El El Hadrioui. Ou mesmo Steve Harkness, hoje provável segurança de um bar de má fama na Inglaterra profunda. Tudo artistas de grande calibre futebolístico que vestiram o manto sagrado. (Aplicar Betadine na ferida)

Escalona veio do Colo-Colo, mas não tinha nível nem para um Colinho-Colinho. Ainda o despachámos, numa manobra negocial de um nível só comparável às manobras de um Eliseu numa Tetra Vespa, para o River Plate. Mas eles., lá em Buenos Aires, demoraram 2 jogos a perceber aquilo que, na Luz, levámos 11 jogos a perceber: era féze, na lateral esquerda. Já Grimaldo esteve a estagiar em Revestimento de Seixal, amadurecendo durante um ano, até se revelar em todo o seu esplendor, de tanino magnifico e excelente final, a cruzar para o golo ou a marcar livres como se fosse Playstation. Fomos sacá-lo a Barcelona, quando se distraíram e não estavam a olhar, e agora fazem fila para pagar bom dinheiro por ele. Ainda não tinha nascido e já corria mais, jogava mais, era melhor em tudo do que Escalona jamais pode sonhar. Repare-se bem na diferença: de Escalona a Grimaldo. Não é outro nível, só. É outro clube, outro mundo, outro universo. Com Escalona a linha lateral era de cal. E só a bola magoava mais.

 

Uribe / Salvio – Uribe chegou em Janeiro de 2000 e estreou-se com um golo contra o Sporting, de livre directo, na Luz. Também o Sabry fez isso uma vez em Alvalade, e nem por isso deixou de ser um flop. Uribe parecia que era grande jogador, mas só o cabelo era realmente impressionante. Já Sálvio, sendo pequenino, tem um hábito que mostra o quão enorme consegue ser. Todos os anos é operado. Já é um tique. E volta sempre em grande, decisivo, assobiado mas amado, aquela correria e passe letal em Vila do Conde…Uribe nem a treinar contra os infantis, vendados e encharcados em Atarax, conseguiria tal coisa. Consta que Mourinho, quando chegou à Luz, olhou para Uribe e pô-lo a treinar a lateral-esquerdo, porque Escalona estava lesionado. (riso nervoso) Não deu. Não dava. Não podia dar nunca.

 

Jamir / Fesja – Jamir vinha do Botafogo e, no Benfica de Paulo Autuori (calma, isto piora), estreou-se nas Antas num jogo da Supertaça. Actuou num meio campo benfiquista com Bruno Caires e Calado ao seu lado (eu avisei). Fesja faria o lugar desses três jogadores e ainda daria uma ajuda preciosa à dupla Ronaldo/King lá atrás. Mas, na altura, olhando para o plantel do Benfica, pensar num super jogador como Fesja, era acreditar em seres sobrenaturais, e nós já tínhamos esgotado esse filão na fé cega em coisas impossíveis quando tivemos um sul coreano no ataque, com Leónidas a extremo esquerdo e Taument na direita. Jamir aviou Panduru num treino, o que só lhe fica bem. Mas foi o seu momento mais útil ao nosso clube, e, mesmo assim, não chega. Ah Fesja teria transformado Panduru em fertilizante, até aí leva vantagem.

 

Chano / Pizzi – Chano já tinha 93 anos quando chegou à Luz e foi-lhe dada a camisola Dez. (Pausa)

Pizzi veio do Atletico de Madrid e teve de amargar até ser o Platini de Bragança que é hoje. Naquele Benfica dos anos 90, Pizzi seria 10, 6, 8, 7, 9…e melhor em todos os casos. Os mais antigos, como eu, lembram-se de elogiar “A técnica”, a “visão de jogo”, a “experiência” de Chano. Todos sabemos que eramos nós a negar a dura realidade. Era um trapo com estilo, e mesmo assim melhor que Michairidis, Tahares, Tavares, Michael Thomas, Paulos Almeidas e outros quejandos. Quando Pizzi tiver a idade de Chano, daqui a sessenta e tal anos, ainda será muito melhor do que era o velho Chano, a quem, sabiamente, um consócio chamava, no Terceiro Anel para quem o queria ouvir: “Não é Chano, é chanato!”

E pensar que havia malta a mandá-lo calar.

 

Sabry/ Cervi – Num feliz jogo de palavras, costumo repetir que “este Franco, Cervi”, de cada vez que o pequenino argentino faz uma das suas habilidades. Sabry nunca serviu. Mas parecia. Meteu aquela na gaveta, estragando a festa ao Sporting. Mas levava muito tempo a compor os atacadores das chuteiras.

Era aquele tipo que fintava 23 jogadores num treino de conjunto, mas não saia do mesmo sítio, aparecia o voluntarioso Marchena que lhe dava uma piedosa porrada que o rasgava todo, ia tudo para o duche, perdíamos no domingo seguinte e acabava por ser aborrecido. Cervi é um talento puro, na linha dos extremos argentinos baixinhos capazes de fazer magia e, ainda assim, serem consequentes. Sabry nem a palavra consequente percebia e não era porque era egípcio. Era das golas levantadas, que lhe tiravam o pouco discernimento. No entanto, no terceiro anel, chegámos a pensar que este extremo, comprado ao Paok depois de os termos eliminado (prospeção afinadíssima, muito própria daqueles tempos), ia ser o novo Chalana. Ou pelo menos o novo Carlitos. O novo Ailton, vá. O novo Luis Carlos? Não, não, não. Não mesmo.

 

Martin Pringle / Jonas – Ah ah ah, cabrão do carteiro.

 

Tote / Mitroglou – Fez-nos chorar de nervos desde o primeiro dia, quando apareceu na manchete de um jornal desportivo, já na altura infalível na capacidade de surpreender e encantar, “Totti no Benfica”. Era Tote. O cabelo fazia crer que tinha feito parte dos amigos do Verão Azul, mas, na verdade não tinha, nunca teve, pedalada para o Benfica. Veio do Real Madrid, jogou sete vezes, no campeonato, no Benfica e marcou cerca de …zero, zero golos, foi isso. Marcou uns na Taça de Portugal ao Amora, parece. Ninguém se lembra. Disse, um dia, numa entrevista, que não rendeu na Luz por causa de Jupp Heynckes, que lhe tirou “a ilusão toda”. Era de facto uma ilusão. Mitro é o nosso Deus grego, de ar imperturbável em todas as circunstâncias. Tote só diria “because I like it” quando perguntado porque passava tanto tempo no restaurante do nosso Barbas. E mesmo assim naquele inglês espanhol, ao nível da sua capacidade goleadora. Mitroglou 2017, Tote 1999. Já viram como tudo mudou?

 

O Benfica é Tetra Campeão. E caminha seguro para o Penta. Os anos 90 foram uma espécie de gastrite, em que os sintomas se prolongaram mais do que era suposto, deixando o clube desidratado, fraco e sem discernimento. Felizmente recuperámos e somos aquilo que somos. Saibamos dar valor, porque quem viveu os anos 90 na velha Luz chegou a pensar que a luz ia apagar-se.

Boavista 2 - 2 Tetra Campeão: Despedida em Festa

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Um verdadeiro luxo, tão raro quanto saboroso. Ter o o Benfica a entrar em campo para um jogo fora de casa a contar para o campeonato nacional e ter zero de preocupação com o resultado final chega, até, a ser estranho.

O Benfica entrou em campo já vencedor da Liga 2016/17 e com vários estreantes, mais alguns regressos, no onze. Uma espécie de teste de pré época mas na última jornada de uma competição que muito nos fez sofrer.

Talvez a pensar nos pontos críticos da época, o Benfica não se encontrou no jogo e fez-nos lembrar o duplo confronto negro com o Vitória de Setúbal e até a visita deste Boavista na primeira volta. Aquele fim de tarde surreal em que de repente estávamos a levar 3 em casa! A maneira como reagimos a esses 0-3 e a outros resultados negativos é que nos conduziu a mais um título.

Ontem a equipa fez uma demonstração de como reagir a uma tragédia em pouco tempo. Mesmo que soubéssemos que com as alterações, por boas causas, no onze o risco de uma desfeita aumentasse. Mas ninguém levava a mal, era preferível consagrar alguns jogadores do que obter uma vitória certa.

 

Com Pedro Pereira, Kalaica e Hermes em estreia absoluta na Liga, Rui Vitória promoveu ainda os regressos de Júlio César, Lisandro, Eliseu, Samaris, Filipe Augusto, André Horta, Zivkovic e Mitroglou. O grego não fez por menos e fez mais um golo para a sua conta pessoal, Hermes pareceu meio perdido em campo e deu lugar a Rafa que veio a ser decisivo para evitar a derrota, Raul Jimenez também entrou para ajudar a chegar ao empate e Júlio César deu o seu lugar a Paulo Lopes, num dos momentos mais emotivos da noite. Pormenores interessantes, Eliseu entrou com a braçadeira de capitão que fez questão de dar ao guardião português na sua entrada. O facto do golo do empate ter sido marcado à Luisão por Kalaica, mostra que se trabalha bem nas bases para garantir um futuro tranquilo. Estreia de sonho para o central croata aos 18 anos!

Uma palavra a exibição de André Horta, um dos melhores em campo, que não jogando há três meses deixa no ar a incógnita que foi o seu eclipse na segunda metade da temporada.

 

Positivo, ver o Benfica a entrar no Bessa com os jogadores do Boavista a fazerem um respeitável corredor de aplausos aos campeões, é sempre bonito.

Negativo, os relatos de caixotes do lixo cheios de adereços do Benfica retirados a adeptos em bancadas do estádio que não o sector visitante. Podem dizer que já tinham avisado mas aqui não contem comigo para compreender isto. Já basta o clima dos derbys e clássicos em que quase não se pode sair à rua com as cores dos nossos clubes, num jogo como o de ontem não se justificam actos de terceiro mundo. Qualquer um dos meus amigos boavisteiros que queiram ir à Luz com a camisola ou o cachecol do seu clube vai poder entrar sem ter que mandar para o lixo nada. Foi só triste e evitável.

 

O Benfica despede-se do campeonato 2016/17 em festa à campeão. Pelo quarto ano seguido vamos para o verão com um sorriso que nenhum anti nos consegue tirar.

E quando os rivais pensam que podem suspirar de alivio pelo fim da época, temos que os lembrar que... para a semana há mais!
Foco no Jamor, Tetra Campeões!

 

Benfica 5 - 0 Vitória de Guimarães: Tetra Campeões !

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Por um lado, é a crónica mais fácil de fazer, por outro sinto que nesta altura só o Cervi deve estar mais ressacado que eu. Abraço, puto!

Lembram-se de ter aqui publicado a teoria da monotonia? Algo como o que eu quero na minha vida é jogos completamente desprovidos de emoção. Pronto, estava a pensar em algo como um 4-0 ao intervalo num jogo decisivo. Assim mesmo, só com a emoção de festejar os golos e olhar para o relógio. Daqueles resultados que mesmo que me digam que podemos sofrer 4 golos na 2ª parte já não me conseguem preocupar.

É esta monotonia que quero, isto que contrasta com o sofrimento atroz das bancadas de Vila do Conde enquanto o golo do Raul não chegava.

Ah mas é mais emocionante festejar assim um só golo perto do fim. Ok mas mesmo assim prefiro um 4-0 ao intervalo, dá mais saúde.

 

Começar um jogo decisivo na Luz com o estádio cheio, sentir o cheiro de História a acontecer, olhar para o marcador ao fim de dois minutos e achar que não está fácil marcar. E depois constatar que os onze escolhidos estão determinados em corresponder às expectativas do povo. O Benfica resolveu arrancar para uma exibição fabulosa. Das melhores que já vi nos nossos estádios, seguramente uma das melhores que assisti num jogo decisivo.

Uma resposta forte às nossa dúvidas, um sinal para os aliados que espreitavam na secreta esperança que isto durasse mais uma semana, uma demonstração de qualidade e competência para fechar um campeonato que teve sempre o Benfica como farol.

Golos para todos os gostos e feitios, futebol para divertir e apreciar, sorrisos em todo o estádio, trocas de sms durante o jogo. O tetra chegou assim, arrebatador, num ápice passámos da tensão pré festejo para o sentimento único de sermos campeões.

Mais do que falar do jogo e dos golos, quero agradecer ao meu Benfica pela exibição de gala que nos levou ao céu em tempo recorde. Foi do domínio do sonho.

 

Ainda quero agarrar na teoria da monotonia para a transportar para isto da conquistas de títulos. Estamos a festejar a conquista de um campeonato pela quarta vez seguida. Quatro anos seguidos a terminar o campeonato desta maneira. Ontem, depois dos dois primeiros golos senti que o Estádio da Luz vive uma maioridade maravilhosa, os benfiquistas estão habituados a ser campeões, crescemos de forma gigante nos últimos anos, é emocionante ver como a repetição dos festejos se tornaram monótonos. Mesmo para quem organiza já não é fácil surpreender.

Portanto, aquilo acaba, a malta abraça-se há invasão de campo só para intérpretes, monta-se o palco, chamam-se os jogadores, entrega-se o troféu, festeja-se, espera-se pelo Paulo Lopes na trave, e por aí fora. A novidade foi o Eliseu de scooter. Eliseu com contrato vitalício, já!

É tudo isto. Para repetir todos os anos, por favor. Isto nunca cansa.

Permitam-me só um reparo, dar olés com 5-0 contra o Vitória de Guimarães não é só de mau gosto, é uma manifestação de falta de cultura desportiva muito grande. Porque o Vitória não é um clube qualquer, como se viu pela falange de apoio que trouxe à Luz e, também, porque vieram para jogar futebol de maneira positiva contrastando com o anti jogo que se viu na época passada.

 

Depois, fora do estádio o que se me oferece dizer da festa do povo benfiquista é o seguinte; Lisboa fica tão bonita invadida pelas nossas cores que eu até apelo aos companheiros que saem uma noite por ano de vermelho e branco, para andarem assim mais vezes. Andemos assim o ano todo várias vezes por semana, muito bem vestidos com as nossas cores e o nosso emblema.

Somos Tetra Campeões. Se alguém me dissesse isto na noite de 16 de Março de 1997 (vão ver a efeméride, vale a pena) eu mais depressa chorava deprimido do que me ria esperançado. Obrigado, Benfica!

Festejemos. E depois foco no Jamor. O Benfica é assim. É tão bom ser do Benfica.

 

 

Rio Ave 0 - 1 Benfica: Raul Fez (Outra Vez) o Momento Perfeito

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Vou explicar o que é viver um largo momento de felicidade absoluta. Algo improvável de se sentir mas só possível devido a uma descontrolada paixão por um clube que é maior que a vida.

Estar num domingo à tarde em pé numa bancada , mais ou menos, central, a sofrer por um golo que está difícil de aparecer, olhando o cenário que envolve o Estádio dos Arcos, entre o mar do lado esquerdo e o arvoredo do lado direito. Apesar de ventoso, é um estádio com uma paisagem que fica quase poética com o por do sol a contrastar com as cores vermelhas do equipamento do Glorioso. O momento, propriamente dito, começa numa jogada antes do meio campo, de repente vemos Salvio a correr determinado pela esquerda, os nossos olhos desenham logo uma rápida jogada que acaba por virar realidade. Corrida bonita, com estilo, com as cores certas, Salvio vai até à grande área contrário no momento certo passa a bola para a direita. Assim mesmo, um passe simples e perfeito, nem é uma assistência, que isso é coisa de NBA, um passe que todos nós previmos uns décimos de segundo antes. A bola vai direitinha para Raul que nem hesitou em fazer toda uma nação feliz. A nação benfiquista que explodiu de alegria naquelas bancadas, a nação benfiquista que festejou o golo uns segundos depois por esse país fora, por esse mundo fora.

 

(Fotogaleria de João Trindade)

 

Festejos no relvado, festejos emocionantes na bancada. Abraços, sorrisos, enlouquecer de alegria, que coisa boa. Tudo por causa de uma jogada simples, prática e eficaz. Tudo num momento perfeito.

E uns minutos depois tudo volta a ser sofrimento com o relógio a não andar, com o ataque do Rio Ave a assustar e uma bola a ser devolvida pelo nosso poste. A tal estrelinha a brilhar do nosso lado.

É por causa de momentos destes que milhares de benfiquistas atravessam um país para ir ver o seu clube jogar, que se despedem do autocarro na Luz em festa e o recebe no hotel e no estádio do adversário em delírio.

Este povo ama-te,Benfica. E quando fazes o povo feliz, o mundo parece fazer muito mais sentido, Benfica.

 

Para trás ficam momentos explicações, desilusões, opções e incompreensões. Era domingo, o primeiro de Maio, o tal que alguém se lembrou de dedicar às mães. Mãe, mais uma vez, só nos falámos à distância porque tive que ir atrás do nosso Benfica. Como ninguém manda nós, almoçámos a meio da semana em grande estilo. Dia da mãe é sempre, 90 minutos de Benfica é só uma vez por semana entre Agosto e Maio. Obrigado por compreenderes. E ainda teres moral para mandares SMS, a meio do caminho, a avisar que o derby lisboeta jogada à hora da Liga de Honra acabou com vitória dos pastéis.

 

Felizes dos que podem dedicar um dia inteiro da sua vida à sua paixão clubística. Felizes daqueles que convivem com familiares e amigos que compreendem esta necessidade. Felizes daqueles que são do Benfica, é uma forma de vida maravilhosa.

Íamos entrar em 2º nos Arcos mas ganhámos e agora estamos muito perto de um objectivo que tanta guerra tem levantado nos nossos rivais.

Deve ser maravilhoso acordar numa 2ª feira de manhã, não sendo benfiquista, e pensar que a festa de um inédito tetra do Benfica pode explodir a qualquer momento nas próximas duas semanas. E que daqui a três só se vai falar no último jogo da temporada em que um dos clubes envolvidos é ... o Benfica. E ainda, que a nova temporada, lá para a Agosto, pode muito bem vir a começar com um jogo do... Benfica! É lidar. O vosso pior pesadelo está a sair das cartilhas e das cinzas do Salazar, para ganhar vida e vos deixar mais deprimidos, invejosos e odiosos do que nunca.

Enquanto pensam nisso, falem em comunicados e nos programas todos de televisão sobre esta arbitragem impecável que vimos em Vila do Conde.

Ver o Benfica a ganhar com um golo feito de um momento perfeito deve ser a dor mais aguda e profunda que contrasta com o nosso maior orgulho e nossa maior felicidade.

Foi só mais um jogo a norte do país com o Benfica a jogar em casa, foram só mais 3 saborosos pontos. Foco total no próximo jogo, o Vitória SC na Luz. Partir para esse jogo como partimos para este, nada está ganho e sabemos que a nós ninguém nos dá nada, tem tudo que ser conquistado palmo a palmo, jogo a jogo.

Deixem-me ir ver outra vez o golo do jogo, o momento perfeito. Ser do Benfica, é tão bom.