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Red Pass

Rumo ao 38

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Rumo ao 38

Rio Ave 0 - 1 Benfica: Obrigado, Mantorras, perdão, Raúl Jimenez!

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 (Fotos: João Trindade)

 

Está a ser uma ponta final em esforço com um suplente de luxo a herdar a aura dourada de Pedro Mantorras. Mais um jogo resolvido por Raul Jimenez, mais que um golo, foi uma enorme prenda de anos num dia inesquecível.

 

Como tinha explicado antes da ida a Vila do Conde, jogos do Benfica a 24 de Abril são sempre especiais para mim por se transformarem na minha festa de anos. O historial tem sido favorável e ontem, mais uma vez, o meu clube não me deixou mal.

Ao optar por viajar cerca de 600 km no meu aniversário para poder estar a ver o Benfica jogar, há toda uma logística familiar por acertar. Tudo pensado para que ninguém se sinta mal. Jantar tardio no dia 23 para poder esperar pela meia noite e festejar em família a entrada na nova idade. Bolo, prendas e sorrisos de aniversário que resolvem logo nas primeiras horas o problema de uma ausência por motivos de força maior. Com boa vontade tudo se resolve. 

 

Depois partida para norte rumo ao encontro gastronómico com a outra família, a benfiquista. Cozido à portuguesa dentro de pão. Um almoço em Cucujães ao nível das exigências para mais de duas dezenas de benfiquistas em viagem para apoiar a sua equipa na penúltima deslocação da temporada para o campeonato.

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(Fotos de Ricardo Solnado)

 

Completamente rendidos às iguarias da memorável refeição, nova ida para a estrada até ao estádio dos Arcos. Multidão vermelha à volta do estádio, o costume. O Benfica ia esgotar mais um estádio.

Se não fosse tão forte o desejo de ver o nosso clube, teríamos muito para falar dos acessos às bancadas de um estádio que até recebe provas europeias. A ida para a bancada descoberta é digna de um jogo de distritais, passar no meio de terra e lama, por caminhos que parecem hortas abandonadas até à última barreira de controlo é surreal. Se nos pedem 15/20€ ou mais por um bilhete nestas condições, então o Benfica devia pedir sempre mais de 50€ só para poderem entrar no estádio da Luz.

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A visão da bancada no fim de tarde vilacondense é bonita, o pôr do sol atrás dos arcos que rodeiam o estádio, o céu azul a escurecer no horizonte, os jogadores no relvado a aquecerem para o embate, um cenário agradável onde procuramos descansar o olhar já demasiado nervoso a prever o sofrimento que vinha aí. 

 

Confirmou-se a teoria do muito sofrimento e pouco divertimento. A bola começa a rolar e acabaram-se os sorrisos. Só preocupação, só ansiedade, só angústia a cada cruzamento falhado, a cada tentativa de contra ataque. Desespero ao ver que jogadores como Pizzi continuam a mostrar algum cansaço e pouca clarividência, igual desespero ao ver uma arbitragem que parecia tudo fazer para nos irritar. Na memória fica um canto de Gaitán retardado por Soares Dias que foi lá dizer não se sabe o quê. Apita para que saia, finalmente, a bola para a área e no segundo seguinte volta a apitar por uma falta que ninguém viu. 

Uma primeira parte sem sentirmos que seria possível fazer um golo, tudo demasiado equilibrado. Pulsações aceleradas por sabermos que já temos menos 45 minutos para sermos felizes.

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Felizmente, não vi o Rio Ave a utilizar o anti jogo da Académica ou Boavista, isso dava uma certa esperança de, pelo menos, termos jogo até ao fim. Enquanto o resultado está zero a zero os minutos passam de uma forma tão rápida que parece que estamos a viver em "fast forward" como nos vídeos. O facto do Benfica ter conseguido encostar o Rio Ave e ter tido algumas oportunidades dentro da grande área começava a dar esperança num desfecho positivo.

Entretanto, a cada bola parada, a cada falhanço, a cada pausa do jogo, acontecia uma luta interna a desfilar imagens de outros 24 de abril a lembrar que também já tinha sofrido assim no Algarve e contra a Juventus, por exemplo. Precisava de um golo como aquele do Lima ao Bufon. Não. Precisava era de uma cabeçada como aquela do Luisão ao Estoril. Também não, que isso foi só o empate. Precisava mesmo era de um Mantorras a entrar e a acabar com aquela resistência verde e branca. É isso! E lá saltou do banco Raúl Jimenez. Sorri a pensar que faço anos e não ia ter que fazer 300 km de regresso em silêncio. 

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Quando André Almeida ali na minha frente cruza para área até parece que ouvi: Oh João, aqui vai a tua prenda! 

Quando Vilas Boas (que feliz coincidência) corta atrapalhado para a trave, sustive a respiração até ver o salto de Mantorras, perdão, Jimenez para fazer de cabeça aquilo que me fazia estar ali naquele momento. Explosão de alegria, 73 minutos depois podiamos rir e gritar de felicidade. Estava feito o 0-1. Uma felicidade muito passageira e adiada porque havia que sofrer mais 20 minutos até confirmarmos os 3 pontos. 

Tirando um remate de Wakaso, não me lembro de sofrer muitos mais até ao apito final. Quando o jogo acaba é que sinto a felicidade total de um dia bem resolvido. Finalmente, podia festejar o meu aniversário sem me preocupar com mais nada. 

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Isto é, tive direito a uma hora e meia de boa disposição suprema. As outras vinte e tal horas foram sempre bem passadas mas com uma pergunta no sub consciente a incomodar, algo começado por " E se... ? ". 

 

Altura para agradecer a todos os que me felicitaram na bancada e fora do estádio, aos de sempre, aos que nem conheço e aos que só conheço de vista. Obrigado a todos. Muitos me disseram depois do fim do jogo que até aos 73 minutos pensaram no que publiquei sobre os jogos a 24 de Abril e isso ajudou a manter a fé. Eu também me agarro a essas coisas, fazem parte desta loucura que é ser adepto de um clube.

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A todos que me ligaram ao longo do dia, aos que mandaram sms, aos que deixaram algo escrito no facebook, aos que não conseguiram ligar por ter ficado sem rede no estádio e sem bateria até regressar para Lisboa, o meu muito obrigado.

Aos que compreendem esta necessidade de viver estes momentos deixando para trás entes queridos, o meu agradecimento.

A quem não entende e critica nas costas, a minha indiferença.

Aos companheiros de sempre espalhados por vários veículos e com destinos diferentes de norte a sul do país, dizer que a família benfiquista existe mesmo, é muito forte e faz parte da nossa vida.

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Esta foi só mais uma jornada num dia especial, mas são apenas 3 pontos conquistados. Seguramente que há muito por sofrer, esperemos que também haja muitos mais momentos como aquele minuto 73. De certeza que nunca faltará é este convívio que envolve gastronomia, boa disposição e motivação a cada jogo que vivemos. Isso é o mais valioso e importante, não se compra, não se apregoa em redes sociais, nem se inventa só porque sim.

O Benfica é maior que a vida.