Tenho publicado muitos artigos sobre a lotação do Estádio da Luz. Quando senti que o universo benfiquista, e não só, achava que uma média de 30 e poucos mil adeptos na Luz era aceitável para jogos do campeonato, fiz sempre questão que isso teria de ser metade do número que se adequava à nossa história grandeza. Nem foi assim há muito tempo.
Felizmente, a média de espectadores no estádio do Sport Lisboa e Benfica tem crescido nos últimos anos e começa a ser normal termos cerca de 50 mil adeptos nas bancadas em jogos da Liga portuguesa.
Mesmo assim, sabe-me a pouco. Tento explicar que fui criado e cresci num estádio da Luz que me habituou a um ambiente glorioso e arrebatador.
Para os companheiros que não entendem esta fixação numa lotação maior, que não tiveram a sorte de viver estes anos, deixo aqui esta notícia publicada no dia a seguir a um Benfica - Porto na Luz. Aconteceu há 30 anos. Estive lá, tinha 13 anos, e se me dissessem no final da partida que dali a 30 anos um recinto com 65 mil lugares demoraria a esgotar para outro clássico decisivo eu ia rir.
O recorte é do blog A Minha Chama que descreve bem esta vitória história por 3-1.
Leiam e percebam a revolta das gerações que viveram aqueles anos.
Quando se soube da ida de Renato Sanches para a Alemanha escrevi aqui que este país não o merecia.
O Benfica foi tricampeão, o Renato ainda foi campeão europeu, seguiu para a Alemanha e nós cá ficámos a lidar com o futebol nacional.
Enquanto o Renato vestiu a camisola do Benfica ficou claro por palavras e actos que existe racismo no futebol português. Tanta gente ligada ao Sporting que mostrou a sua veia racista, alguém esqueceu aquela sugestão de doping e outras que tais? Alguem castigou quem difamou daquela maneira o miúdo? Ninguém se lembra disto agora, não é?
Um ano depois discute-se que o futebol português não é assim tão mau. Não há racismo, o Benfica inventou ataques ao Renato, a justiça é rápida e convincente e sai esta maravilhosa multa ao Rio Ave.
Um ano depois ?!
E o preço de ser racista em estádios ronda os 500€ ?!
Nem é preciso aprofundar, esta notícia sobre o castigo ao Rio Ave fala por si mesma.
Racismo em Portugal? Nem pensar.
Castigos rápidos para uns e demoradíssimos para outros? Não! Quem são os loucos que pensam isso?!
A seguir ao triunfo no Europeu, publiquei aqui um longo desabafo sobre a complicada relação que tenho mantido com a Selecção de futebol portuguesa. Parecia que depois do golo do Eder não ia voltar a sentir desprezo pela equipa da FPF.
Claro que me enganei.
Houve um pequeno pormenor que passou para segundo plano com a vitória de Paris. Já com o Euro a decorrer a FPF recorreu aos serviços do líder da maior claque do Porto para animar a malta em França. Não sei se de maneira legal ou ilegal, assumida ou não, a FPF criou uma claque para a sua equipa com profissionais ligados ao Porto e ao Sporting, maioritariamente. Foi estranho notar isto a meio da competição. Não faltaram de relatos de trafulhices com bilhetes para adeptos e emigrantes relacionados com a tal claque. Nada que se estranhe, basta ler o livro do líder deste grupo para se perceber a sua impunidade perante crimes.
O assunto até já estava meio esquecido quando se dá um daqueles acasos muito próprios do futebol português. Numa altura da época que o campeonato está no auge da luta entre Benfica e Porto, em vésperas de um escaldante clássico na Luz, num ambiente de guerrilha verbal constante, que envolve também o 3º classificado, a FPF tem o primeiro jogo oficial de 2017 marcado para o Estádio do Sport Lisboa e Benfica.
Numa altura que os jornais se deliciam com capas sobre adeptos portistas a mostrarem bilhetes para o clássico obtidos de maneiras misteriosas, fica-se a saber que o Portugal - Hungria vai contar com a presença da claque da FPF, algo como os Super Leo!
A foto que ilustra este texto, pela qual peço desculpa pela poluição visual, é deste jogo e dá para identificar bem dois conhecidos membros de claques rivais do Benfica.
Se dúvidas houvessem sobre as suas maiores motivações futebolísticas, desfazem-se no seguinte vídeo:
Entraram assim na Luz, escoltados e a insultar benfiquistas. Para um jogo de Portugal no estádio do... Benfica.
Isto faz sentido? Isto tem explicação?
A Federação Portuguesa de Futebol apoia um grupo de anti benfiquistas protegidos pela polícia de segurança pública, sob o pretexto de um apoio que o resto dos 50 e tal mil que compraram bilhete para verem o jogo não conseguem dar.
Não entendo.
Conseguiram borrar a pintura toda, voltei a sentir desprezo por esta causa. Lamento mas acho isto tudo demasiado triste. Criaram um monstro que se descontrolou.
Antes de irem para França, os jogadores de Portugal fizeram o último jogo na Luz. Uma goleada que foi uma jornada de festa e alegria nas bancadas e fora do estádio. Foi um bom balanço para a proeza a seguir conquistada.
Voltaram ao maior estádio de Portugal com o caneco e uma claque embaraçosa, provocadora e injustificada. Não era preciso, espero que não voltem à Catedral tão cedo.
Hoje no jornal Público vem um interessante artigo assinado por Jorge Miguel Matias sobre os 15 minutos à Benfica.
Aqui o reproduzo:
Estádio da Luz a fervilhar. Segundo os relatos da época, 69.021 espectadores nas bancadas a acreditarem que o Benfica treinado por Jimmy Hagan seria capaz de dar a volta a uma eliminatória que tinha começado mal, na Holanda, onde o Feyenoord havia ganha por 1-0 a primeira mão. O titularíssimo António Simões era uma carta fora do baralho para a partida de Lisboa, pois escorregou numa escada quando ia para o treino e partiu um braço. Mas nem o azar do esquerdino tirava a crença dos benfiquistas numa reviravolta do marcador e na passagem às meias-finais da Taça dos Clubes Campeões Europeus. Afinal, havia Jaime Graça, havia Artur Jorge, havia Jordão, havia Nené, até havia Eusébio…
E o jogo não podia ter começado melhor para as “águias”. Estavam decorridos apenas cinco minutos quando Nené igualou a eliminatória. A Luz incendiava-se e começou a arder 26 minutos depois, após o golo de Jordão. Em pouco mais de meia-hora o Benfica dava a volta à eliminatória e fazia o austríaco Ernst Happel, treinador da equipa holandesa, engolir as palavras proferidas depois do triunfo em Roterdão - no campeonato holandês, os portugueses jogariam para “não descer de divisão".
Só que o Feyenoord não era uma equipa qualquer. Os campeões holandeses tinham muitos internacionais e dois anos antes tinham vencido a Taça dos Clubes Campeões Europeus e a Taça Intercontinental. A um quarto de hora do fim, um golo de Schoemaker colocou o resultado em 2-1 e emudeceu a Luz. Os “encarnados” estavam fora da prova e, com apenas um quarto de hora para jogar, muitos foram os que desistiram.
Centenas começaram a dirigir-se para o exterior do estádio sem imaginar no que estava prestes a acontecer. Num assomo de raiva, num ímpeto de galhardia, o capitão Jaime Graça rouba a bola aos holandeses, que a passavam com algum desdém de jogador para jogador no seu meio-campo. Num ápice ela acaba nos pés de Nené, que marca o seu segundo da noite (o terceiro dos benfiquistas) aos 81’ e dá início a uma goleada que terminaria com o triunfo dos “encarnados” por 5-1, depois de mais dois golos – um de Jordão (87’) e outro de Nené (89’). Três golos nos últimos 15 minutos.
O que se passou naquele período, no relvado da Luz, entrou para a história como os 15 minutos à Benfica. Uma expressão que tenta descrever um futebol avassalador, uma espécie de vendaval ofensivo que empurra os adversários para trás, uma sucessão de ataques incessantes protagonizada pelos homens vestidos de “encarnado” e que encosta o opositor às cordas até o deixar KO, permitindo dar a volta a resultados desfavoráveis.
Muitos anos mais tarde, Nené, o homem daquele jogo, elegeu-o como o jogo da sua carreira. O avançado, na primeira pessoa, em declarações ao PÚBLICO em 2004: “No jogo da primeira mão, em Roterdão, o treinador do Feyenoord, Ernst Happel, meteu-se muito connosco, disse que o Benfica era uma equipa de provincianos que não sabiam jogar futebol. O próprio capitão, van Hanegem, comparou o Benfica ao Excelsior, na altura o último classificado do campeonato holandês. O ambiente no jogo de Lisboa, como sempre, estava fantástico, com o Estádio da Luz completamente cheio. Os jogadores sentiam muito o peso daquele estádio e aos 30 minutos de jogo já estávamos a ganhar por 2-0 – o suficiente para nos qualificarmos para as meias-finais, já que tínhamos perdido o primeiro jogo por 1-0. Mas eles fizeram o 2-1 perto do fim e tudo parecia perdido. Muita gente começou a abandonar a Luz. Lembro-me que os jogadores do Benfica olharam uns para os outros e acho que não foi preciso dizer mais nada. Cerrámos os dentes. As palavras do senhor Happel ainda estavam nos nossos ouvidos e mexeram connosco. Quisemos demonstrar-lhe o que era o Benfica, o Estádio da Luz, o famoso terceiro anel. Nos últimos dez minutos de jogo, marquei dois golos e o Jordão outro. Tinha 22 anos e essa foi, certamente, uma das noites mais inesquecíveis da minha vida.”
Os 15 minutos à Benfica foram, assim, forjados num período aúreo do Benfica, com Jimmy Hagan no comando de uma equipa quase imbatível. O inglês chegou à Luz em 1970-71 e rodeado de uma série de jogadores de excelência conduziu os “encarnados” a três títulos de campeão nacional, o último dos quais praticamente perfeito: 30 jogos, 28 vitórias, dois empates e zero derrotas; 101 golos marcados, 13 sofridos; 18 pontos de avanço para o segundo classificado.
Jogos fora do Benfica, um eterno desafio. Ver em casa ou ir atrás deles? Cada um de nós tem a sua maneira de os viver. Todas válidas, claro.
Penso que se este blog tem algum reconhecimento entre benfiquistas devido ao facto de quem lê acabar por se rever em alguns relatos que aqui partilho. É natural, gostamos todos do Benfica e queremos todos vivê-lo, daí que coincidam muitas vezes as maneiras como nos manifestamos.
Eu, podendo, prefiro sempre estar no estádio onde o Benfica joga. O principio básico desta ideia é muito simples, odeio ter que ver um jogo do meu clube na televisão. Sinto-me preso, inútil e impotente. Irrito-me muito mais, seja por causa dos comentários, que acho que são sempre anti-Benfica, seja por causa das realizações que insistem em repetir mil vezes um lance mesmo com o jogo a decorrer o que nos faz perder partes do desafio. O ecrân é pequeno para um jogo do Benfica que é aquele momento em que a nossa vida pára, em que só temos olhos para o jogo. Sinto que é redutor ver isso através de uma televisão. Isto para já não falar da maneira como o vivemos. Sempre preocupados em não fazer figuras tristes, não dá para cantar bem alto e de pé, não dá para começar de uma lado para o outro porque o campo de visão fica curto. Enfim, já perceberam a ideia.
Só que não dá para ir sempre, pelas mais variadas razões. Mesmo assim, nos últimos largos anos tenho tido a felicidade de ver a maioria dos jogos fora da Luz.
Esta introdução serve para contextualizar algo mais forte e além do jogo. É que estas viagens ao fim de uns tempos tornam-se autenticas jornadas de benfiquismo. Não querendo entrar em pormenores privados lanço a seguinte a questão: de que maneira é que eu ia acabar a ser recebido pela família de um amigo, e companheiro destas jornadas, com outros compinchas na distante aldeia de Chelo, do município de Penacova?
Antes do jogo, passar uma tarde à mesa a comer leitão, beber vinho de qualidade superior e conviver com gerações mais novas e mais velhas sempre com o Benfica como fio condutor das conversas.
Ir a Paços de Ferreira e voltar para dormir na zona de Coimbra. Repetir o almoço, agora com uma incrível chanfana, e apreciar uma paisagem natural, respirar ar puro e depois viajar de volta.
A resposta à questão anterior é simples: por causa do Benfica.
A conclusão é interessante, nós andamos atrás do Benfica e vamos construindo amizades para a vida. Vamos semeando carinho em vários grupos de amigos unidos pelo benfiquismo. Vamos vivendo, conhecendo novos cantinhos do nosso país, aproximamo-nos de gente que tem o mesmo amor que nós e que, geralmente, gosta tanto de conversar como de gastronomia.
A enorme vantagem disto é que a maioria destas jornadas acaba bem, com vitórias do Benfica. Das poucas vezes que a nossa equipa não corresponde e nos deixa abatidos, sentimo-nos em família e torna-se um pouco menos doloroso a passar a desilusão.
Esta é uma forma de agradecer a todos os que vão fazendo parte destas viagens e aos desconhecidos que ainda sentem vontade de dar uma palavra de conforto antes ou depois dos jogos.
Neste particular, e isto foi tudo para chegar aqui, quero deixar aqui um enorme abraço a uns benfiquistas de Fafe que ontem depois do jogo me surpreenderam de forma bem original.
Estava eu sozinho à espera junto ao carro do pessoal que ia seguir viagem de Paços de Ferreira para Coimbra quando oiço chamarem pelo nome. João Gonçalves do RedPass! Gonçalves, tu continua a escrever sobre o nosso Benfica. Vamos ser campeões! Olha, tu é que vais ficar com a bola do jogo, tens de levar contigo a bola. E depois escreve que a malta de Fafe te ofereceu a bola.
Nisto, atiraram mesmo a bola. Não me perguntem como é aquele pessoal saiu do estádio com uma bola. Não faço a menor ideia. Mas resolvi aceitar e trouxe mesmo a redondinha comigo que vou guardar com carinho. Obrigado, pessoal!
A grande desilusão no relvado
Sobre o jogo apetece-me começar por perguntar: mas, afinal, o que é que foi aquilo?!
Antes do confronto directo com o rival que luta connosco pelo título de campeão, eu esperava uma vitória. Sofrida, com muita luta, muita entrega mas uma vitória.
Casa cheia, bancada nova inaugurada, topos completamente vermelhos, o mini estádio da Luz instalado na Capital do Móvel.
Tudo o que não esperávamos era uma exibição completamente apagada do Benfica. Fiquei com a bomba do Eliseu que o poste devolveu na memória e o lance do Jonas no final do jogo. Mais nada!
A equipa não apresentava alterações significativas mas a produção individual foi uma desilusão total, principalmente dos homens que costuma desequilibrar e resolver. Zero à direita com Salvio, zero à esquerda com Zivkovic. Pizzi, Jonas e Mitroglou nunca estiveram perto de de resolver o problema que a postura defensiva do Paços de Ferreira criava.
Se aquela bomba do Eliseu não entrou, então era preciso esperar um rasgo de génio daqueles jogadores que tornam o nosso plantel acima da média. Infelizmente, não me lembro de uma única jogada que me fizesse sonhar com uma finalização mágica.
Claro que o Paços teve mérito na forma como defendeu mas não é aceitável que o Benfica apresente tamanha apatia numa altura tão decisiva da época. A esperança de uma mudança vinda do banco de suplentes também terminou depressa. Nem Rafa, nem Raul, nem Cervi, alteraram nada.
Correu mal, foi mesmo uma desilusão. Os jogadores, a equipa técnica e os dirigentes devem sentir o mesmo.
(Fotogaleria: João Trindade)
Aqueles segundos após o apito final são do pior que o futebol tem para nos dar. Parece que o mundo se abate sobre a nossa cabeça ali mesmo. Aqueles instantes em que os jogadores saem cabisbaixos e os adversários festejam não fazem sentido nenhum. Não foi para aquilo que saí de casa de manhã e fiz centenas de quilómetros. Não foi para um nulo que estive ali 90 minutos de pé a cantar e a puxar pelo Benfica. É uma sensação horrível. Será que não era melhor estar em casa naquele preciso momento? A ideia de passar mais um dia com companheiros de luta, naqueles segundos, parece parva. Só apetece ir para casa.
Mas depois respira-se fundo, o tempo começa a passar e vamos arranjando maneira de lidar com a desilusão? Como e com quem? Como sempre, com os mesmo de sempre. Discutindo o jogo, conversando sobre o que está mal e imaginar como poderemos dar a volta. Temos direito a isso, vivemos muito para isto e gostamos de ter as nossas opiniões.Faz parte da nossa vida.
Lembrei-me logo que antes daqueles 3-6 em Alvalade, senti o mesmo que em Paços de Ferreira. Isto é cíclico no futebol. Nem está tudo mal quando não se ganha, nem está tudo bem quando se ganha. A menos que se percam muitos jogos seguidos, e aí está mesmo tudo mal, ou que a equipa esteja a golear e a resolver facilmente os jogos todos, e aí está tudo maravilhosamente bem.
Já falei da distante época de 1993/94 mas vamos para um ciclo bem mais presente. Espero que este 0-0 seja o mesmo que foi aquele 0-0 na época passada na Madeira com o União. Naquela noite achei que tínhamos entregue o título. Ontem convenci-me que oferecemos a liderança do campeonato. Fizemos por isso.
Depois do empate com o União, o Benfica reagiu bem. Espero que depois de Paços de Ferreira aconteça o mesmo.
O bónus veio quase 24h depois quando o Porto não fez melhor e manteve tudo na mesma. Temos que aproveitar esta milagrosa oportunidade para mostrarmos o quanto queremos este tetra. Temos de ganhar o clássico.
Sobre o melhor 11 a apresentar neste momento tenho dúvidas, sobre a qualidade individual no plantel nem por isso. Temos várias opções que têm de ser bem aproveitadas.
Esta passagem pela Mata Real foi decepcionante mas agora falta menos um jogo e acabou por ficar tudo igual em relação ao rival. Acho que a paragem na Liga acaba por ser positiva para o Benfica, é preciso recarregar baterias para o derradeiro assalto ao título.
Nós vivemos para estar com o Benfica, sabemos que estas desilusões fazem parte de um processo que queremos vencedor. Por isso, cada vez somos mais e desejamos melhor.