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Red Pass

Rumo ao 38

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Coluna no TodoFutebol

Mário Coluna

 

Artigo publico no excelente site brasileiro http://www.todofutebol.com

 

Mário Coluna era o grande jogador de Portugal antes de receber no Benfica o jovem Eusébio. Uma carta da mãe do “Pantera Negra” pedia que o meia e capitão do clube encarnado tomasse conta de seu herdeiro. Nascia assim uma relação de respeito entre mestre e aprendiz.

 

Tricampeão português e da Taça de Portugal, Mário Coluna vivia grande fase no esporte em 1960. Artífice do meio-campo histórico do Benfica que interrompeu o reinado do Real Madrid na Europa e do Sporting dentro de Portugal, o capitão nascido no Moçambique instruiu um compatriota que chegava à Lisboa com sonhos de grandeza.

Para muitos benfiquistas, Coluna não era só mais um jogador. Era “O Capitão” ou o “Monstro Sagrado”, tamanha classe e a reverência prestada mesmo por aqueles que eram seus adversários. Com a bola no pé, Mário chegou a um nível altíssimo de rendimento. Como era muito forte e atlético, também teve alguns anos como jogador de basquete e saltador em altura. Viver do esporte era o destino do rapaz que saiu da Ilha de Inhaca para ganhar fama em Lourenço Marques, no ápice de sua juventude. Filho de um goleiro do Desportivo, clube da cidade onde cresceu.

Como Moçambique ainda pertencia a Portugal, era comum ver talentos de lá deixarem a terra natal para ganhar espaço e melhores condições de vida em solo português. Coluna, por sua vez, foi descoberto em um torneio contra uma equipe sul-africana, irritado por não poder atuar pelo Desportivo na casa do adversário, em meio ao regime do apartheid. Na volta, fez sete gols como represália e caiu nas graças de olheiros lusitanos. Porto e Sporting fizeram propostas para tira-lo de Lourenço Marques, sem sucesso. No caso, o Desportivo era uma espécie de clube-satélite do Benfica, que contratou o menino Mário aos 19 anos, em 1954.

Coluna aperta as mãos de Bobby Charlton na final da Copa dos Campeões Europeus em 1968
Coluna aperta as mãos de Bobby Charlton na final da Copa dos Campeões Europeus em 1968

De garoto a craque decisivo, Coluna era a personificação do novo Benfica que terminou a década de 1950 com conquistas importantes e moral no continente. Inicialmente, seria atacante, mas como perderia fácil a vaga para José Águas, o goleador, foi deslocado pelo técnico Oto Glória para uma função mais cerebral e de armação, no centro do gramado.

Entretanto, faltava uma peça para os Águias decolarem de vez. Foi de Lourenço Marques que outro jovem saiu para mostrar o que sabia. A pedido da mãe deste rapaz, Mário ficou responsável por instrui-lo e mostrar as dificuldades que ele teria como cidadão lisboeta. Eusébio da Silva Ferreira ganhou um tutor que levaria para toda a sua vida, o responsável pelo seu desabrochar no futebol como um astro nato.

A verdade é que os dois estavam fadados ao sucesso. Coluna tinha um DNA de liderança, o sangue que corria em suas veias era o de um nobre guerreiro e estrategista. Era ele que ditava as regras dentro de campo, aos berros e pegando os companheiros pelo braço para indicar o caminho certo. E só perdeu a coroa quando Eusébio chegou ao seu pico, se transformando em “Pantera Negra”, tamanha ferocidade com que conduzia a bola e a colocava dentro das redes. Mário, que tinha sete anos a mais que ele, usou de sua experiência para polir o diamante que era o futebol de Eusébio.

Mário Coluna, Chico e Eusébio
Visita de Chico Buarque ao Estádio da Luz, ao lado de Coluna e Eusébio

E juntos formaram um esquadrão formidável no Benfica, conquistando a Copa dos Campeões Europeus em 1962, já com Eusébio em posição de destaque. Mais adiante na década, ergueram sete vezes a Liga Portuguesa, doutrinando os rivais Porto e Sporting. Além disso, engrandeceram a história da seleção de Portugal, levando o país a uma histórica terceira colocação na Copa do Mundo de 1966. Deixaram o Brasil de Pelé, bicampeão mundial, pelo caminho, em um jogo que teve mais violência do que necessariamente um confronto técnico. Só não foram páreo para a Inglaterra, mandante e que conquistou logo depois o título em cima da Alemanha.

 

À aquela altura, Coluna já estava com a sua missão cumprida. Colocou Eusébio no trilho para a eternidade e também fez sua parte para se tornar uma das lendas benfiquistas mais queridas. Nem mesmo o companheirismo e a amizade com o Pantera Negra mudaram o respeito de filho que Eusébio nutria por ele, e até o fim o mais jovem o chamava por “Senhor Coluna”. Em 1968, abandonou o posto de atleta selecionável português e dedicou seus últimos anos de carreira ao Benfica e por fim o Lyon, na derradeira temporada de 1970-71. Saía de cena como decacampeão nacional e bicampeão europeu após 16 anos de dedicação aos encarnados.

 

Eusébio, por sua vez, ficou até 1975 em Lisboa antes de juntar as malas e partir para uma verdadeira peregrinação que duraria até 1980, passando por México, Canadá e Estados Unidos, onde ajudou a promover a NASL por três equipes diferentes (Boston Minutemen, Toronto Metros-Croatia e Las Vegas Quicksilvers). Foi campeão em 1976 pelo Toronto.

 

Em 2014, no mês de janeiro, Eusébio sofreu um infarto e morreu aos 71 anos, gerando comoção no mundo do futebol. O Benfica prestou uma homenagem ao seu craque usando uma braçadeira preta pelo resto da temporada. Como se não bastasse perder um ídolo deste tamanho, Coluna seguiu o caminho de Eusébio um mês depois, com 78 anos de idade, em Maputo, no Moçambique. Havia voltado a morar no país em 1975, como presidente da federação moçambicana e eventualmente como Ministro dos Esportes. Tinha uma infecção pulmonar grave e não resistiu.

E foi assim que o Benfica voltou a ter o trio Coluna-Águas-Eusébio reunido, em outro plano que jamais teremos notícias novamente.