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Red Pass

Rumo ao 38

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Benfica 1 - 2 Porto: Do Sonho ao Pesadelo Para Ficar à Espera de Um Milagre

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(Fotos: João Trindade)

 

 Uma das discussões mais acesas que tenho nos últimos anos é à volta de rivalidades e inimigos. Dou como bem resolvida a minha questão do meu maior rival mas ao argumentar fico sempre com a sensação que não sou compreendido e, pior, faz-se confusão com as conclusões. Os benfiquistas do norte acusam-me sempre de ter a rivalidade trocada. Não aceito. A explicação é simples, cresci e vivo em Lisboa e sei bem o que é a rivalidade com os verdes. Nem tem discussão. Isto não quer dizer que ache mais fácil ou mais importante vencer o Porto que o Sporting. Aqui é que está a chave da questão. Os derbys empolgam-me, deixam-me algo nervoso, muito ansioso e acho sempre que vamos ganhar. Os clássicos assustam-me, chateiam-me, deixam-me desconfiado e acho sempre que podemos não ganhar. Tão simples e claro como isto. Não belisca o sentimento pela rivalidade. Acrescento ainda que levo muito mais a sério os confrontos com os azuis do que com os rivais da capital onde passo muito mais tempo na galhofa. Um rival não se escolhe, sente-se. No norte acho absolutamente lógico que os meus companheiros benfiquistas elejam o Porto. Na abordagem ao jogo é que estamos sempre de acordo, é muito difícil.

 

Esta introdução serve para explicar que este jogo começa a correr mal na sua abordagem. Ouvi e li muitos benfiquistas anónimos a fazerem o enterro ao Porto e a diminuir a dificuldade do clássico. Considero que este é o maior erro de cálculo dos benfiquistas ao longos dos últimos anos. Um erro que os portistas sentem e aproveitam para fazer das fraquezas as suas forças e reaparecerem em grande. Andamos há anos para passar das palavras aos actos.

Eu assisti à transformação do Porto em clube dominador e nunca senti que tivessem morrido. Houve uma época que corria tudo mal ao Porto, na última jornada o Benfica tinha que vencer no Funchal o Marítimo para garantir um apuramento europeu. Como o Porto jogava em Paços de Ferreira, salvo erro, a tarefa do Benfica era só fazer melhor ou igual que o Porto. Estava em causa uma época sem competições da UEFA. Pois o Benfica conseguiu fazer pior que o Porto e ficou de fora da Europa. O Porto, que era dado como morto, conseguiu esse apuramento. Jogou a Taça UEFA e ganhou-a! A seguir venceu a Liga dos Campeões.

Nos últimos anos voltámos a ser os campeões de Portugal. Podíamos e devíamos ter conquistados dois desses títulos em pleno estádio do Dragão. Não fomos capazes, perdemos 3-1 com o Porto reduzido a 10 e uns anos mais tarde aconteceu aquilo do Kelvin. Das duas vezes bastava um empate.

Depois voltámos a ganhar campeonatos e esta época vínhamos a fazer uma recuperação espectacular. Antes deste clássico o Benfica goleia no Restelo, o Porto perde em casa com o Arouca. A nação benfiquista volta a cair no erro que íamos bater em mortos. Não batemos porque somos sempre nós que os ressuscitamos e isso deixa-me louco.

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Quando vi os jogadores do Benfica a perderem tempo após o 1-0 e a equipa a tirar o pé do acelerador como se o jogo estivesse controlado, senti-me o único adepto naquele estádio que estava preocupado com a reacção do adversário e a sentir que os estávamos a convidar para uma reviravolta.

Quando Mitroglou põe o Benfica na frente o passo seguinte era cair em cima deles, era procurar o 2-0, era manter a pressão em cima deles, só assim eles podiam sentir que estavam na fase que nós queríamos que eles estivessem.

Não o fizemos, sofremos o empate e depois entrámos em desespero com vários golos falhados e uma exibição de outro "morto", Casillas.

Quando se pedia uma reacção forte na 2ª parte e maior eficácia na finalização assistimos, mais uma vez, ao regresso do Porto à vida saindo da Luz com os três pontos.

 

Com isto não estou a dizer que todos os benfiquistas levaram este clássico de ânimo leve nem que os jogadores, treinador e dirigentes encararam de maneira errada o jogo. Nada disso, todos dentro do Benfica sabiam da importância e da dificuldade da partida. Mas no futebol este ambiente de optimismo exagerado sente-se no ar e passa. Se há clube com o qual o Benfica nunca deve encarar com excesso de confiança é o Porto, os benfiquistas, melhor do que ninguém, não só deviam saber como tinham obrigação de saber.

A maneira como o Estádio da Luz passou da euforia ensurdecedora com a equipa em vantagem ao silêncio e apatia geral, mostrando mais vontade no lançamento das cartolinas do que em puxar pelos seus é a prova que documenta tudo o que estou a deixar escrito.

 

Para não passar ao lado do jogo jogado, uma rápida leitura e interpretação do que vi.

Do lado de Rui Vitória nada a declarar, manteve a equipa que tem dado boa conta do recado no campeonato e manteve Lindelof na ausência de Lisandro. A equipa entrou motivada e foi a reboque de Renato Sanches em busca do golo. Boas movimentações atacantes, cheios de moral e confiança com Pizzi e Gaitan a partirem das alas para criarem mais opções a Mitroglou e Jonas sob o controlo de Samaris. Chegou com naturalidade o 1-0.

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Estava do lado de José Peseiro o peso de uma reacção e a invenção de novas soluções. No seu 4-2-3-1 tentou o efeito surpresa ao chamar Brahimi para o centro do terreno deslocando André André para as alas. Não resultou e até evidenciou um dos maiores problemas do seu futebol, as saídas com bola a partir da defesa que acabam mal. Peseiro emendou e percebeu que o importante era ultrapassar com critério a primeira fase de pressão benfiquista. Sempre que a bola passava a primeira barreira, ainda no meio campo do Porto, o jogo tornava-se mais fácil e aberto para os azuis porque no meio campo tinham a vantagem de ter espaço para servir os corredores laterais, já com Brahimi lá colocado. Foi assim que surgiu o empate.

Descoberta a fórmula para responder com perigo à pressão do Benfica, o Porto inspirou-se na exibição do seu guarda redes para acertar marcações e para sair com mais segurança para o ataque.

O Benfica só criou perigo verdadeiro em contra ataque rápido e o Porto respondeu com o 1-2. Eficácia e estabilização das linhas recuadas.

Depois a resposta de Rui Vitória não foi nada convincente e as posições inverteram-se, o Benfica mostrava desespero e o Porto segurança. As substituições de Vitória foram o sinal de alarme, a entrada de Salvio foi uma boa notícia mas estranha-se por ser tão rápida.

 

No fundo, após o 1-0 o Benfica passou para o relvado o que se sentia nas bancadas, excesso de confiança que deu espaço a uma reacção fatal do Porto. Já vi isto tantas vezes.

Passámos de um momento de sonho com a vantagem para o sentimento de pesadelo com a derrota e agora resta-nos esperar o milagre de tudo correr bem e chegarmos a campeões sem vencer pontuar num único confronto com os adversários directos. Só há mais uma hipótese e pode não chegar.