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Red Pass

Rumo ao 38

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Chaves 0 - 2 Benfica: Para Lá do Marão, Uma Viagem à Tricampeão

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Esta era a deslocação mais desejada desde a definição do calendário para esta temporada. O regresso de Trás-os-Montes à primeira divisão e a oportunidade para muitos benfiquistas, como eu, de irem conhecer a zona de Chaves naquela que terá sido a viagem mais longa em Portugal para assistir a um jogo do Benfica.

Depois de ponderar alguns cenários ficou decidido atacar a jornada toda no mesmo dia. Sair bem cedo de Lisboa e regressar após o jogo a casa. Quase 900 Km, cerca de 8 horas e meia de viagem de carro. Parece assustador mas tem tudo a ver com a motivação.

Desde logo, a principal; ver o Benfica. Depois, descobrir a região transmontana e a sua gastronomia, finalmente, passar um dia com amigos que encarem estes desafios com a maior naturalidade de quem vai só ali passear, comer e ver um jogo de futebol do Glorioso. É uma combinação que não falha. São muitos os amigos e companheiros que vivem assim a sua paixão pelo clube. Este sábado muitos puderam viver a aventura Chaves, muitos outros não puderam cumprir este desejo pelas mais variadas razões mas também estão lá connosco a apoiar através das nossas vozes.

 

A Viagem

 

As primeiras horas de viagem foram normais. A ligação Lisboa - Porto é do mais rotineiro que pode haver na nossa vida. Quase todos os jogos a norte de Lisboa cumprem esse trajecto. Destaque para o encontro na área de serviço de Leiria com a nossa equipa de andebol. Ganharam ao Ismai, obrigado rapazes!

Como já estávamos mentalizados para uma viagem bem mais longa do que o habitual, deu-me ideia que a nossa aventura só começou a sério quando nos arredores do Porto virámos em direcção a Vila Real por vias rápidas que eu ainda não tinha experimentado. E a partir daí, sim, foi olhar com mais atenção para a paisagem. A curiosidade de atravessar o túnel rodoviário mais longo da Península Ibérica, quase 6 Km na Serra do Marão, enquanto continuávamos a subir o país.

Primeira paragem em Vidago. Tínhamos de ir ao local onde o Benfica estava hospedado e ainda bem porque vi a beleza exterior do Palace Vidago Hotel. Deslumbrante cenário com o edifício a fazer lembrar as imagens da série Downton Abbey. Estava à espera de encontrar a todo o momento Mr. Carson. Aquele quadro ficava ainda mais bonito com a presença do autocarro do Benfica ali estacionado. Um dia tenho que apostar num fim de semana naquele paraíso.

 

A ligação de Vidago para Chaves é tranquila e rápida. A chegada à cidade revela logo a invasão encarnada. Benfiquistas por todo o lado. Vislumbra-se o Castelo no horizonte, por outro lado descobre-se o rio Tâmega e a agitação era visível. Mesmo numa cidade onde nunca tinha estado, assim que saí do carro senti-me em casa. É esta a magia do Benfica. Somos do país, somos do mundo. Descobrimos logo caras conhecidas, companheiros de outras viagens, consócios que conhecemos da Luz e gente boa que faz questão de nos cumprimentar porque já passaram por este blog ou noutro lugar qualquer. É o Benfica.

 

O Almoço, A Gastronomia

 

A aposta para almoço foi no restaurante Adega Faustino. Um almoço tardio, eram 15h quando quase duas dezenas de benfiquistas sentiam que os muitos km's percorridos se tinham transformado em vontade de atacar todos os petiscos locais. E foram muitos que nos serviram.

Atendimento cinco estrelas, grande simpatia e prazer em servir iguarias como o obrigatório presunto, alheira, linguiça, bacalhau desfiado e vários tipos de carne com arroz e batatas fritas. Vinho tinto e branco , foi até não sobrar uma ponta de fome. Embora ainda tenha testado a encharcada com o café e a forte aguardente que foi oferta da casa.

 

O espaço é castiço, era uma enorme adega agora decorada de maneira simples e regional. O nosso entusiasmo foi premiado com a visita da Srª Odete, a responsável com uma respeitável idade e um orgulho no serviço que apresenta que é contagiante. Em cima de uma cadeira, no topo da mesa, agradeceu e aplaudiu os cânticos improvisados que esta boa gente, que só quer ver o Benfica a ganhar e comer bem, lhe dedicou. São estes momentos que justificam estas loucuras de atravessar o país de um lado ao outro no mesmo dia.

 

A primeira parte estava ganha, agora era seguir a multidão e ir a pé para o estádio ajudando à digestão de tanta caloria.

 

A Vergonhosa Entrada no Estádio

 

Infelizmente, tem sido quase sempre assim. O entusiasmo por reencontrarmos clubes históricos, por visitarmos localidades longínquas e distantes dos habituais cenários de competição do nosso futebol, dá lugar à decepção e tristeza como alguns idiotas e imbecis tentam assumir modernas, desnecessárias e pacóvias rivalidades. O tempo de antena que a imprensa dá aos incendiários e índios que todos os dias mostram ao país que o caminho para o sucesso passa por afrontar, insultar, criticar, provocar e alimentar o ódio ao maior clube de Portugal, resulta em momentos dignos da Pide do tempo da outra senhora à entrada no estádio.

Muitos benfiquistas tinham bilhete para a bancada central coberta do Estádio Municipal Engº Manuel Branco Teixeira. Entre bilhetes comprados e convites, eram muitos os adeptos do Benfica que se preparavam para entrar nas portas indicadas pelo bilhete. Só que a entrada foi barrada a todos os adeptos que tivessem algo vestido com o emblema do Tricampeão ou algum acessório!

Ouvir qualquer coisa como "Você com essa camisola não pode entrar" é algo que em 2016 bate todos os recordes de atrasadice mental. Parabéns a todos que todos os dias intoxicam o país nas redes sociais e órgãos de comunicação social com as suas cruzadas anti Venfique. Isto está a resultar. Continuem.

 

Muitos adeptos contaram-me que tiveram de tirar camisolas e casacos, outros optaram por vestir ao contrário e até houve quem entrasse em tronco nu! Isto numa bancada que tinha de ter obrigatoriamente um espaço para adeptos visitantes. Enorme confusão cá fora com benfiquistas indignados perante a indiferença de forças policiais e Liga de clubes.

A entrada acabou por se fazer na porta mais lateral perto do topo dos adeptos do Benfica mas lá dentro verificou-se que não ia haver lugares sentados para todos. Enfim, um triste e muito preocupante episódio originado por responsáveis de um clube que os benfiquistas aceitaram com carinho na hora do regresso ao futebol principal.

 

Foi a única nódoa negra de um belo dia de futebol. O ambiente do estádio é excelente, os adeptos do Chaves são empolgados, puxam bem pela equipa, vibram muito com o jogo e dão uma enorme dignidade à região. Os dirigentes não precisavam de ter estragado tudo com aquela atitude bélica na entrada de adeptos visitantes. Ou querem ser recebidos da mesma maneira quando forem à Luz?

 

O Jogo

 

 O jogo começava com um cenário belíssimo. O relvado visto do canto entre a bancada central coberta e o topo dos adeptos encarnados proporciona um quadro de beleza natural incrível. As pequenas bancadas do outro lado e a paisagem verde até perder de vista a lembrar que estamos para lá do Marão a ver futebol de primeira. Ver as camisolas vermelhas a moverem-se em tão bonito cenário vale a viagem.

Rui Vitória tinha lembrado que em Outubro conta com o verdadeiro reforço do plantel quando voltarem os lesionados. Só para lembrar que íamos para mais um jogo com soluções de recurso. Apostou em Ederson na baliza, talvez para tirar proveito dos longos lançamentos do jovem guarda redes, e armou a equipa na zona atacante à volta de Mitroglou, com Pizzi na esquerda e Salvio na direita e Guedes no meio.

Apesar da intenção em atacar, o Benfica da primeira parte deixou uma preocupação no ar por tão pobre exibição com poucas possibilidades de marcar. O facto de André Horta e Fejsa terem ficado demasiado dependentes das ajudas dos alas tirou consistência defensiva à equipa. O desequilibro na zona central do terreno onde Jorge Simão tinha Battaglia, Rafael Assis e Braga sempre em superioridade, dava hipótese ao ataque do Chaves se tornar realmente perigoso com as investidas de Fábio Martins e Perdigão nas alas e Rafael Lopes sempre à procura de espaço na frente.

 

Mesmo assim, foi o Benfica que podia e devia ter ficado em vantagem com um oportuno golo de Mitroglou misteriosamente anulado! Se já não havia muitas oportunidades e quando o golo aparecia não contava, a tarefa complicava-se bastante.

O Chaves acaba a primeira parte muito perto do golo com a bola a bater duas vezes seguidas na poste direito da baliza de Ederson, terminado com Rafael Lopes a cabecear ao lado.

 

O susto serviu para o Benfica mudar de atitude e pegar mais no jogo. Fejsa ameaçou mas foi de bola parada que se desatou o nó. Grimaldo marca um livre descaído para a direita e Mitroglou corresponde com uma cabeçada perfeita para o 0-1. Estava feito o mais difícil. Mais uma vez as bolas paradas a serem muito importantes no jogo do Benfica.

Apesar das entradas de Cervi e, principalmente, de Celis, o jogo ficou perigosamente aberto até perto do fim. Até que Grimaldo voltou a cobrar um livre perigoso, a bola bateu na barreira e foi ter com Pizzi que parecia estar ali a aguardar o momento para ser feliz na sua região e confirmar a vitória saborosa.

Mais uma vez, a equipa arranjou alternativas à falta de inspiração e também de alguns intérpretes, como Jonas, que fazem sempre falta. O objectivo foi cumprido.

Uma palavra para o Chaves que fez uma bela exibição, tem uma equipa equilibrada, bem montada e sabe o que quer nos momentos importantes do jogo. Não será fácil passar aqui em Trás-os-Montes, o que valoriza ainda mais este triunfo do tricampeão e líder.

 

O Regresso

 

Excelente ambiente na saída do estádio, umas cervejas para o caminho e o carinho de vários adeptos benfiquistas e flavienses que contrastava com a vergonha da entrada nas bancadas. Fiquei com boa imagem das gentes de Chaves porque é preciso não confundir dirigentes imbecis com os adeptos que apesar da derrota não levantaram problemas nenhuns na bancada. No fim trouxe uma pequena bandeira do Chaves oferecida por um jovem adepto que confessou torcer pelo Glorioso apesar de envergar uma bonita camisola do Barcelona transmontano, como ouvimos referir.

 Viagem para baixo tranquila apesar da chuva. O almoço tardio e forte deu para aguentar a fome até Coimbra onde houve paragem no café Atenas para atacar uma francesinha que sabe sempre bem num sábado à noite.

Quão feliz se pode ser num carro conduzido por um benfiquista de uma geração ligeiramente mais antiga que a minha, com o seu filho e nosso companheiro mais jovem de outros jogos enquanto conversamos um pouco sobre tudo, inclusive com o elemento que falta referir a descobrir que já foi "vizinho" da família do banco da frente? Muito.

É o Benfica em todo o seu esplendor.

E é tão bom ser do Benfica.