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Red Pass

Rumo ao 38

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De Regresso a Barcelona

Em vésperas de inciar a terceira visita a Barcelona recupero a crónica que fiz em Abril do ano passado quando fui conhecer por dentro o nosso adversário da próxima 4ª feira. Mais para trás fica a recordação da 1ª ida à Catalunha quando defrontámos o Espanhol ainda no Olímpico de Montjuic.


Barcelona, a Cidade Que se Confunde com o Clube e o Respeito Pelo Benfica!

 

Ao longo dos últimos anos tenho partilhado aqui e nos anteriores projectos as minhas experiências em viagens por essa europa fora. Principalmente as aventuras a acompanhar as deslocações do Benfica como aconteceu recentemente na Holanda.

De há uns anos para cá resolvi que o meu dia de aniversário é para ser festejado longe de casa a conhecer novos espaços. Sempre com o Benfica em pensamento o mês de Abril não é fácil para se marcar viagens encaixando no calendário de jogos, este ano , felizmente, ainda mais difícil foi devido À presença em várias frentes.

Há um ano vim de Salamanca no próprio dia de anos para ver o Benfica golear o Olhanense no caminho para o título, este ano marquei a viagem de partida para o dia de anos porque na véspera havia a final da Taça da Liga para ganhar. O regresso ficou marcado para quinta feira com chegada a Lisboa pelas 17h30. Na altura que marquei não fazia a menor ideia se estariamos nas meias finais da Liga Europa mas como acreditava tomei as devidas cautelas. Só na Luz é que soube que ontem corri o risco de perder o jogo por atrasos em vários vôos devido a uma greve dos homens das malas no aeroporto de cá. Felizmente não me calhou nenhuma má surpresa.

 

Este ano escolhi Barcelona para o aniversário. Para mim um destino terá que ser minimamente interessante em termos de futebol local, música ou gastronomia e lugares míticos. Convenhamos que Barcelona tem isto tudo em doses altamente intensas. Por isso resolvi regressar lá depois de ter conhecido a cidade por alturas da eliminatória com o Espanhol que o Fernando Santos não quis ganhar. Como a minha mulher não conhecia a capital da Catalunha foi sem hesitar que regressei lá. Desta vez levava a vantagem de já conhecer um dos estádios locais e ter a ajuda do amigo Tiago que por lá vive e deu dicas muito valiosas para que a experiência fosse inesquecível.

 

Nolito


Foi chegar guardar as malas e correr para ... Camp Nou. Não para ver o campo principal mas sim para ir ao Mini Estádio, o recinto onde joga o Barcelona B que no meu dia de anos jogava ao meio dia com o Betis de Sevilha empenhado no regresso à liga principal espanhola. Mesmo em passo de corrida só consegui chegar ao campo já na 2ª parte e deparei-me com uma lotação esgotada! E digo-vos que o Mini Estádio do Barça é bem melhor que alguns dos recintos das nossas ligas profissionais. A minha mulher confirmou que este campo ganha de goleada ao estádio do Trofense onde ela viu o Benfica de Quique.

Ambiente fantástico porque metade das bancadas eram sevilhanas que vibraram com a vitória por 0-3. Vi uma enorme festa à volta do relvado e uma equipa do Bétis forte contra os putos do Barça que têm realmente pinta de jogadores. O tal Nolito esteve discreto mas deu para ver o quanto os culés gostam dele. Eu consegui entrar na bancada 15' antes do fim do jogo porque abriram simpaticamente as portas à malta, como eu, que via o jogo cá de fora entre umas colunas. E dava para ver perfeitamente. Foi aí que perguntei a um senhor que estava ao meu lado qual era o número de Nolito. Depois de me dizer que era o "9" perguntou-me se eu era português com ar desconfiado. Disse-lhe que sim mas não gostava da armada tuga do Real, ele sorriu. Acrescentei que estava ali só para ver o Nolito jogar porque o meu clube o ia roubar para o ano. Foi-se embora.

Engraçada experiência de ver um jogo da 2ª Divisão espanhola e ouvir ao vivo um dos meus sons favoritos do mundo da bola; oportunidades de golo falhadas que provocam um ruidoso coro: UUUUUUUHHHHHI! Adoro.

 

Respeito pelo Benfica no Museu do Barça


Desta vez fiz a visita ao Camp Nou e ao seu Museu.

A experiência custa 19€ e é parecida com o que já tinha feito no Santiago Bernabeu há 3 anos ou com o que se faz na Luz. A diferença está no conteúdo e na maneira como nos é apresentado.

A passagem pelo corredor dos troféus ganhos é incrível, aproveitei para me concentrar junto da Supertaça Europeia e deixo aqui a foto acreditando que também a vamos ter em Agosto no nosso Museu.

O grande trunfo deste espaço são as paredes e as mesas multimédia interactivas. Podemos tocar no mosaico que mais nos interessa para ver detalhes, fotos e até vídeos da chegada de Cruyff ou Maradona, de noites inesquecíveis de Lineker, Stoitchkov ou de conquistas imortais desde as mais antigas às mais recentes. É um regalo para os olhos e para a memória desfilar tantos momentos marcantes da história do futebol.

No meio de tanta conquista esmagadora a minha alma enche-se de emoção e orgulho ao perceber que a única final europeia que o Barcelona não venceu e tem direito a fotografia em destaque é a de Berna. Uma final a que eles chamam de Final dos Postes! Não dá para acreditar que no meio daqueles craques todos que fizeram a história do Barça está a imagem do grande José Águas a levantar a Taça dos Campeões Europeus. Está numa mesa dedicada às finais e basta um toque na imagem para aparecer uma janela maximizada com a história do jogo que eles lamentam ter perdido pela falta de sorte mas que nunca metem em causa a justeza da vitória do Benfica de Coluna, Águas, Simões, Costa Pereira... Eu fico eufórico e vejo várias vezes o vídeo e desabafo alto: Muito grandes, muito ganhadores mas o meu Benfica ganhou-lhes a Taça dos Campeões!

Um senhor italiano que estava por perto sorriu e apontou para a foto de Águas e disse qualquer coisa como: que grande equipa esse Benfica, meu deus!

Depois citou mais de meia equipa para meu espanto e com delicadeza deu-me uma palmada enquanto me dizia ser do AC Milan. Tudo isto para acalmar a minha alegria e explicar que podemos ter vencido o Barça mas com o Milan dele nunca lhes demos a volta. Verdade. Mas em compensação em não sei o nome de metade do Milan dele dos anos 60 e ele sabe do meu Benfica.

 

O respeito com que é tratado esta conquista do Benfica é impressionante. Depois há mais uns sinais ao longo do Museu como o gabinete Presidencial ter um galhardete com o emblema do Benfica e Eusébio estar homenageado junto ao autocarro antigo do clube.

Além disto ainda fui surpreendido por um dos seguranças do Museu que ao ver o meu pólo do SLB veio fazer conversa. É português, já está há muitos anos em Barcelona e resume assim a sua vida: "tenho o melhor trabalho do mundo, sou empregado do grande Barcelona e sou benfiquista orgulhoso". Não lhe consegui tirar a dor da recente eliminação da Taça de Portugal, o homem tinha tudo programado para ir ao Jamor, estava de rastos. Por isso já disse e repito, os nossos profissionais é que deviam ir a Barcelona perceber a nossa grandeza e dar explicações a quem tanto sofre tão longe.

Com tantos sinais do Benfica presentes naquela visita acabei por me entusiasmar mesmo na sala de imprensa onde somos convidados a pousar junto da mãe de todas as taças europeias. Fui lá aproveitar para ensaiar a passagem de testemunho que se quer para breve, da Catalunha para a Luz. Fi-lo com convicção e não resisti a comprar a foto no fim da visita para poder guardar para sempre o momento em que um emblema do Benfica levantou a Taça dos Campeões. O empregado que me recebeu junto da Taça sorriu e identificou logo as cores sagradas aprovando a presença ali de um benfiquista.

 

O ponto alto da visita é a entrada nos balneários onde fui surpreendido por um mosaico de fotos de jogadores que iam mudando em jeito de moldura digital. Os maiores craques das equipas que já visitaram o Camp Nou estão lá. Todos! Até o nosso Rui Costa como se pode ver na fotografia acima. Mais Benfica em Barcelona.

Depois é a ida ao relvado, a passagem pelas bancadas e local de imprensa que proporcionam sempre boas fotos e momentos de reflexão onde tentamos imaginar o momento em que Simão falhou o 1-1 há poucos anos ou a noite em que José Carlos viu Stoitchkov passar por ele o jogo todo.

Aconselho a todos os amantes de futebol fazerem esta visita. Vão ver como mudam de opinião em relação ao clube catalão, nunca vi tanto respeito pela nossa história como ali. Arrisco até dizer que em Camp Nou sabem mais do nosso glorioso passado do que muito boa gente assalariada presentemente no Benfica.

 

O Grande Clássico visto por dentro


Não , não fui a Madrid ver o duelo para a Champions. Segui a sugestão do amigo Tiago que me marcou dois lugares ao balcão do La Terreta que é de um amigo dele independentista de Valência, tal como seu pai, e que já viveu em Portugal durante quatro anos. O grande Miguel recebeu-me, e à minha mulher, de braços abertos e apesar do enorme nervosismo à volta do jogão foi sempre dando notas interessantes acerca do local e dos clientes.

 

Vi o jogo no meio de adeptos absolutamente apaixonados pelo seu clube, pela sua causa e em loucura por estarem a defrontar o principal inimigo. O facto de sermos portugueses podia até causar algum mau estar, sim porque nesta altura não é fácil ser português na Catalunha devido às figuras que a armada lusa anda a fazer na capital espanhola, José Mourinho à cabeça. Mas bastou explicar que sou do Benfica e que não gosto de Mou porque em Portugal limpou tudo pelos Corruptos, pela mesma razão não gosto de Pepe nem de Carvalho e sobre CR7 é apenas um ex-lagarto, e fiquei logo entre amigos.

Antes de começar o jogo o Terreta vai enchendo, rapazes, raparigas, velhos, novos, engravatados ou em calções e geralmente de camisola com emblema do Barça. Quase todos de pé cantam o hino do Barça segundos antes de começar a partida. O anfitrião Miguel é dos mais empenhados e ainda tem tempo para aconselhar uma tapa valenciana, uma espécie de crepe aberto com recheio de atum e anchovas para acompanhar a cerveja de marca desconhecida por mim, Moritz. Divimos o crepe cortando com garfo e faca e no fim percebemos que aquilo era para enrolar e comer à mão. Da próxima já sabemos como é. Apostámos 2€ num 1-2 para o Barça que nos podia ter dado 70€ de prémio num totobola caseiro. Falhámos por 1...

 

Cada plano de José Mourinho originava um coro de insultos e muitos dedos espetados para as duas tv's do bar. Com CR7 acontecia o mesmo. Ambiente muito quente.

A primeira parte corria sem grande interesse mas a posse de bola do Barça ia aumentando brutalmente com os culés a ganharem cada vez mais confiança. O remate de Villa ao lado suscitou um dos melhores UUUUHHHI's que já ouvi. Confesso que também me juntei ao coro. Não me julguem por isto, sempre quis gritar isto em casa pela piada do som, ali é irresistível!

Entretanto o Miguel ia resumindo na perfeição estes clássicos: João, é isto!! O Real é isto! Só conversa fora de campo, dentro de campo não jogam nada de nada, só defendem , não querem a bola, não atacam, nada! Ganharam a Copa nem sabem como, hoje voltámos ao normal. Mourinho é um palhaço, e o Cristiano também!

Concordei.

 

No intervalo tudo lá para fora fumar e disfarçar os nervos mas a confiança era altíssima.

Recital de bola na segunda parte com muitos cânticos dentro do bar e euforia com a expulsão de Pepe seguido de um cântico muito na moda entre os adeptos do Barça: Ese portugués , hijo  puta és!

Até que aparece Messi e aí entramos numa nova dimensão. Quando Leo embala os adeptos vão com ele, sentem que vai haver magia. Ele faz o primeiro golo e a explosão de alegria no Terreta foi brutal! No meio de vénias ao argentino, abraços, saltos surge nas colunas o hino do Barça agora cantado por todos!

E não mais pararam os cânticos e a respectiva cerveja para matar a sede e aguentar as gargantas. No segundo golo ainda foi mais impressionante. O amigo Miguel tinha acabado de me avisar que Messi sempre aparece nestes momentos, e foi com espanto que vejo o pequeno génio a fintar os merengues enquanto à minha volta todos gritavam GOL a cada nó do argentino até ao GOL final com a bola a entrar na baliza de Casillas. Tive a calma suficiente de filmar o momento que se viveu logo após o 0-2 e deixo aqui para verem como se festeja em Barcelona:

 

  

Noite ganha, até ao fim ambiente de festa, no final do jogo festejava-se como se tivessem ganho a Taça, e ouve-se o hino da Catalunha! Grande noite, grande ambiente e grande anfitrião.

Quando quiserem ver bola em Barcelona procurem o Terreta, digam ao Miguel que vão da minha parte.

 

O regresso de Grácia para o Bairro Gótico foi para testemunhar a loucura que se instala na cidade com toda a gente na rua com camisolas e cachecóis do Barça a festejar. Mais do que a provável presença em Wembley festeja-se a vitória contra o inimigo, as capas do Sport, jornal de referência da Catalunha, são bem a prova disso no dia do jogo e no dia a seguir.

Dizia a minha mulher que aquele ambiente fazia lembrar Lisboa na Altura do Euro 2004. Faz sentido, eles ali juntam-se em volta de um emblema que é mesmo mais que um clube, é como uma selecção nacional que só lhes dá alegrias. Contaram-nos que um estudo recente dizia que ali a esperança de vida é maior e uma das causas apontadas é toda a sucessão de triunfos do Barça!

 

As camisolas do clube estão espalhadas por toda a parte, da Boqueria ao metro, homens, crianças e mulheres, turistas, emigrantes ou locais, todos envergam a camisola do Barça que tem lojas oficiais em todo o lado da cidade, sendo a do estádio a maior e o exemplo do que deve ser uma loja de um clube grande de futebol. Aqui também podíamos ir lá aprender qualquer coisa.

 

Quando andei de camisola do Benfica vestida pela zona do Bairro Gótico e Ramblas fui cumprimentado por alguns catalães com um sorriso a dizerem Bénefica! Apenas um comerciante com ares de indiano hesitou ao olhar para o manto sagrado e perguntou se era do Liverpool. Respondi que não, mostrei melhor o emblema e disse Benfica. Atrapalhado emendou logo: Ah si si ... Benfica, Benfica... do Di Maria...!

 

Outros espaços ficaram por conhecer, como o novo estádio do Espanhol ou um bar onde se vê os jogos da nossa Liga. Fica para a próxima, porque de certeza que isto não foi uma despedida a Barcelona, foi apenas e só um até já.

Na memória ficou-me a parte de trás de uma t-shirt que vi um puto envergar quando já ia em direcção ao aeroporto e que dizia qualquer coisa como: não penses numa temporada. pensa na história!