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Red Pass

Rumo ao 38

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Uma Liga Nebulosa

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 O União Futebol Clube Clube de Futebol União é um clube da Madeira que passou as últimas décadas a jogar nas divisões secundárias. Esta época conseguiu regressar ao campeonato principal. Desde a última vez que esteve na primeira divisão o clube lutou para estar nas ligas profissionais e subir à principal. Passados 20 anos o União volta a receber na Ilha da Madeira os maiores clubes do país e preparou-se para isso.

O União arranjou um patrocínio para as camisolas no Museu CR7, tem um orçamento de 3 milhões de euros para o futebol e apresentou o Centro Desportivo da Madeira, na Ribeira Brava, como recinto desportivo para receber os seus jogos em casa. É um estádio inaugurado em 2007 com capacidade para 2500 espectadores e está registado no site da Liga como sendo o seu.

Até aqui tudo a bater certo, um clube que cresceu e lutou pelo regresso ao principal campeonato do país mostrando obra feita.

 

Depois vem a realidade diabólica do futebol português. Logo no primeiro jogo em casa o União marca o jogo para o Estádio Municipal de Machico, um recinto inaugurado em 2005, com capacidade para 3300 pessoas. (isto segundo as fichas de jogo consultadas, como esta do Maisfutebol ) Um grande regresso com vitória por 2-1 no derby com o Marítimo.

Depois veio um empate a zero com o Vitória de Guimarães na... Choupana. Porquê na Choupana?!
O União recebeu o Arouca e o Paços de Ferreira em duas jornadas seguidas que teve de fazer na Madeira novamente no Municipal de Machico.

 

Portanto, o União oficialmente, segundo o site da Liga de Clubes, devia jogar no Centro Desportivo da Madeira na Ribeira Brava, mas em 4 jogos foi jogar para Machico e Choupana.

Até que chega a vez do Benfica visitar o União. Os dirigentes do clube madeirense não hesitam e marcam o jogo para a casa do Nacional. Suponho que a única razão para não jogarem em casa seja simplesmente a ganância. Querem melhores condições para a transmissão televisiva e uma receita de bilheteira que nunca podiam obter no Centro Desportivo da Madeira.

 

Eu sigo com alguma atenção as ligas de futebol de Espanha, Alemanha, França, Itália ou Inglaterra e não me recordo de ver esta manha dos clubes mais pequenos irem com a casa às costas para estádios maiores que o seu só para receberem as equipas do topo da tabela. Os clubes aceitam as suas limitações e jogam orgulhosamente na casa que conseguem ter. Vejam os jogos no Stade Jean Bouin, Stade Ange Casanova ou no Vitality Stadium, só para dar alguns exemplos.

Em Portugal instalou-se a facilidade de trocar de local conforme o freguês com toda a naturalidade. O Maia nunca esteve na 1ª divisão, no entanto o seu estádio recebeu tantos jogos da principal liga nos anos 90 que até dava para escrever um livro. A partir daí é recorrente ver os clubes com estádios pequenos, à sua imagem como é natural, a correrem para os recintos maiores mesmo que fiquem a quilómetros de distância.

E o que fez a Liga de clube nas últimas décadas para acabar com isto? Nada, claro. Acha tudo muito normal. Não poucas vezes vira-se o bico ao prego e passam a ser os clubes maiores os mais criticados. Porque é muito melhor jogar num estádio maior do que jogar nos campos originais mais apertados. Mas, que eu saiba, não são os clubes maiores que pedem aos mais pequenos para fazerem uma receita maior e abdicarem de receber a festa do futebol nas suas casas com a sua gente. A Liga é que já devia ter acabado com esta mama, cada um joga onde na sua casa que é aquilo que é e mais nada.

No caso do União devia ser na Ribeira Brava que é o recinto que eu vejo oficializado na página da Liga.

 

Para complicar a situação, há um estádio em Portugal que sabemos que traz riscos à realização de qualquer jogo marcado entre o Outono e a Primavera devido às características climatéricas do local onde foi construído. Ir lá uma vez por época é stressante, ir duas é mesmo pedir chuva. E nevoeiro?

O famoso nevoeiro que tantas vezes afecta a realização dos jogos apareceu ontem em todo o seu esplendor. Podia-se dizer que ninguém estava à espera mas ao fim destes anos todos de Nacional na primeira divisão já se sabe que a primeira pergunta que se faz antes de qualquer jogo por lá é: e o nevoeiro.

 

Viu-se na televisão que não havia visibilidade para se jogar. Esperou-se uma hora e a Liga adiou o jogo. Poucos minutos depois o nevoeiro desapareceu mas uma hora volvida e o campo estava outra vez afectado.

Para agravar a situação seguem-se os jogos das selecções. As regras da Liga são claras quanto à obrigatoriedade de remarcar o jogo para depois dos jogos das selecções. Os clubes devem chegar a um acordo quanto a nova data, caso não seja possível será a Liga a agendar. Sabe-se que a partida terá de ser jogada até ao fim da primeira volta do campeonato, um problema para a Liga resolver.

 

O Benfica perante este cenário regressou a Lisboa. Hoje há onze jogadores do plantel do Benfica que são obrigados a começar o trabalho com as suas selecções. Nélson Semedo, Eliseu, Gonçalo Guedes, Rebocho, Raul Jimenez, Mitroglou, Samaris, Gaitán, Ederson Moraes, Lindelof e Lystov, juntam-se aos treinos para representarem os seus países.

 

Perante isto o que diz o Presidente da SAD do União, Filipe Silva?

Por ele jogava-se hoje. Aliás, ontem houve precipitação porque mais 10 minutos e dava para jogar. Recordo que uma hora depois destes 10 minutos o nevoeiro voltou em força. O Filipe até tirou fotografias para mandar à Liga, diz ele, para verem como dava para jogar depois da decisão do adiamento.

Então e o que ele pensa do Benfica? Pensa que talvez fosse óptimo não jogar. O terreno está mais pesado, joga-se menos à bola e foi visível que saíram apressadamente porque tinham compromissos em Lisboa mesmo antes do árbitro decidir que não haveria jogo.

Tudo brilhante, meu caro Filipe Silva. Desde o meio dia até às 17h não houve uma só hora completa de visibilidade no estádio mas o Benfica saiu à pressa cheio de compromissos.

Mas o Filipe até vai mais longe e acha que isto de ter mais de uma dezena de jogadores à espera de viajarem para representarem as suas selecções é coisa menor. Isto porque esta época tiveram o André Moreira convocado para a selecção sub-21 e conseguiram adiar a ida do jovem por um dia para ele jogar numa 2ª feira à noite com o Vitória. Bastou avisar.

Sim é parecido. O Benfica só tem onze jogadores convocados por vários países.

Isto porque o Filipe queria jogar hoje. Hoje já devem estar umas condições espectaculares na Ilha.

 

E é isto o nosso futebol. O Presidente da SAD de um clube que aponta um recinto desportivo como sua casa para depois nunca a usar e andar a jogar em campos emprestados, em vez de pedir desculpa pela ambição e ganância financeira, é só disso que se trata, atira-se ao clube visitante que tem um dos calendário mais preenchidos do futebol português. Explicar porque não joga no campo que escolheu oficialmente como seu é que não.

Nada disso, o bom do Filipe até tem mais coisas para nos dizer. Alberto João Jardim tem culpas indirectamente. foram os actos tresloucados que se fizeram no passado os culpados disto tudo. Se houvesse um estádio regional, teríamos transferido o jogo para os Barreiros, diz o Filipe Silva.

Bem, de falta de estádios não podem os madeirenses queixarem-se. É incrível que no meio de tantos recintos desportivos prontos para se jogar, o Benfica tenha regressado a casa com um jogo em atraso.

 

Entretanto, a Liga de clubes tinha um provedor do adepto para mostrar a sua preocupação com quem vai aos estádios. A nova equipa de Pedro Proença à frente da Liga mostrou preocupação com os espectadores quando tomou posse. A minha pergunta para os responsáveis do futebol português é a seguinte, que medidas já foram tomadas junto dos adeptos que gastaram dinheiro em viagens do Continente para a Madeira em vão? E como vão devolver o dinheiro dos bilhetes aos adeptos que optaram por não ir votar para estarem presentes a apoiar o seu clube na Ilha?

 

Servirá este circo de exemplo para se acabar com a palhaçada das mudanças de estádios? É que nós, adeptos, odiamos estas mudanças. Falo pelos benfiquistas que não queriam o jogo da Taça da época passada fora da Covilhã, nem gostam de ir Aveiro em vez de uma viagem a Arouca para aproveitar as iguarias gastronómicas, por exemplo.
E os clubes maiores ficam assim tão beneficiados com essas trocas? Pelo que vi em Aveiro com o Arouca, não me parece nada.

A única razão para esta vergonha continuar é a ambição dos dirigentes fazerem receitas que não podem fazer porque nunca investiram num recinto desportivo que as proporcione. Querem grandes retornos de bilheteira? Construam estádios dessa dimensão e paguem a manutenção.

Já agora, espero que não tirem o jogo da Taça de Viana do Castelo.

 

Passado o nevoeiro e o barulho, ficam mais uns adeptos prejudicados financeiramente, fica mais uma figura cómica para o panorama triste do futebol português, Filipe Silva, mais um caso em que ninguém vai assumir culpa de nada, mais uma dúvida no ar sobre qual é realmente o estádio do União e um problema para o Benfica gerir que é saber que tem de regressar mais uma vez à Madeira para um jogo que já devia estar feito.

 

São muitas questões, muitos pontos que podiam servir para reflexão mas todos sabemos que o espectáculo tem de continuar e ninguém quer saber disto para nada.

 

PS Não vivo na Madeira e por isso tive o cuidado de ir procurar fichas de jogo publicadas sobre os jogos do União em casa. As mesmas apontam para jogos no Estádio Municipal de Machico mas vários leitores já reagiram emendando esse dado. Segundo eles, os jogos com Vitória, Paços de Ferreira, Marítimo e Arouca foram disputados no Centro Desportivo da Madeira, na Ribeira Brava.
Agradeço o esclarecimento.
Passo a estender as minhas criticas, então, aos meios de comunicação social que acompanharam estes jogos do União e me levaram ao engano ao identificarem o local do jogo erradamente. Não dá para compreender!