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Red Pass

Rumo ao 38

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Rumo ao 38

Faz 31 Anos que o Benfica Ganhou Uma Taça de Portugal nas... Antas!

A história resume-se com aquilo que ainda hoje se sabe da rivalidade entre Benfica e Porto que em 1983 dava os primeiros passos mas nada tímidos. Pinto da Costa e Pedroto tomavam as rédeas da afirmação do Porto no futebol nacional.

No começa da época 1982/83 a FPF decide entregar a organização da final da Taça de Portugal à Associação de Futebol do Porto que marca o jogo para o Estádio das Antas.

 

Assim que terminam as meias finais começa a polémica. Com Porto e Benfica apurados para a final, o Benfica recusa que a decisão aconteça no campo do adversário. A FPF tenta convencer o FCP a jogar em campo neutro apontando Coimbra como cenário. O Porto recusa, não cede e ameaça não comparecer. A ousadia podia custar uma falta de comparência e respectiva descida à III divisão. Pinto da Costa convoca uma das Assembleias Gerais mais quentes de sempre e pede para os associados legitimarem a posição do clube: ou se joga nas Antas ou o FCP não aparece e desce de divisão. Na altura, como agora, o povo esteve com o Presidente e o ultimato partiu para a Federação.

 

Terminou a época sem que se jogasse a final da Taça de Portugal, jogadores de férias e a polémica instalada. Terminou com o Benfica a ceder e aceitar disputar o troféu em casa do adversário. Jogou-se a 21 de Agosto e acabou por ser uma das tardes mais épicas da história do Sport Lisboa e Benfica que graças a um pontapé de Carlos Manuel e a uma exibição estrondosa de Bento trouxe a mais saborosa Taça de Portugal para Lisboa.

Para nunca esquecer, 21 de Agosto de 1983:

 

Final da Taça de Portugal 1982/83
Benfica-F.C. Porto, 1-0
Estádio das Antas, no Porto
Árbitro: Mário Luís (Santarém)


F.C. PORTO: Zé Beto; João Pinto, Lima Pereira, Eurico e Inácio (Rodolfo, 45m); Jaime Magalhães (Walsh, 45m), Frasco, Jaime Pacheco e Sousa; Jacques e Gomes «cap».
Treinador: José Maria Pedroto.


BENFICA: Bento; Pietra, Bastos Lopes, Oliveira e Álvaro; José Luís, Carlos Manuel, Stromberg (Shéu, 85m) e Veloso; Filipovic (Padinha, 59m) e Nené «cap».
Treinador: Sven-Goran Eriksson (Suécia).


Ao intervalo: 1-0.
Marcador: Carlos Manuel (20m).
Disciplina: cartão amarelo a Gomes (35m).
Resultado final: 1-0.

O Regresso ao Bessa

 

Em semana de regresso aos confrontos com o Boavista e ao estádio do Bessa importa recuperar a histórica relação entre os dois clubes e o ponto de vista dos adeptos.

Não chega a ser uma relação de amor/ódio mas há um contraste de sentimentos em relação ao Boavista muito por culpa dos motivos que o levaram para o fundo do futebol português.

 

Quando comecei a ligar ao futebol a sério, isto é, quando já não passava sem ir à Luz de quinze em quinze dias estávamos no inicio da década de 80. Das minhas recordações dessas primeiras tardes fazem parte vários jogos com o Boavista. Foi dos primeiros adversários a despertar curiosidade além dos 90' do jogo. O nome soava bem e era original, de onde viria aquele Boavista? As camisolas eram um espectáculo, nunca tinha visto ao sol da Luz um equipamento tão diferente como aquele preto e branco axadrezado. Depois era um clube da cidade do Porto que não era o FCP e parecia ser uma equipa simpática de metade da tabela para cima. Os cromos do Boavista eram sempre festejados pela indumentária e na Luz as vitórias do Benfica não sofriam grande contestação. Foram estas as minhas primeiras indicações sobre o clube do Bessa.

 

Depois vieram as noites europeias com jogos inesquecíveis que ainda hoje fazem parte do meu imaginário juvenil. Torcia convictamente pelo Boavista na Europa. O confronto com o Club Brugge em 1985 foi incrível. Ouvi o relato pela rádio do 4-3 no Bessa. Do lado dos belgas havia um tal de Papin que depois foi o que se viu. O Brugge passou mas ficou a luta do Boavista.

 

Na época seguinte a eliminatória com Fiorentina foi épica. O Boavista perdeu 1-0 em Itália e ganhou no Bessa 1-0. Nos penaltis afastou os italianos por 3-1! Depois caiu em Glasgow com o Rangers mas o feito com a Fiorentina ficou na memória.

EM 1991 voltam a ter italianos pela frente, foi em Itália que disseram que o Boavista era o clube das camisolas esquisitas. Era. Camisolas que tinham um efeito estranho em grandes equipas da Serie A como o grande Inter de Zenga, Bergomi, Battistini, Brehme, Dino Baggio, Matthäus ou Desideri. Vitória no Bessa por 2-1, Marlon Brandão e Barny, e espectacular resistência em San Siro com a equipa de Manuel José a aguentar o 0-0! Depois o sorteio foi caprichoso e colocou de novo uma equipa italiana no caminho, o Torino venceu 2-0 em casa e segurou o 0-0 no Bessa mas em Itália já ninguém iria esquecer as camisolas esquisitas.

 

Mesmo porque em 1993 lá foi o Boavista para Roma defrontar a Lazio. Algo de muito estranho se passava com as bolas dos boavisteiros nos sorteios da UEFA para irem parar sempre a Itália! E não é que o Boavista volta a levar a melhor?! À derrota de 1-0 trazida de Roma respondeu com 2-0 no Bessa e lá foram os italianos para casa. Já se podia falar em trauma italiano.

E eu acompanhei todos estes jogos com o entusiasmo de quem estava já agarrado a um jogo apaixonante mas não tinha muito futebol para ver em directo, por isso estas noites europeias ganhavam contornos épicos mesmo além Benfica. Fiquei sempre contente com os feitos do Boavista, penso que naquela altura havia uma natural simpatia pelos sucessos europeus do clube em todo o país.

 

Em 1994 tiveram uma eliminatória com o Karlsruher SC muito interessante. Passaram os alemães e descobri um guarda redes incrível chamado Oliver Kahn.

O Boavista segurou bem o seu astuto europeu e já era raro não ver o clube nas provas da UEFA. Chegou a jogar na Luz quando teve o Bessa interdito, foi em 1996 contra os dinamarqueses Odense que venceram 1-2 mas o Boavista passou por ter ganho fora 2-3. Este caso mostra a tal ligação entre Benfica e Boavista.

Depois disto o Boavista ainda defrontou por mais três vezes italianos mas sem sorte. Com o Nápoles e a Roma teve confrontos muito equilibrados mas no reencontro com o Inter a vingança italiana foi pesada, 5-1 em Itália e 0-2 no Bessa.

Até 2003 mais noites mágicas europeias viveu o Boavista. Na sua última presença na UEFA ficou às portas da final eliminado pelo Celtic numa caminhada que ficou marcada pela vitória no confronto com o PSG de Ronaldinho!

 

É, pois, uma história europeia muito rica e que ajudou muitos como eu a viver boas emoções em tempos que não havia futebol na televisão a toda a hora. Só por este historial há que ter uma simpatia pelo Boavista.

 

No caso dos benfiquistas a ligação vai mais longe. Faz parte da nossa história a troca saudável de jogadores entre o Bessa e a Luz. Transferências que vieram mudar o rumo dos dois clubes. Jogadores que vestiram as duas camisolas ora com proveito a norte, ora com proveito a sul. Quem se esquece de João Vieira Pinto, Isaías, Sanchez, Nuno Gomes, João Alves, Filipovic, Rui Bento, Petit entre outros? Ok, também houve Nelo e Tavares mas o saldo é muito positivo!

 

É verdade que com o crescimento do Boavista os jogos na Luz começaram a ser muito complicados. Salta logo à lembrança o jogo da Luz que acabou com Damásio a falar em roubo aos 6 milhões de adeptos e o incrível banho de bola numa tarde que houve enchente na antiga Luz que acabou com um trágico 0-3. Também no Bessa as dificuldades aumentaram. Mas foi lá que aconteceram jogos que ficam para a galeria dos inesquecíveis como aquele em que Paulo Sousa acabou à baliza e o Benfica venceu por 2-3.

Muitas memórias de confrontos com o Boavista, jogos que se podem classificar de clássicos do futebol português.

 

Também foi no Bessa que defrontámos a Lazio quando ainda não havia estádio da Luz novo. O Boavista retribuía assim a simpatia do Benfica pelo jogo com o Odense.

 

Pessoalmente, a minha estreia no Bessa aconteceu em 2005. O jogo em que fomos campeões nacionais após um longo jejum. Uma tarde memorável com o Bessa pintado de vermelho. Não há como esquecer aquele cenário.

A última passagem pelo estádio do Boavista já não deixou tão boas recordações, fui lá ver , por esta altura, o jogo contra o regressado Leixões. Jogámos de rosa e a exibição foi para lá de cinzenta. A poucos minutos do fim Petit ( olha quem é ele! ) fez o 0-1 e parecia que nos íamos safar mas antes do apito final o Leixões fez o 1-1 que só teve a vantagem de despedir Fernando Santos.

 

São mesmo muitas as recordações do Boavista com o Benfica e no futebol português. Sem dúvida que faz falta ao nosso pobre campeonato. O problema é que a sua queda tem a ver com o maior cancro que condicionou o futebol por cá nas últimas décadas. Não vale a pena fingir que ninguém sabe porque é que o Boavista foi atirado para as divisões inferiores. A grande questão é que não podiam ter ido sozinhos. A "injustiça" neste caso tem a ver com facto de só ter havido coragem para penalizar uma equipa da cidade do Porto, quando havia outra que se ficou a rir.

Também não se pode esquecer a forma como Álvaro Braga Júnior saiu do Benfica nos tempos em que valia tudo. O cheque de 80 mil contos criado na véspera da saída manchou a sua passagem na Luz.

 

O Boavista é treinado por Petit, figura que muito estimo por tudo o que deu ao Benfica, sobreviveu graças à carolice de jogadores, adeptos e dirigentes que recusaram o fim do clube histórico e merece estar de volta. Entre amigos tenho alguns boavisteiros, tudo gente boa, que gosto de ver felizes.

 

Concluindo, é bom ver o Benfica regressar ao Bessa, mesmo com relva sintética. Um palco com tanta história de futebol nacional e europeu. Ganhemos no Bessa e deixemos um voto de felicidades para Petit e companhia para o resto do campeonato. Menos na Luz, claro.