Benfica 1 - 0 Vitória de Guimarães: Jardel Resolve!
(Fotos: João Trindade)
Desta vez tive o cuidado de ir espreitar o que diz a imprensa desportiva sobre o jogo antes de vir aqui deixar a habitual crónica de jogo. Confirma-se que vivem numa realidade paralela e acabam por ver um jogo diferente daquele que vi. Sobre a primeira parte absolutamente vergonhosa que o adversário do Benfica fez ontem na Luz nem uma critica. Faz tudo parte do espectáculo e da estratégia. Por isso, voltei a lembrar-me o que , realmente, me motivou a abrir um blog para escrever sobre o futebol do Benfica. Voltei a recordar o dia em que tive uma imensa vontade de desabafar após cada jogo do meu clube num espaço público. A razão é a mesma de sempre, não vejo o mesmo futebol que aparece reproduzido e tratado nos meios de comunicação social tradicionais. E , por acaso, até há mais pessoas que pensam como eu e gostam de passar os olhos pelas minhas crónicas, e por outros textos de outros companheiros que fazem o mesmo, porque se revêem nestas palavras.
Por outro lado, não vim a correr para casa ligar o computador à internet numa 6ª à noite porque, felizmente, não vivo solitário e sem amigos, por isso acabo por ir saborear o triunfo à mesa rodeado de companheiros de sempre. Infelizmente, não me pagam para estar aqui a escrever, nem sabia que isso faz parte das tarefas de um presidente de clube bem remunerado.
Não há que ter rodeios na abordagem a este jogo. Que fique aqui documentado que aquilo que vi no Estádio da Luz na primeira parte foi tudo o que futebol não pode nem devia ser. Nunca tinha visto um festival tão intenso de anti-jogo como este que o Vitória veio mostrar. Depois do minuto 20 e até perto do intervalo não houve futebol. Jogadores no chão por todo o lado, a equipa médica a entrar em campo mais vezes do que a soma de todos os jogos que vi nas competições europeias durante a semana, um treinador que converte a sua expulsão de campo num acto de circo interminável aos olhos de mais de 60 mil adeptos que pagaram para ali estar a ver futebol. Nós vamos preparados para sofrer com a nossa equipa, para respeitar o adversário e sabemos que ninguém nos vai oferecer nada, por isso temos muito que aguentar mas nada nos prepara para um encontro entre uma equipa que joga para ser campeã e outra que joga para nada mais do prestigiar o emblema que leva o peito mas prefere usar o anti-jogo reles e baforento para se agarra a um ponto que lhe vai dar não se sabe bem o quê a mais.
Sobre os primeiros 45 minutos não há muito mais a dizer, lamento o que vi e também que o Benfica não tenha conseguido meter mais intensidade no seu ataque para contornar o mural de três centrais, cinco defesas mais um reforço de médios defensivos. Ao fim de 45 minutos senti-me enganado, a loucura que se tem abatido sobre os últimos jogos do campeonato transformam-nos em batalhas com guerreiros improváveis que nada têm a ver com a luta pelo título mas lutam como se a vida terminasse ali. Usar métodos pré históricos é que me parece um pouco de mais. Mas já estamos habituados desde a jornada 2 em Aveiro quando o Arouca passou metade do tempo a não jogar futebol.
Como ninguém quer saber disto para nada, basta ver os resumos dos canais de televisão e ler as crónicas dos jornais desportivos, ninguém condena o anti jogo, levanto aqui outra questão curiosa. Num jogo do principal campeonato português é possível ter um guarda redes a usar as mesmas cores de camisola que a equipa de arbitragem usa? Num lance na área do Benfica há dois elementos de amarelo, porquê? Estou a delirar ou isto é mais uma falha amadora de quem devia mandar no jogo?
Felizmente, a 2ª parte abre com um golo do Benfica. Tudo o que devia ter acontecido logo nos primeiros minutos do jogo aconteceu quando a equipa virou o ataque para a baliza grande. Livre de Gaitán, cabeçada de Jardel.
O mais complicado estava feito, porque se aquela bola não entrasse íamos ser levados à loucura com a perda de tempo que se seguiria.
A partir dali apareceu uma nova equipa em jogo. O Vitória de Guimarães afinal sabe jogar à bola, sabe o que é o conceito de atacar e até percebe que os seus jogadores devem repor a bola rapidamente em campo mantendo-se em pé o tempo todo. Curioso!
O Benfica acusou a reacção do Vitória e o jogo ficou equilibrado.
A aposta de Rui Vitória no mesmo onze começa a evidenciar o desgaste de alguns jogadores. Desde logo Pizzi, Mitroglou e Renato Sanches, que muitas vezes querem mas as pernas não obedecem. Também Gaitán está longe da frescura física. Mesmo assim o argentino somou mais uma assistência à sua conta pessoal. Em sentido de forma oposto está Fejsa que tem sido o seguro desta equipa nestas batalhas. Já nem vale a pena desfilar elogios ao sérvio, basta dizer que quando ele é titular não há outro jogador que mereça mais o prémio de melhor em campo. Monstruoso!
Também Ederson merece destaque, decisivo e corajoso a negar o golo a Hurtado. Já é uma certeza absoluta entre os postes. A ajudar o guarda redes esteve André Almeida que efectuou o duplo corte da época ao negar o golo a Hurtado, outra vez. Ainda teve o discernimento de ser expulso para poder jogar na Madeira falhando a Taça da Liga.
Para todos aqueles que embirram com Eliseu, revejam o jogo do defesa esquerdo e percebam a utilidade e a entrega do homem. Essencial.
As substituições de Rui Vitória foram todas trocas directas sem mudar o seu 4-4-2. A entrada de Raul Jimenez voltou a ser épica. O mexicano sente-se confortável com o estatuto de reserva moral e entra com tudo. Podia ter feito um dos golos do ano mas Miguel Silva negou-lhe com uma grande defesa que foi transformada em pontapé de baliza! Depois arrancou um daqueles pontapés fora da área que a barra devolveu e justificou a sua entrada.
Faltou ver o Benfica fazer uns 15/20 minutos convincentes como aqueles em que deu a volta ao resultado com o Setúbal mas, ainda assim, a equipa não se recusou a encarar o desafio com toda a alma.
No fim Sérgio Conceição disse que os adeptos do Benfica são fabulosos, são o 12º jogador. Pois somos. O treinador do Vitória deve saber do que fala quando nos elogia porque está num clube que tem uma massa adepta incrivelmente dedicada ao clube que não merecia passar pelo enxovalho que a sua equipa mostrou em metade deste jogo.
O Sérgio em vez de elogiar os adeptos do Benfica devia era honrar os vimarenenses e jogar com honra, orgulho, para ganhar. Olhem, como aquele Vitória que eu vi há um ano por esta altura em Guimarães que jogou olhos nos olhos com o Benfica prestes a ser campeão nacional, curiosamente, treinado por Rui Vitória.
Esta passagem pela Luz do Vitória quase que me faz perder o imenso respeito que tenho pelo clube. Nem faltou uma vergonhosa e embaraçosa declaração pública de uma rádio minhota para me deixar feliz com a classificação final miserável que o clube vai ter.
Da nossa parte, objectivo cumprido. Mais um triunfo, fim de semana descansado e pensar nos dois últimos jogos da competição. Preparar muito bem a ida ao Funchal é o maior objectivo a partir de agora.
Estamos perto mas falta sofrer muito.