Jonas Marca Mais
Quatro equipas do nosso campeonato marcam menos que Jonas. Quatro!
Quadro d'A Bola.
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Quatro equipas do nosso campeonato marcam menos que Jonas. Quatro!
Quadro d'A Bola.
(Fotos: João Trindade)
Ser adepto de um clube é ter uma vida alternativa ao que o comum mortal está habituado. Nós aceitamos que a nossa vida seja dividida em parcelas anuais correspondentes a épocas de competição, de Agosto a Maio. Durante esse período vivemos semana a semana à espera da nossa vez de entrar em campo. Não nos contentamos só com clássicos ou derbys. Não são os jogos com a multidão de Agosto que nos satisfazem, nem são os jogos de Maio que temos como objectivo. Só queremos ganhar jornada a jornada. Todas, se possível. Por exemplo, este ano de 2016 já conseguimos 15 vitórias em 16 jogos oficiais e sabe a pouco. Neste campeonato em 26 jogos o Benfica fez 70 golos. E sabe sempre a pouco porque o mais importante é o 27º jogo. É sempre o próximo jogo, o mais importante.
Escolhemos viver eternamente preocupados. As vitórias são para ser saboreadas em poucos dias porque o sentimento de missão cumprida dá logo lugar à preocupação do que aí vem.
Tentem ser sinceros nas respostas que dão a um amigo, familiar ou conhecido no momento em que vos perguntam inocentemente: Então, tudo bem?
Isto horas antes de um jogo do Benfica. Se forem como eu terão de responder algo como: Só estará tudo bem quando acabar o jogo com o Tondela e somarmos os três pontos.
Aqui há duas hipóteses.
Ou o interlocutor fica incrédulo e passa-vos um atestado de idiotice:
- Tondela?! Mas tu estás stressado por causa de um jogo com o Tondela?! Caramba, esses tipos devem estar em último...
- Sim , estão. Por isso mesmo...
- Bolas, tu és doente. Pensei que estavas com algum problema sério. Trata-te!
Ou o interlocutor evita verbalizar o que sente e responde um seco: Ah! ok.
Mas não se deixem enganar, a tradução óbvia é: Que grande atrasado mental.
É com isto que temos de viver. Por isso temos tendência a aproximarmo-nos de outros adeptos como nós. Até podem ser de outro clube, entender a maneira como se vive isto já ajuda muito.
Esta introdução para nos levar ao que realmente me preocupava antes do jogo desta noite. Tenho demasiado presente na minha mente um trauma que tento abafar desde que mudámos de estádio. Até agora todas as equipas que se estreavam na primeira divisão não perdiam o seu jogo na Luz!
Foi assim com a Naval, dias depois de eliminarmos o Liverpool em Anfield.
Foi assim com o Moreirense, em noite de aniversário do Benfica.
Foi assim com o Trofense, depois de termos perdido na 1ª volta na Trofa não conseguimos vencer na Luz e assim o clube nortenho é o único a quem nunca ganhámos um jogo oficial.
Foi assim com o Arouca.
E agora vinha o Tondela...
O último clube a que ganhámos na Luz em ano de estreia foi o Santa Clara, precisamente no adeus ao antigo estádio da Luz.
São estes pequenos nadas que me consomem. Até evito falar muito disto porque já sei que só ver reacções de sorrisos acompanhados da sentença: és doente, pá.
Junte-se a isto o stress habitual inerente a quem luta pelo título palmo a palmo, as lesões, as ausências por castigo, a gestão dos que podem vir a ser castigados, a recuperação do esforço de uma viagem à Rússia, qual o melhor onze, como estão os suplentes, como recuperam os que estiveram lesionados. Tudo preocupações que fazem parte do quotidiano de um adepto que pensa nisto mais do que queria ao longo de um dia.
Para piorar o cenário, esta época temos mais um factor de desgaste, o ruído de um clube que se diz de leões mas é gerido por papagaios que não se calam um único dia. Temos que nos concentrar para não responder, para não dar importância. Já vimos que vencer o derby mais importante da época não foi suficiente, o ruído continua alto. Agora é o Júlio César que foi encostado não sei bem porquê. Delírios de quem vê cada jogo com os "Estoriles" da vida todo apertadinho até ao minuto 90. E quando calha acabar bem deita cá para fora frases alucinadas. Meses e meses disto. Desta vez, acompanhados de uma invisível fé que lhes fazia lembrar que o Tondela já foi feliz em Lisboa esta época.
Para grande desespero dessa gente, nós resolvemos o assunto Tondela com a maior das eficácias e simplicidade. Fora 0-4, na Luz 4-1. Isto tudo sem penaltis, sem lançamentos laterais dentro de campo e sem barulho.
Pessoalmente, foi uma alivio ver aquele primeiro golo de Jardel seguido de mais um golo de Jonas que viria a bisar.
Finalmente, um clube estreante na primeira Liga vinha à Luz perder e dar alguma sentido à comparação entre líder do campeonato e último classificado. De vez em quando o futebol tem lógica, o total de 8-1 nos dois jogos entre Benfica e Tondela parecem não oferecer dúvidas.
Voltando ao contexto desta época, ultrapassado que está o trauma com estreantes, o Benfica arrancou uma vitória tranquila e normal numa noite sem problemas. A ausência de Renato Sanches nem se notou e deu para ir rodando a equipa dando minutos a Salvio e Gonçalo Guedes nos lugares de Gaitán e Talisca.
Rui Vitória fica sem Jardel e Mitroglou, castigados, para o Bessa e vai tirando proveito das decisões acertadas que tem tomado nas adversidades. Se há profundidade neste plantel é porque o treinador sempre acreditou em todos.
Uma nota para Petit que nesta segunda visita à Luz nesta época optou por um futebol mais positivo procurando o ataque e foi compensado com um golo no fim do jogo. Terá que fazer um milagre para manter o Tondela na primeira divisão e sai da Luz com duas derrotas no mesmo campeonato.
Voltamos à vida real, ou seja, a contar os minutos que faltam para o jogo do Bessa. Até lá a pensar se Mitroglou fez bem em ver o cartão amarelo, se há alternativa a Jardel, se o André Almeida regressa à equipa. Depois haverá ruído, muito ruído porque o Petit já jogou no Benfica e o Presidente do Tondela até é benfiquista e outras teorias de encostados.
Nós só pensamos em ganhar no Bessa