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Red Pass

Rumo ao 38

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Porto 3 - 2 Benfica: Impotência Frustrante

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Já nem me lembrava o que era fazer a A1 em esforço para Lisboa. Estivemos num ciclo incrível em que estas viagens até pareciam mais curtas, na última noite voltei a sentir o peso da distância, também porque vim a conduzir, depois de uma derrota. Já não me lembrava, quero esquecer rapidamente e desejo que não volte a sentir tão cedo. 

Aproveitando o facto de ter vivido o clássico por dentro começo por partilhar algumas notas à volta da organização do jogo que acho úteis para quem não está tão por dentro destas logísticas. Em 2020 está muito acessível e confortável ir até ao Dragão ver o Benfica. Fui na década de 90 às Antas e já fui ao novo recinto de comboio, de carro sem escolta e ontem em carro próprio seguindo a sugestão da policia. A maioria dos adeptos benfiquistas de Lisboa optaram por ir de autocarro e saímos todos juntos a pé para o estádio. Sem qualquer dificuldade e com a moral em alta. Seria impensável ir com esta facilidade toda a um clássico no Porto até há pouco tempo. Portanto, só posso deixar elogios ao Benfica e à PSP por toda a operação. Isto é de valor, tem de ser sublinhado porque quando corre mal todos criticamos. 

 

Sigo por uns recados para as entidades que mais se põem em bicos dos pés durante a temporada futebolística. Começo pela tarja de boas vindas aos adeptos do Benfica fixada num viaduto do Porto.

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A juntar às boas vindas ainda tivemos direito a bonecos enforcados, um com equipamento do Benfica e outro, suponho, deve ser o árbitro. Quando estamos a atravessar tempos tão sensíveis socialmente e que tantas vezes vemos imediatas reacções de João Paulo Rebelo, o zeloso Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, e de Pedro Proença, Presidente da Liga Portugal, por exemplo, é estranho que até agora ninguém tenha mostrado indignação.

 

Por falar em Liga Portugal, eu enquanto adepto que pago caro o meu bilhete para ver um jogo, este custou 31€, que pago a deslocação e passo o dia dedicado ao espectáculo que a organização deve defender, gostava muito de perceber porque é que no Dragão o número oficial de espectadores termina sempre com o número da camisola do jogador que faz o primeiro golo do Porto. Também gostava de saber porque é que o Porto atrasa as suas entradas em campo para que os jogos comecem invariavelmente mais tarde. É que as partidas já são marcadas para um horário tardio, não é preciso atrasar mais o seu começo. E ainda, gostava de entender porque é que o guarda redes do Benfica, com pressa, vai buscar uma bola para recomeçar o jogo e acaba a levar cartão amarelo, a perder tempo e continua sem bola depois disso tudo. Sendo que para seguir o jogo aparecem depois duas bolas em campo.

Este episódio leva-me a questionar agora a coerência do Sérgio Conceição. Há pouco tempo queixou-se, mais do que uma vez, do anti jogo e tempo útil de jogo. E bem. Podemos falar disto neste clássico ou é só quando o Sérgio está apertado. Sérgio, o teu Porto da segunda parte deste jogo foi igual ao teu Vitória de Guimarães na Luz há uns anos. Coerência é isto. 

 

Agora o jogo.

O Benfica tinha uma oportunidade óptima de fazer história no Dragão ou, pelo menos, de fazer mossa no rival. Vários cenários eram apetecíveis para o líder que nunca tinha estado nesta posição confortável nas visitas ao Porto. Por incrível que pareça, este conforto faz mal ao Benfica. Parece que tudo funciona melhor quando a pressão está no limite como na época passada. 

Pedia-se ao Benfica que entrasse autoritário, com posse de bola, impusesse o seu estilo e o seu jogo, que dominasse o jogo de forma natural. Tinha tudo a seu favor, inclusive a previsibilidade do seu adversário. 

Sem margem para erro, Sérgio Conceição foi pela única via possível, um 4-4-2 com Soares e Marega na frente, no meio campo Uribe, Diaz, Sérgio Oliveira e Otávio e na defesa uma chamada de Pepe ao lado de Marcano com Alex Telles e Corona nos corredores a darem muita projecção atacante. Tudo isto assente numa pressão intensa e uma reacção à perda de bola agressiva. Ou seja, o Porto na sua zona de conforto, na sua atitude preferida em postura de tudo ou nada e com conhecimento das limitações defensivas do Benfica que, aliás, já tinha explorado com sucesso na Luz. Veja-se o golo que Marega inventou. 

Nos tempos de Giovanni Trapattoni eu sei bem como é que este jogo era encarado. Mas os tempos são outros e a exigência está no auge, felizmente. Ninguém ia perdoar a Bruno Lage um plano de jogo para não perder. Quando tudo parecia claro para encarar o clássico surge a baixa de Gabriel e várias opções se levantaram. A equipa técnica do Benfica optou por lançar Weigl e Taarabt que se juntava a Chiquinho atrás de Vinicius. Destes três, dois são claramente ofensivos e com necessidade de ter bola, depois Rafa a ameaçar na esquerda e Pizzi na direita. Na defesa nada de novo. Na teoria, era uma equipa com vontade de ter bola e ofensiva. Houve sinal ambicioso na entrada em campo. 

O Benfica não entra mal nos primeiros minutos mas aos 4 minutos Marega deixa Taarabt K.O. no relvado e deu o mote para o jogo do Porto. O facto deste lance não ter merecido qualquer reparo de Soares Dias nem de Tiago Martins também deixou claro ao que íamos. Estes são dois nomes apontados para o sucesso de Portugal no futebol internacional a nível de arbitragem. Por isto é que não temos nenhum nome de arbitragem em fases finais de Mundiais, Europeus ou Champions League. São ridículos na sua altivez e abjectos na sua vaidade. Lamento.

Aos 10', Otávio centra e Sérgio Oliveira faz o 1-0 e foi a primeira vez que o Dragão reencontrou a sua identidade. Até aí todos pareciam muito receosos, equipa e adeptos. 

Tal como na época passada, o Benfica reagiu e 8' depois Carlos Vinícius marca na mesma baliza onde João Félix tinha feito a festa há um ano. O sector visitante ficou ainda mais motivado e nada apontava para o que veio a seguir. Cartão amarelo para Taarabt, cartão amarelo para Weigl, em três minutos os homens do meio ficaram condicionados e 6' depois Tiago Martins vê um penalti de Ferro. Soares Dias, que nada assinalou em cima do lance, foi ao VAR e abriu caminho para o 2-1 que Alex Telles agradeceu. Se é verdade que há mão do Ferro, também é evidente que Soares empurra o central do Benfica. A questão é, que imagens é que Artur Soares Dias viu para ignorar assim a falta do avançado portista?!

E assim se esfumou a reacção do Benfica. Pior que isto, a equipa acusou os três amarelos seguidos, o penalti, e o facto do Porto continuar a atacar pelo lado esquerdo da defesa do Benfica, entre Grimaldo e Ferro, acabando por chegar ao 3-1 antes do intervalo com Rúben Dias e Odysseas a não conseguirem reparar a mossa de Marega. 

Desilusão total ao intervalo. Pedia-se uma nova abordagem na 2ª parte. E o Benfica acreditou que era possível ir atrás de um bom resultado, Rafa assistiu Vinicius que aos 5' reduzia para 3-2. Ficava toda uma 2ª parte para brilhar. Uma palavra de conforto para o avançado brasileiro que bisou no Dragão, não foi por ele que as coisas correram mal. 

A partir daqui o Benfica fez o que sabe melhor fazer, ter bola, circular, procurar soluções e tentar chegar ao empate. O problema é que foi durante um período muito curto porque rapidamente a equipa de Sérgio Conceição levou o jogo para a perda de tempo. O episódio que já referi do Odysseas aconteceu aos 64'.

A partir dos 66', o Benfica perdeu as suas raízes de jogo. Bruno Lage com meia equipa "amarelada" optou por partir o jogo e levar tudo para o campo do improviso. Tirou Adel, que estava na primeira linha para ser expulso, lançou Seferovic. Nada de bom saiu daqui. Dez minutos depois trocou Weigl por Samaris. Mais dez minutos e saiu André Almeida que deu lugar ao estreante Dyego Sousa. Rafa passou para defesa direito e o futebol do Benfica já era só desespero à procura de um milagre final. O Porto sempre confortável com esta anarquia e todo este improviso. Tudo saiu mal ao Benfica. Perdeu-se o controlo do jogo e caiu-se na tentação de um futebol que não sabemos jogar, abdicando de tudo aquilo que a equipa costuma fazer até ao fim. 

Foi mau. Ficou aquela sensação do costume, sempre que podemos fazer estragos profundos naquele recinto acabamos por lhes dar vida. Tem sido isto a minha vida toda. Em 2010 podíamos e devíamos ter sido campeões ali. Não fomos e foi o que se sabe nos anos seguintes. Desta vez podíamos ter aumentado para 10 pontos a vantagem, saímos com 4. É frustrante. Entre estes dois jogos tivemos momentos muito bons no Dragão mas nenhum tão saboroso como um título ou uma vantagem histórica. O mais próximo que se conseguiu foi na época passada. Em máxima pressão, lá está.

A ironia disto tudo, é que há um ano saímos do Porto com uma vantagem de 2 pontos na liderança. O regresso para Lisboa foi em total euforia. Com 2 pontos de avanço e um calendário delicado pela frente. Desta vez, regressamos com 4 pontos de vantagem e uma calendário menos agressivo mas a decepção e frustração é gigante. Porque já não somos o Benfica de Trapattoni, não equacionamos empates e quando a derrota chega é como uma abalo sísmico de alta intensidade em todo o universo benfiquista. Ficamos a mastigar todo o jogo em loop e a pensar que devia ter sido tudo diferente. Tudo, não. Os golos do Vinicius mantinham-se. 

Resta-nos fazer um rápido luto e ganhar força para ir a Famalicão garantir um dos objectivos essenciais da temporada que é regressar ao Jamor. Ir com ganas de voltar a encarar a A1 para Lisboa com felicidade. 

Só depois é que podemos pensar na continuação da Liga NOS. Que esta impotência dos clássicos seja a excepção numa prova imaculada até ao fim, como foi a primeira volta. 

Quem passou o sábado dedicado a esta operação que foi estar no Dragão tem uma pequena mas valiosa compensação em relação ao resto do universo benfiquista, passar um dia em família unida no espaço do maior inimigo do nosso clube dá-nos sempre um conforto na alma e uma mais valia nas nossas vidas dedicadas ao Benfica que nenhuma derrota nos vai tirar porque este sentimento é o coração que faz bater a grandiosidade do Sport Lisboa e Benfica. Foi assim nos anos 90 e continua a ser assim hoje. 

 

Benfica 0 - 2 Porto: Desilusão

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Um jogo e tudo muda no universo dos dois candidatos ao título. Uma vitória justa do Porto no Estádio da Luz e a vantagem pontual no campeonato ficou anulada. 

A verdade é que a história deste derby ficou influenciada pelo momento em que as duas equipas chegaram à jornada 3. 

O Benfica não teve influência nenhuma no falhanço europeu do Porto nem na inesperada derrota em Barcelos para o campeonato. Bruno Lage limitou-se a preparar a entrada na temporada de forma tranquila desenhando um onze em 4-4-2 que teve na ausência de André Almeida a maior dor de cabeça e na lesão de Gabriel o maior contra tempo. A saída de João Félix já estava assimilada e nem conta para esta equação. 

Se o Benfica vinha com um registo de vitórias seguidas, não era expectável que fosse o seu treinador a inovar algo para este clássico, nem tacticamente nem individualmente. Adivinhava-se o mesmo onze dos últimos jogos. E é aqui que o Benfica começa a perder, por estranho que pareça.

É que do outro lado, subitamente este jogo passou a ser tudo ou nada para Sérgio Conceição que percebeu a importância histórica de motivar a equipa no confronto directo com o grande inimigo. A isso acrescentou uma ousada ambição e deu todos os sinais de querer entrar na Luz para vencer e dar a volta à má entrada na época. Em relação à equipa que lançou contra o Vitória FC, manteve ambiciosamente Corona no lado direito da defesa e Romário Baró na sua frente. Ou seja, repetiu a equipa que tinha goleado na jornada anterior. 

A isto, o Porto juntou uma atitude ousada baseada numa pressão alta muito forte e com os jogadores a mostrarem uma motivação enorme. 

O facto do Benfica chegar bem em termos de resultado ao clássico tornou a abordagem ao jogo previsível e o Porto apostou tudo na tentativa bem sucedida de anular todos os pontos fortes do jogo do Benfica. 

Cedo se percebeu que perante aquele 4-3-3 de Conceição levantava muitos problemas ao futebol do Benfica. Ou a equipa de Lage se enchia de paciência e saía a jogar no limite com calma, atraindo a marcação agressiva do Porto para a contornar com troca de bola apoiada para depois criar situações de superioridade mais à frente do terreno ou então era preciso afinar posicionalmente a equipa chamando a jogo um médio de ligação e abdicando de um dos dois avançados. Penso que não sobravam mais alternativas depois de ver como o jogo estava ao fim de algum tempo. 

O Benfica precipitou a saída de bola sem paciência optando por bater na frente facilitando a vida a Marcano e, especialmente, Pepe que esteve como quis a noite toda. Depois o jogo interior do Benfica não entrava e tanto Rafa como Pizzi acabaram por ter de correr atrás das tais bolas batidas em largura. Vimos Rafa a lutar pela posse bola no ar com os centrais do Porto. Dificilmente podia resultar. 

Com estes sinais todos evidentes, sobrava ao Benfica a esperança da inspiração individual ou associativa dos dois do costume. Infelizmente, a inspiração individual global esteve tão apagada como a colectiva. E quando assim é, a tendência é para o jogo partir e ficar resolvido para o outro lado. Marega não marcou na primeira oportunidade clara mas fez o 0-2 na segunda. 

Até neste pormenor o Benfica falhou. Depois daquele falhanço de Marega, o Benfica devia ter ido para cima e puxar pelo ditado popular "Quem Não Marca Sofre". Mas não era noite para isso. 

A troca de Samaris por Taarabt trouxe mais personalidade na construção mas não resolveu o problema da superioridade numérica e posicional do Porto. 

O Porto apostou em surpreender, arriscou, foi ambicioso e conseguiu transformar a tranquilidade do Benfica em previsibilidade fácil de anular. 

Agora, é fácil olhar para trás e pensar que o Benfica podia ter feito outras opções mas não fazia sentido à luz dos resultados obtidos até aqui. Por isso é muito mais fácil escrever agora que devia ter sido diferente. 

A maior desconfiança que tinha antes do jogo era, precisamente, o momento do Porto. É que sinto que não há maneira de darmos um golpe profundo quando eles estão magoados. Isto nem tem nada a ver com o jogo de hoje, é algo tradicional e histórico nas últimas décadas. O Porto precisa do Benfica para se recompor e, geralmente, consegue. É uma motivação extra enfrentar o inimigo, nem a saída da Champions, nem a derrota em Barcelos, pesam na hora de mostrar unhas e dentes ao rival. Sempre foi assim, sempre assim será. 

A tranquilidade e a zona de conforto em que os jogadores do Benfica vivem desde a conquista do campeonato, mais a supertaça e a entrada triunfante nesta Liga, acabou por ser uma sensação traiçoeira quando confrontada com a fúria e a determinação de prova de vida do rival. 

Agora sai o Porto deste confronto directo em vantagem e com um onze desenhado e cabe a Bruno Lage analisar e meditar sobre o que não correu bem neste clássico que ditou a primeira derrota do técnico no campeonato. 
Claro que não se espera uma revolução mas há conclusões a tirar desta noite. Nomeadamente, as que abordei na crónica. 

Nada estaria ganho em caso de triunfo, como nada está perdido com esta derrota. Nos últimos seis anos o Benfica venceu cinco campeonatos e nenhum foi fácil nem folgado. Este não ia ser diferente. A luta continua. Como sempre. 

Benfica 1 - 0 Porto: O Nosso Lema é o de Vencer

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 O Benfica chegou a este clássico muito pressionado. Demasiado pressionado para uma jornada 7, diga-se. Tudo porque empatou o derby em casa com o Sporting e voltou a empatar em Chaves num jogo cheio de peripécias. 

Depois, foi a segunda parte em Atenas que assustou os benfiquistas e juntou-se a estatística dos clássicos recentes mais o facto do Porto chegar à Luz à frente na classificação. 

A tudo isto juntou-se a lesão de Jardel, a expulsão de Conti em Chaves, dois jogadores que ficaram assim de fora do clássico, e a expulsão de Rúben Dias na Grécia que deixou o universo benfiquista à beira de um ataque de nervos.

Ainda sem Jonas em forma, sem o efeito explosivo de João Félix, adivinhava-se um fim de tarde complicado para o Benfica neste domingo. 

Muitas teorias à volta dos centrais, muitas dúvidas sobre a opção Lema. 

Terminado o clássico e o que mais li e ouvi da parte de adeptos e observadores deixou-me espantado. Ora, em 2018 toda a gente descobriu que se joga muito pouco futebol em Portugal. O Benfica conquistou uma vitória muito suada e importantíssima mas vamos discutir a qualidade de jogo do clássico.

Meus amigos, somar as primeiras partes dos mais recentes jogos Braga - Sporting e Benfica - Porto é obter um resultado de uma mão cheia de nada, em termos futebolísticos. Mas isso já eu sei há muito tempo. Já o digo e escrevo há muitos anos. Aliás, digam-me lá 5 grandes clássicos, cheio de qualidade de futebol a todos os níveis, que tenham acontecido nos últimos, vá lá, dez anos. Não há. E ninguém quis saber disso para nada nunca. 

Hoje, pelos vistos, está tudo muito preocupado com a qualidade de jogo. 

Já aqui escrevi há uns tempos e vou recuperar essa ideia, quando o Benfica começa a jogar eu não quero viver a festa do futebol, nem estou à espera de um futebol tipo Laranja Mecânica. Eu só quero uma coisa, uma vitória do Benfica. E quanto mais monótona, melhor. Um jogo do Benfica é um assunto muito sério na minha vida. A minha vida é cheia de capítulos de 90' que precisam de ser resolvidos com um triunfo. Se for com uma goleada, melhor. Se for com um recital de bola, muito melhor. Mas não perco o foco, o objectivo é fazer um golo mais que o adversário. Apenas e só isso.

Quando eu vejo um guarda redes histórico, como é Casillas, a levar um cartão amarelo aos 20' da primeira parte por estar a retardar a reposição de bola desde o começo do jogo concluo que a vontade de jogar é pouca. O Porto veio à Luz para não perder o jogo e para perder muito tempo útil de jogo. Foi uma estratégia. Mas influenciou directamente o tempo útil de jogo que deve ter tido uma percentagem ridiculamente baixa. 

O Benfica foi a jogo com Lema ao lado de Rúben, Gabriel no meio e Cervi na esquerda. De resto, tudo igual e expectável para este jogo. E foi muito bem. O Lema jogou e não houve drama nenhum. 

Eu sou do tempo das piores equipas de futebol que o Benfica teve na sua história. Anos 90. Sabem quantas vezes o Porto ganhou para o campeonato na Luz na década de 90? Duas. Isto significa que ganhámos jogos que ninguém esperava com equipas onde o Lema era rei e senhor, se jogasse nessa altura. Quando dramatizam as ausências antes de um clássico esquecem aquele jogo de 2009 e todos aqueles em que andávamos muitos pontos atrás na classificação. O Lema jogou e ganhou porque o nosso lema é o de vencer. Ah, e foi expulso. É que as expulsões para jogadores do Benfica estão muito baratas. Por exemplo, o Otávio teve muito que penar até ser reconhecido com um cartão amarelo. Para os homens da casa até saía à primeira falta. 

Houve muita bola pelo ar, muitas faltas, muito tempo perdido, uma equipa mais interessada em ganhar e outra em sair de Lisboa com a vantagem mínima na tabela classificativa. Que novidade houve neste clássico? Nenhuma. Esta é a história da grande maioria destes jogos. 

As boas notícias para os benfiquistas é que a equipa voltou para a segunda parte ainda mais motivada. Sentiu que podia mesmo vencer. Fez por isso. O Estádio acreditou e, por momentos, virou mesmo inferno da Luz empurrando a sua equipa para um golo que Casillas negou, embora houvesse fora de jogo. Aliás, como na primeira parte também um fora de jogo já tinha invalidado um incrível falhanço de Seferovic.

A grande defesa de Casillas a remate de Gabriel fez temer o pior, o espanhol costuma dar espectáculo na Luz. Mas, desta vez, passados poucos minutos aconteceu mesmo golo de Seferovic. Uma pressão alta, muita luta pela bola, recuperação, assistência inteligente de Pizzi e Seferovic a rematar para o 1-0. 

É para isto que eu vou ao estádio. Para viver e festejar o golo. E logo a seguir ficar angustiado por ver que ainda falta uma eternidade para terminar o jogo.

A partir daí é que se viu o Porto interessado em jogar e chegar ao golo mas o Benfica resistiu com confiança e em harmonia com as bancadas. Foi assim até ao fim. À Benfica! 

Naquele estádio ninguém estava incomodado com uma defesa liderada pelo miúdo Rúben, que fez enorme exibição, diga-se. Ninguém desmotivou o Lema, que não merecia acabar o jogo daquela maneira. De certeza que nestas bancadas estavam companheiros que se habituaram a vibrar com golos ao Porto inesperados de Bruno Basto, por exemplo. Ou de Valdir. Ou de Tahar. Passámos por isso tudo e ainda cá andamos. 

Porque raio íamos vacilar hoje? Isto é o Benfica. E há pouca coisa no mundo mais bonita que a harmonia única da Luz entre equipa e adeptos. Hoje houve.

O Benfica ganhou e ganhou bem. Recuperou a liderança e olha para o horizonte com confiança. Há jogadores a recuperarem que vão dar mais qualidade à equipa. Vencer o Porto antes de mais uma paragem na Liga é moralizante. 

Mas não me venham com a conversa da qualidade de jogo do clássico. Há anos que estes jogos passam ao lado das melhores expectativas. Estas partidas não são para exibições, são para ganhar. 

Agora, se quiserem discutir honestamente a qualidade de futebol da Liga NOS de forma séria e aberta, contem comigo. Mas não passa por clássicos e derbys. Se quiserem discutir que, se calhar, tudo isto é reflexo de Portugal se ter tornado um país de adeptos de sofá e de futebol (mal) falado, também podem contar comigo. Mas para olhar para um clássico e torcer o nariz pela sua qualidade, isso não. Aqui as equipas só querem ganhar. Foi assim na Luz, será assim no Dragão. 

Muito saboroso, este triunfo contra um clube que tudo tem feito para abater o Benfica movidos por um ódio visceral e regional que os cega de raiva. O Benfica ganhou. Tão bom. 

Benfica 0 - 1 Porto: Desilusão

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Um regresso a 2013 para o qual não estava nada preparado. Na altura fiquei dias sem dormir após o empate a um golo com o Estoril na Luz naquela 2ª feira negra depois de uma jornada europeia épica. Foi uma viagem alucinante do céu ao inferno em poucos dias. Passei mal, aquele resultado deixou-me de rastos. De tal maneira que sempre que me falam do golo do Kelvin em lembro-me logo do momento em que saí da porta da bancada da Luz na noite do Estoril e senti-me morto vivo. Ainda hoje acho que o último campeonato que não vencemos foi mais por culpa daquele jogo com o Estoril do que por causa dos momentos finais no jogo seguinte. 

Também senti que estávamos muito mais perto de ganhar campeonatos se continuássemos a competir da mesma forma. Tanto assim foi que nos quatro anos seguintes fomos campeões. Sempre na base do sofrimento, sempre a aproveitar deslizes de terceiros, sempre cheios de alma. 

Foi com base nesta ideia que fiquei muito optimista quando saímos de Setúbal no primeiro lugar. Ficámos com o destino na mão. 

Era importante perceber o momento e focar tudo numa vitória no clássico, era o jogo mais importante de uma vida. Ganhando ficava tudo bem encaminhado. Não me agradava nada a ideia de pensar num empate, demasiado perigoso tendo em conta as saídas que ainda temos até ao final. 

Claro que isto é tudo em teoria, temos que saber o que queremos de um jogo mas também temos que saber gerir aquilo que o jogo nos dá. Se a poucos minutos do fim sentirmos que já não dá para ganhar então não podemos permitir uma derrota, aprendemos isso com o mestre Giovanni Trapattoni.

Aconteceu tudo ao contrário do que queríamos. O jogo não nos saiu bem, a expectativa de cair em cima do Porto em buscar de uma vitória que os deixasse KO não aconteceu como todos imaginámos porque entre a realidade e o que desejamos vai uma considerável distante.

Quando Pizzi puxou o pé atrás para rematar contra Casillas na baliza norte tive aquela batida no coração do é agora. Não foi e assim ficámos muito mais vulneráveis a pensamentos sobre o futebol português. Tais como é que é possível termos ali o Soares Dias a apitar um jogo um ano e pouco depois de ter sido ameaçado por adeptos que estavam no sector visitante do estádio. Será por isso que não viu da mesma maneira que eu vi o Zivkovic ser empurrado na área azul? Terá sido pelas ameaças que achou por bem não mostrar o segundo amarelo ao Sérgio Oliveira? Nunca vamos saber mas o clima do nosso futebol faz com que fiquemos a pensar nestas coisas.

Falando do nosso futebol, o do Benfica, também nunca saberemos se com Jonas recuperado em campo o jogo teria corrido melhor. A verdade é que a equipa age de maneira diferente, já o tínhamos visto em Setúbal, e com Raul a titular fica sempre a faltar um Jimenez a entrar na 2ª parte para agitar o jogo. 

Aquele pontapé do Herrera não podia ter acontecido naquela altura do jogo. Aconteceu e agora fica tudo muito complicado. 

A diferença em relação a 2013 é que ficam a faltar mais jogos mas o problema é que já não temos o destino nas nossas mãos, temos que esperar milagres de terceiros e isso nunca é bom. Não é impossível mas não é expectável.

Resta-nos cumprir a nossa obrigação nos jogos que faltam e esperar que esta tarde na Luz não tenha sido o pesadelo final que neste momento realmente é. 

140 Mil num Clássico? Está documentado.

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 Tenho publicado muitos artigos sobre a lotação do Estádio da Luz. Quando senti que o universo benfiquista, e não só, achava que uma média de 30 e poucos mil adeptos na Luz era aceitável para jogos do campeonato, fiz sempre questão que isso teria de ser metade do número que se adequava à nossa história grandeza. Nem foi assim há muito tempo.

Felizmente, a média de espectadores no estádio do Sport Lisboa e Benfica tem crescido nos últimos anos e começa a ser normal termos cerca de 50 mil adeptos nas bancadas em jogos da Liga portuguesa.

Mesmo assim, sabe-me a pouco. Tento explicar que fui criado e cresci num estádio da Luz que me habituou a um ambiente glorioso e arrebatador.

Para os companheiros que não entendem esta fixação numa lotação maior, que não tiveram a sorte de viver estes anos, deixo aqui esta notícia publicada no dia a seguir a um Benfica - Porto na Luz. Aconteceu há 30 anos. Estive lá, tinha 13 anos, e se me dissessem no final da partida que dali a 30 anos um recinto com 65 mil lugares demoraria a esgotar para outro clássico decisivo eu ia rir.

O recorte é do blog A Minha Chama que descreve bem esta vitória história por 3-1.

Leiam e percebam a revolta das gerações que viveram aqueles anos.

Porto 1 - 1 Benfica: A Alma de uma Chama Imensa

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 Confesso que hoje já não estava a ver como é que íamos sair deste jogo com pontos. Mas tudo o que tenho vivido com "este" Benfica desde o arranque da época passada obrigava-me a ver tudo com atenção até ao fim.

Afinal, a resposta era tão lógica que até fiquei com vergonha de ter duvidado que íamos continuar invictos no fim do jogo.

Ora, se o Luisão sai lesionado precocemente da partida, é óbvio que ia sobrar heroísmo para Lisandro. O lema "deste" Benfica há muito que já foi lançado por Rui Vitória, aqui não há problemas, só novas soluções. O golo do argentino a fechar o jogo não podia ser mais ilustrativo.

 

É verdade que a primeira parte do Benfica foi fraca e que notou-se que o Porto deu tudo o que tinha para chegar à vantagem. O empate ao intervalo era preocupante.

Na 2ª parte confirmou-se a maior vontade do Porto com o golo de Diogo Jota. Único momento infeliz de Ederson num jogo que até vomitou. Felizmente, o golo de Jota veio no começo da 2ª parte, ao contrário do que tinha acontecido há um ano com André André que marcou perto do fim. Talvez a história se repetisse este ano, caso o primeiro golo não tivesse chegado nesta altura. Assim, o Benfica ficou com muito tempo para reagir e entrar no jogo de acordo com a sua postura normal. Houve tempo para André Horta entrar e mexer com o jogo, tal como Raul Jimenez.

O Benfica reagiu, os cerca de 3 mil benfiquistas nas bancadas impuseram as suas vozes e o Tricampeão ergueu-se. O treinador do Porto assustou-se e quis agarrar a vitória de qualquer maneira. Tirou Corona, Oliver e Diogo Jota de forma sucessiva. Deu um claro sinal de fraqueza e na última troca lançou Herrera. O mexicano foi importante no empate ao tentar ganhar um pontapé de baliza, ofereceu o canto que deu o golo do Benfica. Recta final desastrada de Nuno Espírito Santo. Deve dar um bom desenho.

 

Do lado do Benfica, a entrada de Horta equilibrou a equipa, e fez crescer o futebol atacante de forma objectiva. É ele que recebe o canto curto e mete a bola na cabeça de Lisandro que fez o 1-1.

 

É preciso não esquecer que o Porto deu tudo por tudo neste jogo para reduzir a diferença pontual. Deu tudo num jogo contra um Benfica sem Grimaldo, que perde o capitão Luisão muito cedo, sem Fejsa e sem Jonas, para nem falar de Rafa. Isto não é coisa pouca. É uma facto que tem de ser interpretado da parte do Benfica com optimismo e confiança.

 

galeria de fotos de Valter Gouveia

 

Este empate foi mais uma prova do que é feita a alma desta equipa que acredita sempre, que dá tudo até ao fim e que transforma o drama das ausências de jogadores chave em oportunidades para outros que trabalham no duro para serem felizes e terem o seu momento. Hoje, o André Horta voltou a jogar no campeonato e fica ligado à história do jogo com uma assistência perfeita. Hoje, o Lisandro foi chamado a frio para voltar a jogar no centro da defesa, não só correspondeu bem, como ainda foi determinante ao marcar o golo do empate. Isto é que é ter um plantel operacional e unido. É isto que nos faz acreditar que vamos continuar a ser felizes muito mais tempo.

 

Foi um final feliz, um ponto que soube muito bem mas perdemos dois pontos. É assim que temos de pensar. No próximo jogo há que retomar o caminho das vitórias. Hoje foi uma prova muito dura contra um rival na máxima força, no seu ambiente, no único jogo que o estádio ferve mesmo.

Desde aquele minuto 92, nunca mais houve Porto campeão. Rui Vitória tinha pedido um golo aos 94', Lisandro resolveu virar a magia do 92 do Dragão para o nosso lado. O futebol é bonito.

Saímos vivos. Seguimos líderes. Continuamos a mostrar a tal alma de uma chama imensa de crença.