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Red Pass

Rumo ao 38

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Benfica 5 - 1 Braga: O Respeito, A Dignidade, A Festa; O BENFICA!

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 (Fotos: João Trindade) 

 

Receber o Braga é, historicamente, um jogo que abre sempre expectativas devido ao grau de dificuldade elevado. Mas, ao contrário do que a imprensa nos faz pensar, isto não é um fenómeno recente nem esporádico. Os jogos com o Braga há muito que deviam ter o rótulo de clássicos do futebol português. Quando comecei a frequentar o Estádio da Luz no começo da década de 80 havia sempre alguns adversários que causavam mais nervos antes das partidas. Além dos óbvios rivais directos, as recepções a Belenenses, Vitória de Guimarães e também o de Setúbal, mais o Boavista eram sempre consideradas complicadas devido ao valor dos adversários. O Braga encaixava-se neste lote.

Mais de 30 anos depois é justo afirmar que o Sporting minhoto merece estar acima dos clubes citados em termos de ranking de dificuldade para nós. De todos os clubes falados, o Braga é o único que compareceu todas as temporadas na Luz desde os anos 80 porque, ao contrário dos outros, nunca desceu de divisão. Não é por ter ganho mais estatuto e se ter fixado como participante habitual nas provas europeias e na parte de cima da tabela da classificação portuguesa. O Braga sempre foi um clube muito organizado, com um futebol atrevido e orientado pelos melhores treinadores portugueses como Quinito, Manuel Cajuda, Vítor Manuel, Manuel José ou os "nossos" Humberto Coelho e Carlos Manuel. Já ia à Taça UEFA na década de 80. Portanto, que fique claro que o Braga é um adversário duro tendo o estatuto de clássico pela sua história e não por proezas recentes.

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Ambiente espectacular na Luz para receber este clássico. O vôo da águia que demorou mais do que é costume, o hino do Benfica cantado com emoção, davam o mote para uma grande noite.

 

Apesar de toda a excitação anunciou-se o cumprimento de um minuto de silêncio em memória de Fernando Mendes. Um homem que jogou e treinou o Sporting, foi o capitão da equipa que ganhou o único troféu europeu do clube, a extinta Taça das Taças, e fez parte da Selecção que encantou em Inglaterra no Mundial de 1966.

Equipas alinhas, apito do árbitro e silêncio na Luz logo interrompido por cânticos dos adeptos vindos de Braga! Prontamente, a Luz assobiou os visitantes e o silêncio foi reposto. Para que não sobrassem dúvidas, os adeptos do Benfica acabaram por assinalar o momento com uma estrondosa salva de palmas. Assim, com respeito e dignidade. À Benfica.

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 Finalmente, o jogo. A bola rolava há 40 segundos e Wilson Eduardo atirava ao poste da baliza grande guardada por Ederson. Susto. Primeiros minutos assustadores com o Braga a mostrar ao que vinha e o Benfica demasiado nervoso, ansioso e precipitado. Das bancadas aumentava o apoio como que a mostrar o caminho à equipa.

Paulo Fonseca montou a sua equipa com o propósito de marcar. Além de trocar Marafona por Mattheus na baliza, promoveu o regresso do capitão André Pinto no centro da defesa para o lugar de Boly, e optou por lançar Wilson Eduardo no lugar do sérvio Nikola Stojiljković. Com os rápidos Pedro Santos e Rafa nas alas e a referência Hassan na frente, estavamos perante uma equipa de respeito.

 

Quando Lindelof tenta lançar mais um ataque a partir da sua posição mas com a bola a ir directamente para fora, o jogo muda. A reacção das bancadas foi aplaudir o jovem sueco e puxar pelo Benfica até a equipa ganhar, finalmente, a posse bola. Começou a funcionar o entendimento de Eliseu e André Almeida nas alas com Pizzi e Gaitán, apareceram as combinações com Jonas e Mitroglou, e houve espaço para Renato e Fejsa subirem a equipa. Numa pressão bem conseguida à saída de bola do Braga, o Benfica recupera a bola para que o avançado grego acabe com a indefinição no jogo. O 1-0 veio tranquilizar o Benfica e teve o condão de desmotivar quase por completo os minhotos.

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Rapidamente o Benfica elevou para 3-0, Jonas de penalti e Pizzi a finalizar uma jogada que teve no passe de costas de Jonas um dos melhores momentos da noite. Estava resolvido o problema.

 

De repente, as idas às Selecções dos nossos jogadores deixaram de ser um problema, a antecipação do jogo para 6ª feira passou a fazer sentido e todos estes temas repetidos nas discussões à volta do jogo morreram. A raça, a determinação e a motivação desta equipa do Benfica são incríveis.

Além dos bons momentos de futebol, fica na memória os festejos de cada golo. A maneira como Jonas se manifesta em golos que não são seus, o extravasar de alegria de todos os jogadores após cada golo, tudo sinais de uma vontade que só encontra paralelo nos mais de 60 mil que vibram nas bancadas.

Resolver o jogo e fazer do resto da partida uma festa na bancada e um prazer para quem está dentro de campo leva-me a pensar naquilo que escrevi depois do Bessa, é uma sorte ser do Benfica.

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 Na 2ª parte tinha que haver mais golos porque o Benfica atacava para Sul. A tradição manteve-se. Jonas isolado podia ter pensado em celebrar os seus 32 anos com mais um golo na corrida individual pelo melhor marcador europeu mas preferiu oferecer o golo a Mitroglou. Os dois juntos levam tantos ou mais golos que todas as equipas do campeonato do 4º lugar para baixo!

 

Um pormenor muito interessante nas substiuições de Rui Vitória. Escolheu Nelson, Samaris e Carcela para ir a jogo mas teve o cuidado de rodar posições mostrando o à vontade conquistado pela equipa em rotinas de jogo. André subiu para o meio campo, Samaris recuou para central. Das adversidades, o treinador tem criado opções e oportunidades.

Com o jogo a correr tão bem faltava chegar ao golo 100 em jogos oficias nesta época. Samaris resolveu, então, celebrar o centésimo golo de livre directo. Era um problema que tinha sido levantado durante a semana, o Benfica não consegue marcar golos de livre directo. Pronto, já consegue.

 

Mas o jogo não havia de terminar sem que caísse mais um mito. Depois do minuto 90 penalti, bem assinalado, para o Braga. Já não via os benfiquistas a festejarem tanto um penalti marcado contra a sua equipa desde aquele do Balakov nos 3-6!

Pedro Santos fez o golo de honra do Braga, e no outro Sporting deu-se mais uma pequena facada na honrada história do clube. É que, rapidamente, chegava a informação aos nossos telemóveis do desabafo que a conta oficial do Sporting publicou a propósito do golo do Braga.

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Primeiro ainda pensei que era brincadeira, depois percebi que era só mais uma loucura descontrolada de um clube que se tornou um recreio.

Tinha sido uma óptima oportunidade para o clube agradecer o respeito demonstrado na Luz pela memória de Fernando Mendes. Mas é pedir muito a um clube que não agradeceu a enorme e sentida ovação que o nosso estádio prestou no minuto de silêncio por Vítor Damas.

Antes pelo contrário, no minuto de silêncio por Bento insultaram o Benfica em Alvalade, e no Estoril deram aquele espectáculo, que envergonhará para sempre o clube de viscondes, durante o minuto de silêncio por Eusébio.

Aqui, tal como no comunicado oficial do Benfica, respeitou-se Damas, como se respeita agora Fernando Mendes, jogador e treinador do Sporting Clube de Portugal, assim mesmo com o nome do clube escrito e com letras maiúsculas. Sem complexos.

 

O jogo Benfica - Braga terminou em festa, eu já não acreditava ser possível golear assim o Braga desde a primeira passagem de Sven Göran Eriksson pelo Benfica. Felizmente, voltou a acontecer.

E agora temos direito a um bónus magnifico que é ir até à Alemanha jogar a maior prova de clubes do mundo no seu estado mais avançado contra o mitico Bayern de Munique. Um desvio antes de nova final em Coimbra. Com esta determinação, com este apoio neste caminho.

Porque o Benfica nasceu para noites destas.