Académica 0 - 0 Benfica
Medo cénico.
É isto que se passa. Medo cénico. É aquela sensação em que estamos a ver todas as vantagens a escaparem por entre os dedos e o estado de espírito muda radicalmente para a apreensão ( e até irritação) geral. Sair de Coimbra sem uma vitória deixa-me a pensar no que aí vem e é aí que entra a expressão que Jorge Valdano um dia popularizou num dos seus brilhantes textos. É sentir que o que aí pode vir é algo que já passei em tempos recentes e deixa-me incomodado.
Mas o medo cénico é, apesar de tudo, melhor do que desacreditar na nossa equipa de um dia para o outro. Desculpem mas não consigo deixar de acreditar que vamos acabar por conseguir atingir os objectivos da época. Tirando o defesa esquerdo não troco nenhum dos nossos homens mais utilizados por nenhum dos nossos rivais. Não temos nenhum Roberto na baliza nem ficámos órfãos em Janeiro de um defesa central titular.
O que se passa é que depois de um excelente percurso entrámos numa fase má com uma derrota na Rússia mal digerida nos últimos minutos do jogo e uma noite negra em Guimarães. Ontem era para voltar ao normal e ganhar o jogo em Coimbra. Apoio na bancada não faltou, incansáveis os benfiquistas que empurram a equipa até ao fim para um golo. Então o que se está a passar?
Quebra física? Lesão de Javi? Desânimo psicológico com a perda de embalagem? Falta de sorte? Arbitragem manhosa que conseguiu não ver aquele lance do Aimar (não, recuso-me a falar nos outros lances porque não quero entrar por aqui mas o lance do Aimar é demais) ?
Talvez um pouco disto tudo e também um Jorge Jesus a acusar a pressão e a não acertar nas mexidas que tem feito no "11".
Fiquei irritado na bancada mal acabou o jogo mas não consigo chegar ao ponto de fúria de insultar jogadores e Direcção e tudo e todos como é tão clássico no nosso Benfica quando não se ganha. Compreendo a fúria mas eu já vi o Benfica ganhar aqui a jogar muito menos que ontem (na época passada, por exemplo) e apesar de não termos feito um golo nos últimos dois jogos acho que jogámos o mínimo aceitável para chegar lá. Há alguns falhanços incríveis dos nossos avançados e, claro, um guarda redes que voltou a fazer o possível e impossível chamado Peiser e que já o conhecemos de outras noites.
Foi pouco? Foi! Era de todo proíbido perder pontos nesta jornada? Era!
Infelizmente não marcámos e estamos a deixar que a ansiedade e os nervos tomem conta de nós na hora de finalizar.
Saí triste do Estádio de Coimbra mas continuo a acreditar em Cardozo, Aimar, Nolito, Bruno César, Gaitán, Rodrigo e companhia para os últimos três meses da época. É revoltante saber que podíamos chegar ao clássico da Luz com uma vantagem de cinco pontos e vamos entrar com os mesmos pontos que eles ( não esquecendo o Braga ) com uma enorme pressão de termos de vencer para voltarmos a deixá-los para trás.
Não vale a pena ficar a chorar mais esta última semana e meia negra. É olhar para a frente e ir à luta com o que temos. No campeonato temos que receber na Luz Porto e Braga. É mau? Era melhor olhar para o calendário e ver que tínhamos de ir discutir estas partidas a norte? Não me parece.
E já agora pelo meio também podemos mandar para casa Bruno Alves e companhia.
Ou seja, está na hora de olhar para a nossa Catedral e interiorizarmos a ideia que é aqui na nossa casa que vamos dar a resposta precisa para nos lançarmos para altos voos até Maio.
Era melhor chegar a Março com vantagem pontual? Claro que sim. Não foi possível, a equipa quebrou caiu no Minho, escorregou em Coimbra mas ainda está tudo nas nossas mãos. Não vamos ficar atrás de ninguém e temos que mostrar agora que somos realmente a melhor equipa de futebol de Portugal. Eu acredito mesmo que somos, apesar da raiva que ainda sinto por este duplo apagão.
A questão agora é saber se os benfiquistas querem ficar a lamentar a má fase enquanto olham para a frente e se deixam levar pelo tal medo cénico ou se querem reagir e ir à luta. Não vai ser fácil mas também nunca ninguém disse que isto ia ser um passeio.
Sexta feira temos que vencer o Porto na Luz. Eu não duvido que esta época jogamos mais e melhor que eles, não tenho medo nenhum do clássico. E não se esqueçam que ainda há muita vida além clássico, é importante mas não acaba ali.
Quem não gostar desta minha forma de encarar a situação pode saltar para outros espaços onde não faltarão benfiquistas do "eu não disse?" a pintar de negro tudo o que aí vem. Eu recuso-me. Quero ir à luta e dizer que estou com a nossa equipa. Temos que os espicaçar e exigir mais, claro! Mas estou com eles quando entramos na fase decisiva da época. Contrariar o medo cénico, a tarefa que tenho em mãos até 6ª feira.