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Red Pass

Rumo ao 38

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Por Isto é Que Não Há Respostas!

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O antigo internacional português e ex-jogador do Sporting Clube de Portugal estará no Grão-Ducado do Luxemburgo no fim-de-semana de Páscoa para dirigir a segunda Academia de Páscoa de futebol.

As aulas de Jorge Cadete destinam-se a jovens futebolistas do Luxemburgo. As inscrições ainda podem ser feitas pelo telefone 691515993 ou pr e-mail: futsalallstars@hotmail.fr

Além de Cadete, a Academia de Páscoa, que tem lugar em Colmar-Berg, no Luxemburgo, conta ainda com os “professores” Carlos Fangueiro, António Fonseca, Alexandre Nunes, Toni Gama e Cédric Tronci.

 

in bomdia.fr

De Volta ao Trauma Ruy Seabra

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Aproveitar que está encerrado mais um capítulo de Selecção Nacional para partilhar uma visão pessoal sobre o que se pode sentir pela equipa da FPF. Esta indiferença com que vejo chegar cada jornada da Selecção nem sempre foi assim. Vale a pena viajar no tempo, sendo que no meu caso são cerca três décadas, para a malta mais nova entender que nem sempre é só por embirração que a geração nascida nos anos 70 despreza a equipa de Portugal. O pessoal perto dos 40 anos de vida é capaz de ser rever neste texto.

 

Voltemos então ao fim dos anos 70. Quando começo a descobrir a paixão pelo Benfica fico a saber que há um bónus com que temos também de nos preocupar. Quando os jogos do campeonato paravam entrava a Selecção. Foi um contacto pacifico já que a maior parte da equipa portuguesa era do Benfica, daí não ter sido complicado simpatizar com o conceito.

Sem demoras vamos para a fase de qualificação do Euro'84. Foi quando senti realmente vontade de apoiar Portugal. Tinha 9 anos quando começou a corrida ao apuramento. Para trás tinha ficado um rasto de miséria que já vinha desde 1966!

 

Como se não chegasse o trauma de herdar o Benfica campeão europeu dos anos 60, ainda levei com uma selecção que era desprezada pelo seu país por nunca mais ter repetido as emoções do Mundial de Inglaterra. Não havia jogo, até 1982, da Selecção que não acabasse com os pais e avós a contarem as façanhas dos 5-3 à Coreia e dor da derrota com os ingleses. Era automático, Portugal falhava e a lenda de 1966 aumentava. Ganhou contornos monstruosos para miúdos, como eu, que pareciam ter nascido no tempo errado.

Crescemos a saber que nunca iríamos ver a equipa de futebol do nosso país a dar-nos as emoções mais altas de um Euro ou Mundial. Era triste. Essa tristeza passava para o ambiente da Selecção que entrava em campo já com o rótulo de "falhados" na testa.

Não estivemos em nenhum campeonato da Europa até então e depois de Inglaterra'66, falhámos o apuramento para os mundiais do México, Alemanha Federal e Argentina. Em 1982 o Mundial era aqui ao lado, havia enorme expectativa na qualificação para Espanha. Falhámos, pois.

 

Já com o ritual de ir à Luz ver sempre o Benfica bem assimilado, acabei por ir ver os jogos de apuramento para o Euro84 no nosso estádio. Os nossos adversários eram a Finlândia, a forte Polónia que vinha de um brilharete no Mundial, e a poderosa e favorita União Soviética.

Em casa goleámos a Finlândia por 5-0. Não fui ver porque foi em Alvalade. Foi um resultado animador a juntar à vitória por 0-2 na Finlândia. E estes 5-0 serviam para disfarçar a derrota incrível que sofremos pelos mesmos números numa noite de terror em Moscovo.

Como ganhámos também na Polónia por 0-1 era possível o milagre de uma estreia num Europeu se ganhássemos os jogos em casa.

Com a Polónia na Luz foi um jogo incrível com um ambiente que me conquistou e vitória por 2-1. Depois era preciso vencer a União Soviética.

Outra vez na Luz, ambiente espectacular, casa cheia, e o apoio de uma geração que queria acabar com os fantasmas de 1966 e ter direito ao sonho com a sua Selecção. Chalana cavou o penalti que Jordão marcou ao grande Dasaev. Estava conquistada a simpatia com a equipa da FPF.

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Para verem como a malta já na altura era tramada com piadas à volta do futebol conto esta piada que reproduzi orgulhosamente à mesa numa almoço de família uns dias depois do jogo. Sabem o que queria dizer o CCCP nas camisolas soviéticas? Era uma mensagem para não largarem o Jordão: Cuidado Com o Cabr** do Preto. Nem era preciso haver redes sociais, a malta já era assim. A família nao apreciou a piada.

 

Depois foi o que se sabe em terras francesas com Portugal a brilhar até às meias finais. A dramática derrota com a França deixou a porta aberta para continuarmos a apoiar os "Patrícios". Para estreia num Europeu, não foi mau.

O desafio era que 1984 não ficasse na história como 1966. Queríamos estar sempre presentes naqueles torneios e não ir uma vez na vida, brilhar e ficar a falar daquilo o resto do tempo.

 

Assim, o apuramento para o Mundial do México 1986 foi encarado com optimismo apesar de termos no mesmo grupo a RFA.

Em setembro de 1984 começámos a ganhar na Suécia, depois em casa batemos a Checoslováquia mas fomos derrotados em Alvalade pelos suecos. Voltavam os receios que não seriam afastados com a vitória em Malta e duas derrotas seguidas, no Jamor com a Alemanha, uma das melhores selecções que vi ao vivo, e na Checoslováquia.

Tínhamos que ganhar a Malta na Luz e fazer contas a sonhar com uma vitória em Estugarda. Ganhar a Malta foi incrivelmente complicado, 3-2 arrancado a ferros. Depois o seleccionador Torres pediu que o deixassem sonhar e aconteceu o milagre. A Suécia tramou os checos e Carlos Manuel arrancou aquele pontapé fabuloso que deu a vantagem que Manuel Bento defendeu de forma épica.

 

Dois apuramentos seguidos para grandes competições. Estava contente com a minha Selecção que, por acaso, era composta por vários jogadores do Benfica. Tudo fácil de gerir.

 

Aconteceu o que sabemos em Saltilho e acabou-se a magia da Selecção. Nem foi só o circo e a falta de profissionalismo, o que marcou mesmo o fim foi a lesão do Bento. O que eu mais temia apareceu por causa da FPF e confirmou-se que Portugal e o Benfica sem Bento já não eram a mesma coisa.

 

A vida continua e lá encarámos o apuramento para o Euro 1988. Aí começou a reviravolta sentimental com a Selecção. Nós, adeptos, fomos traídos, gozados e humilhados por jogadores e dirigentes. Ninguém se conseguiu entender após o México e apresentaram-nos uma equipa anedótica escolhida por Rui Seabra. Quem? Pois, ninguém fazia ideia quem era.

Foi assim que se passou do Portugal do Bento, Eurico, Jordão, Chalana, Oliveira, Gomes, Carlos Manuel, etc. para o Portugal do Rui Seabra, os Seabrinhas!

Era ver para crer. Recordo com carinho o empate com Malta, 2-2, nos Barreiros. Portugal alinhou com:

Jesus, Álvaro, Veloso, Eduardo Luís e Dito, Frasco, Adão, Jaime e Nascimento, Manuel Fernandes e Jorge Plácido (fez os dois golos). Ainda entraram Rui Barros e Skoda.

Luxo, não?

Foi assim que em 8 jogos ganhámos 2, a Malta e à Suécia. Com a Suíça e Itália nada feito. Os emigrantes na Alemanha ficaram deprimidos. O Benfica ainda compensou em 1988 com a presença em Estugarda na final da Taça dos Campeões um mês antes de começar o Euro. O Benfica perdeu para os holandeses que viriam a ser campeões da Europa com a sua selecção mas o gigante ajuntamento de benfiquistas nesse dia de Maio ficou para sempre na recordação de todos os que lá estiveram.

 

Depois seguiu-se o apuramento para o Mundial 1990 e mais uma vez falhámos e vimos a prova em Itália sem Portugal. Já era um hábito viver isto por fora, 1966, 1984 e 1986 pareciam mesmo milagres. Eu já me dava por contente por ter visto dois.

O Euro 1992 na Suécia também nos passou ao lado, tal como o Mundial nos Estados Unidos da América em 1994.

E com isto tudo, em vinte e poucos anos de vida tinha visto Portugal entrar em duas grandes competições. Duas, nada mais. Portanto, os laços afectivos com a equipa da FPF não podiam ser nem fortes e nem felizes.

 

Houve uma enorme injecção de esperança com os Mundiais de juniores ganhos com a malta da minha idade. Mas em termos práticos até ao final do século só tivemos direito à alegria de ir ao Euro de 1996 em Inglaterra onde Poborsky nos mandou para casa. O Mundial em França de 1998 também não foi para nós.

Duas décadas a ver a Selecção, 80 e 90, e marcar presença apenas em 3 fases finais.

 

Estamos falados sobre afeição à Selecção em metade da minha vida.

Felizmente, a partir de 2000 as coisas mudaram muito e deu-se um salto enorme a nível de profissionalismo na FPF. Voltámos a sonhar no Europeu da Bélgica e Holanda onde voltámos a cair com a França, fomos ao Mundial da Coreia e Japão reavivar os fantasmas de Saltilho em 2002, e atingimos o auge em 2004 com o nosso Europeu.

 

Digam o que disserem, foi o Scolari que me fez vibrar a sério com a Selecção. Foi com ele em 2004 e 2006 que cheguei a por bandeiras à janela e que sofri com um jogo de futebol como costumo sofrer com o Benfica. Os jogos de 2004 e do Mundial 2006 mexeram mesmo comigo. Senti que, finalmente, tinha uma Selecção. Fomos a uma final de um Euro e a uma meia final de um Mundial, tal como em 1966. Estava igualado o feito que me seguia desde que nasci.

Seguimos para o Euro 2008 na Áustria e Suíça e fomos apurados com naturalidade, tal como acabámos eliminados com naturalidade por uma superior Alemanha.

Com maior ou menor dificuldade nunca mais falhámos apuramentos para as fases finais de Euros e Mundiais. Isso é uma enorme evolução. Infelizmente, sinto que depois de 2008 foi sempre a descer outra vez. Queirós e Paulo Bento não entusiasmaram nada. A fasquia ficou na obrigação do apuramento, o que já não é mau tendo em conta o que já passei.

Agora com Fernando Santos não sei se voltaremos ao entusiasmo de 2004-2008 mas com a média de idades tão alta da equipa que bateu a Sérvia, o futuro não é animador. E se dúvidas haviam, ontem com a derrota contra Cabo Verde e um "11" ao nível da Era Rui Seabra o medo está de volta.

 

O meu entusiasmo com a Selecção atingiu níveis assinaláveis entre 1982 e 1986, 2004 e 2008, não sei se algum dia voltará.

Para a malta que não entende a relativa frieza com que encaro estes compromissos da FPF fica aqui o historial de um adepto de futebol que gostava imenso de vibrar com o futebol do seu país mas que já levou tanta "porrada" que tem dificuldade em levar isto a sério.

Isto também explica que muita gente da minha geração vibre com um determinado país, que não o nosso, em grandes torneios. Alemanha, no meu caso, Argentina, Brasil, Inglaterra ou Itália são escolhas para muito boa gente que acompanha Mundiais ou Europeus há várias décadas. Fomos obrigados a adoptar um país há muitos anos quando isto não era CR7 contra o mundo e Portugal em fases finais nem na playstation.