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Red Pass

Rumo ao 38

Red Pass

Rumo ao 38

Benfica 4 - 1 Nacional: Tri Campeões !

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 (Fotos: João Trindade) 

 

Este é sempre o texto mais fácil de escrever. Ou devia ser.

Teoricamente, é para este momento que andamos aqui todos os dias na esperança de chegar a meio de Maio e publicar o post sobre o jogo que nos dá o título.

Felizmente, tem acontecido várias vezes ao longo da vida do Red Pass chegar ao fim da Liga como campeão. 

Também por já ser hábito, devida saber que acaba por ser o momento mais delicado para partilhar umas palavras. Toda a tensão acumulada em meses tem uma inexplicável descarga emotiva de adrenalina que pode demorar horas ou dias. É durante essa descarga que gosto de vir aqui e deixar testemunhado mais um momento histórico. 

De uma forma mais directa, meus amigos, não é nada fácil escrever dignamente em pleno estado de ressaca que ainda não chegou e já vai a caminho de mais festa. É aquela fase da vida que todos deviam viver pelo menos uma vez mas só alguns têm esse privilégio. Falo em festejar a sério, não me refiro a vice campeonatos. No dia que me virem a festejar como vice campeão ou uma final perdida hospitalizem-me. Obrigado.

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Depois do jogo da Madeira entrei numa espécie de estado zen. As horas a partir de 2ª feira pareciam dias e os dias pareciam durar anos. Nunca mais chegava o jogo com o Nacional. Pelo meio o Benfica dava motivos para passarmos melhor o nosso tempo. Por exemplo, a meio da semana, 4ª feira à noite, lá nos juntámos na Luz para apoiar o nosso andebol no segundo jogo da final do campeonato. Correu bem, soube melhor. Estar a ver uma equipa do Benfica com os nossos, entre os nossos. Ajuda muito a combater a grande estreia.

 

Na 6ª feira ao fim da tarde senti que o fim de semana começou de uma forma diferente. Havia que comprar bilhete para a final da Taça da Liga e era mais uma boa desculpa para ir à Luz. No sábado houve que assumir que o melhor era rumar para o estádio antes de almoço. 

Neste momento, na minha cabeça parece que estou acordado desde sábado e que até ir à Praça do Município é sempre o mesmo dia! 

No sábado uma jornada de hóquei em patins incrível. Afastar o Barcelona na meia final da Euroliga e ao mesmo tempo saber que somos campeões nacionais. Que festa no nosso pavilhão! 

Festejar no restaurante, que também é a nossa casa, Terceiro Anel com um ambiente de festa e de benfiquismo contagiante. Aliás, as horas parecem não custar nada a passar. Estamos todos em sintonia. Ainda há tempo para à noite ir apoiar o andebol, agora na Challenge Cup e sair já bem tarde do estádio. Juntar com o grupo de companheiros do costume e ir cear ficando até às tantas a falar do dia seguinte. 

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Não me lembro do que dormi de sábado para domingo. Sei que acordei fresquinho que nem uma alface, como dizia o outro, e antes do almoço já estava na Catedral. Fui de mota e senti aquele arrepio na espinha ao ver a quantidade de carros com cachecóis e bandeiras que faziam fila nos acessos ao Alto dos Moinhos. Fiz questão de dar uma volta maior e passar pela zona onde vivi mais de 30 anos, fui até perto do Califa e do parque do Fonte Nova e sorri com a imagem de dezenas de benfiquistas junto aos carros a comerem e a beberem como eu via da janela do meu quarto desde criança em dias como este. 

 

Se há coisa que nunca me habituo é a controlar a ansiedade pré campeão. Apesar de ter 43 anos e já ter vivido dias assim, tantas e tantas vezes, parece que é sempre a estreia. É incontrolável. 

A alegria de chegar perto da estátua do Eusébio e encontrar um amigo que conheci no liceu de Benfica em 1989. O Vítor Pimenta, de quem já falei aqui algumas vezes. Ele, o filho e os seus amigos vindos lá do norte onde o Benfica é tão bem representado. Sempre generosos partilharam um farnel digno dos Deuses e umas cervejas fresquinhas. Bem hajam, benfiquistas do norte com esse sotaque abençoado e essa vontade de estar perto do clube. Todos. 

 

No grande dia as horas já parecem minutos. É tipo dia de casamento. Meses à espera do dia e passa num instante. 

Às 14h no pavilhão para testemunhar história. Vitória na final da Euroliga de hóquei em patins. Campeões Europeus! 

Festejos feitos e saída para o exterior à conversa com um companheiro sempre presente na hora de apoiar as modalidades, um tal de André Horta que jogou na nossa formação, brilhou no Vitória FC e agora, já se pode ir dizendo, volta às origens. Um puto cinco estrelas, um dos nossos, um dos que nos levam connosco para junto daquele emblema quando vestir o manto sagrado.

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E de repente estava na hora de entrar no Estádio da Luz que se ia enchendo. Desde que saí de casa até entrar na minha bancada passaram horas que a mim me pareceram uns minutitos.

 

Descer as escadas até ao relvado para dar aquele abraço forte e sentido ao João Martins que tanto tem sofrido comigo ao longo dos últimos meses. A casa dele também é Tri Campeã, lá viveram-se vitórias forasteiras fortíssimas.

 

Juntar a turma de sempre, conhecer outros sócios sempre generosos a apresentarem-se e a elogiarem este espaço, tal como o Uma Semana do Melhor, que são feitos, exactamente, para nos juntarmos todos à volta do Benfica. Abraço ao pessoal de Santarém, fica prometida a sopa em Almeirim.

 

O jogo começa mas hoje os nervos eram diferentes. A minha atenção não estava tanto na táctica que Manuel Machado apresentava, ou na atenção aos melhores jogadores do Nacional. Hoje só via Benfica. Punha os olhos na bola e nem prestava atenção a quem a conduzia, só fazia a ligação visual entre a bola e a baliza vislumbrando linhas rápidas para lá chegar. Não queria pensar nos castigados, lesionados ou escolhidos para a equipa. O momento era de cumprir um destino que nos estava traçado, não queria pensar em surpresas ou desfeitas. Só queria perceber como é que a bola ia parar no fundo da baliza de Gottardi rapidamente. 

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Entretanto, a bola não entrava mas o ambiente da Luz era à antiga. Infernal, sentia-se a vontade enlouquecida dos mais de 60 mil ali presentes em festejar. Alguém diz atrás de mim: golo Sporting. 

Nem liguei. Desde o derby que o Mitroglou decidiu a nossa vida é esta. Lutar até à última gota de suor por vitórias arrancadas a ferro enquanto os outros passeiam contra adversários surpreendentemente passivos. Portanto, não esperava menos que uma goleada dos rivais em Braga. Se no Dragão foi o que foi... 

 

Antes que o povo entrasse em transe com a realidade matemática do momento, o Sporting esteve na frente uns bons 3 minutos, apareceu Nico Gaitán a abrir mais um livro de recital na relva. Golo do Benfica, explosão nas bancadas, nas ruas, no país, no mundo. Alguém a partir dali pensou que isto não ia acabar em festa de arromba?

 

Para não haver dúvidas, antes do intervalo Jonas faz o seu golo da ordem e olha para as bancadas com expressão de soltem os fogos. O melhor intervalo da época. Ver nas televisões do estádio o festejo do Gaitán foi a confirmação do que se passou esta época, jogadores a atirarem-se para os braços dos adeptos. Ver a equipa de hóquei correr pelo relvado fora como uns putos foi igualmente marcante.

Nós prontos a retribuir.

 

Para a baliza grande impunha-se nova dose. Mitroglou fez uma justa homenagem a Ruiz e não quis marcar à boca da baliza mas também não atirou para fora porque não é nenhum vice campeão. Mandou a bola à trave fazendo uma bela assistência para a entrada de cabeça do "10" Gaitán. Que Bonito. Os fogos já se soltavam no piso 1, no piso 2 e no piso 3 em vários sectores do estádio. Todos improváveis. Como é lindo ver tochas e fumos nas bancadas que costumam estar desertas em jogos da Taça da Liga.

 

Não foi uma segunda parte de um jogo de futebol, foram 45 minutos de festa rija na bancada. Troncos nús ao vento e ao sol, cânticos para todos os gostos, sorrisos com a goleada do vice campeão e abraços repartidos por todos.

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O momento que marca a diferença deste título para outros recentes, o estádio a pedir Paulo Lopes e Rui Vitória a fazer gestos para a bancada explicando que sabe que o nosso careca trepador de balizas tem de entrar. Calma, ele já entra. Diálogo entre benfiquistas directamente do banco para a bancada, coisa linda.

Claro que Paulo Lopes entrou, emocionou-se e emocionou-nos. 

 

Quase que me esquecia de um pormenor. Houve mais um golo! Assistência de Jonas e golão de Pizzi com remate de primeira para mandar o Topo Sul abaixo. Estávamos a fechar o campeonato como o abrimos, quatro golos em casa e final de jogo em festa.

Naquela primeira jornada contra o Estoril o estádio acreditou que em Maio isto ia acontecer e aconteceu. Nas derrotas com o Sporting e Porto na Luz o ambiente no fim de jogo foi de confiança à equipa, ficou célebre a reacção do povo ao minuto 70 contra os verdes. Fomos recompensados. O Benfica é assim.

 

Depois seguiu-se a festa. Cada um de nós viveu-a à sua maneira, as fotos, os vídeos, os testemunhos estão por aí.

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Eu tento sempre celebrar da mesma forma, junto dos meus companheiros que me aturam durante a época, dos que me convencem a viajar quando hesito, dos que gostam tanto de comer e beber como eu, dos que vejo sempre, dos que vejo às vezes, dos que me pedem para lhes dar confiança em tempos de ansiedade, dos que me dão confiança quando estou nervoso, dos que me arranjam bilhete em tempos de filas, dos que me dão o seu cartão quando é a minha vez de arranjar para eles, de todos.

E mesmo assim ficam sempre tantos e tantos abraços por dar. Só trocas de sms e chamadas telefónicas que sabem a pouco, queria abraçar, um por um, todos aqueles que partilham comigo sempre este amor incondicional ao Sport Lisboa e Benfica.

Com os meus pais é diferente, desde sempre que me sinto logo acarinhado pelo pai sportinguista mas que gosta de me ver feliz e pela minha mãe que vibra tanto com isto que se tivesse um red pass era tão "índia" como nós. E a santa da minha mulher que só com uma troca de sms sabe perfeitamente o estado tresloucado em que estou nestas alturas, sendo o mais importante e incrível é que compreende sempre com um sorriso.

Mais complicado é pensar nos que já não estão aqui connosco. E já vão sendo alguns. Sempre que olho para o céu, naquele espaço entre a cobertura do estádio por cima de nós, lembro-me de quem já esteve naquela bancada comigo, naquele estádio e no outro e que agora estão lá em cima a aplaudir e a piscar o olho. Acredito que continuam a celebrar.

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Somos Tri Campeões. Tecnicamente, já vivi isto, tal como o Pietra, só que o nosso defesa direito lembra-se e eu não. 

Agora sim, começa a festa. Até aqui a festa do futebol é sofrer desgraçadamente. 

A sorte é ser do Benfica e ser do Benfica é tão bom. Hoje e sempre.

Rumo ao 36!

 

 

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