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Red Pass

Rumo ao 38

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Barcelona 0 - 0 Benfica : Crónica de Uma Viagem ao Cume do Camp Nou

 

A 30 de Agosto no site da Vueling a viagem Lisboa - Barcelona - Lisboa estava a 60€. Enquanto hesitava com a marcação a minha mulher faz o seguinte comentário: "É mais barato do que ir ao Algarve e voltar..."

Foi assim que começou esta viagem. Marcação no dia do sorteio com meses de antecedência. Depois foi esperar e ver a evolução dos acontecimentos à espera de termos o apuramento garantido antes deste jogo e sempre a desconfiar que o melhor arranque de campeonato na história do Barça não fosse selado com um resultado pesado para nós.

 

Terça feira de manhã lá estávamos nas partidas do aeroporto para voar para Barcelona. Era preciso fazer o mesmo resultado que o Celtic para continuarmos na Champions League mas íamos com a certeza que em 2013 continuamos a viajar pela Europa nos primeiros meses.

Já tinha ido para Barcelona em 2007 apoiar o Benfica no Montjuic contra o Espanhol e no ano passado em Abril regressei para passar o meu aniversário, altura em que aproveitei para conhecer o museu do Barça com atenção. É fácil perceber que Barcelona e Londres são duas das minhas cidades preferidas.

Londres é mais futebol, Barcelona é mais tapas & cañas.

 

 

A vantagem de regressarmos a uma cidade que gostamos é já termos pontos de referência importantes e estarmos familiarizados com transportes e orientações. Foi sem grande dificuldade que voltámos a Rambla para matar saudades e a fome. Ao fim da tarde ensaio geral na deslocação Praça da Catalunha - Camp Nou para ver o treino do Benfica e encontrar mais companheiros de viagem. Embora o acesso às bancadas tenha sido mais complicado do que imaginava (obrigado Gustavo pelo empréstimo das credenciais!) lá ficámos na bancada central a ver os convocados de Jesus em acção. Mal sabia eu o frio que ia passar no dia seguinte no topo da montanha.

 

 

Noite fria e por isso abandonámos o estádio rapidamente em direcção à Cervecería Catalana onde aconteceu um jantar épico de tão bom que foi.

No dia do jogo era obrigatório começar o dia no Mercat de La Boqueria com os sumos naturais e os bocadillos obrigatórios. Mais do que um pequeno almoço foi um ponto de encontro de benfiquistas. Mas o momento maior aconteceu quando estava a conversa com outros companheiros de bancada e reparamos que um casal com casacos e cachecóis do Videoton estava atrás de nós. Aconteceu humor do bom com o ar deles incrédulos por estar ali pessoal português a reconhecer o estranho emblema do Videoton. Agradecemos os cómicos 3-0 ao LOL e demos conselhos valiosos para a estadia em Lisboa. Irem à Luz, lavarem as mãos depois de ir ao WC, etc. Depois ainda apareceram mais húngaros. Tudo boa gente.

A título de curiosidade diga-se que pelas ruas de Barcelona também vimos alemães do Hanôver que ia jogar com o Levante. Cabe tudo nas Ramblas.

 

 

O almoço foi nas Cuines Santa Caterina no mercado de Santa Caterina onde acontece uma das várias feiras de natal que em Barcelona são a loucura de miúdos e graúdos a comprarem adereços para os presépios. Uma verdadeira azáfama natalícia! O restaurante foi indicado por um dos bravos conhecedores de boas iguarias e que já em Londres há um ano tinha brilhado nas suas sugestões. Novo repasto cinco estrelas e com uma turma de benfiquistas do melhor.

 

Buscar agasalhos apanhar o metro para Maria Cristina e parar por ali para umas cañas e mais um bocadillo. É aí que penso na pressão que a imprensa catalã fez no pré jogo para que Messi batesse o recorde de golos num ano. A poucas horas do jogo é que me dá para pensar no pior. E se o Barça arranca um daqueles jogos infernais sem respeito por ninguém como tantas vezes já vi na tv? Não me servia de muito pensar nisto, o melhor era caminhar para o estádio, procurar o cachecol do jogo nos arredores e perceber onde era a nossa entrada. Muitas caras conhecidas no caminho, muita confiança e aquele sentimento de que realmente o Benfica jogue onde jogar parece sempre que estamos perto de casa.

 

 

 

Passámos o tempo à conversa nos arredores do enorme estádio a recordar outros jogos, outras viagens ganhando moral para a noite que se adivinhava complicada. De repente tudo muda. Um sms no telemóvel avisa que no Barça não há Messi. Boa! Mas há Puyol, Villa, Song, Tello . . . Confesso que foi um alívio e bem à portuguesa passei do estado de apreensão para o de confiança total na vitória.

 

Chegava a hora de entrar naquele gigantesco monumento e tivemos que ir dar a volta toda ao estádio para encontrarmos a nossa porta no outro topo. A mensagem simpática de boas vindas aos adeptos do Benfica colocada no portão de entrada pareceu primeiro simpática mas depois irónica. O contraste da frase com a atitude de polícia e seguranças era evidente. Pior só mesmo quando depois de escalados os vários pisos chegámos a um cume que mais parecia o telhado de um arranha céus com vista para um minúsculo relvado com um rede à frente a atrapalhar a vista. O vento gélido sentido na cara era mais próprio da Serra da Estrela no Inverno do que ambiente para um jogo de futebol.
Por falar em ambiente, o Camp Nou é uma casa de Ballet. A sua equipa costuma jogar o melhor futebol do mundo para uma assistência fria, inerte que só a espaços grita pelo Barça de maneira snob. As excepções são o hino e quando querem Messi em campo. De resto aquela gente estar ali ou não estar vai dar ao mesmo. Nós no cume do Camp Nou conseguimos fazer ouvir a nossa voz lá em baixo e em casa de quem via o jogo.

Aquela distância do solo é obra.

 

 

 

O começo do jogo confirma um Barcelona de reserva longe do que se viu na Luz mandão e controlador. A sensação que a missão era possível crescia de minuto em minuto e o facto dos jogadores do Benfica darem a entender que queriam aproveitar a soberana ocasião animou o cume gélido do estádio. O pior veio depois. Que raio de noite para a linha avançada do Benfica resolver dar um recital de má finalização! Passados estes dias ainda não estou conformado com tanto falhanço.

Apeteceu-me obrigar o Rodrigo a regressar a casa a pé. E descalço. Apeteceu-me gritar com o Lima. Apeteceu-me refilar com as substituições do JJ e no fim apeteceu-me insultar o Cardozo. Pior que falhar é nem tentar por medo de... falhar. Não vou perdoar Cardozo pela sacanice que fez no último suspiro do jogo ao conservar a bola para o pobre Maxi rematar em vez de ter definido logo a jogada e disparar de primeira à baliza de Pinto. Foi feio e não esperava isso dele.

Assim ficou Maxi Pereira estendido no relvado incomodado com o falhanço do golo que dava a vitória e Cardozo saiu tranquilo. Não gostei.

Se me dissessem a 30 de Agosto que ia a Camp Nou empatar a zero assinava por baixo, nunca me passou pela cabeça sair dali sem sofrer nenhum golo e vir tão frustrado.

 

Outro momento do jogo é quando entra Messi. Realmente o melhor jogador do mundo mexe com qualquer partida. Até as bancadas ganharam vida e notou-se logo que a equipa do Benfica encolheu-se. O facto de Maxi, Luisão e Matic terem tido umas entradas duras não anula que o mesmo tenha acontecido ao contrário. Fiquei com a impressão que em termos de entradas duras e faltas feias até tinha sido uma noite equilibrada.

Cometi o erro de comprar no dia seguinte o Mundo Deportivo e fiquei espantado com a maneira como reduziram o Benfica a meia dúzia de caceteiros que foram ali "matar" o Messi e pouco mais. Salvaram-se os elogios rasgados a André Gomes. Mais do que merecidos. Aquela gente não sabe ver bola. Tudo o que vai além de Messi e companhia eles não querem saber. Se não ganharam foi porque os portugueses são bárbaros a defender. Está bem.

 

 

 

O que eu vi foi o Benfica a jogar para ganhar o jogo mas com erros incompreensíveis e inaceitáveis ao nível da finalização. Foi pena pois teria sido uma vitória histórica, uma excelente recompensa para os adeptos que foram à Catalunha e um merecido castigo pela maneira como nos trataram e encararam.

Perto do fim do jogo estava convencido que íamos continuar na Champions por causa do resultado em Glasgow. Depois soube do penalti que apurou o Celtic e ainda acreditei que marcávamos no final. Não deu. Paciência. Seguimos na Liga Europa de preferência com equipas de cidades atraentes para visitar e onde possamos repetir convívios como o que aconteceu após o jogo com jantar e posterior gin maravilhoso com pessoal vindo Portugal, residentes na Catalunha e até os grandes irmãos benfiquistas de Londres.

 

É sempre bonito ver as camisolas e cachecóis do Benfica a passearem por Barcelona. Ontem, sexta feira, nas partidas do aeroporto de Barcelona lá estavam mais umas dezenas prontos a regressar e a preparar a visita ao rival no derby com a sensação de missão cumprida na Catalunha. Se não ganhámos o jogo não foi por falta de convicção nem de apoio no cume gélido do Camp Nou. Fica a memória de um jogo visto aos quadradinhos num dos estádios mais conhecidos no mundo.

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