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Red Pass

Rumo ao 38

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Vitória de Setúbal 1 - 1 Benfica: A Angústia Continua

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Depois do cenário negro que aqui partilhei na última crónica, tentei reagir. Comecei a pensar onde era o próximo jogo e cheguei à conclusão que não poderia estar no Bonfim por compromissos profissionais. Um concerto na Sala Tejo da Altice Arena ia anular a minha ida a Setúbal e obrigar ver o jogo na televisão. Mas estava tão em baixo que nem pensei muito no sábado. 

Depois veio a Gala e ouvi o Ferro, o Pizzi e Bruno Lage a falarem em dar a volta, recuperar e acabar com o mês terrível. Entusiasmei-me e fui ver horários. Afinal, o jogo até era cedo, isto bem organizado dava para ir ao Bonfim e sair a correr para o Parque das Nações e ficava com um sábado bem preenchido. 

Tudo certo, entrada cedo no Estádio para evitar as famosas filas do Bonfim. Tempo suficiente para olhar à volta e concluir que só o Benfica me faz ir a recintos destes. Se há estádio onde está tudo mal neste campeonato, é este em Setúbal. Até as escolha dos equipamentos me deixa desconfortável. 

Mas o que interessava era a bola rolar e ver o Benfica, finalmente, reagir e voltar a jogar bem até conquistar os 3 pontos. 

A primeira parte foi passando e aquele sentimento de revolta e frustração que se tenha alojado no final do jogo com o Moreirense vai reaparecendo silenciosamente. Afinal, tanto discurso e o futebol voltou a ser o mesmo, para não dizer ainda pior. A primeira parte do Benfica em Setúbal não tem qualificação possível. Se era aquela reacção que os jogadores queriam mostrar, então podiam ter avisado que era só mais do mesmo. Tudo lento, tudo sofrido, tudo previsível. Parece outra equipa.

Lage optou por tirar Weigl do onze, para tristeza de um grupo de alemães que estavam no sector visitante com uma bandeira do Dortmund, deixou Rafa no banco e apostou em Cervi e Samaris. Chiquinho voltou a ser chamado a segundo avançado. E o resultado de tudo isto é apenas e só mais do mesmo. A equipa está em falência técnica de ideias perante o espanto e desespero dos seus adeptos que mesmo assim enchem o espaço deles e apoiam do principio ao fim. Nem Adel a driblar, nem Vinicius a ser lançado, nem livres, nem cantos, nada. 

Nestas alturas de desespero temos que nos agarrar a qualquer coisa, neste caso foi o facto da equipa atacar agora para o nosso lado que ia dar melhor resultado. Temos marcado naquela baliza, vai correr melhor.

Arranca a 2ª parte, toda aquela curva vermelha no Bonfim a acreditar que ia ser uma inspiração para os ataques do Benfica e o que acontece é o golo do Vitória! Surreal. 

Dá-se uma rápida reacção que leva à conquista de um penalti. Pizzi assume e marca. Benfica continua por cima e volta a marcar mas o golo é anulado por fora de jogo. A questão é: porque é que só depois de sofrer um golo é que a equipa começou a jogar assim?!

Aos 76' novo penalti. Pizzi volta a assumir. Escolhe o lado contrário e falha. Porque é que a marca de penalti é uma ilha de areia, não sei responder mas o Pizzi já tinha a experiência de ter marcado o primeiro. 

Até ao fim foi reviver tudo de novo. Uma espécie de pesadelo sem fim. O futebol do Benfica bloqueou e não há forma de vermos o futebol que queremos. 

Mais um angustiante empate que nos mostra que não é com palavras e promessas que se sai deste buraco que têm sido as exibições do Benfica. 

Isto tudo só não é ainda mais dramático porque o líder tem uma atracção misteriosa pelo abismo que faz com que não descole. E, portanto, adiamos mais uma semana este sofrimento. 

Para a próxima semana, o Porto vai a Famalicão e o Benfica recebe o Tondela. Animador? Devia ser mas uma pessoa pensa no que tem sido o futebol do Benfica nos últimos tempos e assusta-se. 

Nova oportunidade para mostrar alguma vontade de mudar este negro cenário, para todos. Para a equipa técnica e para os jogadores: Reajam a sério! 

Benfica 1 - 1 Moreirense: Ultrapassados

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Informo já à partida que se chegaram aqui à procura de alguma esperança e conforto é melhor voltarem noutro dia. O que tenho para partilhar não é bonito. A última vez que me senti assim tão num pós jogo foi em 2013 depois do empate com o Estoril. Foi a pior noite que passei nos últimos sete anos. Se estiverem intrigados porque não menciono o dia do clássico de Abril de 2018, eu explico. É que perder para um adversário directo um jogo decisivo é doloroso mas é um risco que temos de assumir no futebol. Agora, quando se perde pontos contra equipas de outro universo que não o da luta pelo título é como levar um tiro no peito. 

Não conseguir vencer o Moreirense em casa numa altura decisiva da temporada, depois do adeus Europeu e de um ciclo de seis jogos só com uma vitória vira novamente o contexto da postura da equipa nesta altura. Nos últimos anos o Benfica habituou-nos a resistir na frente nas rectas finais dos campeonatos mesmo com margens de erro muito curtas ou inexistentes. Aquela quebra que custou seis dos sete pontos de avanço levava o desafio para um novo nível, não falhar mais tal como no ano passado. 

Numa jornada que o Porto ia aos Açores e o Benfica recebia o Moreirense não era expectável um tropeço destes. Olhando para os jogadores disponíveis e para aquilo que tem sido a equipa do Benfica esta temporada, nem se pode falar em escolhas polémicas. Era o 11 mais forte disponível para esta jornada. O problema está na qualidade do futebol jogado. Dos nervos que passam do relvado para a bancada e vice versa, da desinspiração individual e colectiva que Samaris assumiu na flash interview. Tudo é demasiado doloroso. Veja-se o momento em que Pizzi desperdiça o penalti. Basta lembrar que há um ano a equipa transpirava confiança, tanto fazia dar 10-0 como vencer com um golo no final contra o Tondela. 

O que sinto agora é o inverso, falta confiança, falta certeza na hora das decisões. O tempo passa depressa e tudo parece acontecer demasiado precipitado no relvado. A equipa técnica é a mesma e os jogadores não mudaram muito de uma época para outra. Isto é o que me deixa mais perdido na bancada, olho à volta e só vejo desespero. Ninguém entende nada do que se passa, todos resmungamos e a cada ataque do Benfica todo Estádio espera um milagre que não acontece. 

No fim do dia fomos ultrapassados. Já não depende de nós sermos campeões esta temporada. Isto era a única coisa que não podia acontecer e aconteceu. 

O que nos espera daqui para a frente não é nada animador, saber que podemos ganhar os jogos todos e mesmo assim não servir para nada. E com uma vitória nos últimos sete jogos onde se vai buscar forças e motivação para cumprir esse serviço mínimo? 

Lá estarei no Bonfim à espera de uma reacção mas agora sem nenhum entusiasmo. Não ter o nosso destino na mão tira-me todo e qualquer optimismo. 

Fico a aguardar por uma noite inversamente proporcional a esta em termos de resultados inesperados. É o que nos resta. E isso é duro, muito duro. 

Benfica 3 - 3 Shakhtar: Frustrante

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Os anos passam e esta sensação de frustração europeia é sempre igual. 

Eu sou de 1973, aos 10 anos, em 1983, vivi logo uma fabulosa experiência europeia que foi ver todos os jogos do Benfica na Luz até aquela final com o Anderlecht. Em dez anos aprendi a gostar do Benfica, descobri o chamamento do Estádio da Luz, a sedução do vermelho das camisolas, o ritual da multidão a dirigir-se da Estrada de Benfica para o Estádio e as bancadas de cimento. Mas o momento que marcou esta ligação ao clube aconteceu na primeira vez  que me levaram a um jogo das competições europeias à noite. Já tinha vibrado com imagens de um jogo com o Torpedo de Moscovo mas conhecer as famosas noites europeias da Luz foi o clique que faltava para transformar uma simpatia em paixão. A força brutal daquelas torres de iluminação, a atracção pelo desconhecido à volta dos nossos adversários, o peso da responsabilidade de representar o nosso país num compromisso europeu e, o mais forte, o desafio do Benfica tentar recuperar o brilhantismo que popularizou o clube nos anos 60. As primeiras experiências na Luz em noites europeias foram fascinantes por tudo o que rodeava o jogo. Só tive a real consciência do peso futebolístico destas noites em 1981. Já tinha visto alguns jogos mas foi nessa eliminatória com o Fortuna Dusseldorf que me apercebi de toda a responsabilidade que envolve estas noites. O jogo esteve 0-0 até perto do fim e toda a gente à minha volta estava contente. Eu não estava a perceber porque é que um empate animava aquela plateia sempre tão resmungona e exigente. Com calma lá me explicaram que na Alemanha o jogo ficou 2-2 e que existia a regra do golo fora de casa. Mesmo perto do fim, Chalana faz o 1-0 e resolve definitivamente a questão. Fiquei fascinado com aquelas contas e regras. Tenho a certeza que foi naquele momento que a minha devoção pelo futebol subiu de nível. 

Nesta altura já tinha muitos jogos vistos para as provas internas, muitas tardes na Luz e até alguns jogos da Selecção, o golo do Jordão à URSS incluído. Faço este enquadramento para sublinhar que os momentos mais altos enquanto adepto que estava a descobrir o futebol ao vivo eram mesmo as noites europeias.

Seguindo este raciocínio, destaco ainda a meia final de 1981, a seguir ao Dusseldorf. A vitória mais amarga daquela altura, o 1-0 ao Carl Zeiss Jena. Fiquei admirado com a ovação com que a Luz se despediu da equipa reconhecendo o esforço. É que isto não era coisa pouca, estamos a falar de uma plateia que na sua maioria viveu as noites mágicas dos anos 60. 

Isto faz toda a diferença. Reparem que durante a épica caminhada da final da Taça UEFA de 1983 tirei um mestrado naquelas bancadas. Enquanto eu vibrava com a vitória contra o Betis, os mais velhos explicavam que aquele golo da equipa de Sevilha nos tinha matado. Ganhámos lá 1-2. Ao Lokeren ganhámos 2-0, não sofremos golos portanto tinha sido bom. Nada disso, a saída do estádio foi penosa com a multidão a reclamar de um resultado curto contra uma equipa que nem nome tinha para andar ali. Vencemos na Bélgica.

O Benfica - Zurique jogou-se à tarde. Chateou-me aquilo de parecer um jogo banal de campeonato. Demos 4-0 depois de trazer um empate 1-1 da Suíça. Mas sem holofotes ligados não foi a mesma coisa. Seguiu-se a Roma. Uma vitória épica em Itália deixou a Luz em euforia na 2ª mão. O Benfica esteve sempre a ganhar mas Falcão empatou na parte final. Passou o Benfica e o Estádio da Luz aprovou. Finalmente, senti a plateia da Luz convencida. Meias finais com a Universidade Craiova. Noite de nervos e 0-0 no final. Fiquei triste com o nulo mas a voz da experiência dos mais velhos lembrou-me que não era mau de todo, tínhamos de marcar na Roménia para ir à final. Marcámos mesmo. Filipovic empatou aos 53' e a tal regra do golo fora funcionou. 

Final a duas mãos. Não tenho memória do jogo da primeira mão porque não foi transmitido! No resumo fiquei chocado com o falhanço do Diamantino e a expulsão do Zé Luís. Não dramatizei. 

Aquilo que vivi no dia 18 de Maio de 1983 marcou o meu benfiquismo para sempre. Fui para a escola primária com uma bandeira enrolada e um recado da minha mãe a autorizar a minha ida para a Luz a meio da tarde. Fui com o pai dela. O último jogo do meu avô no Estádio. Foi como um passar de testemunho. A desilusão do meu avô no final mostrava que a herança ia ser pesada. 

Cresci a ouvir os feitos do Benfica dos anos 60, das noites inesquecíveis na Luz, das finais da Taça dos Campeões e, acima de tudo, das duas conquistadas. Quanto mais via jogos europeus do Benfica, mais tinha a sensação que não ia ter o privilégio de ver o Benfica europeu à altura do... Benfica. 

Podem acreditar que todos os anos sempre que o Benfica termina a sua prestação europeia eu não me esqueço desse dia. O Liverpool em dois anos seguidos, o Dukla, o Bordéus e por aí fora. São sempre noites amargas. Sempre me fez impressão o pessoal que reagia com naturalidade às eliminações. 

De repente, em 1988 tudo volta a fazer sentido. Nova caminhada épica até uma final europeia. Cinco anos depois da Taça UEFA lá estávamos nós numa final. Desilusão. Começar tudo de novo para cair aos pé do... Liége. Do Liége! 

No ano a seguir lá estávamos nós no auge da montanha russa uefeira. Derrota em Viena. Recomeçar tudo de novo. Apanhar a Roma na ronda 1 da Taça UEFA. Eliminados! Acho que nunca tinha vivido um afastamento europeu logo na primeira noite na Luz. Encarei aquilo como uma anormalidade. Talvez o momento mais baixo. Eu estava habituado a apontar para as finais, não para sair em Outubro. Tão ingénuo. Mal sabia eu que ainda ia ver o Bastia, por exemplo. Ou horrores como o Celta. Ou, pior ainda, estar dois anos sem Europa na Luz. Aconteceu. Doeu. Sem a magia das noites europeias não fazia sentido o futebol do Benfica. 

Felizmente, voltámos à ribalta. Com noites memoráveis como Liverpool ou Manchester United pelo meio. Voltámos a duas finais europeias. Na hora da desilusão a perspectiva já era outra. Trinta anos depois do Anderlecht na Luz, vivi as derrotas com outra experiência. Lembrei-me dos anos que ficámos de fora. O jogo com o Sevilha acaba e o que me passa pela cabeça? Que mais valia ter caído cedo e não tinha de sentir aquela dor. Um ano antes ainda tinha doído mais. Mas depois nas viagens de volta lá me lembrava das noites mal dormidas a seguir ao Carl Zeiss, Dukla, Liége ou Bastia. É claro que se for para cair que seja na final. A nossa vida precisa de vitórias europeias. É a nossa herança. Quem não entender a necessidade do Benfica evoluir na Europa não entende o que é o Benfica. 

Serve tudo isto para dizer que hoje é mais uma daquelas noites. São quase 40 anos a conviver com esta ilusão europeia herdada no final dos anos 70 e alimentada por já ter estado tão perto de concretizar o sonho por cinco vezes. Arredondando, já são cerca de 40 noites de frustração. Quase 40 clubes, são menos porque alguns já repetiram a traição, que nos interromperam a viagem. É muita noite de desilusão. Mais vale sair à primeira? Nem pensar. Mais vale nem lá ir? Já aconteceu e não pode voltar a acontecer. 

É para ir sempre o mais longe possível. 

Nesta eliminatória, o Benfica esteve em vantagem várias vezes. Na Ucrânia quando fez o 1-1 já estava na frente. Sofreu golo logo a seguir. Na Luz houve cheiro a noite europeia a sério. Boa entrada na partida e 1-0 que deixava o Benfica em zona de apuramento. Ataque do Shakhtar e golo. Reage o Benfica, depois do belo golo de Pizzi, um pontapé de canto e grande cabeçada de Rúben Dias. Tudo igualado. Na 2ª parte, boa atitude do Benfica. Pressão alta, roubo de bola na área adversária, passe para trás e grande golo de Rafa. 3-1, resultado certo para avançar na Liga Europa. Mas, mais uma vez, o Shakhtar vai atrás do apuramento e reduziu. Com 3-2, o Benfica ficava a um golo da passagem. A Luz acreditou, a equipa queria mas quando o clube da Ucrânia faz o 3-3 acabou-se a ilusão. Mais uma vez. 

A lição que trago daquela noite de 1981 com o Carl Zeiss mantém-se até hoje, quando sinto que a equipa deu tudo e nos fez acreditar no passo seguinte, aplaudo. A sensação de frustração está lá, como sempre, mas tem de haver reconhecimento. O Benfica fez três bonitos golos, quis seguir em frente. O Shakhtar mostrou argumentos fortes na resposta. Mereceu o apuramento. 

Pensei que isto era simples de perceber. 

Só que quando soou o apito final olhei para as bancadas centrais da Luz, já meio despidas, e fiquei incrédulo com uns quantos adeptos a acenarem com lenços(?) brancos! A equipa a despedir-se das noites europeias agradecendo a presença e apoio do público e metade a assobiar e a outra a aplaudir. A equipa divide-se e metade vai ao Topo Sul aplaudir, enquanto ouve um motivador "Nós Só Queremos o Benfica Campeão", ao som de "Yellow Submarine", e a outra metade já ia no túnel. 

Que final de noite foi este? 

O pessoal dos assobios e dos lenços brancos quer o quê? Despedir Bruno Lage em Fevereiro, é isso? E sugerem que treinador para o jogo com o Moreirense? O Renato Paiva? Para daqui a um ano exibirem outra vez os lenços? Ou estão a pensar no Jorge Jesus que em 2013 insultavam aos 90 minutos do jogo com o Gil Vicente? 

Que é isto?

Que mal fez hoje o Lage? Manteve a defesa. Na ausência de Samaris chamou Weigl e Adel, deu os corredores laterais a Rafa e Pizzi, escolheu Chiquinho para estar mais perto do estreante Dyego Sousa. É um onze assim tão polémico e sem nexo?! 
Ter a eliminatória na mão com 3-1 e sofrer dois golos é frustrante e, até revoltante. Sem dúvida. Mas é motivo para uma assobiadela ou para lenços brancos? Eu acho que não. Acho que é tão parvo como dizer que o Benfica não deve dar importância às competições europeias. 

Não há ninguém que possa dizer que sente mais estas noites europeias. Mas transformar isso em exigência de despedimento do treinador não me parece lógico. 

Segunda feira há um jogo com o Moreirense para ganhar e defender o primeiro lugar no campeonato. Perturba-me pensar que há consócios que a esta hora além da falta de sono por mais um sonho interrompido achem que esta frustração se resolve com o despedimento de Lage. É assustador. 

O Benfica esteve interessado em Bruno Guimarães. O brasileiro seguiu para o Lyon. Esta semana foi o melhor em campo contra a Juventus. Acho que é mais por aqui que devemos reflectir do que sugerir a saída do treinador. 

Penso que não é preciso andar há 40 anos a ser eliminado anualmente, com dois anos de ausência, para saber reconhecer quando a equipa faz tudo para seguir em frente mas mesmo assim é derrotada por um adversário que foi melhor. 

Se a velha guarda que viveu os gloriosos anos 60 soube perceber isso em 1981 naquela meia final da saudosa Taça das Taças, este pessoal que foi hoje à Luz também devia conseguir. 

Gil Vicente 0 - 1 Benfica: Era Ganhar ou Vencer

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A prioridade era ganhar. Depois de quatro jogos sem vencer, seis pontos perdidos na Liga, um apuramento para o Jamor sem brilho e uma primeira parte de eliminatória europeia em desvantagem, era imperioso voltar aos triunfos e dar um sinal claro de querer agarrar a liderança na Liga NOS. Não esperava uma exibição deslumbrante, exigia um poder de combate e de sacrifício a todos os jogadores em Barcelos.

Para complicar ainda mais, foi o primeiro jogo de competições nacionais que não vi ao vivo em 2020. Custa muito ficar à mercê de uma transmissão televisiva à distância mas, desta vez, teve que ser. Até tive sorte na cobertura do jogo, ouviu-se perfeitamente o incrível apoio dos benfiquistas do norte e dos que foram até ao Minho com direito a planos das bancadas e tudo. Já não estava habituado a estes luxos e sempre ajuda a sentir-me mais perto de tudo. 

O Benfica andava a sofrer golos sem parar, não marcava golos de cabeça, e não conseguia sair em vantagem nos últimos tempos. Ora, um golo de cabeça de Vinicius aos 15 minutos foi o melhor que podia ter acontecido à equipa e aos adeptos. 

Bruno Lage reformulou o 11. Atrás tudo igual mas chamou Samaris para o lado de Weigl, deixou Taarabt mais perto de Vinicius, Rafa ficou na esquerda e Pizzi na direita. Um desenho interessante e que dava mais solidez no meio campo. Curiosamente, foi Adel a cruzar para o golo de Vinicius e o Benfica parecia bem na partida. 

A excelente reacção do Gil Vicente só veio confirmar o brilhante trabalho, mais um, de Vítor Oliveira à frente de uma equipa que veio da 3ª divisão e neste momento já tem a manutenção praticamente garantida. Muita qualidade na equipa de Barcelos, principalmente na saída de bola com Kraev, Claude, Lourency e Baraye à procura de Sandro Lima. Sempre com critério e objectividade a mostrar porque é que já bateu o Sporting, Braga e o Porto neste Estádio Cidade de Barcelos. 

O Benfica continuou a procurar o segundo golo e há um momento na primeira parte que me deixa confuso. Um golo anulado a Vinicius por um fora de jogo posicional. Não compreendi a decisão da arbitragem mas a Sport Tv também não explicou melhor. Era importantíssimo para o Benfica ter chegado aquela vantagem. 

Assim, o Gil Vicente ficou sempre ligado ao jogo e em busca do empate. A equipa do Benfica não conseguia estabilizar o seu jogo e o desgasto físico e mental da equipa deixava uma incerteza no resultado que me deve ter roubado uns bons anos de vida. 

Além do golo anulado, para mim é incompreensível a decisão, repito, Adel Taarabt ia resolvendo o jogo com um lance genial, domínio de peito, vira para dentro e dispara à barra de Denis. Era uma obra de arte. 

Do outro lado, o treinador do Gil lançou Arthur Henrique, Lino e Hugo Vieira que foi sempre um perigo à solta. Felizmente, foram todos mais egocêntricos do que práticos e prevaleceu a decisão individualista em vez de recorrerem ao colectivo como tão bem explicou o treinador da equipa minhota. 

Odysseas voltou a ser determinante, seguro e eficaz. Acabar sem sofrer nenhum golo é um prémio especial para o guarda redes do Benfica. 

Hoje também houve mudanças na hora de fazer as substituições. Finalmente, Seferovic ficou no baco e foram a jogo Dyego Sousa, Cervi e Chiquinho. O argentino podia e devia ter feito um golo que dava tranquilidade a todos mais cedo nesta noite. 

O Benfica conseguiu o mais importante, ganhar. Que tenha sido o arranque de outro ciclo vencedor, há doze jogos para ganhar. 

Na próxima 5ª feira se a equipa conseguisse repetir este resultado era óptimo.

Shakhtar 2 - 1 Benfica: Para Resolver na Luz

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Que fase má do Benfica! A terceira derrota em quatro jogos sem ganhar é um ciclo horrível mas é preciso detalhar este resultado que pode não ser assim tão mau como a derrota anuncia. 

Tal como em Famalicão o empate foi muito melhor que a exibição e cumpriu um dos objectivos da época, voltar ao Jamor, hoje o Benfica deixou em aberto a resolução da eliminatória europeia para daqui a uma semana na partida da Luz.

Mas o momento não é bom. A equipa só reage a espaços e mete-se a jeito de ficar em desvantagem com facilidade. Um dos grandes mistérios do Benfica actual é a posição do Seferovic. É sempre a primeira escolha a ir a jogo e hoje foi a preferência para o ataque do Benfica. Em troca dá uma mão cheia de nada. Perto dele esteve Pizzi, ficando no lado direito Chiquinho e na esquerda Cervi. No meio Taarabt e Florentino que andaram numa montanha russa na primeira parte a acudir no espaço entrelinhas que o Shakhtar conseguia explorar com facilidade. 

O Benfica não conseguiu impor o seu jogo e acabou por ter que andar atrás do futebol da equipa de Luís Castro. 

O nulo ao intervalo era a notícia menos má. O 0-0 e a exibição de Odysseas que continua a ser determinante para agarrar a equipa em alturas em que parece tudo perdido. 

Na 2ª parte esperava-se uma atitude diferente do Benfica mas acabou por ser mais do mesmo. Os ucranianos ameaçaram, na 1ª parte até marcaram um golo anulado rapidamente pelo VAR, e aos 56' marcaram mesmo. Um passe para a baliza de Alan Patrick assistido por Marlos depois de uma jogada fácil do ataque do Shakhtar. 

Estranhamente, o golo fez bem ao Benfica e a equipa, finalmente, tentou jogar o seu jogo. E 10' depois chega ao golo numa jogada de insistência de Tomás Tavares e Cervi. Golo anulado e penalti visto pelo VAR e confirmado pelo árbitro por falta sobre Cervi. Pizzi aproveitou e empatou o jogo. De repente, o Benfica ficava por cima da eliminatória com a vantagem do golo fora. Era uma boa altura para tomar conta do jogo e tirar proveito da falta de ritmo competitivo do adversário. Mas não. 

Rúben Dias facilita incrivelmente na linha de fundo e Junior Moraes aproveita para dar o golo ao Kovalenko que fez o 2-1. Precisamente na altura em que Vinicius foi chamado e antes de Rafa ir a jogo. 

Curiosamente, o Benfica acaba por cima, a fazer pressão, a trocar a bola e a procurar atacar, o que levanta a questão sobre a atitude da primeira parte. Pareceu ser uma equipa demasiado passiva e na expectativa. 

Da Ucrânia o que de bom se traz é o golo de Pizzi, 1-0 na Luz basta para seguir em frente, mas o Shakhtar tem qualidade mais do que suficiente para marcar também em Lisboa.

Cabe à equipa mostrar em casa o que quer da Europa em 2020. Hoje viu-se muita hesitação nessa vontade. 

Benfica 0 - 1 Braga: Sim, Estamos com Problemas!

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Faço questão de começar por elogiar o Braga e dar os parabéns pela vitória na Luz. Excelente trabalho de Rúben Amorim que veio à Luz fiel à sua ideia de jogo mesmo arriscando lançar um defesa central sem experiência na linha de três. Não me custa nada reconhecer o bom trabalho de um adversário do Benfica e escrever que fizeram por ganhar na Luz. Uma palavra também para os Hortas que por terem feito a sua formação do Benfica são sempre injustamente visados antes e depois destes reencontros com o Benfica. Hoje ganharam e estão de parabéns. 
Mas este exercício ficaria melhor a quem tem responsabilidades no futebol e na imprensa, dirigentes, comentadores e jornalistas, que colocaram em causa a seriedade dos profissionais do Braga, destes e de outros que já saíram, sempre que falam ou escrevem sobre este clássico do futebol português. Não é bonito gritar para os profissionais bracarenses que contra o Benfica não se empenham tanto ou passar a mensagem para a opinião pública que o Braga oferece os 3 pontos ao Benfica. Agora, estão todos satisfeitos, entretidos a fazer piadas e eufóricos com a ideia de aproximação e não conseguem ter cinco minutos para pedir desculpas publicamente e assumirem que foram umas bestas sempre eu colocaram em causa a seriedade do adversário do Benfica. Possivelmente, até estão a divulgar que foi graças a essas miseráveis declarações que o Braga hoje venceu. Não foi. Nem é preciso andar muito para trás no tempo para lembrar que este clube já eliminou o Benfica na Luz para a Taça de Portugal, tirou uma final da Taça da Liga e, pior, afastou o Benfica numa meia final europeia a contar para a Liga Europa. 

 

Hoje o Benfica sabia que tinha uma tarefa difícil num contexto emocional exigente. A derrota no Dragão fez mossa mas resultou de um clássico demasiado polémico dentro e fora de campo. O jogo seguinte em Famalicão teve desfecho positivo porque significou o apuramento para o Jamor mas com um empate 1-1 que não entusiasmou ninguém. Este era o jogo certo para a equipa dar sinais de vitalidade. 

De fora veio a melhor das respostas, a Luz recebeu cerca de 60 mil adeptos em ambiente de jogo grande, com coreografia e tudo, e com envolvência de partida importante. 

O Braga rapidamente mostrou que vinha para jogar com a qualidade que o levou a bater Porto e Sporting por duas vezes no espaço de poucas semanas e que já rendeu um troféu a Rúben Amorim. Bom para o futebol. Jogo aberto, dividido, com os melhores a terem que assumir as suas responsabilidades. Da parte do Benfica com Taarabt à cabeça sempre à procura de inventar soluções que deixassem Rafa ou Vinicius e em boas situações de finalização, assim como Cervi e Pizzi a fazerem chegar a bola à área com cruzamentos através das alas. E aqui começam os problemas do Benfica. Assim que se percebe que a finalização não está afinada, um certo nervosismo apodera-se da equipa na altura de posse de bola. Aquele circular paciente de bola, aquela calma que se estendia até aparecer um golo, mesmo que tardio, tem dado lugar a uma ansiedade que faz com que as oportunidades para o Benfica apareçam mais por erros forçados do que por organização ofensiva. Desta vez, esse nervosismo não passou para a bancada, houve sempre apoio na Luz a tentar dar a tranquilidade necessária à equipa. 

A verdade, é que nenhuma das ocasiões de golo foram aproveitadas e o Braga consegue fazer um golpe duro antes do intervalo. Numa falta inexistente de Rúben Dias, nasce um livre que leva perigo à baliza do Benfica. Odysseas defende superiormente mas no canto Palhinha fez mesmo o 0-1.

Aqui duas notas. As arbitragens dos jogos do Benfica têm dado pano para mangas. Hugo Miguel deu mais uma demonstração da falta de qualidade da classe. Momentos exemplares na primeira parte, uma falta sobre Rafa aos 21´para vermelho e um lance em que Taarabt atinge um adversário que devia ter sido falta e cartão amarelo para o marroquino. Mais a falta inexistente do Rúben que acaba por estar na origem do golo, temos aqui exemplos da incompetência com que temos sido brindados nesta Liga. E até estou a dar exemplos para os dois lados para não pensarem que acho que este mau momento é desculpável. Não é. Mas existe. 

A segunda nota vai para o momento de Odysseas, guarda redes de nível superior. Gigante. A melhor notícia desta fase.

 

Na 2ª parte pedia-se mais oportunidades de golo, mais velocidade, mais posse bola, mais dinâmica entre Tomás e Pizzi, Grimaldo e Cervi, Rafa mais solto e Vinicius mais incisivo. Só houve mais Taarabt. O Braga ao não abdicar de continuar a fazer o seu jogo tirou espaço e bola às ideias do Benfica. Esse sinal ficou bem claro quando Ruben Amorim tirou Galeno e lançou Trincão.

A resposta de Lage veio aos 62' e pareceu mais do mesmo em relação a semelhantes cenários recentes. Sai Cervi entra Seferovic. A Luz não gostou e fez-se ouvir com assobios. Mais tarde entrou Chiquinho por Weigl e aos 86' Dyego Sousa por Tomás Tavares. Eu diria que nada de bom veio daqui. Vou repetir o que escrevi aqui sobre o jogo no Dragão, os adeptos do Benfica já não estavam habituados a este nível de improviso, já estavam confortáveis com a insistência na ideia até ao fim com alguns ajustes. Mas acabar o jogo com Vinicius, Dyego e Seferovic é atípico. E ter o suíço como primeira opção quando nas últimas 16 chamadas só marcou num jogo é estranho. Não está em causa o valor do melhor marcador do último campeonato, está em análise o rendimento actual neste quadro competitivo. 

Sim, temos problemas. Quanto mais depressa os identificarmos e assumirmos mais rápido podemos corrigir e mudar. Os últimos dois jogos para o campeonato representam seis pontos perdidos, portanto é evidente que há soluções por encontrar. 

 

Última nota para Raul Silva, o central do Braga não merece a fase que o clube que representa atravessa. Para não ir mais longe.

Segue-se o regresso à Liga Europa. Novamente, é muito importante diferenciar o contexto competitivo tal como aconteceu na Taça de Portugal. Foco e inteligência na Ucrânia, o destino Europeu não se decide numa só noite. É preciso saber construir um cenário que proporcione um final feliz depois na Luz. Determinante mesmo é a deslocação a Barcelos de 2ª feira a oito dias, aí é que não há margem de erro. 

No fim do dia a menos má das notícias é o facto do Benfica partir para a próxima jornada como líder. Com maior ou menor vantagem, no fundo, tem sido esta a vida do Benfica nos últimos seis anos, sem margens de erro nem confortáveis vantagens. Quando as temos parecer que fazemos questão de as desperdiçar... Tem sido assim. Haja a garra, o foco, a concentração e determinação que houve em cinco desses últimos seis anos. tem a palavra a equipa. Com o apoio não se preocupem, em Barcelos lá estaremos todos juntos a puxar para o mesmo lado. 

Famalicão 1 - 1 Benfica: De Volta ao Jamor!

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Há coisa de um ano estava em casa a ver um Famalicão - Paços de Ferreira da Liga Pro numa 4a feira à noite na televisão. Fiquei impressionado pelo estádio cheio, pelo ambiente e pelo futebol dos minhotos. Percebi que iam subir e anotei mentalmente que tinha de fazer um esforço para conseguir lá ir ver um jogo e conhecer aquela realidade. Depois, vi e li várias reportagens à volta do clube e percebi que ali havia uma alma parecida com aquela que faz do Vitória um clube diferente em Guimarães, por exemplo. 

As contratações mediáticas e impressionante primeira volta do Famalicão nesta temporada fazem daquele clube o que mais evoluiu entre as ligas profissionais em Portugal. Um exemplo de gestão e com apostas muito interessantes em jogadores de grande potencial. 

Por tudo isto, tenho sempre elogiado o Famalicão e a vontade de conhecer o Estádio Municipal 22 de Junho foi crescendo. Quis o destino que o Benfica tivesse de jogar quatro vezes com os minhotos. Dois dois jogos da Luz já passaram e o facto da segunda partida da Taça de Portugal estar marcada para uma 3ª feira às 20h45 abria uma janela de oportunidade de investir numa viagem ao norte para conhecer aquela realidade. O desafio foi encher um carro com cinco benfiquistas que ajustaram a sua vida profissional e familiar para, mais uma vez, colocar o Benfica em primeiro lugar e acompanhar o clube a um destino novo e diferente. 

Para tornar tudo ainda mais aliciante houve sondagem entre amigos mais informados para saber onde devíamos parar antes do jogo para conhecer a gastronomia local. Depois de muitas sugestões, optámos pela Casa Pêga porque serviam antes da clássica hora de jantar. Saída de Lisboa pelas 15h, regresso à A1 três dias depois da ida ao Dragão e chegada ao restaurante antes das 19h. Os carros de vários meios de comunicação parados à porta já indicavam que o poiso seria de qualidade. Lá dentro vários profissionais conhecidos da Sport Tv, SIC ou TSF confirmaram que tínhamos feito a escolha certa. A recepção é desarmante. Simpatia e esforço por servir bem. Bolinhos de bacalhau, broa, queijo e uns rojões típicos do Minho que compensaram logo aquela loucura de estar ali numa 3a feira por causa de um jogo de futebol. 

A partir daqui foi sempre a descer.

Infelizmente, a realidade em Vila Nova de Famalicão é mais do mesmo do que temos vindo a descobrir noutros pontos do país. Afinal, os adeptos do Famalicão também são movidos a ódio e no nosso caminho para o estádio só ouvimos insultos e provocações. Tudo se agrava com a existência de uma casa do Futebol Clube do Porto junto ao estádio que costuma estar fechada em dias de jogo. Ontem, curiosamente, estava aberta e cheia de adeptos do Porto bem identificados. 

Acresce a tudo isto a ausência de indicações por parte de quem organiza o jogo. A Federação Portuguesa de Futebol podia ter feito um esforço para dignificar a prova rainha e organizar, por exemplo, um parque de estacionamento para as poucas centenas de adeptos visitantes. Principalmente, a maioria que nunca tinha ido ali e não sabia como se orientar até ao recinto. Nada disso aconteceu, os adeptos do Benfica iam à descoberta e assim passavam junto a elementos da claque do Famalicão e muitos portistas num ambiente de tensão. 

Quando chegámos ao acesso à nossa bancada vieram as piores noticias. Relatos de adeptos benfiquistas que contaram que durante a tarde a festa da Taça foi andarem a roubar adereços do Benfica em permanente provocação. Nem a equipa de reportagem da BTV se safou dos apertos. Nas revistas aos adeptos proibiam os adereços do Benfica a adeptos que tinha comprado bilhete de 25 euros para a bancada central. Continuamos nisto em 2020. 

E para saltar já para o fim, após o jogo fomos obrigados a ficar mais de 40 minutos à espera para sair. Relembro que o jogo começou às 20h45, portanto mais 40 minutos depois de terminar a partida são penosos para quem tanto tinha de andar a seguir. Isto tudo para depois na saída dos adeptos do Benfica haver logo insultos e provocações de famílias movidas a ódio nos prédios ao lado do estádio. Um triste espectáculo. Continuo a desejar tudo de bom à equipa do Famalicão, ao seu treinador e aos jogadores que mostram um bom futebol. Mas em termos de adeptos já não me enganam mais, estão apresentados. Desilusão total na cidade e nas bancadas. 

 

O Benfica tinha de responder à derrota no Dragão. Não o fez de forma categórica, longe disso. Mas a equipa teve o mérito de perceber que não está bem e, portanto, tinha que adaptar-se ao contexto competitivo e fazer o possível para garantir a presença no Jamor.

Bruno Lage voltou ao formato normal depois daquele triângulo no meio campo no Porto. Cervi na esquerda, Pizzi na direita, Rafa e Vinicius no meio. Recuperou Florentino para o meio campo e insistiu em Taarabt para dinamizar o jogo ofensivo da equipa. Tomás Tavares ocupou o lugar do lesionado André Almeida. 

Com uma vantagem mínima e perigosa, o Benfica tentou agarrar no jogo e tirar a iniciativa ao Famalicão. Essa foi a primeira preocupação. E percebe-se bem porque a equipa veio de um jogo muito exigente, afectada pela derrota e encontrava um Famalicão que não se desgastou desde o jogo na Luz. A derrota por 0-7 com o Vitória de Guimarães foi o reflexo da aposta de João Pedro Sousa numa equipa de reservas deixando a equipa fresca para este jogo decisivo.

Em parte, a estratégia do Famalicão resultou porque conseguiu encostar o Benfica e lutar pelo apuramento até ao fim. No entanto, o facto do Benfica ter saído na frente deu uma outra tranquilidade à equipa de Lage. Tranquilidade que Ferro e Grimaldo não conseguem ter. Voltou a ser por aquele lado que o adversário fez mossa. O Benfica acaba por sair com uma simpática vantagem para o intervalo já que viu o golo do empate ser invalidado por fora de jogo. 

Quando se esperava uma forte reacção do Famalicão, por estarem bem mais frescos, o jogo caiu numa surpreendente toada morna que muito convinha ao Benfica. Surpreendeu a falta de objectividade e eficácia do Benfica em vários momentos que podia ter resolvido o jogo com recuperações de bola e ataques rápidos sempre mal definidos e assim deixaram sempre o Famalicão em jogo. O cenário complicou-se a cerca de 10 minutos do fim quando surgiu mesmo o 1-1. O Benfica voltava à condição da época passada em Alvalade, mais um golo sofrido e o Jamor desaparecia. 

Emoção e nervos até ao fim. Mais nervos só mesmo com a atitude de Seferovic no momento de poder fazer o 1-2. O que se passa com o suíço? Que má vontade é aquela? Que desprezo pelo jogo é aquele? Tem sido inexplicável a atitude de Seferovic nestes últimos tempos no Benfica. 

A verdade é que o apuramento para o Jamor foi garantido, sem brilho mas com esforço depois de uma jornada complicada no passado fim de semana. O objectivo de voltar à final da Taça de Portugal foi conseguido. Cumprimos um trajecto digno, passámos por Cova da Piedade e Vizela e depois medimos forças com três equipas do Top 6 da Liga NOS, Braga, Rio Ave e Famalicão. Muito mérito nesta caminhada.

Agora, na final do Jamor, a Federação Portuguesa de Futebol já pode montar toda a estrutura milionária para embelezar a prova rainha. Já ninguém se vai lembrar das condições miseráveis que os adeptos do Benfica encontraram nesta meia final em que não se viu sinal da organização da prova junto de quem dedicou um dia útil para acompanhar o apuramento para a final. Segue-se o fogo de artificio e o glamour VIP do Jamor e da Supertaça e na próxima temporada lá voltam os folhetins de jogos repetidos por repescagens, de aventuras dos Canelas da vida e destas meias finais ridículas a duas mãos e com os golos fora a valerem por dois como na UEFA. 

O mais importante está conseguido, churrasco no Jamor! 

Porto 3 - 2 Benfica: Impotência Frustrante

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Já nem me lembrava o que era fazer a A1 em esforço para Lisboa. Estivemos num ciclo incrível em que estas viagens até pareciam mais curtas, na última noite voltei a sentir o peso da distância, também porque vim a conduzir, depois de uma derrota. Já não me lembrava, quero esquecer rapidamente e desejo que não volte a sentir tão cedo. 

Aproveitando o facto de ter vivido o clássico por dentro começo por partilhar algumas notas à volta da organização do jogo que acho úteis para quem não está tão por dentro destas logísticas. Em 2020 está muito acessível e confortável ir até ao Dragão ver o Benfica. Fui na década de 90 às Antas e já fui ao novo recinto de comboio, de carro sem escolta e ontem em carro próprio seguindo a sugestão da policia. A maioria dos adeptos benfiquistas de Lisboa optaram por ir de autocarro e saímos todos juntos a pé para o estádio. Sem qualquer dificuldade e com a moral em alta. Seria impensável ir com esta facilidade toda a um clássico no Porto até há pouco tempo. Portanto, só posso deixar elogios ao Benfica e à PSP por toda a operação. Isto é de valor, tem de ser sublinhado porque quando corre mal todos criticamos. 

 

Sigo por uns recados para as entidades que mais se põem em bicos dos pés durante a temporada futebolística. Começo pela tarja de boas vindas aos adeptos do Benfica fixada num viaduto do Porto.

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A juntar às boas vindas ainda tivemos direito a bonecos enforcados, um com equipamento do Benfica e outro, suponho, deve ser o árbitro. Quando estamos a atravessar tempos tão sensíveis socialmente e que tantas vezes vemos imediatas reacções de João Paulo Rebelo, o zeloso Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, e de Pedro Proença, Presidente da Liga Portugal, por exemplo, é estranho que até agora ninguém tenha mostrado indignação.

 

Por falar em Liga Portugal, eu enquanto adepto que pago caro o meu bilhete para ver um jogo, este custou 31€, que pago a deslocação e passo o dia dedicado ao espectáculo que a organização deve defender, gostava muito de perceber porque é que no Dragão o número oficial de espectadores termina sempre com o número da camisola do jogador que faz o primeiro golo do Porto. Também gostava de saber porque é que o Porto atrasa as suas entradas em campo para que os jogos comecem invariavelmente mais tarde. É que as partidas já são marcadas para um horário tardio, não é preciso atrasar mais o seu começo. E ainda, gostava de entender porque é que o guarda redes do Benfica, com pressa, vai buscar uma bola para recomeçar o jogo e acaba a levar cartão amarelo, a perder tempo e continua sem bola depois disso tudo. Sendo que para seguir o jogo aparecem depois duas bolas em campo.

Este episódio leva-me a questionar agora a coerência do Sérgio Conceição. Há pouco tempo queixou-se, mais do que uma vez, do anti jogo e tempo útil de jogo. E bem. Podemos falar disto neste clássico ou é só quando o Sérgio está apertado. Sérgio, o teu Porto da segunda parte deste jogo foi igual ao teu Vitória de Guimarães na Luz há uns anos. Coerência é isto. 

 

Agora o jogo.

O Benfica tinha uma oportunidade óptima de fazer história no Dragão ou, pelo menos, de fazer mossa no rival. Vários cenários eram apetecíveis para o líder que nunca tinha estado nesta posição confortável nas visitas ao Porto. Por incrível que pareça, este conforto faz mal ao Benfica. Parece que tudo funciona melhor quando a pressão está no limite como na época passada. 

Pedia-se ao Benfica que entrasse autoritário, com posse de bola, impusesse o seu estilo e o seu jogo, que dominasse o jogo de forma natural. Tinha tudo a seu favor, inclusive a previsibilidade do seu adversário. 

Sem margem para erro, Sérgio Conceição foi pela única via possível, um 4-4-2 com Soares e Marega na frente, no meio campo Uribe, Diaz, Sérgio Oliveira e Otávio e na defesa uma chamada de Pepe ao lado de Marcano com Alex Telles e Corona nos corredores a darem muita projecção atacante. Tudo isto assente numa pressão intensa e uma reacção à perda de bola agressiva. Ou seja, o Porto na sua zona de conforto, na sua atitude preferida em postura de tudo ou nada e com conhecimento das limitações defensivas do Benfica que, aliás, já tinha explorado com sucesso na Luz. Veja-se o golo que Marega inventou. 

Nos tempos de Giovanni Trapattoni eu sei bem como é que este jogo era encarado. Mas os tempos são outros e a exigência está no auge, felizmente. Ninguém ia perdoar a Bruno Lage um plano de jogo para não perder. Quando tudo parecia claro para encarar o clássico surge a baixa de Gabriel e várias opções se levantaram. A equipa técnica do Benfica optou por lançar Weigl e Taarabt que se juntava a Chiquinho atrás de Vinicius. Destes três, dois são claramente ofensivos e com necessidade de ter bola, depois Rafa a ameaçar na esquerda e Pizzi na direita. Na defesa nada de novo. Na teoria, era uma equipa com vontade de ter bola e ofensiva. Houve sinal ambicioso na entrada em campo. 

O Benfica não entra mal nos primeiros minutos mas aos 4 minutos Marega deixa Taarabt K.O. no relvado e deu o mote para o jogo do Porto. O facto deste lance não ter merecido qualquer reparo de Soares Dias nem de Tiago Martins também deixou claro ao que íamos. Estes são dois nomes apontados para o sucesso de Portugal no futebol internacional a nível de arbitragem. Por isto é que não temos nenhum nome de arbitragem em fases finais de Mundiais, Europeus ou Champions League. São ridículos na sua altivez e abjectos na sua vaidade. Lamento.

Aos 10', Otávio centra e Sérgio Oliveira faz o 1-0 e foi a primeira vez que o Dragão reencontrou a sua identidade. Até aí todos pareciam muito receosos, equipa e adeptos. 

Tal como na época passada, o Benfica reagiu e 8' depois Carlos Vinícius marca na mesma baliza onde João Félix tinha feito a festa há um ano. O sector visitante ficou ainda mais motivado e nada apontava para o que veio a seguir. Cartão amarelo para Taarabt, cartão amarelo para Weigl, em três minutos os homens do meio ficaram condicionados e 6' depois Tiago Martins vê um penalti de Ferro. Soares Dias, que nada assinalou em cima do lance, foi ao VAR e abriu caminho para o 2-1 que Alex Telles agradeceu. Se é verdade que há mão do Ferro, também é evidente que Soares empurra o central do Benfica. A questão é, que imagens é que Artur Soares Dias viu para ignorar assim a falta do avançado portista?!

E assim se esfumou a reacção do Benfica. Pior que isto, a equipa acusou os três amarelos seguidos, o penalti, e o facto do Porto continuar a atacar pelo lado esquerdo da defesa do Benfica, entre Grimaldo e Ferro, acabando por chegar ao 3-1 antes do intervalo com Rúben Dias e Odysseas a não conseguirem reparar a mossa de Marega. 

Desilusão total ao intervalo. Pedia-se uma nova abordagem na 2ª parte. E o Benfica acreditou que era possível ir atrás de um bom resultado, Rafa assistiu Vinicius que aos 5' reduzia para 3-2. Ficava toda uma 2ª parte para brilhar. Uma palavra de conforto para o avançado brasileiro que bisou no Dragão, não foi por ele que as coisas correram mal. 

A partir daqui o Benfica fez o que sabe melhor fazer, ter bola, circular, procurar soluções e tentar chegar ao empate. O problema é que foi durante um período muito curto porque rapidamente a equipa de Sérgio Conceição levou o jogo para a perda de tempo. O episódio que já referi do Odysseas aconteceu aos 64'.

A partir dos 66', o Benfica perdeu as suas raízes de jogo. Bruno Lage com meia equipa "amarelada" optou por partir o jogo e levar tudo para o campo do improviso. Tirou Adel, que estava na primeira linha para ser expulso, lançou Seferovic. Nada de bom saiu daqui. Dez minutos depois trocou Weigl por Samaris. Mais dez minutos e saiu André Almeida que deu lugar ao estreante Dyego Sousa. Rafa passou para defesa direito e o futebol do Benfica já era só desespero à procura de um milagre final. O Porto sempre confortável com esta anarquia e todo este improviso. Tudo saiu mal ao Benfica. Perdeu-se o controlo do jogo e caiu-se na tentação de um futebol que não sabemos jogar, abdicando de tudo aquilo que a equipa costuma fazer até ao fim. 

Foi mau. Ficou aquela sensação do costume, sempre que podemos fazer estragos profundos naquele recinto acabamos por lhes dar vida. Tem sido isto a minha vida toda. Em 2010 podíamos e devíamos ter sido campeões ali. Não fomos e foi o que se sabe nos anos seguintes. Desta vez podíamos ter aumentado para 10 pontos a vantagem, saímos com 4. É frustrante. Entre estes dois jogos tivemos momentos muito bons no Dragão mas nenhum tão saboroso como um título ou uma vantagem histórica. O mais próximo que se conseguiu foi na época passada. Em máxima pressão, lá está.

A ironia disto tudo, é que há um ano saímos do Porto com uma vantagem de 2 pontos na liderança. O regresso para Lisboa foi em total euforia. Com 2 pontos de avanço e um calendário delicado pela frente. Desta vez, regressamos com 4 pontos de vantagem e uma calendário menos agressivo mas a decepção e frustração é gigante. Porque já não somos o Benfica de Trapattoni, não equacionamos empates e quando a derrota chega é como uma abalo sísmico de alta intensidade em todo o universo benfiquista. Ficamos a mastigar todo o jogo em loop e a pensar que devia ter sido tudo diferente. Tudo, não. Os golos do Vinicius mantinham-se. 

Resta-nos fazer um rápido luto e ganhar força para ir a Famalicão garantir um dos objectivos essenciais da temporada que é regressar ao Jamor. Ir com ganas de voltar a encarar a A1 para Lisboa com felicidade. 

Só depois é que podemos pensar na continuação da Liga NOS. Que esta impotência dos clássicos seja a excepção numa prova imaculada até ao fim, como foi a primeira volta. 

Quem passou o sábado dedicado a esta operação que foi estar no Dragão tem uma pequena mas valiosa compensação em relação ao resto do universo benfiquista, passar um dia em família unida no espaço do maior inimigo do nosso clube dá-nos sempre um conforto na alma e uma mais valia nas nossas vidas dedicadas ao Benfica que nenhuma derrota nos vai tirar porque este sentimento é o coração que faz bater a grandiosidade do Sport Lisboa e Benfica. Foi assim nos anos 90 e continua a ser assim hoje. 

 

Benfica 3 - 2 Famalicão: O Caminho Para o Jamor é Longo

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O Benfica se quiser chegar ao Jamor tem de afastar 3 equipas do Top 6 da Liga NOS. Braga e Rio Ave já foram afastados, chegou a vez do duplo duelo com o Famalicão.

Segundo de quatro encontros entre Benfica e Famalicão nesta época. Tudo graças a um formato aberrante que transforma o acesso à final da Taça de Portugal numa espécie de eliminatória europeia com os golos fora a valerem por dois em caso de empate como um dia os responsáveis da UEFA inventaram. As meias finais da Taça de Portugal são o total oposto ao espírito da prova que desde Agosto anda a apurar clubes num só jogo. 

Por isso, em vez de termos um emocionante jogo decisivo lá para Março / Abril com porta aberta para o Jamor, temos esta meias finais a duas mãos para se resolverem numa semana. Numa 3a feira à 19h15 era difícil pedir mais gente na Luz para um jogo que nada decide na sombra do grande clássico do próximo fim de semana. 

Bruno Lage não facilitou e chamou Odysseas para a baliza, quebrando a tradição de rotação na prova, André Almeida para defesa direito e apostou em Jardel no lugar de Ferro. Correu mal, o brasileiro saiu lesionado ao intervalo e Ferro foi a jogo. Depois, Weigl descansou cabendo a Gabriel fazer dupla com Taarabt, Cervi e Pizzi mantiveram os lugares, na frente Seferovic e Chiquinho foram titulares. 

Pedia-se ao Benfica uma entrada forte e uma atitude ofensiva que levasse o jogo para um resultado tranquilo que desse conforto para a 2ª mão. A equipa não interpretou assim o jogo e andou uma velocidade abaixo do que é normal tornando a partida aborrecida, convidando o Famalicão a arriscar mais. O nulo ao intervalo mostrava que as equipas estavam à espera de resolver a passagem à final na próxima semana.

A 2ª parte trouxe um novo jogo. Cinco golos que animaram a noite e trouxeram muita emoção à Luz.

Ao golo de Pizzi, num penalti conquistado por Seferovic, o Famalicão respondeu com o melhor futebol que se tem visto por cá esta época. Diogo Gonçalves assistiu Pedro "Pote" Gonçalves no empate e depois o marcador deu o golo a Toni Martinez que deixava o Famalicão mais perto do Jamor. Entretanto, já tinham entrado Rafa e Vinicius e o Benfica encontrou força e motivação para fazer nova remontada. Aos 78' o inevitável Rafa fez o empate e no último minuto Gabriel responde de cabeça a um canto de Grimaldo dando a suada vitória ao Benfica.

No fim do dia, o Benfica sai moralizado com o triunfo perto do fim e parte em vantagem para a 2ª mão no Minho.

O Jamor parece perto mas ainda está muito longe. Vai ter de ser conquistado lá bem no norte em mais uma jornada de futebol a meio da semana, bem longe dos interesses dos adeptos.

Posto isto, um repto para a FPF: acabem com estas meias finais a duas mãos, façam mais uma eliminatória e coloquem as equipas profissionais mais cedo no sorteio. Isto é absurdo.