O mundo vai descobrir hoje que há um clube de futebol modesto no Brasil com o curioso nome de Chapecoense. O nicho de adeptos do futebol, aqueles que vivem para conhecer histórias relacionados com o futebol, aqueles que compram e partilham livros para descobrir mais curiosidades, factos e episódios escondidos ou do passado, aqueles que facilmente ficam acordados a ver um jogo de competições sul americanas porque a Sport TV está a transmitir em directo, esses conhecem bem a história da Chapecoense. É preciso sublinhar que é mesmo a Chapecoense e não o Chapecoense. Quando nos interessamos pela história do clube começamos logo por aprender a usar o artigo certo.
Reduzindo o nicho dos entusiastas do futebol, já de si pequeno, para apenas os adeptos portugueses, a Chapecoense sempre foi vista com carinho pela sua humilde e modesta história, além, claro, dos pontos de contacto com o nosso futebol. Este ano a equipa foi treinada por Caio Júnior, um avançado que brilhou no Minho ao serviço do Vitória SC entre 1987 e 1992. Depois ainda passou pelo Estrela da Amadora e o Belenenses. Como não ficar a ver um jogo de madrugada com uma equipa a ser treinada pelo Caio Júnior?
Recentemente, foi para lá que o Marcelo Boeck foi jogar. O guarda redes que brilhou no Marítimo e foi fazer número para o Sporting faz parte do plantel, continuando a fazer número na Chapecoense.
Para se perceber o excelente trabalho organizativo do clube de Chapecó, Santa Catarina, relembro que em 2009 estava a competir na Serie D, 4º escalão do Brasil. Em 2012 subiu à Serie C. Um ano depois foi promovido à Serie B. Em 2014 chegou ao principal campeonato brasileiro. Contrariando as apostas, a Chapecoense manteve-se entre os grandes e esta época está na primeira metade da tabela a uma jornada do fim.
Meio mundo ficou a saber da sua existência no último fim de semana, a Chapecoense fez parte do jogo mais mediático do Brasileirão que confirmou o Palmeiras como campeão.
Mas foi no jogo anterior que a Chapecoense surpreendeu o mundo ao conseguir um incrível apuramento para a final da Copa Sudamericana contra os argentinos do San Lonrenzo. Um empate 1-1 na Argentina valeu o apuramento, já que na 2ª mão em Chapecó, os brasileiros conseguiram manter o 0-0. Um feito que deixou os adeptos do futebol felizes, tirando os simpatizantes do clube do Papa, claro. Como todos os feitos de equipas não favoritas.
Desde 2014 houve quem passasse horas a jogar com a Chapecoense no Football Manager ou no FIFA na playstation, houve quem se afeiçoasse e passasse a torcer por eles, ninguém, dentro do tal nicho, ficou indiferente à evolução do clube brasileiro.
Agora ia acontecer o ponto alto da época, todos queríamos ver a Chapecoense a bater o Atlético Nacional da Colômbia na final da Sudamericana. A 1ª mão estava marcada para amanhã em Medellín.
A tragédia que aconteceu mexe connosco porque a sentimos demasiado perto e injusta. Perto porque nos afeiçoámos à equipa via televisão, injusta porque nos faz pensar nos livros que lemos sobre as equipas do Torino ou do Manchester United e que ainda hoje tanto nos chocam.
A Chapecoense é tema do dia no mundo todo. Fizeram o suficiente para serem falados e serem descobertos pelos seus méritos desportivos e não por uma tragédia assim. De uma forma ou de outra, o clube de Santa Catarina passa a ser lendário.