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Red Pass

Rumo ao 38

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Rumo ao 38

Sevilha 0 - 0 Benfica ( 4 - 2 nos Penaltis )

Faz hoje, dia 15 de Maio, um ano que perdemos a Liga Europa de forma dolorosa. Parece que foi ontem.

E assim que arranco o regresso a crónicas de jogo. Assim com vontade de mostrar que a dor de hoje não é igual à de 2013.

 

Há um ano parti para Amesterdão ferido de morte por "aquilo" do Kelvin. Tal como aqui contei senti-me renascido durante o jogo e acabei destroçado já a prever o prolongamento do sofrimento até ao Jamor. Depois foi o sofrimento que se sabe e a incompreensão em ver o clube continuar a apostar nos mesmos líderes, técnicos e jogadores. No final do jogo nos Barreiros, já esta época, não aguentei e calei-me para não me tornar num daqueles benfiquistas a viver em negação e sempre a dizer mal de tudo e de todos. Assim que parei de escrever aqui deu-se um milagre, os últimos minutos , que tão cruéis tinham sido connosco, revelaram uma remontada que nos lançou para a conquista do 33º título nacional.

Esta época de todos os jogos oficiais que fizemos na Luz falhei o encontro com o Paços de Ferreira por estar no baptizado da filha de um amigo e companheiro de bancada. De resto , como sempre, estive lá em crescendo de entusiasmo que só se saltou mesmo definitivamente naquele golo do André Gomes e uns dias depois atingiu o auge com Garay e , especialmente, Lima naquele golão à Juventus em pleno dia do meu aniversário. O Benfica , mais uma vez, fez-me sentir nas nuvens.

Depois da heróica noite de Turim em que deixámos de fora o clube favoritissimo à conquista da Liga Europa, percebi que ia acontecer tudo de novo, lá teria de ir para a "guerra" dos bilhetes, dos orçamentos, da marcação de férias, das viagens mas não podia faltar à chamada.

 

Este ano com menos disponibilidade profissional para marcar dias de férias optei pela viagem charter graças à sugestão do amigo T. e assim assumi a presença no estádio da Juventus.

O plano era estar à 4h30 da manhã no aeroporto da Portela no dia da final. Sim, 4h30. E sim, se fosse para trabalhar ou ir ter com uma familiar distante não sei se iria com a mesma facilidade. Mas é o Benfica que me espera lá longe, nem se hesita. 4h30 da manhã pareceu-me uma hora tão boa como outra qualquer. Não conseguir dormir direito, saltar da cama antes da 4h da matina, ir de mota sozinho na 2ª circular a meio da noite e só avistar táxis cheios de pessoal vestido de vermelho com o mesmo destino. É o Benfica.

Chegar à Portela e ver o aeroporto tão cheio de vermelho deixou logo para trás o pormenor da hora obscena. Era como se fosse hora de almoço e estava ali tudo animado para mais uma aventura benfiquista. O bom destas loucuras encarnadas é encontrar amigos de sempre que não são fáceis de ver no dia-a-dia. Logo à cabeça com o grande JPM com os seus encantadores pais com quem me sentei a meter a conversa em dia tão naturalmente como o abraço que troquei com o R. e o J. antes do embarque. Tudo rápido, nada de sentimento de seca. Seca passei eu no complicado processo de renovação de Cartão de Cidadão uma semana antes em que o grande CF me ajudou de forma decisiva. Grande abraço, CF, lembrei-me de ti na altura em que mostrei o bilhete de embarque e o cartão de cidadão.

 

Às 6h já estávamos no avião a partir para Milão. Viagem fácil passada na conversa com o F.P.. Rapidamente estávamos a aterrar em Milão e a entrar no autocarro que nos levaria para Turim. Nesse intervalo entre avião e bus troquei umas palavras animadas com o grande RAP que depressa foi engolido pelos benfiquistas que queriam fotos. O costume. Ainda não foi desta, RAP mas um dia acontecerá como te disse.

 

Viagem de autocarro confortável por uma auto-estrada que tem como cenário os imponentes Alpes cheios de neve. Bonito. Paragem para passarmos a ser escoltados pela polícia italiana, piadas de circunstância a animar o ambiente e orientações para o resto do dia. Os autocarros seguiam para o centro de Turim para o Parque del Valentino e deixava-nos a tarde livre para passear por ali. Reencontro marcado para as 16h30 ( mais uma hora em Turim ) para a ida para o Estádio.

 

O que dizer da cidade de Turim?
Não tinha feito trabalho de casa porque sabia que só ali estaria uma horas e assim apostámos em passeio até ao centro e ir à descoberta. Bonitas ruas, monumentos bem cuidados, polícias simpáticos, raparigas bonitas e muito simpáticas ( beijinho para a Toura que me atendeu na loja do Torino ), muitos restaurantes , muitas pizzas à vista, jardins com relvados ocupados por italianos desejosos de sol e uma cidade relativamente calma em termos de movimento local. O resto era animação de finalistas. Malta sevilhana porreira, não vi problemas nenhuns na cidade ( houve um foco de tensão criado fora do estádio pelos famosos Biris Norte mas sem grandes consequências ).

É sempre uma sensação engraçada andar numa cidade onde nunca estive e enquanto tento descobrir pormenores que me agradem ( estive para comprar uns livros sobre futebol mas nunca irei conseguir ler italiano além da capa da Gazzetta dello Sport) vou encontrando pessoal de forma mais ou menos esperada. Destaco o encontro com o Pedro Adão Silva, fomos colegas na Secundária de Benfica e nunca nos vemos em Lisboa, só pelo twitter falamos mas em Turim não falhou. Troca de cumprimentos com pessoal que vai a todo o lado atrás do Maior, encontros com pessoal que nem sei o nome mas conheço da Luz, e o reencontro com os companheiros de sempre que optaram por aventura de carrinha. Tudo junto atacámos a pizzaria Caravella onde, incrivelmente, estava a almoçar o casal que nos alimenta há anos no Terceiro Anel. Almoço de família benfiquista, pois então. Fotos, animação e um belo almoço de pizzas. Finalmente, posso dizer que já comi pizza em Itália. O azeite picante é que faz a diferença. Tudo óptimo, é para isto que me atiro nestas aventuras. Este convívio tendo como dominador comum o Sport Lisboa e Benfica, é algo único e quase inexplicável. Aquela gente toda ali bem longe de Portugal, tudo por causa do mesmo. Isto são vitórias que ninguém nos tira.

 

Depois regresso ao Parque para ir de autocarro para o estádio. Ambiente bem mais animado. Ao meu lado duas benfiquistas que eram caras conhecidas do bairro de Benfica falam-me do nome do ausente JA. Claro, são amigas da irmã mais nova. Dos tais casos que reconheço as pessoas mas nem do nome me lembro. Fica um beijinho para a dupla C & C , sendo que acho que uma delas até vai ler isto já que me disse que tinha gostado do texto que fiz sobre Eusébio.

 

Chegada ao estádio e mais encontros, mais conversa, mais histórias partilhadas. Um mar vermelho e uma pausa para olhar bem para o Estádio da Juventus. Ali já foi o Estádio dos Alpes, agora nasceu um moderno Estádio da Juventus. Muito curiosa a localização do estádio no meio de nada , só com parques à volta mas com a cidade ali bem perto e do outro lado os tais imponentes Alpes. Bonito o estádio e o contexto paisagístico.

Entrada pacifica com pessoal com quem costumo partilhar os momentos antes das entradas na Luz e companheiros de outras viagens.Tudo boa gente, claro. Entrada nas bancadas e uma vista agradável. Não sendo maior que a Luz o recinto da Juventus é bonito, prático, com boa visibilidade, boa acústica e até de aparência respeitosa por ter as bancadas bem perto do relvado. Gostei do que vi.

Fiquei no piso superior no topo Sul e subi até à fila mais alta. Como na Luz só encontrei malta conhecida. O casal "pobeiro" J&A sempre presente, troca de fotos, poses para mais tarde recordar e o reencontro com o grande JP e seus pais. Ao lado deles vi a 1ª parte.

 

Engraçado como nos habituamos bem e depressa a estas altas andanças uefeiras. No espaço de um ano estar presente em duas finais tira um pouco da magia de um ano para o outro. Ontem já tudo me pareceu mais normal depois daquela emoção de Amesterdão. A mesma mancha vermelha na bancada, o mesmo apoio enlouquecido dos benfiquistas, o mesmo brilho do nosso emblema nos cartazes do estádio e na coreografia da UEFA, a solenidade do momento da entrada das equipas, o mesmo entusiasmo na bancada contrária. Uma pessoa habitua-se a isto e tem até cabeça para puxar da memória e pensar: caramba, estou no mesmo local onde nos rebentaram com o Silvino, onde se jogaram outras finais europeias, onde se jogou o Italia'90... Noutro estádio mas no mesmo sitio. É sempre arrepiante fazer parte da história do futebol. Sempre.

Para o jogo propriamente dito eu não estava muito nervoso. Era a primeira vez que sentia numa final europeia que o meu Benfica era mais forte que o adversário. Lamentava a ausência do Enzo pela inegável importância que tem no meio campo, e notou-se muito, a ausência do Salvio também me deixava apreensivo porque não temos melhor para desequilibrar nas alas e sobre Markovic estava mais calmo porque em Leiria não o vi fazer grande coisa mas seria importante tê-lo no banco para usar como trunfo. Assim, sem três jogadores importantes, encarámos a final com a mesma naturalidade com que fomos encarando todos o jogos na Europa nestes últimos anos. Fiquei enervado quando percebi que a finalização não estava apurada. Nunca senti que o jogo estivesse em perigo apesar de perceber que o Benfica jogou no limite sem grande frescura física.

 

No intervalo mais caras conhecidas nos corredores do Juventus Stadium. O reencontro com o grande RC que ajudou a passar aqueles minutos. Regresso à bancada tardio já com a bola a rolar e por isso não voltei para a última fila, desculpa JP, fiquei pela varanda, como chamávamos no antigo 3º anel.

O grande senão desta mudança posicional foi a perca de visibilidade para fora do estádio. Lá no alto consegue-se lançar a vista além cobertura e vislumbrar a neve nos Alpes com o céu azulado como cenário. É uma vista magnífica, olhar para o relvado e ver a bola fora, subir o olhar e ver Alpes com neve. Não é o Restelo mas era gajo para ver ali muito jogo de bola.

 

Cá em baixo a visão é diferente, ver o piso inferior todo vermelho e pôr os olhos no ataque do Benfica que agora vinha na nossa direcção. Como na Luz. Era na 2ª parte que íamos marcar, obviamente. Mas não foi a nossa noite. A bola parava sempre em pernas sevilhanas, a apontaria estava desafinada e nem a cabeça de Garay deu justiça aquele resultado. O pânico do prolongamento foi se aproximando e só era superado pelo medo dos descontos pós minuto 90. Tudo acabou empatado, este ano não há cá minutos 92 nem 93. Aliás, já devolvemos o efeito Kelvin não uma, não duas mas sim três vezes. Pagaram na Liga, na Taça da Liga e na Taça de Portugal. Pode não parecer relevante mas foi esse triplo pagamento que nos elevou a um estado de alma maior e melhor. Estamos ali na final da Liga Europa em paz connosco e com os nossos. Estamos ali para apoiar e aceitar o que o futebol tem para nos dar. Não é como no ano passado que tudo parecia uma conspiração religiosa feita nos momentos finais de cada partida decisiva. Nada disso.

Em Turim foi só um jogo em que não conseguimos fazer os golos que normalmente fazemos. É futebol.
O prolongamento jogado com uma substituição por fazer fez-me confusão, o Ivan podia ter entrado mais cedo para tentar a sua sorte mas se o treinador achou assim melhor não sou eu que venho aqui contestar. Fiquei só com esta ideia.

 

Aos poucos fui percebendo que não ia ser a nossa noite. A bola não entrava, a reacção dos jogadores a cada golo falhado deixava a entender que a esperança ia acabando. O remata do Bacca que foi ao lado também mostrou que o Sevilha não tinha muito mais para dar além da excelente qualidade do Rakitic e da confiança cega e certeira que tinham no Beto.

Penaltis. Estugarda 1988 nunca me saiu da cabeça, por isso ... A minha esperança rondava os zero. E depois tenho a minha cabeça cheia de informação absolutamente inútil como esta de me lembrar que em Dezembro de 2008 fomos corridos da Taça de Portugal nos penaltis pelo Leixões onde brilhava um tal de ... Beto. O que irrita nem é perder nos penaltis, quer dizer irrita porque já não é a primeira vez mas tendo como um adversário o mesmo do Leixões? É tramado o futebol.

Assim que vi a forma horrorosa como CarDeuz desperdiçou o penalti afastei-me para a saída do estádio e assisti ao inevitável fim infeliz já longe da varanda. Não vi o remate do Gameiro e assim posso dizer que desta vez nem sei como foi o último pontapé.

Não chorei, não me deixei cair no chão como há um ano, ainda confortei uns benfiquistas mais desesperados. Concentrei-me só na tarefa de regressar a casa.

Desta vez não foi uma tragédia, foi só um jogo onde não finalizámos como é costume e acabou mal. Uma final perdida numa altura em que somos Campeões, já ganhámos a Taça da Liga e corremos para um inédito triplete.

 

Cá fora já de noite e com frio ainda ouvi palavras simpáticas de um segurança italiano. Tudo porque optei por levar ao pescoço um cachecol do Torino. Foi a melhor compra que fiz! Desde que saí da loja do Torino e resolvi colocar o adereço grená pendurado ao lado do emblema do Benfica assisti a algo que não esquecerei. Em todo o percurso que fiz na cidade só ouvi palavras simpáticas: Toro! Benfica! Obrigado! Forza Benfica, Grande Toro!

Incrível a força do Torino na cidade. O ponto mais alto foi quando passei a primeira barreira de acesso ao estádio e fui revistado. De seguida um segurança chama-me e indica-me o caminho sorrindo. Pede para eu parar e agarra no meu cachecol e beija o emblema do Torino! Ali, à frente de outros seguranças e polícia. Que belo momento. Força , Toro !

 

Depois foi tentar dormir no autocarro em silêncio até Milão, embarcar e fazer o mesmo no avião e chegar a casa já bem depois das 6 manhã. Mais de 24h nisto. E vale a pena? Vale sempre a pena. 8ª final europeia perdida? Paciência, se me pedirem para assinar já a presença na final do próximo ano eu assino já e preparo já a viagem. São experiências incríveis. E no nosso caso não foi nada de vida ou morte. Não íamos ali salvar a época, era "só" mais uma final neste fim de época bíblico.

Apurámo-nos para a Liga Europa somando 10 pontos da Liga dos Campeões, não entrámos pela porta do cavalo como o Sevilha que só participou porque o Málaga foi castigado e o Rayo não conseguiu autorização.

Fizemos um trajecto na Liga Europa incrível, não perdemos um único jogo, nem o da final em 120', afastámos gregos e holandeses, brilhámos na capital do país do futebol, e deixámos a Europa espantada ao afastar os anunciados vencedores da prova. Morremos nos penaltis. Paciência. Foi uma carreira brilhante para juntar à da época passada. Somos, sem ponta de exagero, uma das grandes equipas do futebol europeu da actualidade. Não ficamos fora da Europa, não andamos a terminar em último em grupos com videotons e genks e não levámos 4 secos de um Sevilha. Jogámos uma final, já tínhamos vencido a Liga e outra final interna e vamos jogar mais uma, e não correu bem. Jogámos aqui o regresso à glória europeia e a concretização de uma época perfeita. Não deu. Olhemos para o que fica que é algo de grandioso, saibamos aproveitar este momento enorme do nosso clube em vez de nos deixarmos abater por uma final maldita. Foi duro? Foi. Mas há muito boa gente próxima de nós que nem sabe o que é ir ver o seu clube a uma final algures na Europa e o nosso clube já andou bem longe destas andanças.

Voltámos ao nosso lugar que é este. A perder ou a ganhar finais ou meias finais eu quero continuar neste ritmo. Eu tenho um orgulho inexplicável em ter feito parte daquelas bancadas carregadas de benfiquismo em Amesterdão ou Turim. Mais ano menos ano voltaremos a sair de um destes estádios como entramos; em grande.

 

Reparem como se passou um texto sobre uma final europeia do Benfica sem de falar de Guttman. A maldição era só para a Taça dos Campeões europeus que até já nem existe. Não precisamos de quebrar maldições, precisamos é de chegar às finais com a equipa toda em força.
Domingo há mais. Sabiam que um triplete é uma coisa espantosa?

Viva o Benfica !

 

 

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